Lucas 21 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 21




Lucas 21

21:1-38 Eventos antes da ultima ceia

21:1-4 A oferta da viúva

Aqui Jesus comenta com carinho a oferta da viúva pobre. Vemos que muitas e muitas vezes Jesus demonstrou sua compaixão para com pessoas que viviam à margem da sociedade. Pronunciou bênção sobre discípulos que eram pobres, famintos, tristes e excluídos (6:20-23). Aceitou partilhar uma refeição com coletores de impostos e pecadores, agraciando-os com sua presença e oferecendo-lhes o perdão de pecados. Perdoou, curou ou até mesmo devolveu à vida a mulher pecadora (7:36-50), a mulher com hemorragia (8:42-48) e a mulher encurvada (13:10-17). Jesus ignorou as objeções dos discípulos e recebeu as crianças trazidas para que ele as abençoasse (18:15-17). E abriu o paraíso para o criminoso arrependido que foi crucificado com ele (23:40-43).

A viúva pobre é um dos “pequeninos”: humilde, tímida e desfavorecida em comparação com os ricos. Desfavorecida não apenas por causa de sua pobreza, mas também por sua viuvez. Na cena imediatamente anterior, Jesus havia condenado os escribas porque, entre outras coisas, devoravam a casa das viúvas (20:47). Ela era uma daquelas pessoas que não possuíam quase nenhum status legal, religioso, político ou social. Jesus, todavia, reparou quando aquela mulher depositou duas pequenas moedas (21:2) no gazofilácio e a louvou: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza, deu tudo o que possuía, todo o seu sustento (21:3-4).

As palavras “todo o seu sustento” implicam que a viúva deu tudo o que possuía. Embora fosse um dos pobres, não reservou nada para si. Assim, sua atitude se toma um exemplo de dádiva sacrificial, a que compartilha incondicionalmente com o pobre. Serve também para salientar o julgamento dos ricos que, embora possam dar de sua abundância, nem mesmo chegam perto do ponto em que a abundância possa ser ameaçada. Apenas a viúva pobre se apropria do espírito de amor e fé ilimitados.

21:5-38 Instruções sobre as últimas coisas

Sinais dos tempos nos rodeiam. Lemos a respeito de enchentes, terremotos e furacões, guerras e terrorismo. Há sinais de revoltas da terra e de nações mergulhadas no caos. Jesus discutiu esses sinais em Jerusalém vinte e um séculos atrás, quando falou sobre o fim de Jerusalém e do mundo. Para isso, usou o tipo de linguagem denominada ”apocalíptica”, que tradicionalmente inclui referências a catástrofes e perturbações cósmicas.

Seu discurso pode ser dividido em quatro sessões principais. A primeira (21:8-11) profetiza a vinda de falsos profetas e guerras. Jesus afirma que haverá muitos falsos messias, que insistirão em saber quando virá o fim. Não devemos dar ouvidos a eles. Tem havido excesso de falsos messias em todas as gerações. Eles sempre pretendem saber mais do que Jesus sabia.

A segunda: Antes que todas essas coisas aconteçam, haverá perseguição aos discípulos, durante a qual eles devem confiar no auxílio que Jesus lhes dará e perseverar fielmente até o fim (21:12-19). Jesus adverte os discípulos de ”vigiar e orar” (21:36), seguros em sua insegurança. Seus amigos podem traí-los, suas esposas podem deixá-los, seus filhos podem desapontá-los, mas Jesus diz: Não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça (21:18). Esta frase soa como um provérbio e se refere à segurança espiritual. Os discípulos podem sofrer injúria e morte, mas nada poderá realmente prejudicar o âmago de seu ser.

A terceira: O cerco de Jerusalém pelas tropas será o sinal de que seu destino profetizado está às portas (21:20-24). Quarta seção: Haverá portentos no céu e na terra, os quais serão seguidos da vinda gloriosa do exaltado Filho do Homem. Esses eventos assinalarão a chegada da redenção final para o povo de Deus (21:25-28). Essas palavras foram seguidas de uma asseveração de que o fim se seguirá aos sinais de sua vinda e que as palavras de Jesus serão cumpridas.

O primeiro milênio viu o início da igreja na África. No segundo milênio, as igrejas africanas celebraram o crescimento do evangelho na África. Mas agora, neste terceiro milênio, devemos enfrentar o desafio de discernir os sinais dos tempos e enfrentar o futuro. Em vez de sermos apanhados em lemas baratos e modernos, precisamos defender e apoiar a verdade que nunca se esgota.

Ser a igreja hoje neste mundo significa ser uma igreja com voz profética que possa ser ouvida nos lares, vilas, cidades, metrópoles, parlamentos, escolas, hospitais e em qualquer local de trabalho. Ser uma voz assim com frequência envolverá conflito, reprimendas mútuas e debates amargos para solucionar as diferenças ou trazer as inconsistências à luz. O ministério profético é penoso e nunca está completo.

Como devemos caminhar junto com Jesus nestes dias em que vemos os sinais dos tempos ao nosso redor? Ele nos dá alguns conselhos em 21:34-36. Precisamos encontrar exemplos de como isso pode ser implementado e enxergar lampejos de uma esperança que triunfa sobre o desespero. Consideremos dois exemplos. Primeiro, segundo uma lenda popular, quando lhe perguntaram o que faria se soubesse que o mundo terminaria no dia seguinte, Martinho Lutero teria replicado: “Eu plantaria uma macieira hoje”. Ao enfrentar as crises hoje, não devemos entrar em desespero. Devemos agir. Atos simples, como plantar árvores, podem assinalar uma poderosa mensagem para a sociedade sobre nossa crença num futuro e nossa determinação de tomá-lo um futuro saudável. Em resumo, mesmo à parte de quaisquer pensamentos sobre “fim do mundo” enfrentamos o futuro com uma promessa segura e certa: “Lembrem-se, eu andarei sempre com vocês, até o final dos tempos” (cf. Mt 28:20).

O segundo exemplo vem da vida do profeta Jeremias. Sua missão era anunciar o julgamento de Deus sobre Israel por sua deslealdade e predizer a queda de Jerusalém, a capital de Judá, diante de Nabucodonosor. Como sinal de que o fim estava realmente próximo, Jeremias foi instruído a abster-se de casar e ter filhos, e até mesmo de comparecer a funerais e casamentos. Seu comportamento sinalizava que a hora logo chegaria, quando não haveria mais nenhuma oportunidade para lamentos e ritos de alegria. Casamentos e funerais são eventos extremamente importantes na África e não eram menos importantes nos dias de Jeremias. Seu comportamento, sem dúvida, destacou-se como algo dolorido e desagradável.

Contudo, a ordem de Deus “Não tomarás mulher, não terás filhos nem filhas neste lugar” (Jr 16:2) foi ainda mais chocante. Nos dias de hoje, estamos acostumados a sacerdotes celibatários, e a homens e mulheres que se abstêm do casamento, mas não existia tal noção em Israel nos tempos de Jeremias. Se alguém não se casava, não era considerado “respeitável e adequado”. Mesmo hoje, em algumas sociedades da África, uma pessoa que não deseja se casar é considerada excêntrica. Jeremias, nesse caso, foi instruído a não se casar como sinal de que o povo estava chegando ao fim. Que sinal!

Contudo, será esse realmente o fim da vida? Será que Deus nos deixará sem filhos, sem lar, sem terra no final dos tempos? Vamos retomar Jeremias. Logo antes da queda final de Jerusalém em 587 a.C., encontramos um ato de esperança. No início daquele ano, quando Jerusalém já estava sob cerco, Jeremias recebeu um recado de seu primo em sua vila natal, de que necessitavam dele para redimir parte da propriedade da família que corria o risco de cair nas mãos de outros donos. Ele se esgueirou de Jerusalém até sua vila natal para comprar a terra (Jr 32:1-5). A explicação para essa ação, aparentemente ilógica dadas as circunstâncias, é a promessa de Deus: “Ainda se comprarão casas, campos, e vinhas nesta terra” (Jr 32:1-15). Não importa quão infindáveis possam ser as noites de medo e morte, sabemos que a vida terá a última palavra e que o sol nascerá.