Interpretação de Joel 1
Joel 1
Versículo-título, 1:1 .
1. Joel significa Yahweh (ou Jeová) é Deus. Petuel significa
persuadido por Deus. No Oriente o uso do nome do pai serve de sinal de
identificação. É análogo ao nosso uso de sobrenomes (cons. Os. 1:1; Sf. 1:1;
Mq. 1:1).
I. A Praga dos Gafanhotos como Precursora do Dia do
Senhor. 1:2 – 2:17.
A. Uma Calamidade Tripla: Gafanhotos, Seca e
Conflagrações, 1:2-20.
No meio de uma terrível calamidade o profeta convoca
o povo para uma lamentação universal. Ele interpreta a condição presente como
uma precursora do Dia do Senhor (1:2-12). Para desviar os seus terrores ele
convoca todas as categorias sociais da população a se voltarem para Deus em
arrependimento (1:13, 14). Ele torna a enfatizar a atual situação angustiosa e
termina com uma oração pedindo libertação (1:16-20).
1) A Invasão dos Gafanhotos, 1:2-12.
2. Ouvi isto. Uma invocação solene para chamar a atenção para o que
vem a seguir (cons. Amós 3:1; 4:1; 5:1). Velhos. Não os anciãos
oficiais, mas as pessoas idosas que transmitem o saber do passado para a
próxima geração. Nos dias de vossos pais. Entre o povo do Oriente as
lembranças do passado eram transmitidas de geração para geração.
3. A resposta à pergunta do versículo 2 não está declarada. Só poderia ser
Não! Narrai. A palavra hebraica sâpperû (um radical intensivo) vem
da mesma raiz da qual vela a palavra “livro”. Aqui o verbo significa a
transmissão de informação cuidadosa e detalhada. (Quanto à transmissão do
registro do pronunciamento e revelação divinos deste modo, veja Dt. 4:9; 6:6,
7; 11:8; Sl. 78:5). Agora o mesmo procedimento devia registrar esta calamidade
sem precedentes.
4. Gafanhoto cortador ... migrador ... devorador ...
destruidor. Literalmente,
descrevendo quatro das oitenta ou noventa espécies de gafanhotos no Oriente.
5. Ébrios, despertai-vos. Chegou a hora de se acordar do sono
intoxicante! Os ébrios representam as classes ricas, que aqui são convocadas a
chorar e gritar por cama da destruição das vinhas que acabou com seus estoques.
6, 7. A razão da angustiosa situação, isto é, do imenso número de inimigos,
suas armas horríveis e os horríveis resultados do seu ataque. Povo (Heb.
gôy). Os enxames de gafanhotos são como um povo; devastam a terra como
um exército invasor. Veio . . . contra. Um termo militar usado quando da
aproximação de um inimigo (cons. I Reis 20:22; Is. 21:2). Dentes. Os “dentes
caninos” ou “presas”. As mandíbulas de alguns gafanhotos são denteados como
serras. Com tais mandíbulas conseguem roer madeira e couro, além de verduras. Destroçou
(ou lascou). É uma hipérbole. Os gafanhotos não poderiam destroçar
uma figueira, mas poderiam reduzir o valor de urna figueira a meras lascas. Tirou-lhe
a casca. Literalmente: Desnudando-a, desnudou-a. Roendo
constantemente, os gafanhotos desnudaram a figueira de suas flores, folhagens e
casca. Brancos. Não à aparência de um campo queimado, mas o de solo
coberto com neve, devido à brancura de árvores e ervas.
8. Lamenta (heb. 'êlî). Este verbo foi usado somente
aqui, mas o significado está claro no aramaico e siríaco. A forma é feminina
porque o discurso é dirigido a toda a comunidade. Com a virgem (heb. betûlâ).
Literalmente, uma que está separada de todos os outros, que não conheceu
ainda nenhum homem (Gn. 24:16). Marido da sua mocidade. Viúva antes de
se casar.
9. A justificação para a convocação à lamentação universal. A oferta de
manjares e a libação. Representam os sacrifícios diários (cons. Nm. 15:5;
28:7; Êx. 29:38). No Judaísmo daquele período nada era mais temido que a
suspensão do Tamid (veja Dn. 8:11; 11:31; 12:11). Josefo achou que esta
ausência dos sacrifícios diários foram a calamidade mais terrível e sem
precedentes no cerco de Jerusalém (Antiq. xiv. 16:2; Wars vi 2.1).
11, 12. O profeta faz um convite ao lavrador e ao vinhateiro.
Envergonhai-vos. Os fazendeiros, tal como os vinhateiros, ficariam em
dificuldades. Joel descreve homens, colheitas e campos, todos se lamentando
juntos. Jerônimo faz aqui uma alegoria e afirma que os lavradores e vinhateiros
são os sacerdotes e pregadores. A figueira é nativa na Ásia ocidental e
muito encontradiça na Palestina. Era muito estimada e freqüentemente mencionada
junto com o vinho (cons. Dt. 8:8; Jr. 5:17). “Assentar-se sob a videira e a
figueira de alguém” era símbolo de prosperidade e segurança (I Reis 4:25; Mq.
4:4). Os figos eram desidratados e prensados em bolos para servir de alimento
(I Sm. 25:18) e como cataplasmas (II Rs. 20:7; Is. 38:21). Uvas e figos são
mencionados por Josefo como as principais frutas da terra (Wars iii. x.
8). Ainda hoje em dia muitas casas no Oriente Próximo estão inteiramente
cobertas com videiras e ficam completamente escondidas sob figueiras. Romeira.
Há muitas referências feitas a esta árvore nas Escrituras (por exemplo, Nm.
13:23; 20:5; Dt. 8:8; I Sm. 14:2; Cantares 4:3, 13). É um arbusto ou árvore de
porte pequeno, de 3 a 4, 6 metros de altura, com folhas pequenas e verde
escuras. Tem um fruto do tamanho de uma laranja, doces ou ácidas conforme a
qualidade. A polpa é muito refrescante ao paladar. O suco da qualidade ácida
era adoçado e usado como bebida (Cantares 8:2). Também era usada em saladas.
Palmeira. A palmeira tem existido desde os tempos
pré-históricos em uma vasta área na zona quente e seca que se estende do
Senegal até a bacia do Indus principalmente entre o décimo quinto e
trigésimo grau de latitude. É muito comum na Palestina. A moeda cunhada para
comemorar a tomada de Jerusalém em 70 d.C. representava uma mulher chorando (o
símbolo da terra) assentada sob uma palmeira; tinha a inscrição judaea capta.
A macieira. Diversas sugestões já foram feitas para a identificação
desta árvore, a saber, marmelo, limão, laranja, abricó e maçã. De acordo com os
Cantares era uma árvore majestosa própria para se assentar em sua sombra, com
seus galhos se espalhando sobre uma tenda ou casa, com fruto agradável ao paladar
e cheiro apetecível, refrescante. As árvores ... se secaram Literalmente,
se envergonharam. O mesmo verbo aparece nos versículos 10, 11, 12. Esta
freqüente repetição da palavra “envergonhado” é um chamado indireto ao
arrependimento no versículo 13. Quando a alegria desaparece, chega o momento da
penitência.
2) Chamado ao Arrependimento. 1:13,14.
13. O pensamento volta ao versículo 9. Os sacerdotes estão sendo convocados
com base no mesmo princípio dos ébrios no versículo 5. Com o fracasso das
colheitas, seu ministério terminaria, pois já não haveria mais primícias e os
sacrifícios logo se acabariam. Cingi-vos de pano de saco. O uso de pano
de saco pelos sacerdotes acrescentaria solenidade à ocasião. Lamentai. A
palavra é usada especialmente com referência às lamentações pelos mortos -
expressão de sofrimento intenso (LXX, Feri-vos no peito). Meu Deus .
. . vosso Deus. Contraste agudo! O Deus do profeta exigia arrependimento; o
Deus dos sacerdotes exigia oferta de manjares e libação.
14. Joel apela aos sacerdotes a que convoquem uma assembléia solene, um
ajuntamento religioso público, do qual todos deveriam participar. Os
anciãos. Embora autoridades, estavam sujeitos aos sacerdotes em questões
religiosas. Casa do SENHOR. O Templo.
3) Os Terrores do Dia do Senhor. 1:15-20.
15. O dia do SENHOR. O homem tem o seu dia e anda pelos seus próprios
caminhos, mas finalmente tem de vir o Dia do Senhor! À luz do pecado humano, o
Dia do Senhor deverá ser um dia de vingança. Todo-poderoso. O hebraicos Shadday
é usado como nome de Deus, com referência distinta ao poder divino (usado
trinta e uma vezes no Livro de Jó).
16. Diante dos vossos olhos. Os judeus não tinham meios de evitar a
destruição. A alegria e o regozijo. A alegria da convocação
religiosa e a apresentação das primícias. Estas deviam ser oferecidas no Templo
com regozijo (Dt. 26:1-11).
18. Até os animais irracionais são representados chorando em agonia. Geme
(soluça). O gado participa da tristeza do homem. Estão
perecendo, como se fossem culpados. As pobres, inocentes e desamparadas
bestas tinham de arcar com o pecado do homem.
19, 20. Enquanto as bestas só podem gemer e sofrer, as almas
humanas podem clamar ao Senhor. Os postos do deserto. (Terras sem cultivo onde
as ovelhas pastavam; cons. Amós 1: 2). O fogo ... a chama. Calor e seca
que acompanhavam a praga dos gafanhotos.
B. A Praga como Precursora do Dia do Juízo. 2:1-17.
O profeta visualiza uma praga ainda mais terrível que
está por vir. Em termos altamente poéticos ele descreve os enxames de
gafanhotos como se fossem um exército hostil, vindo como o exército do Senhor
para julgamento (2:1-11). Mas a porta da misericórdia, ele diz, ainda está
entreaberta! Se o povo se voltar para o seu Deus com coração contrito, a
calamidade pode ser evitada (2:12-14). O profeta convoca toda a comunidade para
uma reunião de oração e jejum na casa do Senhor (2:15-17).