Vida — Estudos Bíblicos

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VIDA

Esboço:
I. Definições e Termos Básicos
II. Algumas Idéias Filosóficas
III. Idéias Bíblicas
IV. O Caráter Sagrado da Vida
V. Vida, Jesus Como a
VI. Valores da Vida
VII. Vida, Sua Avaliação e Uso
VIII. Vida, Cristo Como a Nossa
IX. Jesus Como Pão da Vida
X. A Vida Eterna
XI. A Vida e Suas Finalidades

I. Definições e Termos Básicos

1. O Termo Latino. A palavra portuguesa vida vem do termo latino vita, uma palavra de sentido amplo, que pode indicar qualquer tipo de vida, física ou espiritual. Essa palavra também pode ser usada para indicar “maneira de viver”, ou seja, vida metaforicamente compreendida. Também pode estar em foco a alma; de conformidade com a antiga teologia romana, a sombra ou a fantasmagórica virtual não-entidade do submundo. Essa palavra também podia indicar os homens vivos, no sentido de mundo ou humanidade, coletivamente falando.
2. Modernas Definições Léxicas. Essas distinguem a vida orgânica das substâncias inorgânicas e da vida orgânica morta. Essa é a vida física. Todavia, a vida também pode indicar uma essência vital, dotada de propriedades misteriosas, sem a qual a vida biológica não poderia suster-se. Acresça-se a isso que a vida também pode ser encarada do ângulo de uma existência consciente e inteligente, o que sugere que as entidades orgânicas inferiores não possuem vida verdadeira.
No campo da teologia, entretanto, a vida é sempre uma realização espiritual, derivada da fonte divina, se for verdadeira vida. Metaforicamente falando, os homens estão mortos em seus delitos e pecados, enquanto não acham a vida, mediante a conversão e a santificação. Esse ensino reflete-se em I Tim. 5:6: “...entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta”. É verdade que alguns físicos teóricos insistem que todas as coisas estão vivas, e que todas as coisas são uma espécie de presença viva. Mas, essa é apenas uma idéia panteísta (vide), e que até agora não teve comprovação científica. Seja como for, é difícil explicar como coisas mortas podem envolver tão intrincados movimentos, aparentemente guiados por alguma inteligência.
3. Palavras Hebraicas. Chaiyim é termo que se refere à vida física, conforme se vê claramente em Deu. 28:66. Essa palavra está no plural; juntamente com sua forma singular, chaiyah, ela ocorre por cerca de cento e quarenta e duas vezes no Antigo Testamento, embora também possa significar “fera”, “período de vida”, “apetite”, “tropa” etc. Para exemplificar, ver Gên. 2:7,9; 3:14; Êxo. 1:14; Lev. 18:18; Deu. 4:9, 6:2, 32:47; Jos. 1:5; Jui. 16:30; I Sam. 1:11 25:29; II Sam. 1:23; I Reis 4:21; 15:5,6; il Reis 4:16,17; Esd. 6:10; Jó 3:20; 7:7; 36:11; Sal. 7:5; 16.11; 27:1; 133:3; 143:3; Pro. 2:19; 3:2,18,22, 22:4; 31:12; Ecl. 2:2,17; 9:9; Isa. 38:11,16,20; Jer. 8:3; Lam. 3:53,58; Eze. 7:13; 33:15; Dan. 7:12; 12:2; Jon. 2:6. Entre os hebreus, a verdadeira vida era aquela que usufruía da aprovação e da bênção de Deus. o que era evidenciado pelo bem-estar e pelo progresso materiais. Ver Deu. 30:15-20. Moisés disse acerca do cumprimento dos mandamentos de Deus: “...cumprindo, os quais o homem viverá por eles...” (Lev. 18:5).
Uma outra palavra hebraica é nephesh. Lemos em Gên. 2:7: “...formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Esse versículo tem sido cristianizado, para indicar que Deus acrescentou a alma ao corpo físico do homem, passando o homem a ser uma dualidade. Os teólogos judeus, entretanto, frisam que o conceito sobre a porção espiritual do homem não fazia parte das idéias dos antigos hebreus, e também que o Pentateuco não contém esse conceito em qualquer sentido. De fato, nos cinco livros de Moisés não há qualquer doutrina de recompensa pelo bem praticado, e nem ameaça eterna pela maldade praticada, no após-túmulo. De fato, é muito difícil supormos que se o conceito da imortalidade da alma existisse, naquele remoto período, que o mesmo tivesse sido deixado inteiramente de lado, na ventilação de questões éticas. Naturalmente, os comentadores rabínicos posteriores, tal como seus colegas cristãos, injetaram em textos, como o de Gên. 2:7, o conceito de “alma”.
O Dictionary of Theology, de Baker, diz sobre esse ponto: “Nephesh. A mais freqüente tradução da palavra, na Authorized Version, em inglês, é 'alma'. Porém, isso não deve ser considerado como uma entidade espiritual separada, dentro do homem e, sim, a vida individual que pertence a cada homem ou animal”. Alguns eruditos pensam que essa palavra aponta para uma espécie de idéia primitiva sobre a vitalidade que anima a parte animal, uma espécie de “alma que respira”, e que se libera por ocasião da morte física; em outras palavras, uma espécie de entidade fantasmagórica, que fica pairando no hades, uma forma de fantasma destituído de mente. Parece que essa doutrina fazia parte do pensamento hebraico e grego primitivos. Além disso, observe-se que nephesh aparece como algo que está intimamente associado ao sangue como a sede da vida biológica (ver Lev. 17:11-14). Porém, isso nem ao menos se aproxima de qualquer doutrina da “alma”. O que é certo é que, entre os antigos hebreus e outros povos, toda vida era concebida como dependente de Deus quanto ao seu início e à sua manutenção, segundo se vê em Gên. 2:7 e Sal. 104:27-30. Pelo tempo em que foram escritos os salmos e os livros dos profetas, os hebreus tinham a idéia de que a vida psíquica do indivíduo continua após a morte. Em outras palavras, a idéia da alma veio a fazer parte do pensamento hebreu em algum tempo antes de 1000 A.C. Pouco tempo depois da época de Samuel, temos a história da invocação de sua alma (I Sam. 28:11 ss.), por parte da médium de En-Dor. Esse é um texto de prova válido quanto à crença dos hebreus na existência de uma alma imaterial. A palavra hebraica nephesh ocorre no Antigo Testamento por mais de seiscentas vezes, desde Gên. 9:4 até Jon. 4:3.
Outras palavras hebraicas envolvidas são: Yom “dias” (ver I Reis 3:11; II Crô. 1:11; Sal. 61:6; 91:16) e etsem, “osso” (verJó 7:15).
4. Palavras Gregas. Devemos considerar quatro termos gregos, nessa conexão:
a. Bíos, “vida biológica”, “período de vida”. Esse termo ocorre por dez vezes no Novo Testamento: Mar. 12:44; Luc. 8:14,43; 15:12, 30; 21:4; I Tim. 2:2; II Tim. 2:4; I João 2:16 e 3:17.
b. Zoé, “vida”, “movimento”, “atividade”. Essa palavra grega aparece por cento e trinta e quatro vezes no Novo Testamento. Exemplos: Mat. 7:14; 18:8,9; 9:43,45; Luc. 10:25; 18:18, 30; João 1:4; 3:15,16,36; 6:27,33; 10:10,28; 11:25; 4:6; Atos 2:28 (citando Sal. 16:11); 3:15; 5:20; 8:33 (citando Isa. 53:8); Rom. 2:7; 5:10,17,18,21; I Cor. 3:22; 15:19; II Cor. 2:16; Gál. 6:8; Efé. 4:18; Fil. 1:20; 2:16; 4:3; Col. 3:3,4; I Tim. 1:16; 4:8; 6:12,19; II Tim. 1:1,10; Tito 1:2,3,7; Heb. 7:3,16; Tia. 1:12; 4:14; I Ped. 3:7,10 (citando Sal. 34:13); II Ped. 1:3;
I João 1:12; 2:25; 3:14,15; 5:11-13; Jud. 21; Apo. 2:7,10; 11:11; 13:8; 17:8; 22:1,2,14,17,19.
Essa é a palavra que melhor indica a “psique”, a vida não-material do ser humano. Os escritores pagãos que escreviam em grego usavam zoé para indicar a vida física, em contraste com a morte, quando essa vida física cessa. Porém, no Novo Testamento, a palavra é usada para indicar certa “qualidade de vida”, a vida derivada de Deus, que se torna posse daqueles que receberam a “vida eterna”, a salvação em Cristo. Portanto, essa vida é derivada de Cristo (João 1:4), proporcionada ao crente mediante a fé (Rom. 6:4; I João 5:12). Ela sobrevive à morte física, e entra na eternidade (II Cor. 5:4; II Tim. 1:10). Em contraste com a palavra grega anterior, bíos, esta última, usualmente, refere-se à vida terrena (ver Luc. 8:14; I Tim. 2:12; II Tim. 2:4).
c. Psuché, “vida animal”, “respiração”, “alma”. Esse termo grego foi usado por cento e uma vezes no Novo Testamento. Para exemplificar: Mat. 2:20; 6:25; 12:18 (citando Isa. 42:2); 26:38; Mar. 3:4; 8:35-37; Luc. 1:46; 2:35; 6:9; 14:26; 17:33; 21:19; João 10:11,15,17,24; 12:25,27; 15:13, Atos 2:27 (citando Sal. 16:10), 2:41,43; 8:23 (citando Deu. 18:19); 4:32; 7:14; Rom. 2:9; 11:3 (citando I Reis 19:10); 13:1; I Cor. 15:45 (citando Gên. 2:7); II Cor. 1:23; Efé. 6:6; Fil. 1:27; Col. 3:23; I Tes. 2:8; Heb. 4:12 (citando Hab. 2:4), 10:39; Tia. 1:21; 5:20; I Ped. 1:9,22; 2:11,25; 3:20; 4:19; II Ped. 2:8,14; I João 3:16; III João 2; Apo. 6:9; 18:13,14; 20:4. Essa palavra é frequentemente traduzida por “alma” ou “espírito”; era a palavra platônica comum para indicar a porção imaterial do homem. Todavia, em sentido geral, pode indicar a “vida espiritual. (Mat. 10:45), a qualidade da presente vida espiritual (Mat. 6:25). Essa forma de vida abandona o corpo físico, por ocasião da morte (Luc. 12:20). Trata-se de uma palavra de amplo sentido, podendo indicar a “vida terrena” (ver Josefo, Anti. 18.358). E a “alma” imaterial também pode ser indicada por essa palavra, segundo se vê em Platão, Faedo 28. par. 80A. A alma deve ser entregue aos cuidados de Deus (I Ped. 4:19). As almas dos mártires trucidados foram vistas no céu pelo vidente João (Apo. 6:9). O corpo físico pode ser destruído, mas não a alma imaterial, embora ela possa ser prejudicada no tocante ao seu propósito original (Mat. 10:28). Uma única alma vale mais do que o mundo físico inteiro (Mar. 8:36,37).
d. Pneuma, “espírito”, “vento”. Embora essa palavra seja usada por muitas vezes com esses sentidos, há uma ocorrência, em Apo. 13:15, onde algumas traduções a traduzem por “vida”. Nossa versão portuguesa diz ali: “...e lhe foi dado comunicar fôlego ã imagem da besta...”

II. Algumas Idéias Filosóficas
1. Platão. Ele concebia toda vida como psíquica, e que os corpos materiais, sem importar sua espécie, servem apenas de veículo da vida. Isso significa que o princípio da vida, propriamente dito, é não- material, e que todas as coisas vivas participam desse princípio imaterial. Outrossim, esse princípio vivo é eterno, embora a individualização seja um acontecimento cronológico. Os arquétipos (vide), isto é, “formas” ou “idéias”, estariam por detrás de todas as formas de vida, e cada forma é uma espécie de cópia ou imitação do seu arquétipo. Os arquétipos seriam eternos, fazendo parte do mundo eterno, o que, para Platão, equivalia ao céu hebreu cristão. Esse ensino poderia ser usado para falar-se sobre todas as formas de vida como dotadas de alma, embora não saibamos dizer o que Platão manifestaria a esse respeito. Em outras palavras, havería uma espécie de energia psíquica comunal (a essência da vida), da qual as formas corporais participam. Em minha opinião, é perfeitamente possível que pelo menos formas de vida superiores, embora não-humanas, tenham almas individuais. Essa questão está circundada de mistérios, apesar de haver alguma evidência de que não estamos falando apenas de uma teoria.
2. Sócrates. Em seu conceptualismo (vide), todas as formas de vida teriam sua origem na idéia divina sobre cada espécie. A idéia é eterna embora a sua manifestação específica e particular ocorra dentro do tempo.
3. O Panteísmo. Ver o artigo separado sobre esse assunto. Essa palavra vem do grego, pan, “tudo”, e theôs, “Deus”, isto é, “tudo é Deus”. Esse conceito assevera que todas as coisas, na verdade, estão vivas, visto que tudo emana de Deus. Deus é a cabeça do mundo, e o mundo é o corpo de Deus. Essas emanações de Deus não seriam idênticas umas às outras, quanto ao seu brilho e poder, pelo que tendem por ser menos esplendorosas e mais sonolentas, à medida que estão afastadas do fogo central. Todavia, não haveria tal coisa como matéria morta. O universo inteiro seria uma presença viva.
4. Panenteísmo. Também vem do grego, pan “tudo”, e theôs, ”Deus”. A palavra indica que a vida divina está em todas as coisas, mas sua natureza é distinta. Deus inclui o universo da mesma maneira que um organismo vivo inclui todas as suas células individuais, mas (quebrando a analogia), as células individuais não têm a mesma essência ou natureza que Deus tem. Há uma dualidade de princípios. Ver o artigo separado sobre este assunto.
5. Pampsiquismo. Outra palavra derivada do grego, pan, “tudo”, psuché, “alma”. Todas as coisas possuem alma, ou seja, o princípio vital, mesmo que se trate do que o vulgo chama de “matéria morta” embora, nada, realmente, seja destituído de viaa. Esse princípio empresta poder à teoria da evolução, no tocante à chamada “matéria morta”, visto que tudo teria, em si mesmo, o princípio da vida; sob certas circunstâncias, poderia adquirir vida, conforme a vida é definida pela ciência moderna.
É possível que os filósofos hilozoístas (ver sobre o Hnozoismo), como Tales de Mileto, tenham concebido essa idéia, quando diziam que todas as coisas estão cheias de almas. O fato de que os cientistas, em seus laboratórios, têm sido capazes de produzir formas de vida que podem reproduzir-se, partindo de reações químicas, sugere que se oculta alguma verdade na idéia do pampsiquismo. Nesse caso, posso supor que leis naturais controlam essa questão, e que a vida pode vir à existência sem qualquer intervenção direta de Deus. Naturalmente, Deus foi quem estabeleceu essas leis naturais, e, nesse caso, em última análise (mesmo que não imediatamente), a vida derivou-se e continua se derivando de Deus. Ver o artigo separado intitulado Pampsiquismo.
6. Deus Seria a Origem, mas as leis naturais seriam capazes de produzir a vida. Estou abordando a questão em separado, embora já tenha sido sugerida no quinto ponto. Deus é o princípio originador da vida, a fonte de toda e qualquer forma de vida. Porém, o seu modus operandi, mediante o qual ele traz a vida à luz, pode transcender à criação original. A vida está continuamente vindo à existência, através da agência das leis naturais, que operariam separadamente da direta intervenção de Deus.
As leis naturais, embora muito impressionantes, não são perfeitas, porquanto podem errar e realmente, erram. Poderíamos acusar Deus pela existência de animais prejudiciais, bactérias, vírus e insetos como o pernilongo? Não seria melhor asseverarmos que esses tipos te vida vieram à existência através das leis naturais, e que o potencial de uma grande variedade de vida, através dessa agência, é muito grande? Isso posto, novas espécies de vida poderiam vir à existência, não meramente através do desenvolvimento de espécies mais antigas, mas até da chamada “matéria morta”. Nesse caso então, talvez os homens, algum dia, sejam capazes de engendrar a '.'ida, e até mesmo espécies complexas de vida. Os homens já têm conseguido obter formas simples de vida, mediante reações químicas. Quando isso suceder, então poder-se-á dizer que o homem terá descoberto os tijolos que formam a vida biológica, conforme eles existem dentro das leis naturais. Em outras palavras, os homens terão encontrado o código de como a vida física pode vir à existência. Porém não nos esqueçamos que foi Deus quem criou esse código. Além disso, devemos observar que esse tipo de vida não é espiritual, mas apenas biológico, porquanto o homem desconhece tudo sobre a criação da vida imaterial. Talvez, algum dia, até seja capaz de sondar essa questão, mas, como é claro, isso não ocorrerá imediatamente.
7. No hinduísmo, o curso da vida, e como a mesma se desenvolve, está dividido em uma sucessão de quatro estágios, intitulados ashramas; cada um desses estágios envolve deveres e aspirações especiais. Ademais, haveria tipos básicos de pessoas, como os psíquicos, os trabalhadores, aqueles que seguem a vereda do amor, os eruditos, cada qual seguindo uma maneira melhor de cumprir o seu próprio dever na vida. Cada uma dessas tendências ajudaria o indivíduo a livrar-se do ”ego” e tornar-se parte integrante de Deus, mediante o desenvolvimento espiritual. Ver o artigo sobre o Ninduismo.
8. Nos escritos de kierkegaard (vide), encontramos a idéia da vida em ascendência, mediante qualidades e conceitos estéticos, éticos e religiosos.
9. Heidegger aludia ao conceito de existir-para-morrer, com o que ele dava a entender que a vida deveria ser vivida de tal modo que sempre tivéssemos diante dos olhos a realidade da morte. Isso equivale a morrer diariamente. Esse tipo de atitude, ao que se pode presumir, fornece uma autenticidade extra à vida. No sentido cristão, estamos falando sobre como toda a vida depende de Deus, e como deveríamos deixar as nossas vidas aos cuidados do Senhor.
10. Marias fazia a distinção entre “existir” e “viver”. Existir é a coisa menor, uma espécie de antecipação da verdadeira vida. A vida é a realidade maior, tanto agora quanto na eternidade. A vida é eterna, e todas as coisas que dela participam são eternas.
11.4 filosofia cristã parte do pressuposto de que Deus é a origem, o meio e o alvo de toda a vida, e isso mediado através do Filho de Deus (ver I Cor. 8:6). O alvo mesmo da existência humana é a participação na natureza divina (ver II Ped. 1:4), mediante a transformação segundo a imagem e a natureza do Filho de Deus (Rom.
8:29). Trata-se de uma evolução espiritual, produzida pelo poder do Espirito Santo, conforme se aprende em II Cor. 3:18.

III. Idéias Bíblicas

1. A vida começou com um decreto de Deus (Gên. caps. 1 e 2).
2. Esta vida, de acordo com a visão hebréia mais antiga, não envolvería nenhum dualismo, visto que aquela visão ainda não envolvia a idéia da imortalidade da alma. Quanto a detalhes sobre isso, ver a primeira seção, terceiro ponto.
“A vida é dada ao homem como uma unidade psicossomática, onde não existem as distinções que fazemos entre vida física, vida intelectual e vida espiritual” (ND, citando Allmen). O ponto de vista veterotestamentário do homem pode ser descrito como um “corpo animado” (Robinson). Isso posto, a alma pode ser concebida em paralelo com a carne (Sal. 63:1), com a “vida” (Jó 33:28) ou com o “espírito” (Sal. 77:2 ss). De acordo com esse ponto de vista antigo, o “eu” vive e o “eu” morre, e não haveria qualquer “eu” imaterial que continuasse existindo. No entanto, Jesus lia a idéia da sobrevivência da alma, diante da morte física, mesmo nos escritos do Pentateuco, conforme se vê em Mat. 22:32: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos”! Portanto, se essa idéia não era explicita no Antigo Testamento, devemos vê-la ali implicitamente.
3. Essa insuficiente visão da vida foi abandonada pelo judaísmo posterior, conforme se vê na história da médium de En-Dor, que invocou o espírito de Samuel (I Sam. 28:11 ss), como também pela triunfante declaração de Jó de que, em sua própria carne, após a ressurreição, ele veria Deus (Jó 19:26). Na verdade a palavra hebraica que, nesse texto de Jó, é traduzida como “em”, na frase, “em minha carne”, aparece dentro de um texto corrompido, deixando os estudiosos em certa dúvida. Há mesmo quem a traduza por “fora de”. Mesmo assim, isso seria uma clara antecipação do fato de que a alma contempla a Deus, mesmo à parte do corpo físico. Por outro lado, a expressão “em minha carne” provavelmente refere-se à expectação da ressurreição, embora esse texto não entre no mérito da natureza do corpo ressurrecto, mas somente que haverá o corpo ressurrecto. É possível que a alteração, no hebraico, de “em” para ”fora de”, nesse trecho de Jó, tenha sido feita por algum escriba antigo, que preferia a idéia da imortalidade da alma, em lugar da ressurreição do corpo. Não obstante, no judaísmo posterior, ambos os conceitos eram aceitos paralelamente; ambos esses conceitos passaram adiante, como a doutrina ensinada no Novo Testamento. Em Jó 14:14 é feita uma importantíssima indagação: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” Alguns estudiosos pensam que essa pergunta foi formulada, tendo em pauta a reencarnação; mas outros pensam ou na ressurreição ou na imortalidade da alma. Seja como for, não pode haver dúvidas que a teologia judaica ultrapassou a antiga idéia do “eu” que vive e que morre. Assim, o verdadeiro ”eu” do homem nunca morre. Ver vários artigos apresentados sob o título Imortalidade. Ver também sobre Alma.
4. O Deus vivo é a fonte originária de toda a vida, conforme a Bíblia assevera desde o seu primeiro capítulo. Deus é quem dá a vida e a respiração, e também as retira (Gên. 3:19; Jó 10:9; Sal. 144:4; Ecl. 12:7). As doutrinas mais antigas sobre o sheol (vide) faziam do mesmo um destruidor da vida (Eze. 31 e 32; Isa. 14:4 ss). Em contraste com isso, o judaísmo posterior reconheceu que o Deus Vivo garante a imortalidade humana. No Novo Testamento, somente Deus é dotado de verdadeira imortalidade (I Tim. 6:16), mas ele compartilha esta forma de vida com os homens (II Ped. 1:4; Rom. 8:29; II Cor. 3:18).
5. O propósito de Deus é livrar o homem do sheol. Ver Isa. 25:8; 26:19; Jó 19:26; Sal. 16:8-11; 49:14 ss.; Dan. 12:2; I Ped. 3:18-4:6.
6. A Vida Ressurrecta. Ver Jó 19:26; Isa. 26:19, 27; Dan. 12:2. Esse tema teve prosseguimento durante toda a história do judaísmo, atravessando o período intertestamentário, embora quase sempre de mistura com expressões que davam a idéia de um crasso materialis-mo. Segundo os escritos judaicos extrabíblicos, os corpos seriam ressuscitados e restaurados, e enviados por meio de túneis até Jerusalém, o único local onde um homem de respeito, aos seus próprios olhos, haveria de querer ser ressuscitado. Mas Paulo, no décimo quinto capítulo de I Coríntios, espiritualizou o conceito da ressurreição. Nessa passagem encontramos um corpo ressurrecto que não é material (ver o vs. 40). O corpo ressurrecto será um veículo espiritual da alma, e não um corpo constituído de átomos. Não fica claro, entretanto, se o corpo ressurrecto dependerá ou não dos elementos do antigo corpo. Talvez tratar-se-á de um substituto para o antigo corpo, uma nova criação, embora chamado de corpo ressurrecto, porquanto substituirá o corpo antigo. Até onde podemos ver as coisas, nada há de errado quanto a essa doutrina. Diversos dos pais da Igreja assim acreditavam, afirmando que, à medida que avançar a evolução espiritual, vários corpos, ou veículos da alma, serão postos de lado, mais ou menos como uma cobra desfaz-se de sua pele, periodicamente, e assume uma nova pele. Se isso exprime uma verdade, então a ressurreição, até mesmo em seu estágio avançado de glorificação, será um processo contínuo, e não um acontecimento de uma vez por todas. Seja como for, a ressurreição será o aspecto inicial da eterna glorificação. Ver o artigo geral sobre a Ressurreição, onde são oferecidos muitos detalhes a respeito.
7. A Imortalidade da Alma. O Antigo Testamento foi-se aproximando mais e mais dessa idéia. O judaísmo helenista adotou esse ensino quase universalmente. O Novo Testamento ensina abertamente essa doutrina. A verdadeira imortalidade não consiste em simples existência eterna. Mas é idêntica à “vida eterna”, ou seja, certa modalidade de vida, ou seja, a participação na própria forma de vida de Deus, visto que somente ele é verdadeiramente imortal (ver I Tim. 6:16). Os homens tornam-se imortais mediante a participação na vida necessária e independente de Deus (ver João 5:25,26), mediante o poder transformador do Espírito de Deus (II Cor. 3:18), através da participação na pléroma ou plenitude de Deus (Col. 2:9,10; Efé. 3:19). E isso vai transformando os remidos segundo a imagem do Filho de Deus (Rom. 8:29), tornando-os partícipes da essência divina ou do tipo de vida de Deus (II Ped. 1:4). Platão exprimiu lindamente essa idéia, quando disse que os homens deixarão de ser eternos para se tornarem imortais. A verdadeira vida, pois, não consiste em mera existência, mas é antes uma forma do vida que produz um certo tipo de existência. A verdadeira vida nos é dada por intermédio do Filho de Deus, que é o Logos. Deus é a fonte originária, a agência e o alvo de toda vida (I Cor. 8:6).
8. Escrituras Específicas que Ensinam a Imortalidade da Alma. Sal. 86:13; Pro. 15:24; Eze. 26:20; 32:21; Isa. 14:9; Ecl. 12:7; João 32:8; Mat. 10:28; 17:1-4; Mar 8:36,37; Luc. 16:19-31; 23:43; Atos 7:59; Fil. 1:21-13; II Cor. 5:8; 12:4-4;-Heb. 12:23; I Ped. 3:18-20; 4:6; Apo. 6:9,10; 20:4.
Entre o sono e o sonho Entre mim e o que há em mim,
E o que eu me suponho,
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito,
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre No que me diga a mim,
Dorme onde o rio corre,
Esse rio sem fim.
(Fernando Pessoa, Lisboa)
Tu, cujo semblante exterior deixa entrever A imensidade da alma;
Tu, melhor dos filósofos, que contudo reténs;
Tu, herança; tu, olho entre os cegos,
Que, mudo e silente, lês o Abismo Eterno.
Frequentado para sempre pela Mente Eterna.
Poderoso profeta! Vidente bendito!
Sobre quem repousam essas verdades,
E que lutamos a vida inteira por descobrir,
Em trevas perdidas, as trevas do sepulcro;
Tu, sobre quem a tua Imortalidade
Se aninha como o Dia, um senhor sobre um escravo,
Uma Presença que não pode ser evitada!
Ó alegria! que em nossos membros É algo que vive,
Que a natureza ainda relembra,
Embora tão fugidia!
(William Wordsworth)
9. O Uso Apropriado da Vida. A Bíblia é um livro altamente teísta. Deve-se conhecer o contraste entre o teísmo e o deísmo (ver ambos os artigos com esses nomes). Deus, sendo o autor da vida, cuida da vida humana. A vida humana é melhor vivida quando Deus é o seu alvo contínuo. O Novo Testamento é uma espécie de manual de instruções sobre como o homem deveria viver. Temos esse pensamento desenvolvido no artigo intitulado Vida, Avaliação e Uso.
Toma a minha vida e que ela seja Consagrada, Senhor só a Ti;
Toma minhas mãos e que elas se movam,
Ao impulso do teu amor.
Toma minha vontade e fá-la tua E ela não será mais minha;
Toma meu coração, pertence só a Ti;
E te servirá por trono real.
(Francês R. Havergal)
10. Palingenesia. Essa é a palavra grega que significa “nascimento” ou “regeneração”. Desdobramos essa idéia nos pontos abaixo:
a. A vida de Deus nos é dada no novo nascimento (João 3:3-5). Isso pressupõe uma mudança vital e radical. O princípio da palingenesia aplica-se ao indivíduo, mas também aos homens, coletivamente falando. O homem nunca é visto apenas como um indivíduo isolado. Antes, ele faz parto da comunidade dos homens, e a humanidade é o arquétipo. Ver o artigo detalhado intitulado Regeneração.
b. A Regeneração. Jesus ensinou que o mundo haverá de renascer (ver Mat. 19:28). E isso faz parte do mistério da vontade de Deus (ver Efé. 1:9,10). A criação inteira haverá de ser renovada, recebendo uma nova forma de vida, por meio da ressurreição, na era vindoura, o que incluirá a restauração geral. O trecho de Rom. 8:19 ss descreve o anelo da criação inteira por esse evento, ou antes, por essa série de eventos encadeados.
11. A Restauração. O que Deus tenciona fazer, finalmente? Restaurar é o verbo-chave da resposta. Ver Efé. 1:9,10. Meu ponto de vista sobre a restauração geral é que os eleitos ou remidos receberão a forma de vida que Deus tem, e assim haverão de ocupar o nível mais elevado na escala da criação. Todavia, todas as coisas participarão no ato restaurador de Deus.
Também faço contraste entre os finalmente remidos e os finalmente restaurados, embora os remidos devam ocupar uma posição supinamente superior à dos restaurados. O leitor poderá rever os detalhes dessa questão no artigo chamado Restauração. A verdade acaba triunfando. Em muitas igrejas, especialmente do cristianismo ocidental (católicos romanos, protestantes e evangélicos), é mantido um ponto de vista pessimista da vida futura, com a teimosa insistência sobre uma fase mais antiga da teologia, onde a grande maioria dos homens termina em sofrimentos eternos. Em contraste com isso, a Igreja Ortodoxa Oriental, acompanhando as diretrizes dos pais gregos da igreja, tem visto uma mensagem mais otimista em algumas passagens do Novo Testamento. Essa é a mensagem que procuro salientar no artigo sobre a Restauração. Vejo a vontade de Deus como algo que, finalmente, produzirá um grande tapete. Aquele que trabalha sobre esse tapete (toda a vida e os seres viventes que finalmente surgirão em cena) é o Grande Artista. Ele não perde uma pincelada sequer; ele nunca incorre em erros. Ele sabe misturar as cores brilhantes e as apagadas; ele mistura o dourado com o negro, ele faz o contraste entre a luz e as trevas. Mas, no fim, o tapete, em todo o sou intrincado desenho, é uma obra prima que é digna do Grande Artista. Os remidos são ali representados pelo dourado; mas os restaurados são as cores contrastantes, que dão equilíbrio e beleza ao todo. O julgamento ajudará a produzir esse efeito. O julgamento divino não será algo contrário ao programa de Deus. De fato, Deus pode fazer melhor algumas coisas através do julgamento do que por outro meio qualquer. O julgamento divino é apenas um dedo da amorosa mão de Deus. O amor de Deus, finalmente, livrará todos os homens da tempestade, não deixando de lado nenhum deles. Mui provavelmente, isso precisará de longo, longo tempo. O primeiro capítulo da Epístola aos Efésios fala sobre eras que estarão envolvidas nisso tudo. O julgamento operará durante essas eras, mas seu propósito não será destruir, finalmente. Bem pelo contrário, será um aspecto da obra restauradora de Deus. O julgamento tem um aspecto remediai, segundo se aprende em I Ped. 4:6.
12. A Descida de Cristo ao Hades (vide), ampliou a missão do Logos ao hades, o lugar onde se acham as almas perdidas. Isso posto, a missão de Cristo teve um aspecto terreno, um aspecto infernal e um aspecto celestial — uma tríplice missão. Isso é o que era necessário para que Deus desse as devidas dimensões à obra de Cristo, sendo exatamente o que poderíamos esperar da parte do amor de Deus. A missão de Cristo no hades mostra que a oportunidade de salvação vai além do sepulcro, o que é especificamente afirmado em I Ped. 4:6. Esse versículo ultrapassa em alcance o trecho de Heb. 9:27, que faz parte da teologia mais antiga e inferior. Isso posto, a provisão de Deus ofereceu vida aos homens, e vida em abundância.
13. A Vida Eterna. Quanto a esse assunto, ver o artigo separado com esse título.
14. O Reino de Deus (vide). O artigo separado com esse nome mostra-nos como o plano de Deus operará entre as nações e nos lugares celestiais. Ver também o artigo sobro o Milênio.

IV. O Caráter Sagrado da Vida

1. Visto que toda a vida emana de Deus, a vida merece nosso respeito. Sinto-me inclinado a excluir daí aquelas formas destrutivas de vida, como bactérias, virus, insetos e animais daninhos, que atribuo às leis naturais, e não à direta agência de Deus. Não me pareço com o hindu que oferece tigelas de leite para alimentar os ratos de sua casa! As pessoas gostam de fazer piadas sobre os hindus. Por que eles não matam as vacas? E respondem: “Porque talvez uma delas seja a mãe ou a avó de um deles, que se reencarnou naquela forma de vida!” Mas, embora talvez alguns hindus acreditem nisso, o argumento deles contra a destruição da vida, sob qualquer forma, exibe profundo respeito pela vida, não estando envolvida a questão da reencarnação, pelo menos na maioria dos casos. Os antropólogos têm mostrado que é nas sociedades primitivas que se tem prazer na tortura dos animais. Quanto mais avançada for uma civilização, maior respeito haverá pela vida dos animais, e não meramente pela vida humana. Seja como for, temos subestimado grandemente a qualidade da vida animal.

2. Problemas Especiais

a. Aborto. Temos um artigo separado sobre esse assunto. Pessoalmente, não creio que um feto soda um seja humano. Um ser humano vem à existência no nível da alma, que penso ser preexistente. Uma personalidade humana (parte material + parte imaterial) vem à existência quando a alma (a porção imaterial) apossa-se do corpo físico que se estava formando. E isso pode ocorrer pouco antes do nascimento, por ocasião do nascimento, ou mesmo depois do nascimento. E isso significa que matar um feto não é cometer um assassinato, embora seja cortar uma vida humana em potencial. Todavia, tal ato causa sofrimento, e isso é errado. Portanto, o aborto não é uma questão moralmente indiferente. Além disso, um feto é uma forma de vida que requer todo o nosso respeito.
b. Cuidados com os Idosos. Conforme disse minha mãe, cerca de dois anos antes de seu falecimento: “As pessoas idosas simplesmente atravancam o caminho”. A verdade é que muitas pessoas idosas precisam de ajuda de membros mais jovens de suas famílias (ou da sociedade), a fim de que possam avançar os últimos passos que tiverem de dar na vida humana. Em algumas sociedades abastadas, as pessoas de idade são postas em lares especiais, enquanto o resto da família fica gozando a vida. Minha mãe, em sua idade avançada e enfermidade, não quis viver com alguma outra pessoa, e somente nas semanas finais de vida consentiu em receber cuidados diretos. Porém, suponho que a maioria das pessoas idosas não tem a mesma atitude que ela. Assim, pessoas que tenham perdido suas energias físicas ou mentais devem ser objeto de cuidados especiais de suas famílias ou da sociedade. Isso faz parte do respeito que se deve ter pela vida, porque a vida é sagrada.
c. Eutanásia. No grego, “boa morte”. Mas, no vocabulário moderno significa tirar misericordiosamente a vida de alguém. Isso pode ser feito de modo passivo, ou seja, as medidas heróicas para prolongamento da vida não são empregadas, a fim de que a pessoa não fique a sofrer desnecessariamente. E também pode ser feito de modo ativo. Alguma medida é aplicada e causa a morte, quando se pensa que isso é um ato de misericórdia. Sabemos que tanto a eutanásia passiva quanto a eutanásia ativa estão sendo praticadas em muitos hospitais, hoje em dia. Nada vejo de errado na forma passiva de eutanásia. De fato, muitos pacientes parecem ansiar que seus sofrimentos desnecessários terminem. O prolongamento desnecessário da vida, por parte de muitas autoridades médicas e outras, parece alicerçar-se sobre a filosofia que diz, antes de tudo, que a vida física é a única vida que existe; e, em segundo lugar, que qualquer vida é melhor do que vida nenhuma. Ambas as idéias, porém, são absurdas. Apesar de devermos respeitar a forma de vida biológica, uma vez que esse corpo seja quase esmigalhado, traspassado por dores excruciantes, torna-se uma questão real, quanto respeito deve-se ter por essa forma de vida. Pessoalmente, não creio que já possuímos conhecimento suficiente, sobre as questões morais, para nos manifestarmos, com toda segurança, acerca da eutanásia ativa; mas tenho confiança que, de algum modo, o nosso conhecimento ético crescerá até o ponto em que a eutanásia passiva tomar-se-á aceitável. Para tanto, será mister a humanidade adquirir maiores conhecimentos sobre os estados realmente terminais de saúde. A eutanásia ativa poderá ser, algum dia, aceitável moralmente. Se isso for o caso, haverá provisões legais a esse respeito, de tal maneira que somente eutanásias autênticas terão lugar, e não mais assassinatos representados como matanças por misericórdia. Ver o artigo geral sobre a Eutanásia.

V. A Vida e Suas Finalidades

A vida é dinâmica. Talvez Orígenes estivesse com a razão, ao especular que nos encontramos agora em um grande ciclo, e que o tempo não pode ser considerado de maneira linear. Em outras palavras, não podemos marcar quando começou o tempo, e nem quando o tempo terminará em estagnação. Apesar de estarmos aguardando uma obra divina final, que se assemelha a um tapete, com aspectos de redenção e de restauração, envolvendo o futuro da humanidade e da criação inteira, é filosoficamente difícil imaginar que uma vez que isso seja atingido, através da cooperação dos séculos e das eras, ou de grandes ciclos de tempo, cada qual contribuindo com sua parcela, que a criação terminará, afinal, em uma imensa estagnação. O mais provável, bem ao contrário disso, é que o futuro nos reserva muitas e gratas surpresas, e que novos ciclos emanarão da imensidade de Deus. Dessa maneira imensamente prolongada, talvez seja melhor supormos que não haverá um destino fixo. Talvez seja melhor supormos que a vida é tão imensa, procedente da vastidão infinita de Deus, que nada existe que não possa ser revertido, não há esperança que não possa, finalmente, concretizar-se, e nem há porta que ficará final e absolutamente fechada. (B C E EP F NTI)