Visão (Visões) — Estudos Bíblicos
Esboço:
I.
Palavras Bíblicas Envolvidas
II.
Variedade de Conceitos
III.
Fenômeno Comum
IV.
Explicações e Distinções
V. O
Misticismo
VI.
Crítica e Avaliações
Palavras Bíblicas Envolvidas
Temos a considerar dez
vocábulos hebraicos e três palavras gregas, a saber:
1. Chezev,
“visão”, “aspecto”. Esse termo aramaico é usado por doze vezes: Dan. 2:19,28;
4:5,9,10,13.
2. Chazon,
“visão”. Esse termo hebraico é empregado por trinta e cinco vezes: I Sam.
3:1; I Crô. 17:15; II Crô. 32:32; Sal. 89:19; Pro. 29:18; Isa. 1:1; 29:7; Jer.
14:14; 23:16; Lam. 2:9; Eze. 7:13,26; 12:22-24,27; 13:16; Dan. 1:17; 8:1,2,13,15,17,26;
9:21,24; 10:14; 11:14; Osé. 12:10; Oba. 1; Miq. 3:61; Naum 1:1; Hab. 2:2,3.
3. Chazuth,
“visão”. Essa palavra hebraica é utilizada por apenas duas vezes, com esse
sentido, isto é, em Isa. 21:2 ; 29:11.
4. Chizzayon,
“visão”. Palavra hebraica empregada por nove vezes: II Sam. 7:17; Jó 4:13;
7:14; 20:8; 33:15; Isa. 22:1,5; Joel 2:28 e Zac. 13:4.
5. Machazeh,
“visão”. Termo hebraico que figura por apenas três vezes, em todo o Antigo
Testamento: Gên. 15:1; Núm. 24 e Eze. 13:7.
6. Chazot,
“visão”. Palavra hebraica que só ocorre por uma vez, em todo o Antigo
Testamento, em II Crô. 9:29.
7. Marah,
“aparição”, “visão”. Vocábulo hebraico que foi usado por uma vez com o
sentido de “espelho”, em Êxo. 38:8; e por onze vezes, com o sentido de “visão”:
Gên. 46:2; Núm. 12:6; I Sam. 3:15; Eze. 1:1; 8:3; 40:2; 43:3; Dan. 10:7,8,16.
8. Mareh,
“aparição”, “visão”. Palavra hebraica que ocorre por quarenta e oito
vezes, conforme se vê, por exemplo, em Eze. 8:4; 11:24; 43:3; Dan. 8:16,26,27;
9:23 e 10:1; Núm. 9:15,16 e Joel 2:4.
9. Roeh,
“visão”. Palavra hebraica que aparece por apenas uma vez em todo o Antigo
Testamento, em Isa. 28:7.
11. Órama,
“coisa vista”, “espetáculo”. Palavra grega usada por doze vezes no Novo
Testamento: Mat. 17:9; Atos 7:31; 9:10,12; 10:3,17,19; 11:5; 12:9; 16:9,10.
12. Órasis,
“aspecto”, “visão”. Vocábulo grego usado por quatro vezes no Novo
Testamento: Atos 2:17 (citando Joel 3:1), Apo. 4:3 ; 9:17.
13. Optasía,
“aparição”, “visão”, “visualidade”. Palavra grega que figura por quatro
vezes no Novo Testamento: Luc. 1:22; 24:23; Atos 26:19 e II Cor. 12:1.
II. Variedade de Conceitos
Apesar da palavra
portuguesa, “visão”, poder indicar a percepção ocular, geralmente aponta para
as dimensões extrafísicas de certas experiências místicas — algo visto, que não
pela capacidade ocular normal dos seres humanos, mas antes, contemplado
como que em sonho ou êxtase, algo revelado visualmente a um
profeta. Está em foco alguma imagem visual sem conteúdo físico,
material. Alguns pensam que se trata de um forte poder da imaginação, mas
é melhor pensarmos em um discernimento incomum, em forma visual, dado
pelo Espírito de Deus, ou, então, por algum espírito maligno, ou mesmo
pelas capacidades psíquicas naturais dos seres humanos. Naturalmente,
quando se trata de servos de Deus, como os profetas, os apóstolos e
outros, devemos pensar em alguma experiência mística inspirada pelo Espírito
Santo.
III. Fenômeno Comum
O número de Palavras
hebraicas envolvidas (dez) mostra que o fenômeno era bastante comum nos dias do
Antigo Testamento. Cerca de uma décima parte das ocorrências dessas palavras
aparece no livro de Daniel. O conteúdo do livro talvez nos dê a entender
melhor a natureza peculiar e sugestiva das visões.
O uso da ideia, no Antigo
Testamento, parece perfeitamente coerente com a natureza revelada de Deus,
pois, por todas as páginas da Bíblia, Deus aparece como alguém que se
revela e manifesta aos homens, tornando os seus caminhos conhecidos
por parte de indivíduos escolhidos. Assim, por várias vezes os patriarcas
mostram que a revelação por meio de visões era um dos métodos escolhidos pelo
Senhor para tornar-lhes conhecida a sua vontade. Para exemplificar: “Depois
destes acontecimentos, veio a palavra do Senhor a Abraão, numa visão, e
disse: Não temas, Abraão, eu sou o teu escudo e teu galardão será
sobremodo grande” (Gên. 15:1). E também: “Ouvi agora as minhas palavras:
se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me faço conhecer, ou
falo com ele em sonhos” (Núm. 12:6).
A palavra hebraica de uso
mais freqüente para indicar “visão” é mareh. Damos dois exemplos de seu
uso: “Eis que a glória do Deus de Israel estava ali, como a glória que eu
vira no vale” (Eze. 8:4). “E ouvi uma voz de homem de entre as margens do
Ulai, a qual gritou e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão” (Dan.
8:16).
Outra palavra muito usada
no Antigo Testamento é chazon, que também exemplificamos com duas
citações: “Naqueles dias a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram
freqüentes” (I Sam. 3:1). “...buscarão visões de profetas, mas do
sacerdote perecerá a lei, e dos anciãos, o conselho” (Eze. 7:26).
Tentando explicar as
visões, muitos estudiosos têm emitido sua opinião a respeito. Malebranche
(1638-1715) pensava que as percepções normais de nossos sentidos físicos não
seriam orgânicos, mas tornar-seiam possíveis devido à conexão entre a alma
humana e Deus; então, poderia haver mais do que visões orgânicas, através
do olho humano, visto que haveria visões da alma. De certa feita,
este tradutor e co-autor teve um sonho de revelação, dentro do qual
duas figuras de branco fulgurante diziam, uma a outra: “Deus criou o
olho humano, que vê o que lhe está diante. Mas, quando Deus quer dar
o dom de visões, volta os olhos da alma para dentro, e então mostra
o que ele quiser!” Para mim, isso constitui uma grande revelação,
mostrando um pouco a extensão da alma humana, e como o Espírito de Deus
controla e santifica os poderes da mesma. Ver também os artigos sobre Sonhos,
Transe e Misticismo.
IV. Explicações e Distinções
Há pessoas que pensam que
as visões só ocorrem quando se está dormindo, porquanto confundem as visões com
os sonhos, posto que há visões sob a forma de sonhos, estando a pessoa no
sono. Mas que há visões dadas nos momentos despertos, pode-se ver,
por exemplo, em passagens como Dan. 10:7 e Atos 9:7, quer de
dia (Cornélio, Atos 10:3; Pedro, Atos 10:9 ss, conf. Núm. 24:4-16),
quer de noite (Jacó, Gên. 46:2). E que há visões quando a pessoa
está dormindo, prova-se através de Núm. 12:6; Jó 4:13; Dan. 4:9.
Um ponto que não deve ser
esquecido é que as visões, por mais estranhas que possam ser, vez por outra, as
suas cenas, usualmente, têm pontos de contato com as experiências da vida real.
Um dos casos mais nítidos do que dizemos foi a visão do “homem
da Macedônia”, que o Senhor deu a Paulo (ver Atos 16:9), que pôde
ser reconhecido, sem dúvida por causa de seus trajes, e talvez de
sua aparência pessoal. E a “escada de Jacó” (ver Gên. 28:12)
também não é difícil de ser interpretada, pois todos sabemos para o
que serve uma escada. Todavia as visões podem ser extremamente simbólicas,
não podendo ser interpretadas literalmente. Assim, uma árvore frondosa pode
indicar um homem no viço da saúde ou com boa espiritualidade, ao passo que
uma árvore doente reflete a saúde periclitante, ou, então, má situação
espiritual. No quarto capítulo do livro de Daniel, lemos que declarou o
rei Nabucodonosor: “Tive um sonho, que me espantou, e, quando estava no
meu leito, os pensamentos e as visões da minha cabeça me turbaram” (Dan. 4:5).
Vemos aí tanto visões durante um sonho, como também a árvore do sonho
representando a vida de Nabucodonosor, conforme também explicou o profeta:
“A árvore que viste... és tu, ó rei...” (Dan. 4:20,22).
O caráter das revelações
conferidas por meio de visões também pode revestir-se de um duplo aspecto,
dentro da narrativa bíblica. Em certo sentido, uma revelação dessas pode
propor uma oientação imediata. Isso pode ser visto nos casos de Abraão (Gên.
15:2), Ló (Gên. 19:15), Balaão (Núm. 22:22), e no Novo Testamento,
Pedro (Atos 12:7). Em outro sentido, uma revelação mediante visões
pode esclarecer algum aspecto ou desenvolvimento do reino de
Deus, condicionado às ideias morais e ao avanço espiritual do povo
de Deus. Isso pode ser visto em muitas das visões de homens espirituais
como Isaías, Ezequiel, Oseias, Miqueias, Zacarias, etc., e, nas páginas do
Novo Testamento, Paulo, e, acima de tudo, João, com suas tremendas visões
do Apocalipse. O primeiro tipo, isto é, revelações para dar orientação
imediata, tem muitos pontos de contato com a vida dos piedosos de todos os
séculos. Por outro lado, as visões proféticas, que chegam a perscrutar o
avanço espiritual da nação de Israel ou da Igreja de Cristo, mostram a
imperiosa necessidade do crescimento espiritual dos crentes, segundo a imagem
ou modelo de Cristo, sem o que quaiquer indivíduo, instituição humana ou
nação estão condenados à derrota espiritual, porquanto vida requer crescimento,
e morte coi responde à fixidez.
A natureza das visões
dadas pelo Espírito Santo como instrumentos da comunicação divina está
intimamente vinculada aos reavivamentos religiosos (ver Eze. 12:21-25; Joel
2:28; cf. Atos 2:17). Por outra parle, a ausência de visões está
diretamente ligada ao declínio espiritual, conforme se vê em Isa. 29:11,12;
Lam. 2:9; Eze. 7:26; Miq. 3:6, etc. Precisamos do toque místico na
nossa fé. Por outro lado, existe um misticismo falso (vide).
Crentes imaturos não sabem distinguir a diferença.
V. O Misticismo
Muitas pessoas
evangélicas têm receio das experiências místicas, temendo até mesmo a palavra “misticismo”,
como se isso se aproximasse de espiritismo ou de experiências com demônios.
Porém se entenuermos misticismo como termo que indica o contato
de um ser humano com algum poder espiritual superior, como um anjo do
Senhor, e, sobretudo, com o Espírito de Deus, então compreenderemos que um
homem pode ser um visionário, sem que isso importe em qualquer mau
sentido. Sem dúvida, ninguém haveria de querer considerar homens santos e
espirituais como Abraão, Moisés, Jacó,
Isaías, Ezequiel, Daniel,
Paulo e João, que foram homens visionários extraordinários, como indivíduos
esquisitos, ou que deveriamos evitar somente porque eles eram diferentes
da maioria dos homens, que nunca recebem uma visão sequer na vida.
Qualquer estudo sério que se faça de suas vidas e realizações demonstrará
que as experiências místicas aue eles tiveram, longe de servir-lhes de
estorvo, muito os ajudaram em seu desenvolvimento espiritual, o que também
explica a grande utilidade que tiveram no reino de Deus.
O homem dotado de visões
é o homem que se mantém em contato santo e íntimo com as realidades
espirituais. Não nos olvidemos que um dos mais fortes impulsos de Deus é o de
entrar em contato com o homem e comunicar-se com ele, conforme já vimos,
no começo deste artigo, Deus manifesta-se aos protetas, segundo ele mesmo
declarou, por meio de visões e sonhos (ver Núm. 12:6).
Ver os três artigos
separados intitulados: Misticismo; Desenvolvimento Espiritual, Meios do;
Maturidade.
VI. Crítica e Avaliações
Conforme foi amplamente
demonstrado nas seções anteriores deste verbete, é claro que as visões são o
principal poder por detrás da formação de Livros Sagrados, incluindo a Bíblia.
Uma visão é uma expressão do misticismo (vide), com base no
pressuposto de que Deus pode revelar-se e realmente revela-se através da
experiência visionária dos profetas. A iluminação, a revelação e as visões
fazem parte do campo geral do misticismo.
Também é patente que
existem visões falsas como na atividade demoníaca e nas condições psicológicas
patológicas. Assim, instrumentos humanos de Satanás também têm visões, e,
igualmente, os mentalmente desequilibrados.
Quando as
Visões são Triviais. A ciência tem
comprovado, de forma insofismável, que as visões podem ser triviais. A
privação da percepção dos sentidos pode fazer uma pessoa ter “visões”, que
são alucinações da primeira ordem. Certa experiência científica consiste
em imergir as pessoas em um ambiente fechado, em tanques de água. Tais pessoas
ficavam assim privadas de qualquer possibilidade de ver, não ouviam
qualquer som, e só contavam com um limitado sentido de tato. E algumas das
pessoas submetidas ao teste, dentro do breve espaço de vinte e quatro
horas, começaram a ter visões de tão notável qualidade, que disseram que,
a menos que mantivessem em mente estarem sendo submetiaas a um
teste, não teriam podido distinguir essas visões da realidade.
Algumas dessas visões são engraçadas, outras são aterrorizantes,
outras são iluminadoras, outras, comunicativas, e algumas, apenas
entre-têm. Certas drogas também causam visões. Talvez, algumas
vezes, essas visões sejam genuínas no sentido de que a perturbação
do delicado equilíbrio entre o corpo e o espírito pode levar o espírito
a manifestar-se um pouco mais do que na vida diária comum. Por outra
parte, existem alucinações visuais patentes que algumas pessoas confundem com
visões espirituais válidas. A primeira coisa que um místico sério
faz é questionar a validade de suas visões, mas um misticismo barato
(que se manifesta entre pessoas de pouca instrução, que confiam cegamente
e não têm qualquer atitude de crítica mental) pode produzir toda espécie
de visões triviais, que são consideradas importantes, embora não o sejam.
Além disso, devemos levar
em conta a questão da receptividade. Aquele que busca ter essas manifestações,
mas não possui o desenvolvimento moral e espiritual necessário, pode tornar-se
vítima de forças estranhas, sem importar sua natureza exata. E então
uma forma de patologia espiritual é exaltada como se fosse
uma espiritualidade superior.
Sem importar os abusos e
os precipícios, a fé religiosa vê-se reduzida a pouco mais do que exercícios da
razão (conforme se vê na religião natural), a menos que visões de profetas
possam comunicar mensagens espirituais genuínas. Isso é ensinado na
própria Bíblia.
Por isso mesmo, não
devemos rejeitar visões e profecias como meio de iluminação e crescimento
espirituais. Carecemos do toque místico em nossas vidas, embora também
necessitemos de conhecimento, erudição e atitudes críticas. O homem
verdadeiramente espiritual será capaz de conseguir esse bom equilíbrio
em sua atuação. Mas há muitas pessoas envolvidas em um misticismo barato, que
estão brincando com algo que não sabem controlar, e terminam por ser
prejudicadas.