Onipotência — Estudos Bíblicos
ONIPOTÊNCIA
Esboço:
1.
Discussão Geral e Uso do Termo
2.
Considerações Filosóficas
3.
Considerações Teológicas
4.
Considerações Bíblicas
Ver o artigo geral onde é
discutido esse atributo de Deus, Atributos de Deus. Essa palavra
portuguesa vem do latim, omnis e potens, ou seja, “todo poder”
Podemos definir essa palavra dizendo que ela fala sobre um poder universal
e ilimitado. Vinculada ao monoteísmo, essa noção leva-nos à idéia da
concentração de todo o poder em um único Ser, embora reconhecendo que
outros seres são dotados de certa medida de poder. A onipotência consiste
no poder sobre todas as coisas, bem como na capacidade de fazer todas as
coisas. Platão definia o ser como “poder”, o que
indicava que o Ser Supremo também é Poder Supremo. 0 termo implica,
primariamente, em uma Causa Primária e em causas secundárias. O ocasionalismo
(ver o Problema Corpo-Mente, seção quinta) faz de Deus a única causa, o
que é reiterado por algumas religiões orientais, de acordo com as quais
só Deus é real, e tudo o mais é ilusório.
A idéia de onipotência
subentende que há uma influência absoluta que mantém sob controle todas as
coisas em todo o tempo e em todos os lugares. Essa é a influência que garante a
imortalidade humana, porquanto podemos esperar que Deus continue
exercendo sua influência e controle universais em todas as dimensões da
existência. Essa é outra maneira de aludir ao fato de que Deus é
o Sustentador de todas as coisas. Ele é tanto o Criador quanto
o Sustentador; e ambas essas coisas requerem o exercício de
sua onipotência.
A onipotência está ligada
à própria existência, e não meramente ao que Deus possa querer fazer. Trata-se
de uma ramificação existencial da compreensão de Deus como Ser Todo-Poderoso.
Ser é Poder; e Deus é esse Poder. E esse poder manifesta-se
também através de poderes secundários, cuja existência é garantida
pelo Poder divino.
A onipotência implica em
um outro atributo divino, a independência. Deus é vivo e é a substância mesma
da vida, sendo um Ser auto-existente. Todos os outros seres dependem dele para
vir à existência e continuar existindo. Os poderes secundários, pois, são
dependentes.
A palavra onipotência é
um termo negativo, pois que, realmente, procura ocultar um vácuo em nosso
conhecimento. Quando dizemos que Deus é “onipotente”, queremos indicar “muitíssimo
poderoso”, porque não temos nem qualquer conhecimento teórico do que
significa “muitíssimo poderoso” e nem temos qualquer experiência pessoal com a
onipotência divina. Quanto a outra discussão filosófica a respeito, ver o
artigo Onipotência, Paradoxos da.
A maioria dos ramos da
cristandade tem permanecido fiel ao conceito tradicional da onipotência de
Deus. O mormonismo é uma das exceções. Visto que aquele grupo religioso
supõe que Deus evoluiu até ser o que é, é natural supormos que Deus está
em estado de fluxo, não tendo ainda chegado a um estado absoluto. Assim,
se o seu poder é muito grande, ele não é Todo-Poderoso. Ademais,
visto que existiriam outros deuses (sem importar que estejam distantes
de nós), sempre torna-se possivel que os nossos deuses (o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, conforme a concepção do mormonismo) não sejam os
deuses mais poderosos que existem. Um Deus em evolução não pode ser
considerado onipotente! Acresça-se a isso que nenhuma religião politeísta
jamais foi suficientemente corajosa para asseverar a onipotência de qualquer
deus em particular. Nos sistemas politeístas, o poder fica distribuído
entre as suas divindades, nunca aparecendo depositado, em sua inteireza,
em qualquer ser ou em qualquer lugar.
Alguns teólogos cristãos
têm concebido um Deus limitado, tanto por sua própria natureza quanto por
auto-limitação. Para exemplificar, a encarnação foi a mais conspícua das
autolimitações divinas, embora difícil imaginar um Deus todo-poderoso, mas que
permite que todo tipo de coisa errada aconteça no mundo. Para esses, Deus
não estaria controlando tudo, razão pela qual o mal e a tragédia
teriam entrado na criação, lançando sua perturbação. Mas, mesmo
para esses estudiosos, Deus é poderoso o bastante, de modo que podemos
esperar o triunfo final do bem sobre o mal.
Considerações
Negativas. É verdade que Deus não
pode praticar o erro; e isso poderia parecer uma limitação em seu poder. Por
outra parte, devemos considerar que a prática do mal é uma fraqueza,
e não uma fortaleza; e, assim sendo, a prática do mal nada tem a
ver com a onipotência,
O Antigo Testamento não
contém qualquer argumento direto em prol da onipotência de Deus, apesar de
descrevê-lo como muito poderoso. Mas, no Novo Testamento grego, pantokrátor,
“todo-poderoso”, é um dos titulos dados a Deus. Ver II Cor. 6:18; Apo. 1:8;
4:8; 11:17; 15:3; 16:7,14; 19:6,15; 21:22. Quase sempre, contudo, podemos
deduzir um conceito da onipotência divina mediante as obras de Deus. Deus
realiza maravilhas sobre a natureza, inconcebíveis para o homem ou para
qualquer coisa que o homem conheça como poderoso (ver Gên. 1:1-3; Isa.
44:24; Heb. 1:1). Deus pode criar coisas a qualquer tempo (Mat. 3:9; Rom.
4:17). Coisa alguma é impossível para Deus (Gên. 18:14). Coisa alguma está
fora do alcance de seu poder (Dan. 4:35; Amos 9:2,3). Deus observa e cuida
das menores coisas, como a queda de um pardal ou o número de cabelos
em nossa cabeça (Mat. 10:13; Luc. 12:7), pelo que o seu poder
envolve até mesmo as coisas mais triviais. Isso exprime um teísmo
puro (vide). Em Deus há um poder todo-poderoso, do qual podemos
tirar proveito. O homem espiritual é capaz disso.
A onipotência de Deus não
impõe restrições à sua autolimitação. Usualmente, o problema do mal esconde-se
por detrás dessa doutrina. Para alguns, é necessária para o cumprimento do
plano de redenção dos homens. Deus exerce pleno controle sobre o modus
operandi de Seu poder. Além disso, a existência do livre-arbítrio
serve de evidência da autolimitação de Deus. Deus prevê que o homem agirá
livremente, e permite que o homem atue com liberdade, para que possa
experimentar um genuíno desenvolvimento espiritual, sem ser reduzido a
um escravo, pela divina compulsão. A graça é irresistível, conforme
ensina o calvinismo, mas isso dentro de um contexto mais
abrangente, mais amplo do que aquele sistema tem imaginado. Em primeiro
lugar, o poder de Deus é inspirado pelo seu amor, o que significa
que se mostra remidor para com os eleitos, e restaurador para com
os não-eleitos. O poder de Deus está por detrás tanto da redenção
quanto da restauração, pelo que ambos esses atos divinos são certos
e irresistíveis. Ver o artigo sobre Restauração. Se não nos
esquecermos que o amor de Deus está por detrás do seu poder, então não
teremos dificuldades ante doutrinas negativas que destroem a missão
universal de Cristo. A missão de Cristo é tríplice: na terra, no hades
e nos céus. Foi e continua sendo. E o seu amor que inspira ao poder de
Deus, tornará eficaz cada um desses aspectos da missão de Cristo,
ainda que, de acordo com os padrões humanos, um longo tempo seja
necessário para que tudo se complete.
Alguns nomes de Deus
sugerem a sua onipotência, como é o caso de EI (“poderoso”). Sua forma
plural de intensificação, Elohim, enfatiza a plenitude do poder de
Deus. O título EI Shaddai salienta o poder de Deus. ‘Abhir
significa “o forte”, E no Novo Testamento grego temos o título pantokrátor,
“todo-poderoso”. Deus é a base mesma da existência, e, conforme Platão
declarou, Ser é Poder. A própria existência aponta para um grande poder, e
esse poder, em sua manifestação mais alta, é o Poder Divino.