Uso da Palavra Teologia
Entre os
cristãos, a palavra “teologia” é usada inadequadamente (com referência ao
eficiente para significar um discurso de Deus [Theou Logon] e com referência ao objeto, um discurso sobre Deus [logon peri tou Theou) ou adequadamente,
visto que ela denota tanto um discurso de Deus quanto um discurso acerca de
Deus. Esses dois conceitos devem ser juntados, visto que não podemos falar
sobre Deus sem Deus; desse modo o termo pode ser descrito como a ciência que
originalmente procede de Deus, objetivamente trata dele e terminantemente flui
para ele e conduz a ele, o que Tomás de Aquino habilmente expressa: Theologia a Deo docetur, Deum docet, et ad
Deum ducit (“A teologia é ensinada por Deus, ensina sobre Deus e conduz a
Deus”, ST, I, Q. 1, Art. 7 + - não em Tomás, mas um adágio escolástico
medieval). Assim, essa nomenclatura abarca o duplo princípio da teologia: um do
ser, que é Deus; outro do conhecer, que é sua palavra.
Uma vez mais ela
é usada pelos autores de três maneiras: (1) amplamente; (2) estritamente; (3)
segundo a genuína extensão de sua significação. Na primeira maneira, ela se
acomoda à metafísica e, nesse sentido, Aristóteles chama a primeira filosofia
“teologia” (Metaphysics 6.1.10-11
[Loeb, 1:296-97] e 11*.7.8-9 [Loeb, 2:86-89]). Ele divide a filosofia teórica
em três partes: física (physikên),
matemática (mathêmatikên) e teológica
(theologikên). Na segunda maneira, os
pais designam particularmente aquela parte da ciência cristã que trata da
divindade de Cristo pela palavra “teologia”. Nesse sentido, João é
enfaticamente intitulado de “teólogo”, visto que ousadamente asseverou a
deidade do Verbo (tên tou logou theotêta,
cf. Ap 1.2). Os demais pais aplicaram a Gregório de Nazianzo o título de
“teólogo”, visto que ele demonstrou a divindade dc Cristo em vários discursos.
Por isso eles fazem certa distinção entre teologia (theologias) e economia (oikonomias).
Com o primeiro termo designavam a doutrina da divindade de Cristo; com o
segundo, a doutrina de sua encarnação. Theologein
lêsoun é, para eles, o discurso sobre a divindade de Cristo (Eusébio, Ecclesiastical History 5.28 [FC 19:343;
PG 20.512]; Basílio, o Grande, Adversus
Eunomium 2 [PG 29.601 ]; Gregório de Nazianzo, Oration 31 *.26, “On the Holy
Spirit” [NPNF2, 7:326; PG 36.161] e Oration
38*.8, “On the Theophany” [NPNF2,
7:347; PG 36.320]). No terceiro e mais apropriado sentido, ela indica “um
sistema ou corpo de doutrina concernente a Deus e às coisas divinas reveladas
por ele, para sua própria glória e a salvação dos homens”. E nesse sentido que
a usamos aqui.
O uso da palavra
“teologia” é equivocado e abusivo (quando se aplica à falsa teologia dos pagãos
e hereges), ou menos apropriadamente, quando se refere à sabedoria original e
infinita qual concebemos estar em Deus que conhece a si mesmo de uma forma
inexprimível e muitíssimo perfeita (pois a palavra não pode alcançar a
dignidade da coisa em si); ou à teologia de Cristo e à teologia angélica, ou,
mais apropriadamente, quando se aplica à teologia dos homens sobre a terra, que
(como veremos mais adiante) é dividida em natural e sobrenatural.