Virtude — Estudos Bíblicos
VIRTUDE
Neste verbete, cumpre-nos
estudar uma palavra hebraica e duas palavras gregas, a saber:
1. Chayil, “força”,
“exército”, “valor”. Com o sentido de virtude, encontramo-la somente por
quatro vezes em todo o Antigo Testamento: Rute 3:11; Pro. 12:4; 31:10; 31:29. O
exame dessas passagens mostra que está sempre em foco alguma virtude
tipicamente feminina. O capítulo trinta e um do livro de Provérbios é a
passagem veterotestamentária que mais exalta as virtudes femininas. Entre
as virtudes femininas ali salientadas, temos a operosidade, o
cuidado com as necessidades domésticas, a ajuda prestada aos aflitos, a tranqüilidade
de espírito diante do futuro, a sabedoria de linguagem, etc. Diante dessas
qualidades, o marido comenta: “Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas
tu a todas sobrepujas”. Essas virtudes são contrastadas com a mera beleza
física: “Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao
Senhor, essa será louvada” (Pro. 31:29,30).
2. Areté,
“força mental”, “excelência”, “virtude”. Esse vocábulo grego figura por
quatro vezes no Novo Testamento: Fil. 4:8, I Ped. 2:9, II Ped. 1:3,5.
Devemos pensar, sobretudo, em “virtude ou excelência moral”, quando encontramos
essa palavra grega. Contudo, no caso de Fil. 4:8, Robertson, o maior
gramático do grego koiné, pensa que a idéia é sinônima de “louvor”.
Em nossa versão portuguesa lemos nesse versículo de Filipenses: “...irmãos,
tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o
que é puro tudo o que e amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude
há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupa o vosso
pensamento”. Ali as palavras virtude e louvor, pois, poderiam ser
consideradas aspectos da excelência moral dos crentes.
No trecho de I Pedro 2:9
destaca-se a “virtude” de Deus, Aquele cujas excelências cabe-nos anunciar ao
mundo. Poderíamos pensar aqui na graça, na misericórdia, no amor, na
santidade, na longanimidade etc., de Deus, sobretudo quando essas virtudes se
manifestaram na pessoa de Jesus Cristo.
Sem dúvida, II Ped.
1:3-11 é trecho fundamental para quem quiser estudar acerca do desenvolvimento
do cristão, e que o prepare para o reino eterno de Cristo. Poderíamos
imaginar esse desenvolvimento como uma escadaria. O primeiro degrau na
subida cristã é a “fé”. Mas o segundo degrau é a “virtude”, ou seja, a
excelência moral (que envolve tanto evitar toda manifestação de erro e
pecado, como também o cultivo das qualidades morais). Somente então o crente
pode galgar degraus maiores, como o conhecimento (por experiência
própria com Deus), o domínio próprio, a perseverança, a piedade (o temor a Deus, que leva a uma obediência respeitosa, como de filho para pai),
a fraternidade (o amor por simpatia), e, finalmente, o amor (aquele
que percebe o valor do objeto amado). Oh, minha alma, engrandece
ao Senhor e roga que te seja dado subir todos esses maravilhosos degraus!
A fé nos é dada gratuitamente pelo Senhor. Daí por diante, começando pela “virtude”,
requer-se a cooperação com o Espírito de Deus. A importância dessa
ascensão espiritual pode ser vista nas palavras de Pedro: “...estas cousas
existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos,
nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo...
procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.1 Pois,
desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Ped. 1:8 ss).
3. Dúnamis,
“poder”. Poderíamos dizer que assim como as aretai refletem o
aspecto moral, os dúnameis refletem a ascensão metafísica do
crente, a espiritualização do remido, com a manifestação dos poderes de
Cristo em sua vida. Essa palavra grega é bastante comum nas páginas do Novo
Testamento. Aparece por cento e dezoito vezes: exemplos: Mat 6:13; 7:22;
26:64; Mar 5:30; 14:62; Luc. 1.17,35; 4:14,36; Atos 18; 2:22; 3:12; 4:7,33;
1:4,16,20; 1:38; 9:17 (citando Êxo. 9:16); I Cor. 1:18,24; 2:4,5; II Cor.
1:7; 4:7; 6:7; Gál. 3:5; Efé. 1:19,21; 3:7,16,20; Fil. 3:10; Col. 1:11,29;
I Tes. 1:5; II Tes. 1:7,11; 2:9; II Tim. 1:7,8; 3:5; Heb. 1:3; 2:4; 6:5; 7:16;
11:11,34; I Ped. 1:5; 3:22; II Ped. 1:3,16; 2:11; Apo. 1:16; 3:8; 4:11; 5:11;
7:12; 11:17.
Nos três evangelhos
sinópticos, está em foco a capacidade do Senhor Jesus de realizar milagres. No
capítulo doze de I Coríntios, há menção aos poderes como um dos
dons do Espírito: “...operações de milagres...”, diz a nossa versão portuguesa.
Interessante é que nos
livros apócrifos certos objetos aparecem como se tivessem virtudes, que seriam
as propriedades naturais. Ver, por exemplo, Eclesiastes 38:5; Sabedoria de
Salomão 7:20; 13:2 e 19:20. Mas, naturalmente, esse uso já foge da maneira
bíblica de empregar tal palavra.
Voltando ao uso bíblico,
vale a pena destacar o trecho de I Coríntios 1:24,25, onde lemos: “...para os
que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de
Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do
que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. Paulo
se referia ao evangelho e seu ato central, a morte de Cristo por
crucificação. Para quem tem olhos para ver, em nenhum outro momento Deus
manifestou tanto poder. Porquanto, em Cristo, ele estava reconciliando
consigo mesmo todas as coisas, segundo também explica Paulo: “...havendo feito
a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo
todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Col. 1:20). Mediante
o pecado dos anjos que pecaram e da humanidade inteira,
estabeleceu-se uma brecha entre Deus e sua criação. E as forças do mal
como que se riam da situação. Mas Deus, em Jesus Cristo, triunfou
sobre tais poderes com um poder ainda maior: o poder da
reconciliação, através do sangue de Cristo, “...despojando os principados
e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando
deles na cruz” (Col. 2:15). Cabe aqui o ditado popular: “Ri melhor quem ri
por último”. Somos partícipes dessa vitória de Cristo sobre todo o poder
da maldade. Ele é o poder e a sabedoria de Deus!