Verme — Estudos Bíblicos
VERME
Nada menos de cinco palavras hebraicas e de uma
palavra grega são traduzidas, nas versões em geral, pela palavra genérica “verme”,
a saber:
1. Tola, “verme”. Essa palavra, que também
significa “carmesim”, significa “verme”, por uma vez, em Êxo. 16:20, onde
nossa versão portuguesa a traduz por “bicho”: “Eles, porém, não
deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram o maná para a manhã
seguinte; porém, deu bichos e cheirava mal...”.
2. Rimmah, “verme”.
Essa palavra hebraica ocorre por sete vezes no Antigo Testamento: Êxo.
16:24; Jó 7:5; 17:14; 21:26; 24:20; 25:6; Isa. 14:11.
3. Tolaath, “verme”.
Esse termo hebraico aparece por sete vezes: Deu. 28:39; Jó 25:6; Sal. 22:6; Isa.
14:11; 41:14; 66:24; Jon. 4:7.
4. Zachal, “verme”.
Esse termo hebraico também só aparece por uma vez com o sentido de “verme”,
embora a nossa versão portuguesa prefira interpretá-lo como “répteis”, conforme
se vê no trecho de Miquéias 7:17: “Lamberão o pó como serpentes; como
répteis da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos...”.
5. Sas, “verme”. Esse
é um outro vocábulo hebraico que foi utilizado somente por uma vez em todo
o Antigo Testamento, em Isaías 51:8, onde a nossa versão portuguesa,
novamente, o traduz por “bicho”. Lemos ali: “Porque a traça os roerá como
a um vestido, e o bicho os comerá como à lã...”.
6. Skóleks, “verme”.
Essa palavra grega foi empregada somente por uma vez em todo o Novo
Testamento, em certa declaração do Senhor Jesus, em Marcos 9:48: “...onde
não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga”. Outras versões, seguindo
certos manuscritos inferiores, fazem toda essa sentença repetir-se nos
versículos 44 e 46 desse mesmo capítulo do segundo evangelho. Nossa versão
portuguesa, entretanto, coloca essas reiterações entre colchetes, demonstrando
assim que os seus revisores tinham consciência de que há uma dúvida quanto
a essas reiterações, se elas deveriam ou não ser incluídas no texto
sagrado.
Em vista da tremenda dificuldade de tradução dos
vocábulos hebraicos (incluindo todo o vocabulário hebraico relativo à fauna e
à flora, nas páginas do Antigo Testamento), não imaginemos que
a nossa versão portuguesa tenha sido mais feliz que outras
versões, portuguesas e estrangeiras, na interpretação desses vocábulos
relativos aos vermes.
Além dos sentidos literais, que todos os estudiosos
reconhecem ser dificílimo de deslindar uns dos outros desde o Antigo Testamento
até o Novo, as palavras traduzidas por “verme” também revestem-se de sentidos
metafóricos, conforme se vê, por exemplo, em Isaías 41:14: “Não temas, ó
vermezinho de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor...”.
Passamos a comentar de modo abreviado cada um desses
seis vocábulos (cinco hebraicos e um grego), na mesma ordem de
apresentação da lista acima:
1. Tola. Segundo já
vimos, esse vocábulo hebraico aparece dentro do contexto do recolhimento
do maná por parte do povo de Israel, no deserto. Esse recolhimento deveria
ser feito em porções adredemente determinadas, a cada dia, conforme se vê
no décimo sexto capítulo do livro de Êxodo. Uma possível explicação para
a podridão que se manifestou no maná guardado de um dia para o outro,
excetuando em dia de sábado, é que esse verme seria na verdade, a larva da
mosca. Em um clima quente como aquele que fazia no deserto, e em um
período histórico em que as questões e as medidas sanitárias ainda eram
tão precariamente conhecidas, não nos é difícil imaginar tal
possibilidade. Quanto ao fato de que essa palavra hebraica também
significava “carmesim”, não devemos imaginar nada de especial. Em todos os idiomas,
antigos e modernos, há palavras que significam mais de uma coisa.
2. Rimmah. Visto que
esse termo hebraico foi frequentemente usado em um sentido metafórico, e
isso da maneira mais variegada, segue-se que esse deve ter sido um termo
geral para indicar “verme”. No cântico fúnebre da profecia de Isaías,
lamentando pelo rei da Babilônia, encontramos os seguintes dizeres: “Derribada
está na cova a tua soberba, também o som da tua harpa; por baixo de ti
uma cama de gusanos, e os vermes são a tua coberta”.
Curiosamente, nesse trecho, “gusanos” é que corresponde ao termo
hebraico rimmah; e a palavra portuguesa “verme”, que ali
também aparece, corresponde ao vocábulo hebraico tolaath, sobre
a qual comentamos abaixo.
3. Tolaath. O que se
reveste de maior interesse, no tocante a essa palavra hebraica, é que, em
combinação com shani, “vermelho”, por nada menos de vinte e sete
vezes ela significa uma cor “escarlate”. Isso se vê, por exemplo, em
Isaías 1:18: “...ainda que os vossos pecados são como a escarlate, eles se
tornarão brancos como a neve...” Talvez a explicação mais razoável
para isso seja o fato de que o pigmento vermelho dos antigos
era extraído de um inseto cujo nome científico moderno é Coccus illicis,
que se hospeda no olmeiro, uma árvore muito abundante no norte da
Palestina. Esses insetos têm um corpo muito mole, como o dos vermes, e,
por causa disso, eles preparavam uma capa protetora, feita de cera, por
cima de alguma pequena cavidade na casca daquela planta. O pigmento vermelho
era extraído exatamente dessa capa protetora, que se parecia com uma
escama. De acordo com a química moderna, sabe-se que o ingrediente ativo desse
pigmento é o ácido quermésico, e que o corante obtido do mesmo é uma das
antroquinonas. Dissolvido na água, assume uma cor vermelho-amarelada, mas
torna-se vermelho-vio-leta em soluções ácidas. O próprio inseto em pauta é
minúsculo, pertencente à classe dos piolhos das plantas. Outros
estudiosos, com base nas mesmas indicações , pensam que se tratava
de alguma lagarta .
4. Zachal. Visto que
nossa versão portuguesa, em sua única referência no A. Testamento (Miquéias
7:17), traduz essa palavra como répteis, temos a dizer que
muitos eruditos não acreditam nisso, porquanto preferem pensar em algum
tipo de verme, a despeito das palavras de Miquéias: “...sairão dos seus
esconderijos...”, pois até os vermes podem esconder-se em esconderijos, e
não somente os répteis. A versão Berkley da Bíblia inglesa diz ali
(agora vertido para o português): “...como vermes da terra,
tremendo, sairão de suas fortalezas...”. Naturalmente essa passagem fala
de homens, tremendamente assustados diante da aproximação do Senhor
Deus; daí também eles sairão de suas “fortalezas”.
5. Sas. À primeira
vista, o contexto de Isaías dá a entender que está em foco a lagarta da
traça. E essa é a posição que muitos comentadores têm tomado. Mas, visto
que a lagarta da traça não se parece nem um pouquinho com um verme,
outros estudiosos preferem pensar na barata, ou em algum outro
inseto similar, dado à destruição de fibras e tecidos. Ver também o artigo
sobre a Traça. Isso exibe a dificuldade de interpretar
essas palavras hebraicas.
6. Skóleks. Esse é o
teimo usado para indicar a tênia solitária em seu estado embriônico. A
única passagem onde essa palavra aparece no Novo Testamento é em Marcos
9:48: “...onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga”. Temos aí uma
citação direta de Isaías 66:24. Ora, em Isaías encontramos o
termo hebraico tolaath (ver acima). Por conseguinte, não se
deve pensar em qualquer interpretação literal, da palavra grega em Marcos, a
menos que alguém consiga provar que a tolaath era o verme da
tênia solitária.
Seja como for, o quadro mental que se forma, ante
aquelas palavras de Jesus, em referência aos que serão lançados na Geena de
fogo, não é nenhum quadro agradável, que indique alguma subida na escala do
ser. Bem pelo contrário, refere-se aos condenados à perdição eterna (ao
menos comparativamente com os remidos).
Embora seja legítimo falar comparativamente, usando
palavras severas para comparar o estado dos perdidos com aquele dos remidos,
uma teologia mais iluminada leva em consideração que a missão
tridimensional de Cristo (na terra, no hades e nos céus)
beneficiará os perdidos também. Alcançarão afinal, através do julgamento,
uma glorificação notável, embora não aquela dos remidos. Ver estes
conceitos desenvolvidos nos artigos.