Estudo sobre João 1
Estudo sobre o Evangelho de João
João 1
Provavelmente não há outro lugar no Novo Testamento em que se diga tanto, como aqui, com tão poucas palavras. Aqui estão afirmadas a singularidade de Cristo e as grandes consequências desse autosacrifício incorporado na encarnação. Nesse prólogo, João anuncia o seu tema principal, que é a glória de Jesus Cristo demonstrada por meio de tudo que ele disse e fez. v. 1. No princípio era aquele que é a Palavra. Diferentemente dos autores sinópticos, o quarto evangelho começa a história na eternidade; e é a partir daqui que ele entende o significado da obra de Cristo. No princípio (cf. Gn 1.1) leva a nossa concepção do propósito de Deus para além da Criação, de forma que aquela Palavra, como a segunda pessoa da Trindade, existia por si mesma. O termo Palavra (gr. ho logos) foi supostamente empregado pelo autor para tornar o evangelho relevante para os seus primeiros leitores. Contudo, a concepção de ho logos é de suprema importância para a doutrina de Cristo que o autor tem em mente à parte de qualquer outra razão especial que o tenha levado a usar o termo. [V. Comentário adicional 1, p. 1.263). Ele estava com Deus (gr. kai ho logos ên pros ton theon): Isto é, desde a eternidade sempre houve uma distinção entre as pessoas da Trindade. Não nos ajuda muito entender isso como a Palavra que existia em contraste com o Deus absoluto. O sentido mais simples sugerido aqui parece endossado em outros textos em que as preposições são usadas de maneira semelhante (cf. Mc 6.3; cf. tb. Mc 10.27). e era Deus (gr. kai theos ên ho logos): A plenitude da divindade e a Palavra são identificadas. A Palavra ativa imanente no mundo não é menos Deus do que o Deus que transcende todo o tempo e espaço. A ausência do artigo definido diante de “Deus”, interpretado por alguns estudiosos como a Palavra possuindo algo menos do que a divindade completa, sugere, no entanto, que outras pessoas existem além da segunda pessoa na Trindade, v. 2. Ele estava com Deus no princípio: Tanto a Palavra quanto o seu relacionamento com o Eterno são eternos. Nunca houve uma parte da sua preexistência em que ela esteve separado da Trindade em qualquer sentido. Assim, a divindade de Cristo é estabelecida mesmo sem que qualidades pessoais específicas sejam atribuídas a ele como a segunda pessoa da Trindade. C. K. Barrett comenta com propriedade: “Os atos e palavras de Jesus são os atos e palavras de Deus; se isso não for verdade, o livro é blasfemo” (p. 130). v. 3. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele (gr. di’ autou): A Palavra, vinda de Deus, foi o agente na Criação, que, diferentemente dele, não é eterna, e, mesmo assim, sem esse agente nada do que existe teria sido feito (cf. Pv 8.30). Não há, como alguns pensadores gnósticos estavam dispostos a acreditar, qualquer outro meio de criação que não o próprio Deus. Há uma leitura alternativa possível aqui, i.e., ”sem ele nada foi feito. O que foi feito, era vida nele”. No entanto, a leitura costumeira é melhor. João conta aos seus leitores que em Cristo há um elo visível entre Deus e o mundo material. Este mundo certamente pertence a Deus, que o fez (cf. Hb 1.2; 11.3). Em geral, os estudiosos concordam em que o gnosticismo nunca esteve longe da mente do autor desse evangelho. Os gnósticos ensinavam que somente o espírito pode ser bom, e a matéria é essencialmente má. Mas João, em concordância com Paulo (cf. Cl 1.16), defende pela sua doutrina da criação por intermédio da Palavra de Deus, e por meio da encarnação da Palavra, que este mundo de matéria é de fato a obra da mão do Todo-poderoso, que entrou nele em Jesus Cristo. O mundo não é essencialmente mau, embora o homem por meio do pecado tenha produzido miséria nele (cf. Gn 1.10,12,18,21,25). v. 4. Nele estava a vida: O Universo, feito pela Palavra de Deus, e imerso na sua vontade viva e ativa, mostra em si mesmo a propriedade orgânica e ativa da vida. E esse princípio no mundo criado se revela novamente em Cristo, que veio para conceder vida por meio da encarnação (cf. 10.10). Essa vida se torna a lu% dos homens. E o elemento vivo, em desenvolvimento no Universo, que mostra Deus ao homem (cf. Rm 1.20); é a base da verdade da religião revelada, v. 5. A luz brilha...: Essa é a ênfase do quarto evangelho, isto é, que Deus foi revelado absolutamente em Jesus Cristo. Tudo que os homens possam esperar por via da revelação e salvação deve ser visto nele. Mas Deus forneceu ao homem a revelação contínua, pois a luz brilha nas trevas, expressão que retrata a distância que separa o homem de Deus e mostra que Deus sempre se revelou ao homem de alguma forma. A encarnação, no entanto, revelou Deus com clareza singular, assim que, de forma correspondente ao caso, “as trevas não a compreenderam” (Nota textual da NVI).
“Vida” e “luz” são duas palavras especialmente associadas com João no NT. Mais tarde no evangelho, Jesus afirma que ele é tanto a vida (cf. 11.25; 14.6) quanto a luz (cf. 8.12; 9.5). No prólogo, contudo, essas duas reivindicações são colocadas no seu contexto essencial. O que Jesus declara ser no mundo ele é sempre. Isso é característico de Deus no AT. A atividade divina criou a vida e a sustenta. Deus é, assim, a fonte da iluminação do homem (cf. SI 36.9,10). No evangelho, além disso, “vida” traz nuanças distintas de salvação e libertação. Na medida em que é trazida para dentro do mundo por Cristo (cf. 2Tm 1.10), denota sua obra particular a favor da humanidade, a seção mais responsável do mundo criado. “Luz” em João sugere revelação que conduz os homens à “vida”, que coloca uma responsabilidade solene sobre os homens, e assim os conduz ao julgamento se eles a recusarem (cf. 3.19). A presença das trevas é em geral pressuposta onde a “luz” é mencionada. E quando não há resposta à verdadeira luz, então, qualquer que seja a “luz” que eles professem ter, na realidade não têm luz nenhuma (cf. 9.41).
v. 6. Surgiu um homem...: Agora o tema se volta de maneira distinta para a história humana. João Batista é mencionado aqui pela primeira vez, visto que ele agia como testemunha da luz ao ser “uma candeia que queimava e irradiava luz” (5.35) para que assim, por meio da obra dele, todos os homens cressem. v. 9. O significado é obscurecido pela ARG (“a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo”). A melhor formulação associa a expressão chegando ao mundo à expressão verdadeira luz, e não a todos os homens. Ele, em contraste com João, é a verdadeira luz, grego to phõs to alêthinon, significando luz real ou genuína (não verdadeira como distinta de falsa, o que poderia ser expresso por alêthês). De que forma se pode dizer que ele iluminaria todo homem? Somente no sentido de que “luz” traz juízo (cf. v. 5 e 3.19-21). A vinda de Cristo lançou luz sobre as trevas da situação humana e continua a fazê-lo na vida de todo homem. v. 10. o mundo foi feito por intermédio dele...: Isso se aplica à parte da criação que é capaz de fazer escolhas conscientes. O mundo (gr. kosmos) é o mundo das pessoas, especialmente aquelas que, nesse evangelho, são confrontadas com a verdade em Cristo. (Muitas vezes no evangelho, contudo, ele é descrito como “este mundo”, que é uma referência ao nosso mundo em contraste com o mundo de cima, do qual Cristo veio; cf. 8.23.) Ambos os usos do termo sugerem um antagonismo que foi demonstrado a Cristo, o mundo não o reconheceu-. Esse uso do verbo “conhecer” (gr. ginõskõ) significa “reconhecer”. É digno de nota que o evangelista nunca usa o substantivo correspondente “conhecimento” (gr. gnõsis); ele faz todo o possível para evitar essa forma de gnos-ticismo que ensinava a salvação por meio do conhecimento para uma elite inteligente. Visto que “saber” em João implica observação, obediência e confiança, não é de admirar que “conhecer” e “crer” sejam quase sinônimos (cf. 17.3; 6.69). v. 11. Veio para o que era seu, mas os seus é uma tradução para-frástica do grego ta idia, embora expresse de forma adequada o que o autor tinha em mente ao se referir a uma área particular — a Palestina — que no mundo ocupava uma posição especial no favor de Deus (cf. 19.27). Mas os seus (hoi idioi) não o receberam, embora a partir de 13.1 o título hoi idioi seja restrito àqueles que de fato o receberam. Isso imediatamente resume a rejeição demonstrada contra Cristo e as razões, humanamente falando, do seu sofrimento. Aos que, contudo, o receberam por fé em seu nome, deu-lhes (gr. edõken) o direito de se tornarem filhos de Deus. Esse é o presente de Deus. Os homens não têm direito algum de reivindicar serem filhos de Deus. Somente Cristo dá aos homens o poder (gr. exousia — “direito”) de se tornarem filhos de Deus .filhos [...] nasceram-. Visto que a vida em Cristo começa por meio do nascimento, i.e., por meio da atividade distinta de Deus como fonte de tudo. Esse nascimento não contém nenhum elemento humano; nem está no escopo da realização humana, nem [ocorrei por vontade da carne, nem é mediado por motivo de maturidade — pela vontade de algum homem (gr. ek thelmatos andros). v. 14. a Palavra tomou-se carne-. Não há nenhuma sugestão nessas palavras de que na encarnação a Palavra se tornou uma pessoa. A personalidade sempre tinha sido sua propriedade. ”Carne” (gr. sarx) denota o âmbito humano comparado ao celestial (cf. 3.6; 6.63). Aqui, então, está a grande parte inexplicável da doutrina de Cristo, que a Palavra eterna entrou na vida humana. Ele, tampouco, entregou sua identidade à carne, pois, enquanto ele habitou entre os homens — um fato para o qual essencialmente o evangelho se volta —, houve aqueles que viram (vimos) a sua glória, i.e., a manifestação visível de Deus, que era, em sua natureza, como os homens haviam entendido no passado, cheio de graça, denotando a iniciativa tomada por Deus quando ele concede seu favor aos homens, e de verdade como a definitiva e perfeita personificação da revelação divina. A graça de Deus e a verdade de Deus estão igualmente envolvidas pela mensagem cristã. Deus em Cristo chama as pessoas a adorá-lo e a confiar nele. E o equilíbrio perfeito entre graça e verdade, demonstrado na serenidade infatigável exercida por Jesus na terra, é mostrada nos capítulos seguintes. Com frequência, ele tomou a iniciativa de ir ao encontro das pessoas quando elas precisavam dele; e ele personificou a verdade na sua pessoa (cf. Ex 34.6; Jo 14.6), como o Unigénito vindo do Pai, isto é, singularmente Filho de Deus. Sua eternidade impede qualquer noção de que seu ser era derivado do Pai, mas, como as palavras sugerem, sua existência e obra nunca foram independentes do Pai — um fato de que o próprio Jesus deu testemunho (cf. 10.25,30). João deixa a doutrina do Logos nesse ponto e agora se concentra no relacionamento entre o Pai e o Filho. v. 16. Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça-. A doutrina de Cristo e de Deus que abre esse evangelho nunca deve ser considerada uma mera declaração de um credo. A plenitude de graça e verdade é algo que é mediado aos homens por meio da experiência. E o evangelista não está sozinho nisso. “Nós a recebemos”, ele escreve, talvez associando o testemunho de outros crentes em Efeso nos seus dias, ou se unindo em espírito a todos os que subsequentemente ao seu próprio testemunho teriam fé em Cristo. Além disso, o testemunho combinado do povo de Deus concluiu que a vida cristã era graça sobre graça, à medida que cada experiência da sua ajuda e amor conduzia a uma experiência mais abrangente e profunda da bondade de Deus. v. 17. Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés: O presente de Deus da salvação ao seu povo antigo veio por meio do poder compulsivo exterior da lei. Agora, em Cristo, os homens são compelidos a amar a Deus pelo poder constrangedor demonstrado em Jesus Cristo, v. 18. Ninguém jamais viu a Deus: Essa é uma pressuposição básica do AT. Até em situações em que se sugeriu que algo de Deus havia sido visto pelos homens (e.g., Êx 33.22,23; Is 6.1; Ez 1.1), os targuns aramaicos, que eram paráfrases de certas partes do AT, tendiam a usar circun-locuções para o nome divino, e o teriam formulado em algum termo como memra, i.e., ”a palavra”. Mas a importância disso para a compreensão do pano de fundo de João tem sido exagerada por alguns comentaristas. Deus é visto agora na Palavra encarnada, no ”Filho Unigénito” (nota textual da NVI). Há uma leitura variante aqui, i.e., Deus Unigénito (como está no texto da NVI em português; cf. tb. ARA), que tem apoio de um bom número de manuscritos importantes. Isso estaria em concordância com o que João registra em outros trechos com relação à divindade de Cristo (cf. 20.28; ljo 5.20). Mas a aceitação da leitura costumeira (“Filho Unigénito”; ARC, ACF) parece preferível, visto que isso também harmoniza bem com o estilo de João (cf. 3.16,18; ljo 4.9). Cristo está junto do Pai, uma expressão que denota o relacionamento de amor e perfeita compreensão.
2) O testemunho de João (1.19-34)
O evangelista agora se volta para João Batista a fim de destacar a pessoa de Jesus por meio do seu ministério. A linguagem filosófica do prólogo é abandonada, e agora passamos a um registro cronológico de uns seis dias (não sete, como alguns deduzem do v. 41), conduzindo-nos por fim a 2.11.
v. 19. os judeus: Eles têm uma menção especial em todo esse evangelho. Aqui parecem ser os líderes do povo na Judeia, e são os oponentes mais ferrenhos do Senhor. Possivelmente João quer retratar a tragédia dos que não reconhecem Jesus como o Messias, ou a sua vinda como o advento do reino, levitas'. Faziam parte do corpo de assistentes do templo que tomavam conta das coisas materiais do templo e eram os seus guardiões, v. 20. Não sou o Cristo'. A resposta de João à primeira pergunta mostra quão dramática deve ter sido sua aparição na Judeia como o Batista. Poucos não o perceberam, v. 21. E então, quem é você? E Elias?'. João nega qualquer conexão com o cumprimento messiânico (cf. Mc 9.13; Ml 4.5,5). É o profeta?'. O profeta como Moisés (Dt 18.15ss) que naqueles dias era esperado ansiosamente na véspera da época messiânica (cf. 6.14; 7.40). Não: Assim, a negação tríplice em auto-abnegação é completa. As três respostas que ele dá soam verdadeiras com as que se sucederiam naturalmente numa discussão acalorada. Quando é pressionado, contudo, o Batista admite que ele é a voz... (v. 23). Ele não reivindica nenhuma dignidade, a não ser a que lhe é conferida como pregador da Palavra (cf. Is 40.3). um caminho reto para o Senhor. Stauffer mostrou que essa concepção está no coração dos primeiros registros do ministério de Jesus (NTT, p. 25-9). v. 24.Algunsfariseus (cf. NB D): Eles, evidentemente, tinham um interesse especial na autoridade que estava por trás da prática batismal de João. v. 26. Eu batizo com água...: João não faz referência aqui ao batismo de Cristo com o Espírito Santo. Isso não foi compreendido, podemos pressupor, até que ele tivesse visto o Espírito descendo sobre Jesus no batismo. Mas ele sinaliza que há alguém próximo que não está sendo esperado. O conhecimento que eles tinham da prática batismal é evidente (cf. v. 25). Mas Cristo vai exceder a compreensão que eles têm do que faz parte da verdadeira religião. Para João, isso está baseado em pura fé; ele nem mesmo quer ser presunçoso a ponto de se chamar o servo dele (v. 27). v. 28. Betânia não é a Betânia de Maria e Marta (cf. 11.1; Mc 14.3-9). Alguns textos trazem “Betabara”. Mas, embora a sua localização exata seja incerta na altura do século III, o cap. 11 indica uma clara distinção entre dois lugares conhecidos pelo mesmo nome (cf. 10.40 com 11.18), e a referência aí ao “lugar onde João batizava nos primeiros dias” é significativa, v. 29. Vejam! E o Cordeiro de Deus: Aqui parece que temos um amálgama de metáforas do AT. Podemos lembrar o cordeiro pascal (Ex 12) ou a oferta apresentada a Deus por Abraão (Gn 22.8), em que o significado do texto hebraico pode ser: ”Deus vai ver [...] um cordeiro...”. Ou podemos pensar nos sacrifícios expiatórios em geral na prática litúrgica judaica (cf. Lv 23.12ss). Parece haver um elo óbvio com Is 53.7, em que, na LXX, o grego amnos, ”cordeiro”, traduz o hebraico rahel (cf. At 8.32). Aqui a função de levar o pecado está mais implícita do que explícita. Mas não é improvável que os sacrifícios diários judaicos estivessem na mente de João aqui. O principal trecho do AT é o que retrata o bode Azazel, que levava os pecados de Israel (cf. Lv 16.21) para um lugar deserto. Barrett considera a referência de João de forma dupla: o cordeiro pascal de Ex 12, junto com a vítima que vicariamente leva o pecado de Israel em Lv 16. E muito improvável, como sugere Dodd, que o título seja puramente messiânico e sinônimo dos títulos de 1.49 e do cordeiro (gr. amiori) do Apocalipse (cf. Ap 14.1), que conduz o seu povo à vitória. No entanto, é significativo que somente aqui e em Apocalipse Cristo seja descrito como o Cordeiro de Deus (cf. comentário de 19.36). Burney sugere que surgiu alguma confusão aqui entre o termo aramaico “servo” e “cordeiro” (talya-, cf. AOFG, p. 104-9), mas isso está fundamentado inteiramente na validade da tese geral de Burney segundo a qual João era inicialmente uma obra aramaica. o pecado do mundo: João viu pela fé que Cristo era capaz de levar embora todo o pecado, e esta ideia certamente estava próxima da sua mente se pensarmos em termos da profecia de Isaías (cf. Is 53.11). Esse é, então, o princípio sobre o qual começa a vida na era nova, de que Cristo é o Salvador universal, v. 32. Eu vi o Espírito descer...: A obra de João era mostrar aos homens o caminho para Cristo. Assim, também, desde o princípio, o Espírito destaca Cristo. Ele desce sobre Cristo e, assim fazendo, dá o seu testemunho singular de que Jesus é o Filho de Deus (cf. v. 34). E a concessão do Espírito que o próprio Senhor faz é igualmente para testemunho dele mesmo (cf. 16.14). Observe o fato de que nos Sinópticos (cf. Mt 3.16) é Jesus quem vê o Espírito descendo, enquanto aqui ele é observado por João Batista. Isso faz todo o incidente ser claramente compartilhado por Cristo e por seu predecessor, e não uma experiência particular conhecida somente de um ou de outro. v. 34. ... Filho de Deus (cf. Mc 1.11): O vínculo próximo entre o reconhecimento por parte de João e a manifestação do Espírito precisa ser observado. Somente pelo Espírito é que uma verdadeira confissão de Cristo pode ser feita (cf. 16.8-11; ICo 12.3). Algumas autoridades antigas traziam aqui “o Escolhido de Deus”. Mas essa leitura, provavelmente, é uma adequação a Lc 9.35 (cf. SI 2.7; Is 42.1).
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3) Os primeiros seguidores
de Jesus (1.35—2.11)
A confissão renovada
de João agora induz dois dos seus discípulos a irem após Jesus (cf. Mt
11.2-6; Lc 7.18-23). v. 37. seguiram: Nenhuma dúvida estava na mente
daqueles que entenderam a mensagem de João. v. 38. Rabi: O
termo ocorre com frequência em João (cf. 1.49; 3.2; 4.31; 6.25 et
alia). É um título dado a um mestre ou professor. Havia muitos
na época do NT (cf. NBD, p. 1.072). v. 39. por volta das
quatro horas da tarde: Os versículos seguintes (40-42) são um apêndice
ao evento que acaba de ser descrito nos v. 35-39. v. 40. Simão
Pedro: É o nome duplo geralmente empregado em João. v. 41. o Messias-.
Somente João usa essa transliteração do termo hebraico mãshiah.
A menção do título aqui de forma nenhuma conflita com o “segredo
messiânico” de Marcos. Aqui é um testemunho pessoal e particular, e no seu
contexto harmoniza bem com a pregação apostólica (cf. At 10.38). Além
disso, a sequência dos eventos que acabam de ser realizados foi tal que
inevitavelmente conduziria alguns a reconhecer em Jesus a personificação
de ideais e expectativas do AT (cf. Dn 9.25; acerca do termo em geral no
AT, v. NBD, p. 811-8). v. 42. Cefas (cf. Mc 3.16): A palavra
é aramaica. Atualmente, não há sugestão quanto ao propósito pelo qual
Simão recebeu esse nome. v. 45. Achamos aquele sobre quem Moisés
escreveu-. Barrett sugere que isso seja uma referência
à interpretação rabínica de uma série de trechos do Pentateuco. (Mas cf.
3.14; v. tb Gn 49.10; Dt 18.15; At 3.22; 7.37.) Mas Filipe torna
Jesus conhecido em termos que seriam compreendidos pela maioria: ... o
filho de José. v. 46. Venha e veja-. Natanael reflete a
prudência geral dos judeus na época do NT e responde que nenhum
reconhecimento do Messias poderia ser esperado até que ele fosse
visto. Assim, a resposta de Filipe convida Natanael a descobrir por si
mesmo, v. 47. At está um verdadeiro israelita, em quem não há
falsidade-. Diferentemente de Simão, Natanael não recebe um segundo
nome. A onisciência de Jesus pode ser vista na sua referência à figueira
(v. 48). Não há significado alegórico aqui. v. 49. o Filho de Deus: Nos
lábios de Natanael, isso talvez signifique pouco mais do que “Messias” (cf. SI
2.7); para o evangelista, significa muito mais. o Rei de Israel:
O artigo definido é omitido no texto grego. A confissão de Natanael foi
espontânea e englobava tudo. Temos aí uma confissão messiânica. O
verdadeiro israelita reconhecia o seu verdadeiro Rei. v. 50. Você crê:
No entanto, talvez a aclamação de Natanael estivesse restrita ao sentido
messiânico e nacionalista (cf. 2Sm 7.13,14). Se for esse o caso,
Natanael vai de fato ver coisas maiores. v. 51. Vocês verão o
céu aberto (gr. aneõgota): Talvez isso seja um retrato
escatológico (cf. Mt 26.64; mas v. tb. Mc 1.10, em que o verbo usado
significa “rasgar”, fazendo eco de Is 64.1). os anjos de Deus subindo e
descendo: Uma referência indubitável a Jacó novamente (cf. Gn 28.10-17).
Westcott entende que se trate de orações levadas a Deus por meio de
Cristo, e as respostas que estão nele, vendo que ele está sempre presente
(cf. Mt 28.20). Mas as palavras de Jesus mais provavelmente estavam
tingidas da teologia e da apocalíptica judaicas (cf. Dt 33.2,3; Zc 14.5,6;
Dn 7.13,14). sobre o Filho do homem: O texto hebraico de Gn 28.12 é
gramaticalmente ambíguo. Alguns rabinos interpretavam a expressão “sobre
ele/ela” (heb. bõ) como uma referência ao próprio Jacó e viam no evento
uma interação entre o homem celestial e o homem terreno. E mais provável
que devamos entender esse retrato como denotando a encarnação, em Jesus, da
comunhão celestial entre Deus e o homem, gerada pela morte de
Jesus, que João interpreta como sendo uma com a sua glorificação, e
que deve ser destacada por esse uso da expressão “Filho do homem”. Nos
Sinópticos, a ideia não está fundamentada em SI 8, mas em Dn 7. O Filho do
homem é uma figura celestial que entra no âmbito terreno, mas cuja
habitação real está sempre no céu (cf. 3.13; 6.62; Mc 13.26; 14.62).
A sua aparição na terra é somente parte de uma jornada que no final vai
levá-lo novamente para o céu (cf. 6.27; 8.28; Ap 1.14). O ensino de
Jesus, provavelmente, não era estático nessa questão, mas compreendia
um amplo alcance de conotações. Independentemente do que os discípulos
entenderam com o termo como foi usado por ele, precisava de alguma
reinterpretação (Mc 8.31). T. W. Manson sugeriu que a ideia da “personalidade
corporativa” foi usada pelo nosso Senhor, com base na interpretação do “remanescente”
de trechos em Isaías referentes ao Servo do Senhor, mas com ele mesmo como
o ponto de partida e o centro, “o Homem Perfeito, que o próprio Deus
tinha enviado”. Não importa que outras ideias possamos ter, Jesus usou o
termo enquanto falava de si mesmo como o Homem celestial preexistente, que
havia entrado no mundo para realizar o propósito de Deus (cf.
S. Mowinckel, He ThatCometh, 1956; J. Klausner, The
Messianic Idea in Israel, 1956).Índice: João 1 João 2 João 3 João 4 João 5 João 6 João 7 João 8 João 9 João 10 João 11 João 12 João 13 João 14 João 15 João 16 João 17 João 18 João 19 João 20 João 21 João 22 João 23 João 24 João 25 João 26 João 27 João 28 João 29 João 30 João 31 João 32 João 33 João 34 João 35 João 36 João 37 João 38 João 39 João 40