Estudo sobre João 18
Estudo sobre o Evangelho de João
João 18
v. 1. o vale do Gedrom.
Está situado entre a colina do templo e o monte das Oliveiras. Jesus
entrou no Getsêmani pelo outro lado. João não registra a agonia no jardim
(cf. Mc 14.32-42; Mt 26.36-46; Lc
22.40-48), mas ele relata uma agonia semelhante à qual o Salvador deu expressão
(cf. 12.27-33). Jesus claramente entendeu tudo que estava
para acontecer como parte do plano divino, v. 5. Sou eu (gr. egõ
eimi)-. Com essa resposta grandiosa (cf. 8.58), Jesus antecipou
o plano maquinado entre Judas e os oficiais armados (cf. 8.24,28; 13.19).
Os Sinópticos nos contam do beijo mortal. Aqui, no entanto, temos
um retrato do Salvador tomando a iniciativa em cada estágio (cf. v.
11 a seguir). A queda ao chão dos seus captores não foi
necessariamente miraculosa, mas, possivelmente, caíram uns sobre os
outros em virtude da calma de Jesus, v. 9. Isso aconteceu para que se
cumprissem as palavras que ele dissera: Temos aqui um comentário
inspirado que toma as palavras da oração de Jesus (cf. 17.12) bem
literalmente. Por isso, Jesus estava disposto e capacitado a aceitar
as implicações da sua vida de oração, v. 10. uma espada: O
significado desse ato dramático é que Simão Pedro não iria
aceitar essa dócil liberação como tinha sido sugerida no apelo de
Jesus aos oficiais. Malco: Somente João dá nome ao soldado ferido, assim
como somente Lucas registra que ele foi curado (cf. Lc 22.51).
v. 11. Acaso não
haverei de beber o cálice. Essa é a contraparte de João
à declaração no Getsêmani: “não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres”, registrada pelos outros evangelistas (cf. Mc 14.36-40; Mt
26.39-42; Lc 22.42). Ele anuncia que o seu desejo é tomar o cálice, pois
isso é, de fato, a vontade do Pai para ele. v. 13. Anás-. Apenas
Mateus (cf. Mt 26.57) menciona a casa de Caifás; os outros evangelistas
simplesmente se referem aos chefes dos sacerdotes (cf. Mc 14.53; Lc 22.54), e
Lucas não apresenta relato algum da audiência com os judeus. Anás
tinha sido o sumo sacerdote anterior (6-15 d.C.). Na lei hebraica, o
sumo sacerdócio era um ofício vitalício. Mas sob os romanos era
mudado com frequência. Anás havia sido deposto em 15 d.C., mas tinha
sido sucedido por outros membros da família, além de Caifás, que foi
sumo sacerdote de 18 a 36 d.C. Contudo, mesmo depois de sua deposição,
Anás continuou atuando como um ancião estadista do judaísmo, v. 15. outro
discípulo-. Provavelmente o discípulo amado (cf. 13.23; 19.26;
20.2; 21.20). Ele era conhecido do sumo sacerdote, e evidentemente
conhecia os membros do Sinédrio e suas casas muito bem (cf. o nome de
Malco, v. 10). Sua entrada na câmara da audiência ilustra a verdade
de que aquele que fica próximo de Jesus tem mais probabilidade de
resistir à tentação de negá-lo.
v. 17. Você não é
(gr. mê kai sy) um dos discípulos desse homem?-. A forma da
pergunta normalmente sugere uma resposta negativa, embora “Sim” possa
ser a resposta esperada. Essa pergunta reflete favoravelmente a posição do
outro discípulo, v. 19. o sumo sacerdote interrogou Jesus-, Quase
certamente foi Anás. Foram feitas tentativas de provar que foi Caifás
ao deslocar o v. 24 para depois do v. 13, e.g., pela Sinaítica Siríaca,
pelo minúsculo 225 e por Lutero. Mas a maioria dos comentaristas adota a
ordem usual do texto, aplicando-o a qualquer um dos dois homens segundo
sua convicção e preferência; a sugestão que um copista antigo tenha
colocado o v. 24 onde o temos hoje, após omiti-lo acidentalmente depois do
v. 13, embora possível, não é convincente. Anás continuou a ser conhecido
como sumo sacerdote muito depois de sua deposição (cf. At 4.6). v. 22. um dos
guardas [...] bateu-lhe no rosto-, Esse golpe pode ter sido uma
indicação da lealdade que muitos judeus continuavam a ter para
com Anás, a quem consideravam o sumo sacerdote de direito, embora tivesse
sido “exonerado” à força. A resposta de Jesus deixa claro que nada dói
mais do que a verdade nos ouvidos daqueles que já fecharam a sua
mente para ela. v. 24. Anás enviou Jesus, de mãos amarradas, a
Caifás, o sumo sacerdote-, O nome de Caifás parece apoiar comentários
anteriores do v. 19. Caifás ainda não apareceu no julgamento (cf. Mc
14.53-65; Mt 26.57,58; Lc 22.63-71).
A atenção se volta agora
novamente para Simão Pedro. v. 26. Eu não o vi com ele no olival?-.
A pergunta final pode ter sido feita por sentimento de solidariedade para
com Malco, o oficial ferido. João omite todas as referências aos
juramentos e maldições com que Pedro consumou a sua negação. Tampouco
explica, como faz Marcos (cf. Mc 14.72), como o remorso entrou no coração
dele. Provavelmente foi no caminho para a casa de Caifás que Jesus se
virou para olhar para Pedro (cf. Lc 22.61).
2) O julgamento diante de
Pilatos (18.28—19.16)
Essa parte do procedimento
foi realizada para conseguir a confirmação da sentença de morte (cf. Mc
15.2-20; Mt 27.11-31; Lc 23.125). v. 28. o Pretório-, Era a residência
oficial do governador romano. Normalmente ele residia em Cesareia, na
costa, e vinha a Jerusalém nas épocas de festas para garantir a ordem e o
cumprimento da lei. Os judeus não entravam nele com base no costume de
que nenhum judeu deveria entrar na casa de um gentio, porque ali
sempre havia a possibilidade de se tornar impuro; incorrer nisso
nesse momento os tornaria desqualificados para comer a Páscoa (v.
comentário de 1.31). v. 31. Mas nós não temos o direito de executar
ninguém-, O poder sobre a morte e a vida aparentemente não tinha sido
exercido pelo Sinédrio desde o tempo de Herodes, o Grande, embora as
opiniões acerca disso sejam divergentes. v. 32. as palavras que Jesus tinha
dito-, E difícil avaliar a profundidade com que tinham sido
compreendidas as palavras acerca de “levantar” (cf. 3.14; 12.32). Mas o
evangelista claramente vê o seu cumprimento na Paixão.
v. 33. Você é o rei dos judeus? O
texto em português não capta o que possivelmente foi um toque de
ironia: “Você? Rei dos judeus?”. Pilatos sugere que o prisioneiro
não tinha muita aparência de líder revolucionário que tivesse causado
tanto distúrbio para poder denominar-se rei (cf. Lc 23.2). A acusação
religiosa tinha sido substituída por uma acusação política para ter mais
peso diante de Pilatos. A resposta de Jesus desafia a consciência de
Pilatos (v. 35), mas este a descarta. Não obstante, Pilatos está
desconcertado por uma reivindicação dessas ter suscitado
a hostilidade dos judeus (v. 35b). v. 36. meu Reino: Jesus se
refere ao seu lugar no propósito divino. Se o seu reino fosse terreno,
seus servos iriam resistir a Pilatos e seus homens (cf. Mt 26.53). v.
37. Todos os que são da verdade me ouvem: A resposta de Jesus à
pergunta de Pilatos novamente é não comprometedora, na medida em que ele
nega os termos de referência de Pilatos. Mas ele é rei, embora não no
sentido que Pilatos entendia essa palavra. v. 38. Que é a verdade?: No
melhor dos casos, essa era uma pergunta quase filosófica. Mas, ao
propô-la, Pilatos evidentemente não é “da verdade”, v. 39. Os temores
de Pilatos agora são duplos. Ele está consciente da pressão dos
judeus na Páscoa e fica perturbado também pelos temores da sua mulher (Mt
27.19). v. 40. Barrabás era um rebelde (cf. Mc 15.7) e, por isso,
como Jesus, um prisioneiro “político”. Os seus gritos renovados mostram
que a explosão anterior dos judeus começara com a aparição anterior de
Jesus (cf. Mt 27.13,14). Índice: João 1 João 2 João 3 João 4 João 5 João 6 João 7 João 8 João 9 João 10 João 11 João 12 João 13 João 14 João 15 João 16 João 17 João 18 João 19 João 20 João 21