Salmo 90 — Estudo Devocional

Salmo 90 

Salmo 90
Quarto livro
Salmos 90.1—106.48
Deus e os seres humanos
Oração de Moisés, homem de Deus.

O Salmo 90 é um Salmo reflexivo e contemplativo atribuído a Moisés. Fala da brevidade da vida humana e da natureza eterna de Deus. Aqui estão algumas aplicações de vida extraídas do Salmo 90:

1. Reconheça a transitoriedade da vida: O Salmo 90 começa reconhecendo a natureza passageira da vida humana. Serve como um lembrete de que a vida na Terra é temporária. Isso pode inspirar você a aproveitar ao máximo o seu tempo, concentrando-se no que realmente importa.

2. Busque a sabedoria de Deus: O salmista ora pela sabedoria e orientação de Deus à luz da brevidade da vida. Você pode aplicar isso buscando a sabedoria de Deus por meio da oração, da meditação nas Escrituras e do conselho de mentores sábios ou líderes espirituais.

3. Viva com Propósito: Compreender a brevidade da vida pode motivá-lo a viver com propósito e intencionalidade. Considere seus objetivos, valores e prioridades e alinhe-os com o que você acredita que Deus o chamou para fazer.

4. Arrependimento e Perdão: O Salmista menciona a necessidade do perdão de Deus devido à pecaminosidade humana. Abrace uma vida de arrependimento, reconhecendo suas deficiências e buscando o perdão e a graça de Deus. Estenda o perdão aos outros também.

5. Confie na Eternidade de Deus: Embora a vida humana seja passageira, Deus é eterno. Confie na natureza eterna de Deus e em Suas promessas. Encontre conforto e segurança em saber que Deus permanece constante apesar das mudanças na vida.

6. Ensine o valor do tempo: Use o Salmo 90 como ferramenta de ensino para lembrar aos outros, especialmente à geração mais jovem, sobre o valor do tempo. Incentive-os a usar seu tempo com sabedoria e a priorizar seu relacionamento com Deus.

7. Servir aos outros: A oração de Moisés neste Salmo é um apelo pelo favor de Deus e pela capacidade de ver Sua obra. Aplique isso buscando oportunidades para servir aos outros e causar um impacto positivo em sua comunidade, confiando que o favor de Deus estará com você.

8. Expresse Gratidão: Nos versículos finais, o salmista pede a Deus que o satisfaça com Seu amor e alegria. Desenvolva o hábito de expressar gratidão pelo amor e pela alegria que Deus proporciona à sua vida, mesmo em meio aos desafios da vida.

9. Abrace um Espírito Ensinável: Moisés pede a Deus que “nos ensine a contar os nossos dias”. Encare a vida com um espírito ensinável, sempre disposto a aprender, crescer e aproveitar ao máximo o tempo que você tem.

10. Cultive uma vida de oração: Este Salmo é essencialmente uma oração a Deus. Cultive uma vida de oração regular e significativa, onde você apresenta suas preocupações, esperanças e pedidos diante de Deus, reconhecendo Sua soberania e sabedoria.

O Salmo 90 serve como um lembrete comovente da brevidade da vida e da natureza eterna de Deus. Aplicar seus ensinamentos pode ajudá-lo a viver uma vida com propósito, sabedoria e crescimento espiritual, enquanto busca continuamente a orientação e a graça de Deus.

Devocional

Os Salmos 90 e seguintes estão relacionados aos salmos reais e messiânicos. Segundo os rabinos, cada um seria dedicado a uma das tribos de Israel. Assim o Salmo 90 é dedicado a Rubem, o Sl 91 a Levi, Sl 92 a Judá, Sl 93 a Benjamin, Sl 94 a Gade, Sl 95 a Issacar, etc. Veja o quadro “Salmos Reais e Messiânicos” (Sl 22).

90 Oração de Moisés, homem de Deus. Moisés tinha 80 anos quando falou com Faraó, e 120 anos quando faleceu. Isso faz deste salmo uma legítima oração de um ancião, uma pessoa que viveu muito e teve muitas experiências com Deus. A qualidade de ‘homem de Deus’ que está no título hebraico tradicional, além de dar-lhe status de profeta, anuncia que é da intimidade desse relacionamento com Deus que este salmo foi composto. Como “homem de Deus”, ele vai comunicar o que aprendeu nesse relacionamento, com respeito à vida humana, ao nosso tamanho e ao tamanho de Deus: quem nós somos e quem é Deus. Pensar na relação de Moisés com Deus enquanto se lê o Salmo vai nos ajudar a dar ao texto toda a sua grandeza. Veja Dt 34.10-12, e o quadro “Meditando nos Salmos”(Sl 3).

90.1 Senhor, tu tens sido o nosso refúgio. Nosso refúgio não é um lugar, mas uma Pessoa, um Ser, o princípio de tudo. Somos convidados a sair dos nossos refúgios visíveis e pôr nossa confiança naquele que é a origem de tudo — visível e invisível. O que garantirá nossa vida não são pessoas, dinheiro ou propriedades, mas uma Pessoa em especial: o Senhor do universo. Deus é o alto refúgio, em todas as épocas (veja também Sl 121, notas).

90.2 Antes de formares os montes. O salmista continua a colocar as coisas no seu devido lugar. As montanhas, lugar frequente de refúgio, servem de comparação: Deus existe muito antes de qualquer montanha, antes da terra, antes do Universo. Quando estamos perturbados e procuramos um “lugar” de refúgio, que possamos fazer esta mesma comparação, porque as coisas nunca serão tão capazes de nos dar o refúgio que o nosso Deus, criador de nós e dessas coisas, tem sido.

90.3-11 tu dizes aos seres humanos. Agora o salmista se volta para o ser humano, para também colocá-lo “no devido lugar”: diferentemente de Deus, nós não somos eternos. Nós duramos menos até do que os montes. A palavra do Senhor sustenta a vida dos seus filhos e filhas, e também é ela que marca o seu fim. que novamente virem pó. Se antes éramos pó — pois nosso corpo é formado dos minerais da terra — que lembremos nossa origem e nosso destino, para que saibamos o nosso tamanho perante Deus. Perder a noção da própria pequenez é uma das causas dos desvios da humanidade. Somos pó, mas no amor de Deus somos tornados filhos — ele é causa de nossa “elevação”, nunca nós mesmos. Veja o quadro “Quem somos nós?” (Sl 8), e Jo 1.10-12, nota.

90.4 mil anos são como… o dia de ontem, que já passou. São os humanos que usam os dias para contar algo — e aqui se mostra como isso é nada perante Deus: qualquer orgulho baseado em tempo some diante da grandeza de Deus. O maior dos nossos cálculos de tempo não é nada perante o Deus eterno, que sempre já esteve aí. Um dos aspectos mais relevantes para uma vida orientada pela sabedoria (v. 12) é saber administrar bem o tempo, investindo-o naquilo que realmente tem valor. Embora possa nos parecer longa, nossa vida na terra é extremamente curta e passageira. Não vale a pena desperdiçá-la em atividades más ou sem sentido, isto é, que não contribuem para nosso próprio bem-estar e o de outras pessoas.

90.5 Tu acabas com a vida das pessoas. Outra verdade que nos traz sabedoria: é Deus quem põe limites à existência humana, quem nos mantém frágeis, mortais, sujeitos à morte desde o primeiro pecado. não duram mais do que um sonho. A relatividade do nosso tamanho continua: somos como um sonho da noite, ou como uma pequena planta que tem seu ciclo completo em apenas um dia.

90.6 que cresce e abre em flor. Repare como Deus quis dar beleza à vida humana, mesmo que ela seja tão breve e frágil — as flores do campo de existência mais curta estão entre as mais lindas de todas. De tarde seca e morre. Estes textos sobre a pequenez da nossa vida poderiam conduzir a uma sensação de banalidade da vida humana, tal como o século passado a tomou, com seu niilismo e relativismo. Mas esta aparente banalidade é vivida perante o Criador da vida, e isso faz toda a diferença.

90.7-9 Nós somos destruídos pela tua ira… Tu pões as nossas maldades diante de ti. A palavra de Deus nunca disfarça a verdade. Nossas maldades são a razão de Deus ter resolvido pôr um limite final à vida humana. Nossa inclinação para fazer e pensar o mal acabará destruindo toda a terra, e Deus fica muito irado com isso. Agora o diálogo é de filhos culpados perante um pai que sabe que “fizeram arte”. a nossa vida termina como um sopro. Uma vida criada tão bela, contaminada com muita maldade, num ambiente que tornamos tão nocivo e mortífero. Que pena!

90.10 os mais fortes chegam aos oitenta. Este texto, tão realista, mostra a dificuldade do idoso com a sua vida, com as limitações que começa a sentir, quando tudo começa a ser difícil pela fragilidade da saúde (canseira e aflições). Veja também o Sl 71, notas.

90.11 Quem conhece o medo que o teu furor produz? Depois de nos darmos conta da nossa fragilidade, nos defrontamos com a grandeza de Deus — também com a grandeza da sua ira. Isso nos dá medo — o outro lado da relação com Deus, que nos faz levá-lo a sério. Lembra uma palavra de Cristo, dizendo que fazemos bem em temer a Deus, porque até os demônios o temem. Toda a velha aliança, da obediência aos mandamentos, é baseada no temor a Deus. Isso é diferente do temor neurótico, que paralisa a vida (veja a parábola dos talentos, Mt 25.14) e que muitas vezes é utilizado para manipular pessoas.

90.12 Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida. Reconhecer nossa pequenez e ao mesmo tempo a grandeza da ira de Deus é caminho para a sabedoria — faz-nos conduzir a vida de forma melhor. Esta é uma oração que já pode ser aplicada desde cedo: saber como passam rápido os dias e anos, para que possamos viver cada dia e ano “praticando a presença de Deus”, como o Irmão Lourenço (século XVII) afirmava.

90.13 Até quando vai durar a tua ira? Tem compaixão dos teus servos. Depois de sentir o castigo debaixo da ira de Deus (talvez a alusão aos desertos pelos quais o povo israelita passou), o salmista introduz um elemento novo, de certa forma já prevendo, pelo caráter de Deus, que há espaço para uma aliança nova, diferente. Tal como com pais amorosos, há a possibilidade de reclamar e pedir por compaixão (Veja o quadro “Raiva humana e ira divina”, Sl 76). O deserto é um rico aprendizado para realmente se tornar “servo”, para aprender a obedecer ao que Deus manda. Mas isso não é suficiente: precisamos é da compaixão de Deus, pois não podemos nunca nos basear na nossa capacidade de obedecer ou de aprender (veja Rm 8.15, nota, e Tg 2.13, nota).

90.14 Alimenta-nos de manhã com o teu amor. Se a compaixão pede por uma mudança, um início diferente, então agora o salmista pede para que seja alimentado de bondade logo no início do dia — tal qual uma mãe oferece seu seio para seu filho. A experiência dessas “primeiras mamadas”, como ensina o Dr. Winnicott, proporciona uma sensação de ser amado, e alegra a vida afora, como deseja o salmista na sua relação com Deus (veja o quadro “Aprendendo com a criança”, Sl 131). A lembrança faz eco com “as misericórdias do Senhor que se renovam a cada manhã” (Lm 3.23). Talvez esta seja uma referência ao maná que era dado a cada manhã no deserto. Deus não somente é quem põe limites à nossa vida, mas também quem nos sustenta vivos. A pergunta para nós é: o quanto nos deixamos alimentar por Deus a cada manhã? O quanto buscamos esse alimento (como o povo que saía a colher o maná)? Vale a pena separar um tempo para isso, todos os dias. Pois a verdade é que é Deus quem nos alimenta, e o faz em pequenas porções diárias, com “o pão nosso de cada dia” — isso traz saúde para nossa alma, e para o corpo também.

90.15 Dá-nos agora muita felicidade assim como nos deste muita tristeza no passado. A lógica do deserto está aqui: depois das aflições e provações, agora o pedido é por um oásis de felicidade, por terras prometidas. Perceba como é sempre com Deus que temos de nos entender: as aflições e tristezas que nos aconteceram passaram pela mão dele, e assim também será com as alegrias e vitórias. Esta esperança nos acompanha em tempos difíceis: um dia Deus vai nos tirar da aflição e nos colocar em lugar de repouso — o refúgio que ele sempre tem sido (v. 1).

90.16 Que os teus servos vejam as grandes coisas que fazes! A saída dos “desertos” para os oásis serve de testemunho para todos. Esse pedido também reflete a possibilidade de algo muito triste, que por vezes acontece: estarmos em meio a grandes obras de Deus, mas não vermos isso — será assim no fim dos tempos para muitos (Lc 21.34-36). Por isso muitos salmos evocam a milagrosa atuação de Deus na saída do Egito como um recurso didático para as gerações futuras. O pedido para que os descendentes vejam a glória de Deus está ligado a essa preocupação, com o desejo de que eles também alcancem sabedoria para viver. Assim se inaugura uma cadeia que passa de uma geração para a outra. Aos pais e avós cabe agir de forma que facilitem — e não atrapalhem — a visão do caráter, da atuação e do poder de Deus, que sempre nos acompanha e nos ajuda.

90.17 Derrama sobre nós as tuas bênçãos, ó Senhor, nosso Deus! “Derramar” bênçãos remete a algo abundante, e as bênçãos de Deus é tudo o que realmente precisamos. Talvez a palavra “sucesso” limite demais o sentido, pois hoje em dia esse termo está sendo usado para algo material ou para a fama na sociedade. Sucesso aqui não significa riquezas ou fama, nem vencer em atividades competitivas, mas sim alcançar a sensação de que em nossa passagem por esse mundo estamos cumprindo a caminhada com Deus, que, de forma geral, pode ser resumida em “ser uma bênção” (Gn 12.2). O original hebraico pede que Deus “faça dar certo o que nossas mãos fazem,” ou seja, que não trabalhemos em vão — em todos os sentidos, e principalmente no sentido mais sábio, das obras de misericórdia, das obras de amor.