Gênesis 4 — Comentado

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Gênesis 4

4.1-26 A profetizada hostilidade entre a descendência da serpente e o Descendente da mulher (cf. 3.15) toma forma imediatamente na hostilidade do ímpio Caim contra o piedoso Abel (vs. 1-16) e no contraste entre a descendência ímpia de Caim contra a descendência piedosa de Sete (4.17—5.32). Existe uma horrenda escalada do pecado de Caim para Lameque.
4.1-16  O enfoque recai sobre Caim, o arquétipo dos seguidores de Satanás. Caim demonstra a sua familiaridade com o mal pela sua hostilidade contra Deus e pelo assassinato de um homem bom (v. 8; Mt 23.3; Hb 11.4), juntamente com suas mentiras (v.9; Jo 8.44; 1Jo 3.12).
4.1   Coabitou. Lit., “conheceu”. A palavra hebraica “conheceu” é usada para denotar a intimidade sexual de um relacionamento marital.
um varão … do SENHOR.   Os seres humanos, tanto originalmente (1.26, 27) como atualmente, devem a sua existência a Deus. A mulher originalmente veio do homem e agora o homem vem da mulher. Os sexos são dependentes um do outro e ambos são dependentes de Deus (1Co 11.8-12).
4.2  Abel.  O nome significa “fôlego”, “vapor”, ou “nada” (referência lateral) com a conotação de “perecível”, uma sombria profecia do que se segue.
ovelhas … lavrador.  A despeito da Queda de Adão os seres humanos ainda cumprem o mandato cultural de administrar os recursos da terra (1.26, 28).
4.4,5  oferta.  A palavra hebraica aqui é o termo comum para “tributo”, o presente de um inferior para um superior (1Sm 10.27; 1Rs 4.21). Cada um dos irmãos trouxe uma oferta apropriada à sua vocação (cf. Gn 32.13-21).
4.4  primícias.  Como Autor e Possuidor da vida Deus tinha o direito à primeira parte produzida pelas plantas (Dt 26.1-11), pelos animais e pelos homens (primogênito, Êx 13.2,12; 34.19) e ao melhor do que o adorador tinha a oferecer (gordura, Lv 3.14-16). Abel trouxe ambos: o primeiro e o melhor; Caim deixou de trazer os dois. Alguns também apontam para o fato de que Abel trouxe um sacrifício de sangue enquanto Caim não o fez.
Agradou-se o SENHOR.   Deus vê o coração (cf. 1Sm 16.7).
de Abel e de sua oferta.  O adorador e sua oferta são inseparáveis: pela fé Abel obteve testemunho de ser justo tendo Deus aprovado suas ofertas; sem fé, nem Caim nem suas ofertas eram agradáveis a Deus (Hb 11.4, 6).
4.5  Irou-se …Caim.  O fracasso de Caim na adoração e sua subseqüente resposta irada eram amostras do seu comportamento antiético. Os eleitos e os não eleitos são diferenciados pelas suas atitudes fundamentais para com Deus.
4.6  Por que.   A pergunta de Deus introduz a admoestação no v. 7 (3.9, nota).
4.7  jaz à porta.   O hebraico sugere um demônio ameaçador agachado do lado de fora da porta de uma casa. Talvez seja também uma alusão à serpente esperando para dar o bote no calcanhar (3.15; cf. 1Pe 5.8).
desejo.   Ver nota em 3.16.
dominá-lo.   Conhecendo o coração de Caim, Deus o adverte a não se submeter à tentação assassina do mal (cf. 1Jo 3.12). Embora os seres humanos não regenerados possam dominar o solo e os rebanhos, eles não conseguem controlar o pecado (1.26, nota; Sl 53.3; Rm 8.7).
4.8  Disse… a Abel.   Desconsiderando a Deus e a sua advertência, as ações subseqüentes de Caim revelam sua resposta. Abel é mencionado apenas no seu nascimento, oferta, e morte.
e o matou.   A quebra dos laços familiares pelo pecado, iniciada no capítulo 3, rapidamente alcança o extremo de um assassinato. Buscando autonomia de Deus e de seus pais (3.6 e nota), Caim usurpa a soberania divina sobre a vida.
4.9  Onde está Abel. Ver nota em 11.5.
acaso sou eu o tutor de meu irmão?   O sarcástico hipócrita já havia matado seu irmão.
4.10-14   Caim, o assassino, alienado da terra e da sociedade não encontra descanso.
4.10  Que fizeste?   A pergunta registra a ira de Deus.
clama.  Ao passo que o sangue de Abel clama por vingança (Is 26.21; Mt 23.35; Ap 6.10) o sangue de Cristo clama por perdão (Hb 12.24).
4.11 maldito.  A maldição de Deus une Caim a Satanás (3.14; 1Jo 3.12). Seu tempo de graça terminou, ele é entregue a julgamento (Hb 9.27; 10.27). Enquanto em 3.17-19 a terra é amaldiçoada para não dar seu fruto sem o trabalho frustrante, Caim é amaldiçoado a se tornar um fugitivo sem um lugar permanente de descanso.
4.13   já não posso suportá-lo.  Caim responde com autocomiseração ao invés de arrependimento pelo seu pecado contra Deus e o homem. Ele teme o abandono físico e social, mas não o Deus que o criou.
4.14   quem comigo se encontrar.  A história até agora tem o seu enfoque em Caim, não em Adão ou seus descendentes (v. 17; 5.4). Ironicamente, depois de matar seu irmão, Caim teme a vingança de sua própria família (cf. Nm 35.19).
me matará.  Caim prevê o comportamento violento de seus descendentes (6.5, 11).
4.15   sinal. Pode ser que este sinal fosse uma tatuagem de proteção indicando Caim como alguém debaixo da proteção de Deus.
4.17-24 A ambivalência da cultura humana sem Deus é demonstrada nos avanços da civilização, incluindo a primeira cidade, com um crescimento vertiginoso da violência.
4.17, 18 Caim … Enoque … Irade … Meujael … Metusael … Lameque.   Os nomes são semelhantes àqueles no cap. 5, não porque representam variações da mesma fonte, mas para mostrar o paralelo e contrastar as duas descendências de Adão. Os sétimos descendentes de Adão através de Caim e de Sete, respectivamente o ímpio Lameque (vs. 19-24) e o piedoso Enoque (5.24), são apresentados em claro contraste um com o outro. O primeiro causou a morte, o segundo não morreu.
4.17   E coabitou … e deu à luz a Enoque.   Ver nota no v.1. Debaixo da graça comum de Deus a vida familiar é desfrutada tanto por descrentes como por crentes.
edificou uma cidade. Em procurar a segurança de uma cidade, o pecador Caim desafiou o julgamento de Deus de que ele deveria ser um errante (v. 12) e também mostrou a sua falta de fé na proteção provida pelo sinal de Deus (v. 15). A cidade terrena provê civilização e proteção, porém culmina na construção de uma cidade que desafia a supremacia de Deus (11.4). Os fiéis, em contraste, esperam por uma cidade celestial (Fl 3.20; Cl 3.1-4; Hb 11.10, 16; 12.22; 13.14).
4.19-24   Lameque. Lameque representa um progressivo endurecimento no pecado — poligamia (cf. 2.24; Mt 19.5, 6) e uma vingança grosseiramente injusta — e a extensão do mandato cultural da pecuária (v. 20) para as artes (v. 21) e ciências (v. 22). No seu cântico, Lameque expressa, e até mesmo celebra, seu aprofundamento na depravação (vs. 23, 24).
4.19   duas esposas.  A bigamia é um abuso da instituição do casamento que Deus pretendia que fosse monógama (2.24, nota).
4.24   setenta vezes sete.  A violência e espírito de vingança de Caim são aumentadas na sua descendência. A profundidade da depravação de Lameque é evidente na sua presunção arrogante e autoconfiança (em contraste com o temor de Caim, v. 14).
4.25, 26 Este episódio nos fornece a transição entre os dois relatos iniciados em 2.4 e 5.1 (cf. 6.1-8; 9.18-29).
4.25 coabitar com sua mulher. Ver nota no v.1. A comparação e contraste entre os vs. 1, 17 mostram a transição para a linhagem da descendência piedosa predita em 3.15.
Sete. Seu nome, derivado do verbo hebraico traduzido como “apontado” (ver referência lateral) expressa a fé que Eva possuía de que Deus manteria a família da aliança a despeito da morte (3.15; cf. 3.20, nota).
4.26   invocar o nome do SENHOR.   A família da aliança, fazendo sua petição e dando louvor no nome do Senhor, glorifica a Deus e não ao homem (cf. vs. 23, 24).