Unção — Estudos Bíblicos

UNÇÃO

No grego, chrísma. Esse substantivo aparece somente por três vezes em todo o Novo Testamento, sempre em 1 João 2:20,27. O verbo chrio, “ungir”, ocorre por cinco vezes: Luc. 4:18 (citando Isa. 61:1); Atos 4:27; 10:38; II Cor. 1:21; Heb. 1:9 (citando Sal. 45:8). Mas o adjetivo christós, “ungido”, é usado por mais de quinhentas e quarenta vezes, desde Mat. 1:1 até Apo. 22:21.

Em todas as três ocorrências do substantivo, “unção”, está em pauta a presença permanente do Espírito Santo com os crentes. O Senhor Jesus foi “ungido” com a presença do Espírito, capacitando-o a pregar o evangelho e a realizar prodígios e milagres (Luc. 4:18). De acordo com as profecias bíblicas, o Messias (nome que procede do hebraico, correspondente em tudo ao termo grego Cristo, ou “ungido”) era Servo de Deus por motivo de sua unção. O pensamento é reiterado em Atos 10:38. Por termos recebido o Espírito, também somos “cristos”, ou “ungidos”, segundo se vê em II Cor. 1:21,22: ”Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações”. Hebreus 1:9 mostra-nos que a unção de Jesus, entretanto, era de um nível todo especial: “...por isso Deus, o teu Deus te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros”. Ver também João 3:34.

A ideia de unção vem desde o Antigo Testamento, quando reis e sacerdotes recebiam a unção com óleo, literalmente falando, para ocuparem suas respectivas funções. Ver Êxo. 40: 13-15; Juí. 9:8; I Sam. 9:16. Já a unção dos profetas era dada diretamente por Deus como uma operação espiritual. Ver I Reis 19:16 e, especialmente, Isa. 61:1. Essa é a base da unção tanto de Cristo quanto dos crentes, com o Espírito Santo, conforme já vimos. No Novo Testamento, a única menção à unção literal é a de Tia. 5:14,15, mas onde o autor sagrado já usa uma palavra grega diferente, alepfíb, “untar”, “besuntar”, quando diz, segundo a nossa versão portuguesa: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor”.

Diversos vocábulos hebraicos são assim traduzidos, com raízes que significam “engordar”, “esfregar”, “derramar” e “ungir”. No Novo Testamento temos xríein, “esfregar”, “untar”, e aleifein, “ungir”. A ideia básica é a de esfregar com óleo (usualmente azeite de oliveira). Óleos eram especialmente preparados com essa finalidade, sobretudo se algum uso sagrado estivesse em pauta.

Pano de fundo: A prática da unção é antiquíssima, podendo ser acompanhada até de culturas pré-hebreias. A prática pode ter surgido nas práticas nomádicas de sacrifício, como a de untar de gordura os potes totens, como parte de alguma refeição comunitária. Ou pode ter surgido com base em unções para fins medicinais, quando se esperava a cura. Várias formas dessa prática foram bem averiguadas na Babilônia e no Egito, antes dos tempos bíblicos. A unção de reis, sacerdotes, etc., eram formas comuns. Além disso, tal prática estava associada ao exorcismo e às cerimônias que preparavam os jovens para sua entrada na sociedade dos adultos.

Costume hebreu. No período pré-monárquico, temos em Gên. 31:13 o relato sobre como Jacó ungiu a coluna que erigira em Betel, aparentemente uma forma de dedicação. Durante a época dos juízes, a prática era usada por ocasião da consagração de governantes (Juí. 9:8,15).

Tipos de unção:
1. De coisas: Ver II Sam. 1:21 e Isa. 21:5, a unção de escudos, talvez a fim de consagrá-los para a guerra. O tabernáculo e seus utensílios foram ungidos, incluindo todos os seus móveis (Êxo. 30:26-29; 40:9-11). O altar foi ungido (Êxo. 29:36), o que equivaleu à unção das colunas ou pilhas de pedras, que eram usadas como memoriais ou altares (Gên. 28:18; 35:14).

2. De pessoas:
a. Reis. O azeite era derramado sobre as cabeças dos reis como símbolo de sua consagração ao ofício. Sacerdotes ou profetas, como representantes de Deus, usualmente encarregavam-se do ato da unção. (I Sam. 10:1; I Reis 1:39,45; 19:16). A unção fazia do rei um servo de Deus. O rito da unção dos reis criou o termo “ungido do Senhor” que se tonado virtual sinônimo de “rei”. (I Sam. 12:3,5; II Sam. 1:14,16; Sal. 20:6).

b. Sacerdotes. A unção de um sacerdote lhe conferia um ofício vitalício (Lev. 7:3 ss.; 10:7; 4:3; 8:12-30). Os sacerdotes eram consagrados ao Senhor para cumprirem os seus serviços.

c. Profetas. Elias comissionou Eliseu como seu sucessor por meio de unção (I Reis 1916); embora o próprio ato não seja literalmente historiado. A comparação do Sal. 105:15 e I Crô. 16:22 parece indicar que pelo menos alguns profetas foram ungidos, o que os consagrou como representantes de Deus para a promoção da mensagem espiritual.

d. De bóspedes e estranhos. A mulher ungiu os pés de Jesus, como sinal de respeito e hospitalidade (Luc. 7:38). Jesus frisou que Ele poderia ter sido assim honrado pelo Seu hospedeiro (Luc. 7:46), o que mostra que havia o costume de ungir os convidados. Seja como for, o costume era antigo, certamente não circunscrito à cultura dos hebreus. Trechos bíblicos como Sal. 23:5; Pro. 21:7; 27:9 e Sab. 2:7 podem ser alusões à prática.

e. Por razões estéticas e salutares. Os judeus ungiam-se quando saíam a visitar alguém, e também em muitas ocasiões ordinárias, talvez por higiene e para adornar a cútis, uma medida salutar e cosmética. (Deu. 28:40; Rute 3:3; II Sam. 14:2; Amós 6:6; Sal. 104:15). Os cabelos e a pele eram ungidos. Parece que a pele lustrosa era considerada bonita, e a crença dos antigos no valor medicinal do azeite indicava que tais unções eram medidas salutares, tal e qual se sucedia no caso da lavagem das mãos.

f. Dos mortos. Essa unção era feita após a lavagem do corpo. Talvez para refrear o processo da corrupção, mas o mais provável é que fosse um sinal de consagração do morto a Deus. (Núm. 5:22; Jer. 8:22; Mar. 14:1; Luc. 23:56).

Sentidos metafóricos:
1. Da unção do Espirito (Sal. 28:8; Hab. 3:13; II Cor. 1:22; I João 2:20:27).

2. Como termo técnico do Messias, pois Ele é, supremamente, “o ungido”. Esse é o sentido da palavra “Cristo”. Messias é uma transliteração do vocábulo hebraico que significa “ungido”. No plural, “ungidos”, a palavra veio a indicar os sucessores da linhagem real de Davi (Sal. 2:2; 18:50; 132:10). O esperado Messias foi assim designado por ser o mais digno dos sucessores de Davi, em Salmos de Salomão 17:36 e 18:8.

 A unção separa a pessoa ungida para o seu oficio, falando sobre o caráter sagrado de sua chamada e comissão. Há aquele “óleo de alegria” para aqueles que cumprem bem a sua missão (Heb. 1:9). Assim são separados os homens para servirem a Deus (Rom. 1:1). Mas, em seu lado negativo, a prática da unção pode simbolizar o excesso de luxo (Amós 6:6).

Significado sacramental: Alguns intérpretes veem um uso sacramental na unção, em Tia. 5:14, nos termos de extrema unção. As igrejas orientais continuam ungindo os enfermos em um rito formal, costume alicerçado sobre esse versículo. E outros grupos cristãos fazem o mesmo.