Vila — Estudos Bíblicos
I. As
Palavras Bíblicas
Há sete palavras
hebraicas e uma palavra grega envolvidas neste verbete:
1. Chatser, “átrio”,
“vila”. Essa é a palavra hebraica ma.s constantemente usada para indicar uma
vila ou aldeia. Ocorre por quarenta e seis vezes com o sentido de “vila”;
por exemplo: Êxo. 8:13; Lev. 25:31; Jos. 13:23,28; 18:24,28; 21:12; I Crô.
4:32,33; 6:56; 9:16.22,23; Nee. 11:25,30; 12:28,29; Sal. 10:8; Isa. 42:11.
2. Bath, “filha”, “aldeia”.
Com o segundo sentido, esse termo hebraico ocorre por doze vezes (embora
seja muito mais freqüente com o sentido de “filha”): Núm. 21:25,32; 32:42;
II Crô. 28:18; Nee. 11:25,27, 28,30,31.
3. Kephir, kaphar
e kopher, palavras hebraicas cognatas, aparecem em um total de quatro
vezes: Nee. 6:2; I Crô. 27:25; Can. 7:11; I Sam. 6:18. Poderíamos traduzir
todas essas três palavras por “localidade”.
4. Paraz, perazon
e perazoth, cujo sentido parece duvidoso, mas que alguns estudiosos
pensam significar “vila aberta”, “aldeias sem muros” (conforme diz nossa
versão portuguesa). Essas também são palavras cognatas que aparecem poucas
vezes: Hab. 3:14; Juí. 5:7,11; Est. 9:19 e Eze. 38:11. Daí deriva-se,
igualmente, uma outra palavra cognata, perazi, “habitante de vila”,
que figura em Est. 9:19 e Deu. 3:5.
5. Kóme, “vila”.
Esse vocábulo grego aparece por vinte e oito vezes no Novo Testamento:
Mat. 9:35; 10:11; 14:15; 21:2; Mar. 6:6,36,56; 8:23,26,27; 11:2; Luc. 5:17;
8:1; 9:5,12,52,56; 10.38; 13:22; 17:12; 19:30; 24:13,28; João 7:42; 11:1,30
e Atos 8:25.
II. Vilas e
Cidades
Conforme já vimos, a
palavra hebraica mais comum para “vila” é chatser. Esse vocábulo tem
raiz no verbo correspondente a “cobrir”, o que nos dá uma idéia de
proteção (ver I Crô. 27:25), fazendo contraste com a palavra hebraica para
“cidade”, ir, que já dá a entender um “lugar fechado (com muralhas)”.
Os armazéns reais, os arsenais do exército e os tesouros do rei podiam
estar localizados tanto nas cidades quanto nas vilas; visto que os impostos
e as taxas, com freqüência, eram pagos em espécie, e não em dinheiro, as
vilas-armazéns também serviam de centros de coleta de impostos. Ver Lev.
25:29; Deu. 3:5; I Sam. 6:18, onde é possível perceber claramente a distinção
entre uma cidade e uma vila ou aldeia.
Essa distinção também é
feita nitidamente no relatório prestado pelos espias que haviam sido enviados
por Moisés, quando voltaram (Núm. 13:28). Assim, fazendo contraste com uma
cidade, uma vila não dispunha de muralhas, pelo que podia ser facilmente
conquistada pelo inimigo. Por isso mesmo, quando eram ameaçados por forças
armadas, os aldeões se concentravam em alguma cidade murada, aumentando desse
modo o perigo da fome, se houvesse o cerco desta última (cf. II Reis
6:24-29). Entretanto, com a passagem do tempo, muitas vezes uma vila
acabava se tornando uma cidade, conforme se vê, por exemplo, em I Sam.
23:7. Lemos ali: “...pois entrou numa cidade de portas e ferrolhos”. Ora,
visto que toda cidade antiga era murada e tinha portas e ferrolhos, encontramos
nesse trecho uma redundância, demonstrando que algum tempo
antes, Queila havia sido uma mera vila, sem muralhas, mas depois
tornou-se uma cidade, dotada de muralha.
Ademais, em contraste com
as cidades, as vilas ou aldeias não dispunham de instalações militares, como
torres, portões fortificados e fossos defensivos. Ver Eze. 38:11. Nessa
passagem, o termo hebraico empregado é perazoth, que indica
pequenos povoados, dispersos pelo território. Nos tempos talmúdicos uma
comunidade era considerada uma “vila”, enquanto não dispusesse de uma
sinagoga. Nos dias do Novo Testamento, as vilas, as cidades e os campos foram
objeto do ministério de Cristo (Mar. 6:56); mas, não fica claro, no Novo
Testamento, se só as cidades de então contavam com sinagogas. Contudo, é
digno de atenção que Tiago (ver Atos 15:21) atribuiu a existência de
sinagogas em “cada cidade” (no grego, polis), mas não se refere às vilas
e aldeias como possuidoras de suas respectivas sinagogas.
III. Aumento
de Número
As vilas aumentavam em número
à medida que se partia da região do Neguebe e se caminhava para o norte,
porquanto o sul da Terra Prometida era estéril até tornar-se deserto
franco. Só havia chuvas abundantes mais para o norte. Nos tempos calcolíticos,
na Era do Bronze Médio e na Era do Ferro, entretanto, o território do
Neguebe foi bem ocupado, e, mais intensamente ainda, no período nabateu
bizantino, quando havia grande conservação da escassa água da chuva que ali
se precipitava. Do Hebrom para cima havia o aumento gradual do número de
vilas, como quem ia na direção de Jerusalém. Mas, o número de vilas e povoados
aumentava ainda mais no território de Zebulom, da Baixa Galiléia, onde as
chuvas se faziam mais abundantes. Nos tempos da dominação romana, esse
território mais bem irrigado pela chuva foi transformado em um território
pacífico, onde a população vivia sem temor e onde a agricultura e a
indústria floresciam, em inúmeras vilas. A Alta Galiléia era por demais
interrompida e recoberta de matas para permitir a agricultura necessária à
vida em aldeias. A Transjordânia, por sua vez, também era salpicada de
aldeias e vilas, antes do século XIX A.C., e depois do século XIII A.C.,
quando as vilas são novamente mencionadas nos registros das conquistas
militares. Os ataques historiados no décimo quarto capítulo de
Gênesis, bem como a destruição de Sodoma e Gomorra, parecem estar
relacionados a um período em branco nesses registros.
IV. Governos
O governo das aldeias
locais era administrado pelos anciãos que também atuavam como juízes locais (Rute
1:2); mas as aldeias e vilas estavam sob a jurisdição das cidades maiores
(cf. Jos. 15:20-62; 18:24,28, etc.). A cena dessas frequentes funções
governamentais dava-se à entrada das cidades. Algumas vezes, ali já eram
postos bancos de propósito, para as pessoas se assentarem.
As dimensões das vilas
variavam, tudo dependendo da intensidade do cultivo agrícola da região. Nos
centros agrícolas, os cereais eram debulhados nos limites das aldeias. A
atividade aumentava muito por ocasião da colheita; mas, em outras
ocasiões, o número de habitantes das vilas diminuía bastante, pois quase
todos ficavam ocupados nos cuidados com o seu gado. Os judeus algumas
vezes erraram, não dando valor aos habitantes das vilas e aldeias,
porquanto grandes homens procediam, às vezes, desses pequenos lugares,
como Davi e Cristo, que pasceram na minúscula Belém (Miq. 5:2).