Vingança — Estudos Bíblicos

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VINGANÇA

Esboço:
I. As Palavras Bíblicas
II. Tipos de Vingança
III. Lex Talionis
IV. Na Sociedade
V. A Natureza Remedial e Restauradora da Vingança Divina

I. As Palavras Bíblicas
No hebraico temos a considerar duas palavras; e no grego, igualmente, duas, a saber:
I. Naqam, “vingança”. Essa palavra hebraica aparece por quarenta e sete vezes com esse sentido, conforme se vê, por exemplo, em Gên. 4:15; Deu. 32:35,41,43; Sal. 58:10; Pro. 6:34; Isa. 34:8; 35:4; Eze. 24:8; 25:12,15; Miq. 5:15.
2 Neqamah, “vingança”. Esse termo hebraico ocorre vinte e duas vezes, conforme se vê, para exemplificar, em Juí. 11:36; Sal. 94:1; Jer. 11:20; 20:12; 51:6,11,36; Lam. 3:60; Eze. 25:14,17,
3. Díke, “justiça”, “vingança”. Esse vocábulo grego foi usado por três vezes no Novo Testamento: Atos 28:4; II Tes. 1:9 e Jud. 7.
4. Ekdikesis, “vingança completa”. Esse termo grego, reforçado, foi usado por nove vezes, a saber Luc. 18:7,8; 21:22; Atos 7:24; Rom. 12:19 (citando Deu. 32:35); II Cor. 7:11; II Tes. 1:8; Heb. 10:30; I Ped. 2:14.

II. Tipos de Vingança

A vingança é um castigo infligido por causa de alguma injúria ou ofensa, no interesse de satisfizer à justiça ferida. Diferentes aspectos da questão podem ser percebidos, mediante o exame de contextos de passagens, e mediante paralelismos:
1. A ira, como força motivadora da ação, nos casos de vingança, aparece como um fator proeminente, em muitos casos (Pro. 6:34; Isa. 59:17; 63:4; Naum 1:2; Eclesiástico 5:7; 12:6; Rom. 3:5). Todavia, a ira humana também pode ser maliciosa, exagerando todos os seus efeitos (Lev. 19:18; I Sam. 25:26; Lam. 3:60; Eze. 25:12,15).
2. A idéia de punição por causa do pecado ou de alguma ofensa aparece com bastante frequência (Lev. 26:25; Sal. 99:8; Luc. 21:22). Gradualmente isso foi cedendo lugar aos conceitos da retaliação e retribuição (Gen. 4:15; Isa. 34:8; Jer. 50:15; Eclesiástico 35:18).
3. A justiça de Deus, ou então, a fidelidade demonstrada por seus servos, é vindicada mediante o castigo imposto a adversários da retidão (Juí. 11:36; Sal. 94:1; II Tes. 1:8). Algumas vezes, vemos como algum indivíduo clamou ao Senhor, pedindo vingança (Sal. 58:10; Jer. 11:20; 15:15; 20:12). Um dos casos mais impressionantes, previsto para o futuro, será o das almas dos mártires do anticristo, que dirão: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Apo. 6:10). Nesse caso, os injustos algozes terão sido toda a humanidade incrédula, e as vítimas terão sido aqueles que não aceitarem as imposturas e a ditadura do anticristo, ou, vale dizer, os crentes verdadeiros.
Na maioria dos casos, o próprio Deus é quem aplica a vingança. E isso ele ass'm faz ou diretamente (ver Deu. 32:35; Sal. 94:1,2; Isa. 59:17,18; Jer. 56:10; Juí. 8:27; 16:17; Rom. 12:19; Heb. 10:30), ou através de ordens baixadas a seu povo (Núm. 31:3; Jos. 22:23; Jer. 50.15; Juí. 9:2). ou ainda, através de outros meios quaisquer (Sabedoria de Salomão 11:15; Eclesiástico 34:28).
Dentre as doze passagens bíblicas em que a vingança tem impulso no próprio homem, uma delas (Pro. 6:34) é apenas uma observação acerca de uma tendência natural do homem; outra (I Sam. 25:26) é o caso onde Davi foi impedido de tomar vingança; outra (Lev. 19:18) é uma ordem para que não tomemos vingança (cf. Eclesiástico 28:1); três (Lam. 3:60; Eze. 25:12,15) são vinganças tomadas contra o povo de Judá, por parte de seus inimigos (cf. Jui. 6:5; I Macabeus 6:9). Isso posto, é amplamente apoiado, por todas as Sagradas Escrituras, o ensinamento contido em Rom. 12:19: “...não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor”. Ver também Deu. 32:35 eHeb. 10:30.
Talvez haja alguns incidentes onde o autor de algum ato de vingança não fica bem claro (ver Gên. 4:15; Sabedoria de Salomão 1:8; Eclesiástico 7:17). Judas Macabeu se vingou daqueles dentre sua própria nação, que tinham desertado de sua causa ou que se tinham rebelado contra ele (I Macabeus 7:24).

III. Lex Talionis

Lex talionis (vide), significa, em latim, lei do tal. De talionis temos o português, tal, ou seja, qualquer infração deve ser paga em termos iguais, como, por exemplo, vida pela vida, olho por olho, dente por dente etc. Ver Êxo. 21:23 e ss.; Lev. 24:19,20; Deut. 19:21. Esta lei não permitia que qualquer indivíduo tomasse a justiça em suas próprias mãos. Contrariamente, as ofensas eram punidas segundo a lei, e isso com a sanção divina. Portanto, os linchamentos estão fora de lugar, de acordo com os preceitos divinos. E embora muitos se tenham feito culpados, para então passarem sem castigo por parte dos homens, eles são considerados culpados diante de Deus, e haverão de prestar contas disso no juízo.

IV. Na Sociedade

Nos trechos de Atos 28:4; II Tes. 1:9 e Jud. 7 encontramos o termo grego díke. Cremer comentou que essa palavra está “alicerçada sobre a idéia de que a justiça, na sociedade humana, impõe-se, essencialmente, sob a forma de julgamento ou vingança”. Quanto à primeira dessas passagens, comentou Robertson: “Os nativos referiam-se a Díke como se fosse uma deusa; mas nada sabemos sobre alguma deusa com esse nome na ilha de Malta, embora os gregos adorassem meras abstrações, como o faziam em Atenas”. Ver também o artigo chamado Vingador do Sangue.
A vingança oficial, coletiva, da parte da sociedade inteira, é autorizada nas Escrituras, conforme fica claro em passagens como o décimo terceiro capítulo de Romanos. De fato, esse tipo de vingança é direcionado por Deus, investido nas autoridades humanas. Mas a vingança privada é proibida, antes de tudo, de acordo com as palavras de Jesus (ver Mat. 5) e, em segundo lugar, pelas instruções dadas por Paulo: “...não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rom. 12:19-21).
Essa passagem incorpora nossa exposição mais espiritual acerca da vingança pessoal. Em lugar da vingança, pessoalmente deveriamos exercer amor para com os nossos inimigos e ofensores. Porém, o Estado tem o direito e até a necessidade de castigar aos ofensores.
A punição capital, algumas vezes, é uma correta vingança da sociedade.
Vingança: uma medida capaz de pagar dividas e um meio de promover reformas. Espera-se da punição devidamente aplicada que ela reforme uma pessoa, como quando um criminoso está sendo punido pela sociedade. As prisões deveríam ser reformatórios. Por outro lado, o crime requer a devida retribuição, inteiramente à parte da idéia de qualquer reforma. Eis a razão pela qual, pessoalmente, sou favorável à punição capital (vide). A posição deste co-autor e tradutor é idêntica, embora com um reparo. Há vezes em que os erros da justiça cometem cruéis injustiças contra inocentes. A punição capital só deve tornar-se lei quando a maquinaria judicial está habilitada, para que não haja vítimas inocentes da sociedade, em nome da justiça e do combate ao crime. Mas reconheço que a própria Bíblia dá respaldo à punição capital, em casos de grave ofensa.
E bom, para as almas de alguns criminosos especialmente maliciosos, pagarem por seus graves crimes com suas próprias vidas. Se a oportunidade de salvação estende-se até além da morte biológica, tendo alguém sofrido execução, por causa de algum crime hediondo, isso deve exercer um forte poder reformador sobre a alma da pessoa, de tal maneira que a entrada nos mundos espirituais pode ser positivamente ajudada desse modo.

Uma Vivida Ilustração. Há alguns anos, no estado de Utah, um homem entregou-se ao furto e ao homicídio. Ele matava suas vítimas para facilitar os furtos, mas também gostava de ver suas vítimas morrerem. De certa feita, ele entrou em um pequeno hotel e exigiu que lhe fosse dado todo o dinheiro que o gerente do hotel tivesse consigo. O gerente entregou-lhe o dinheiro, sem protestar. Ainda assim, o ladrão não estava feliz, pelo que resolveu assassinar o homem. E deu-lhe um tiro na cabeça, dizendo: “Este foi por mim!” Então deu outro tiro na cabeça do homem, dizendo: “Este foi por minha namorada!” E foi-se embora. A esposa do gerente, ouvindo os tiros, correu para onde ele estava. Ali, encontrou-o em uma poça de sangue. O sangue ainda esguichava dos ferimentos na cabeça. Ela tinha ouvido dizer que aplicar pressão a um ferimento pode fazer parar o fluxo de sangue. E assim, aflitiva mas inutilmente, ela aplicou pressão aos ferimentos, com os dedos; mas, naturalmente, isso de nada adiantou.
O criminoso acabou sendo apanhado, e confessou esse e vários outros crimes semelhantes. Foi encarcerado, julgado e condenado a ser executado. Pessoas que se opõem à punição capital tentaram impedir a execução do cruel criminoso. Mas o próprio bandido, sabendo que enfrentava morte certa, voltou-se para a fé religiosa. Sua inquirição acabou mudando sua maneira de pensar. Começou a crer fervorosamente na imortalidade da alma. Sua espiritualidade fortaleceu-se. E ele entendeu que era apenas justo ele pagar a sua dívida, com a morte, e enfrentou a punição com coragem. Entrementes, muita gente pressionava o governador do estado de Utah para que abrandasse a sentença do criminoso, não permitindo a sua execução. Em face das pressões, o governador ofereceu ao homem essa opção. Mas ele a repeliu, asseverando: “O governador do estado de Utah é um homem sem fibra moral!”
Talvez os meus leitores pensem que o que passo a dizer é ofensivo, porém, emito aqui minha opinião sincera. No Brasil, as pessoas rilham os dentes só de pensarem em punição capital. O argumento eternamente usado é que a punição capital não reduz a criminalidade. Talvez isso seja verdade; mas, por outra parte, há crimes que devem ser punidos com a execução capital, sem importar se isso reduz ou não a taxa de criminalidade. Existem crimes que, por amor à justiça, precisam ser pagos com a vida do criminoso. A justiça é um princípio muito maior do que a mera redução da taxa de criminalidade. No entanto, nas prisões brasileiras um indivíduo pode ficar preso apenas por seis anos, por haver cometido um homicídio! Há criminosos tão empedernidos e irreformáveis que só não estão cometendo alguma grave infração da lei quando estão presos em segurança. Se vierem a obter liberdade condicional ou vierem a fugir, na esmagadora maioria dos casos voltarão à senda do crime, assim que conseguirem sua liberdade. Sim, há casos sem recuperação. De cada vez em que uma pessoa assim fica à solta, qualquer um pode ser sua vitima, e a sociedade inteira corre perigo. Ultimamente, apareceu a AIDS, que está executando eficazmente muitos criminosos detentos, que as leis brasileiras não tiveram a coragem de executar. Parece que falta aos legisladores a fibra necessária, ou, então, andam cegos devido a falsos sentimentos humanitários, que acabam favorecendo o criminoso, em vez de protegerem suas vítimas.
V. A Natureza Remediai e Restauradora da Vingança Divina
0 julgamento da cruz foi um julgamento verdadeiro, embora também tenha visado à redenção dos pecadores. O julgamento terreno do crente (castigos aplicados por Deus, como meios disciplinadores) pode ser severo, mas tem um aspecto remediai, conforme deixa claro o trecho de Heb. 12:7. De fato, o Pai celeste pode castigar um de seus filhos, tendo em vista o bem dele. O julgamento dos perdidos, no hades, também é um julgamento remediai, a fim de que eles “vivam no espírito segundo Deus” (I Ped. 4:6). Por conseguinte, apesar de nossa conta corrente com Deus vir a ser devidamente corrigida, mediante o julgamento, de acordo com a lei da colheita segundo a semeadura (ver Gál. 6:7 ss.), o julgamento divino (vingança) sempre será algo positivo, procurando ajudar o ser humano na sua reforma espiritual, no seu progresso, na sua redenção ou na sua restauração. E isso, meu amigo, é uma manifestação do notável amor de Deus que atinge o mais profundo inferno. Ver Restauração e Julgamento.