Virgem (Virgindade) — Estudos Bíblicos
Alguém, do
sexo masculino ou feminino, que ainda não experimentou contato sexual.
Usualmente a palavra é feminina (embora também haja homens virgens, como é
lógico), indicando donzelas em idade de casamento.
Esboço:
I. Terminologia
II. Virgem no
Antigo Testamento
III. Virgem
no Novo Testamento
IV. A Igreja
como Noiva Virgem
V. Na Igreja
Católica Romana
I. Terminologia
Vários termos
hebraicos são utilizados no Antigo Testamento para dar a idéia de virgem e de
virgindade. A palavra “virgem” usualmente é feminina, usada para indicar jovens
mulheres que chegaram à idade do casamento; mas também podia ser usada
para homens, conforme se vê em Apo. 14:3,4: “E ninguém pôde aprender o
cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados
da terra. São estes os que não se macularam com mulheres, porque são
castos (no grego, párthenoi, “virgens”), São eles os seguidores do
Cordeiro por onde quer que vá...”. Sem dúvida está ai em foco uma
virgindade moral, u estado de não-contaminação com pecados sexuais, e não
que o ato sexual entre marido e mulher seja impuro. Devemos pensar em três
palavras hebraicas e duas palavras gregas, quanto a este verbete, a saber:
1. Bethulah,
“virgem”. Essa é a palavra hebraica específica e mais frequentemente usada
para indicar uma virgem. É empregada por cinqüenta vezes, conforme se vê,
por exemplo, em Gên. 24:16; Êxo. 22:17; Lev. 21:3,14; Deu. 22:19,23,28; Juí.
21:12; II Sam. 13:2,18; I Reis 1:2; II Reis 19:21; Est. 2:3,17,19; Sal.
45:14; Isa. 23:4,12; Jer. 14:17; 18:13; Lam. 1:4,15,18; Joel 1:8; Amós 5:2;
8:13.
2. Almah,
“donzela”, “mulher jovem”, “velada”. Essa palavra apontava principalmente para
o véu que as donzelas solteiras usavam em Israel. Não indicava,
necessariamente, o estado de virgindade das donzelas, embora subentendesse
isso, mas indicava principalmente sua pouca idade. É usada essa palavra
hebraica por sete vezes: Sal. 68:25; Êxo. 2:8; Pro. 30:19; Gên. 24:23; Can.
1:3; 6:8; Isa. 7:14. Esta última referência, em Isaias, é aquela que
Mateus citou, em 1:23 de seu evangelho, ao referir-se à virgindade de
Maria, o que Lucas também fez, em 1:27 de seu livro, embora apenas de forma
subentendida.
3. Bethulim,
“sinais de virgindade”, “virgindade”. Essa palavra hebraica ocorre por
oito vezes: Lev. 21:13; Deu. 22:15; 22:17,20; Juí. 11:37,38; Eze. 23:3,8.
4. Párthenos,
“virgem”. Esse termo grego significa, especificamente, “virgem”. É empregado
por quinze vezes no Novo Testamento: Mat. 1:23 (citando Isa. 7:14); Mat. 25:1,7,11;
Luc. 1:27; Atos 21 ;9; I Cor. 7:25,28,34,36-38; II Cor. 11:2; Apo. 14:4. É
significativo que Mateus se tenha utilizado dessa palavra grega para
traduzir o trecho de Isa. 7:14. Ele tinha à sua disposição outra palavra
grega, meánis, que significa jovem, se quisesse dizer
somente que Maria ainda era jovem (mas não necessariamente virgem), quando
ficou grávida de Jesus, pela atuação miraculosa do Espirito Santo. O
mínimo que se pode dizer aqui é que o Antigo Testamento revelou a pouca
idade da mãe de Jesus, e que o Novo Testamento revelou também que,
além de jovem, ela era “virgem”.
5. Parthenia,
“virgindade”. Essa palavra grega é usada apenas por uma vez no Novo
Testamento, em Luc. 2:36, referindo-se à profetisa Ana: “Havia também uma
profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era já avançada em
idade, tendo vivido com o marido sete anos desde a sua virgindade”. Nossa
tradução não inclui a idéia de virgindade, que no original aparece em lugar de “se
casara”. Uma tradução mais literal diría: “...que vivera com seu marido
sete anos, desde a sua virgindade...”
II. Virgem no Antigo Testamento
O termo
hebraico bethulah, “virgem”, é cognato do ugaritico btlt, um
termo, com freqüência, usado como um dos títulos da deusa Anate. Em outras
línguas também havia cognatos, como o acádico batultu e o
neoassirio batussu. Esse era o termo específico para a idéia de “virgem
intacta”, da mulher que não tivesse tido seu himen violado em um primeiro
contato sexual.
A virgindade
é uma virtude na ordem da criação dos seres vivos, especialmente no caso da
mulher, por três razões básicas: a. a relação matrimonial precisava ser mantida
inviolável, dentro do sistema de casamentos monógamos (um homem e uma
mulher) (ver Êxo. 22). b. O casamento de um homem com uma mulher virgem
garantia a pureza da herança, que era fundamentalmente importante ao
oficio sacerdotal de grupos específicos dentro da nação de Israel
(ver Lev.21:14). c. A virgindade, por si mesma, era reputada como
uma condição desejável (ver Est. 2:2). tsse ponto de vista é refletido
até no Novo Testamento, nos escritos paulinos, onde ele diz: “E assim quem
casa a sua filha virgem faz bem; quem não a casa faz melhor” (I Cor. 7:38).
De acordo com
essa atitude judaica, a perda da virgindade deveria ocorrer dentro das relações
matrimoniais. Qualquer perda de virgindade, por ato de violência, era duplamente
lamentada (ver, por exemplo, II Sam. 13:13,14). Em Gênesis 24:16, encontramos
um detalhe interessante. Lemos ali: “A moça era mui formosa de aparência,
virgem a quem nenhum homem havia possuído...”. O detalhe é que além de
Rebeca ser declarada virgem, foram acrescentadas as palavras “a quem
nenhum homem havia possuído”, como segurança para se entender que não havia
qualquer dúvida quanto à virgindade dela, embora ela fosse classificada como
virgem (no hebraico, bethulah).
No Antigo
Testamento, por várias vezes a palavra “virgens” é usada para indicar a
comunidade das “virgens”, como representante de um estado ou nação.
Geralmente, as virgens formavam o grupo humano mais protegido e recluso da
nação. E, por isso mesmo, a felicidade delas (ver Can. 6:8), o escárnio
com que fossem tratadas (ver II Reis 19:21, Isa. 37:22) ou a miséria delas
(ver Isa. 46:11) indicavam a higidez e a segurança do povo a que
pertenciam. Assim é que a posição de virgindade, por muitas vezes, é
comparada com a pureza da adoração a Yahweh, por parte do povo de Israel.
Esse conceito tem o seu devido reflexo no Novo Testamento, na idéia
de que a Igreja é a pura Noiva de Cristo (ver o ponto quarto deste
artigo, A Igreja como Noiva Virgem). Por outro lado, a idolatria do povo
de Israel, sempre que se manifestou, é retratada no Antigo
Testamento como as raias da depravação sexual. Ver, especialmente, quanto
a isso, o livro de Oséias.
No Antigo
Testamento, todos os pecados sexuais, como a bestiali-dade, o incesto, a
sedução e a promiscuidade são categorizados como ofensas capitais, cujos
culpados eram passíveis de execução Assim, o preço da santidade do corpo
físico era nada menos que uma outra vida: “...se não achou na moça a
virgindade, então a levarão à porta da casa de seu pai, e os homens de sua
cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel,
prostituindo-se na casa de seu pai; assim eliminarás o mal do meio de ti”
(Deu. 22:20,21).
Tudo isso
encarece muito o valor da santidade do corpo no Novo Testamento. Disse Paulo: “Fugí
da impureza! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do
corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.
Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está
em vós, o qual tendes aa parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no
vosso corpo” (I Cor. 6:18-20). No entanto, a humanidade atravessa
uma época de tremendas imoralidades, em que a conservação da virgindade é
até considerada uma inferioridade qualquer! Quão diferentes devem ser os
crentes, dos incrédulos, nesse particular da santidade do sexo!
III. Virgem no Novo Testamento
Conforme já
demos a entender, todos os ensinamentos acerca da virgindade e da moralidade,
que há no Antigo Testamento, passam intactos e até são elaborados no Novo
Testamento.
Em nenhuma
das quinze ocorrências do termo grego párthenos, “virgem”, há qualquer
menção a outra coisa senão a virgens. A única passagem ambivalente é a de I
Cor. 7:36, embora esse trecho possa ser facilmente explicado pelo
contexto. A única passagem neotestamentária onde “virgens” são homens é
Apocalipse 14:4, que fala sobre os cento e quarenta e quatro mil homens “irgens
que acompanharão o Cordeiro por onde quer que Ele vá. Mas ali a
contaminação que foi evitada por eles é de natureza moral e religiosa.
No Novo
Testamento, a discussão primária sobre a questão da virgindade é aquela que
cerca o caso de Maria, mãe de Jesus. É evidente que a sua virgindade é
exposta em termos tipicamente semitas. Lemos em Lucas 1:34: “Como será
isto, pois não tenho relação com homem algum?”, que reflete, cum leve
variação, o que se lê em Gên. 24:16: “...a quem nenhum homem havia
possuído...”
O Novo
Testamento ensina em termos inequívocos a virgindade de Maria, embora mencione
o assunto somente por duas vezes, em Mat. 1:18-25 e Luc. 1:26-38.
Ver o artigo
separado sobre Nascimento Virginal de Jesus.
A Atitude de
Paulo. Os
intérpretes debatem-se diante de I Cor. 7:7 ss, por causa daquilo que Paulo diz
ali em favor da virgindade, como um estado melhor que o do casamento, o
que não concorda com seus padrões e preferências doutrinárias. Alguns
afirmam que Paulo manifestou-se assim face à crise de perseguição que
imperava em seus dias; mas não há razão alguma em pensarmos que ele fez
tal limitação, em sua maneira geral de pensar sobre a questão. O trecho de
I Cor. 7:26 menciona a “angustiosa situação presente”, e isso sem dúvida é um
fator que deve ser levado em consideração; mas a parte inicial do capítulo mui
definidamente mostra quais as atitudes gerais de Paulo acerca da
virgindade, em contraste com o matrimônio. Alguns pensam que essa atitude
paulina não combinava com a do judaísmo, o que é uma verdade, se pensarmos
na corrente principal do judaísmo. Porém, não podemos esquecer que os essênios
favoreciam o celibato e a virgindade. Também sabemos que aquele movimento
separatista (que fazia objeção a muitas coisas que faziam parte do judaísmo
central) exerceu poderosa influência sobre o movimento cristão primitivo.
Diante desses fatos, é melhor admitirmos que Paulo dava preferência ao estado
de solteiro, para ele mesmo e para outros cristãos. Contudo, ele não fazia
disso uma regra geral (conforme o vs. 7 o demonstra); certamente ele não
estava falando acerca do clero, em contraste com os leigos. Não obstante,
uma preferência apostólica tem peso, e aquela passagem de I
Coríntios tornou-se uma espécie de texto de prova que, posteriormente, foi
usado em apoio ao celibato obrigatório, especialmente por parte do clero.
IV. A Igreja como Noiva Virgem
A Igreja de
Cristo, retratada
como uma noiva virgem, é um tema que, no volume do Novo Testamento,
segundo os seus livros componentes acham-se arrumados em nossas Bíblias de
edição protestante, aparece pela primeira vez em II Cor. 11:2, onde lemos: “Porque zelo
por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos
apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo”.
Todavia, nas
parábolas de Jesus, esse tema é aludido. Ver, por exemplo, Mateus 25:1: “Então
o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas
lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo...”. Ver II Cor. 11:2.
Tudo isso
fala sobre a pureza moral e espiritual da Igreja, lavada no sangue de Cristo,
que a deixa imaculada. E Paulo se referia à necessidade de nós, os
crentes, não permitirmos que essa alvura seja manchada em qualquer
sentido. O pano de fundo da idéia é o mundo greco-romano que serviu de
berço do cristianismo. Esse mundo era herdeiro direto da Babilônia, com
todas as suas impurezas e abomina-ções. Em uma época em que predominava o
hedonismo, a idéia de que a vida humana foi feita para desfrutar todos os
prazeres, de que contanto que, nesse processo, se evitasse toda dor, a
luta dos cristãos primitivos em prol da moralidade e da pureza nas
relações sexuais deve ter parecido muito radical. Porém, somente assim os
crentes em Jesus não poderíam ser confundidos com os homens do mundo,
cuja grande característica é o rebaixamento de todos os seus valores sexuais.
com muitos vícios de natureza sexual, de mistura com idéias religiosas pagãs.
Até os deuses dos povos pagãos eram promíscuos e imorais. Basta que
lembremos Diana dos Efésios, com suas dezenas de seios; ou Vênus, a deusa
romana do amor erótico. Por isso mesmo, a pureza da Igreja de Cristo não
deve ser vista somente como uma questão de relacionamentos sexuais
corretos, mas também como uma questão de pureza religiosa!
Essa idéia
mais completa, em todo o
seu impacto, transparece mais claramente no livro de Apocalipse, onde a Igreja
aparece como a pura Noiva de Cristo. Citamos dois trechos dali, um deles
sobre a grande meretriz, a Igreja falsa, a Babilônia, e o outro sobre a
autêntica Noiva de Cristo. Lemos em Apocalipse 18:23: “Também jamais em ti
brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva, jamais em ti se
ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as
nações foram seduzidas pela tua feitiçaria”. A palavra “feitiçaria” reflete os
piores aspectos da religiosidade humana, inspirada pelos demônios. “Vi
também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus
ataviada como noiva adornada para o seu esposo (Apo. 21:2; ver também Apo.
21:9 e 27).
Esse
simbolismo da meretriz, que contrasta com o simbolismo da pura Noiva de Cristo,
é retratado com maiores detalhes no décimo sétimo capítulo do Apocalipse.
A Noiva será apresentada intacta a Cristo; mas a meretriz, “...com ela se
prostituíram os reis da terra; e com o vinho de sua devassidão foi que se
embebedaram os que habitam na terra”. Além disso, ela também é descrita
como “Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra”
(Apo. 17:2 e 5). Tanto a Noiva virgem de Cristo quanto a grande
meretriz são resultantes da cristandade. Correspondem, respectivamente,
ao trigo e ao joio de certa parábola de Jesus (ver Mat. 13:24-30).
A cena
pareceu tão dantesca para o vidente João que, ao receber a visão da grande
meretriz, ele disse: “...quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Apo. 17:6).
Mas, quando João contemplou a noiva, a esposa do Cordeiro, ele observou
que ela “...tem a glória de Deus” (Apoc. 21:11)
V. Na Igreja Católica Romana
Vários
fatores achavam-se por detrás do dogma que se desenvolveu na Igreja Católica
Romana acerca da virgindade e do celibato. A atitude paulina (ver o
último parágrafo da terceira seção) sem dúvida foi um fator. Se Paulo não
exigiu a virgindade para os ministros do evangelho, e nem para qualquer crente,
o próprio fato de que ele preferia esse estado para si mesmo (e
para outros) serviu de poderosa influência sobre os homens de mente
espiritual. Também precisamos considerar o caso da Virgem Maria, outro
fator bíblico em favor dos estados de celibato e virgindade. Ventilamos
ambas as questões nos artigos chamados Mariologia; Nascimento Virginal
de Cristo e Celibato.
Quando
recebia meu treinamento teológico, conheci vários jovens evangélicos que se
declararam em favor do celibato para si mesmos, como ministros futuros do
evangelho, e alguns deles iniciaram campanhas para arrastar outros para essa “causa”.
Isso era feito com base em uma suposta “superior espiritualidade”, e não
por causa de qualquer decreto eclesiástico que favorecesse o celibato.
Naturalmente, um a um aqueles jovens defensores do celibato foram cedendo
diante de suas inclinações naturais, pois as jovens serviam de poderosa
força de atração. Todavia, conheci um deles que resistiu ao casamento por
certo número de anos, porém, uma vez no campo missionário, acabou
contraindo matrimônio. É fácil compreendermos que esses
sentimentos manifestavam-se fortemente na Igreja primitiva. Mas na Igreja
Católica Romana tais sentimentos finalmente foram reduzidos a dogmas,
tendo recebido o apoio papal como confirmação.
Também há um
certo fator psicológico, do qual muitos compartilham, sem importar se o
admitem ou não, os quais pensam que há algo de “sujo” com o sexo, mesmo dentro
dos limites do casamento. Os pronunciamentos em favor do celibato
(conforme mostra o artigo sobre esse assunto), sem dúvida, evidenciam
isso. Os gnósticos, que eram ascetas, sem dúvida encaravam o sexo como uma
corrupção; mas, como também eram libertinos, abusavam das funções
sexuais com o intuito mesmo de debilitar o corpo fisico, no aguardo de
sua destruição final, o que, de acordo com a doutrina deles, libertaria
a alma. Essa atitude está alicerçada sobre a suposição de que o próprio
sexo é mau, é o principio do pecado, e que qualquer expressão sexual
(mesmo dentro dos laços mairimoniais) envolve uma maldade, uma imoralidade.
Assim sendo, se por uma parte o cristianismo combateu o gnosticismo, por
outra parte deixou-se influenciar por algumas de suas atitudes, infectando
a corrente principal e organizada da cristandade.
Acima de
tudo, temos a
considerar o exemplo dado por Jesus. Somente os mórmons insistem que Jesus,
finalmente, casou-se, e com duas mulheres (Maria e Marta). Mas todos os
grupos que se chamam cristãos vêem em Jesus um exemplo de suprema
dedicação, que o levou a sacrificar o casamento por amor à sua
missão. Isso posto, era natural que os “seguidores de Jesus” exaltassem
a virgindade.
A expectação
celestial serviu de outro fator em prol da virgindade e do celibato. 0
texto de Mat. 22:30 encerra uma declaração de Jesus que indica que a vida
da alma, no estado eterno, não envolve o sexo. É verdade que isso não tem
sido um conceito aceito por muitos; mas, no caso daqueles que se inclinam
para a virgindade e o celibato, isso serve de outra influência
encorajadora, como se fosse uma espécie de texto de prova bíblico em prol
da superioridade do estado de celibato.
Aí pelo
século IV D.C., a perpétua virgindade de Maria já se tornara um dogma da
ortodoxia. Então o celibato estava sendo salientado (embora não ainda
oficialmente requerido) no caso do clero. Agostinho fez certas declarações
que demonstram que ele considerava o sexo algo degradante e pecaminoso, mesmo
quando permitido e santificado no matrimônio cristão. Ele queixava-se de
sonhos eróticos que o deixavam envergonhado, mesmo depois de
haver cessado suas atividades sexuais há muito tempo.
O movimento
em favor do celibato tornou-se incontrolável durante a Idade Média, conforme
fica provado no artigo intitulado Celibato. Finalmente, prevaleceu na
cristandade organizada esse ponto de vista, tendo sido criado um dogma,
reforçado por pronunciamentos do papado. Esse é um dogma que os papas têm
a autoridade de reverter. Muitos tinham fortes esperanças de que
o papa Paulo VI faria exatamente isso. Mas tais expectações foram amargamente
desapontadas quando ele reafirmou, — em termos enfáticos —, a
superioridade do celibato para o clero, em contraposição ao estado de
casado. O número de dissidentes na Igreja Católica Romana, no tocante a
essa posição, tem aumentado de forma dramática em nossos dias, havendo grandes
probabilidades de que, finalmente, o clero católico romano terá permissão de
casar-se.