Interpretação de 1 Coríntios 12

1 Coríntios 12

Em 1 Coríntios 12, Paulo começa abordando os dons espirituais. Ele enfatiza que existem vários dons dados pelo Espírito Santo para o bem comum da igreja. Esses dons incluem sabedoria, conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discernimento e outros. Cada membro da igreja recebe dons diferentes de acordo com a distribuição do Espírito.

Paulo compara a igreja a um corpo, com Cristo como cabeça, e os crentes individuais como membros desse corpo. Ele explica que cada membro tem uma função única e nenhuma parte do corpo é dispensável. Assim como o olho não pode dizer à mão: “Não preciso de você”, os membros da igreja não devem considerar-se mais importantes que os outros.

Paulo enfatiza a unidade do corpo de Cristo e a interdependência de seus membros. Ele encoraja os crentes a usarem os seus dons com amor e harmonia, destacando a importância suprema do amor.

O capítulo termina com uma lista de alguns dons espirituais e um lembrete de que o amor é a maior virtude.

1 Coríntios 12 sublinha a diversidade de dons espirituais dentro da igreja e a necessidade de unidade e amor entre os crentes. Enfatiza que cada crente desempenha um papel único no corpo de Cristo e todos devem trabalhar juntos em harmonia para o bem comum.

Interpretação

12:1–14:40 Com o familiar peri de, Paulo menciona outra pergunta feita pelos coríntios. O novo assunto, dons espirituais, liga-se entretanto, com a seção procedente por se tratar do culto público. É importante distinguir dons espirituais de graças espirituais ou ofícios espirituais. Graças espirituais são qualidades do caráter espiritual. Cada crente é responsável pelo desenvolvimento de todas elas (cons. Gl. 5:22, 23). Ofícios espirituais são posições dentro da igreja para a administração dos seus negócios, quer seja uma administração espiritual do rebanho (anciãos), quer seja uma administração espiritual das coisas temporárias (diáconos; cons. I Tm. 3:1-13). Só alguns crentes têm ofícios espirituais. Os dons espirituais são capacitações divinas relacionadas com o culto na igreja local, oficial e extra-oficial. Cada crente possui um dom espiritual, mas nem todos os crentes possuem o mesmo dom (cons. I Co. 12:4-11). A igreja em Corinto, certamente não era uma igreja mona, estava em perigo de abusar dos seus privilégios com uma super ênfase sobre alguns desses dons espetaculares. O apóstolo apresenta primeiro a unidade e a diversidade dos dons (12:1-31a), depois a primazia do amor na procura dos dons (12:31b-13:13), e finalmente a avaliação e regulamentação no exercício dos dons de profecia e línguas (14:1-40).

12:1-3 Paulo dá à igreja uma palavra de admoestação, em primeiro lugar, para ajudá-la a determinar os pronunciamentos genuinamente espirituais. Os antecedentes pagãos dos coríntios não lhes adiantariam nada nesse assunto.

12:1 Dons espirituais (lit. coisas espirituais) não se refere aos homens espirituais (cons. F.W. Grosheide, Commentary on the First Epistle to the Corinthians, pág. 278, embora o próprio Grosheide não adotasse este ponto de vista); nem também simplesmente a espirituais (G. Campbell Morgan, The Corinthian Letters of Paul, pág. 145, 146). A palavra dons no versículo 4, como também as palavras de Paulo em 14:1 (note-se o gênero neutro), fornecem o complemento da palavra dons.

12:2, 3 Por isso, por causa de sua necessidade de instrução, eles deviam compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! (o critério negativo), por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo (o critério positivo). O apóstolo, é claro, refere-se à pronunciamentos que vêm do coração (cons. Mt. 26:22,25).

12:4-11 Depois de pequeno comentário, Paulo examina primeiro a unidade dos dons, uma unidade de fonte e propósito.

12:4-6 Dons. O grego karismaton com a palavra karis, “graça”, tem sido traduzido para dons da graça com bastante propriedade. A palavra foi usada aqui no sentido técnico dos dons espirituais. Do ponto de vista 1) do Espírito, são dons; 2) do Senhor, serviços ou ministérios prestados à assembleia; 3) do Pai, realizações, ou obras sobrenaturais.

12:7 Concedida a cada um distingue o dom do ofício (cons. I Pe. 4:10).

12:8-10 Alguns dos dons estão relacionados logo a seguir.

12:8 A palavra de sabedoria, provavelmente um dom temporário como o apostolado, estava relacionado com a comunicação da sabedoria espiritual, tal como contida nas Epístolas. Foi necessária antigamente quando a igreja não possuía o N.T. A palavra do conhecimento relacionava-se com a verdade de caráter mais prático as partes práticas das Epístolas); também foi um dom temporário. A Palavra de Deus agora é suficiente.

12:9 A fé. Não deve ser confundida com a fé salvadora, que todo crente possui. Esta é a fé que se manifesta em situações especiais, onde a fé toma-se necessária para a realização de alguma coisa (cons. 13:2). A fé de George Müller, ou a de Hudson Taylor, serviriam de exemplos. Dons de curar. Não deve ser confundido com a abra dos que hoje proclamam curar. O dom de curar fornecia restauração de vida, que está além do poder dos “curandeiros divinos” (cons. Atos 9:40; 20:9). A Palavra ensina cura divina de acordo com um padrão (cons. Tg. 5:14, 15); ela não apresenta “curandeiros divinos”.

12:10 A profecia. O dom de predizer e proclamar uma nova relação de Deus também foi temporário, necessário enquanto o cânon não estava completo. Agora não há mais necessidade de nenhum acréscimo; a proclamação e o entendimento da revelação completa é tarefa da igreja hoje em dia. Discernimento de espíritos hoje é feito pelo Espírito através da Palavra. Línguas e capacidade para interpretá-las foram temporários (veja comentário abaixo), relacionando-se com línguas conhecidas e não pronunciamentos estáticos, embora a questão do falar em línguas seja discutível.

12:11 Como lhe apraz. O Espírito é o despenseiro soberano dos dons. As palavras são uma chave para a seção seguinte, mostrando que aqueles que aparentemente são mais favorecidos com os dons não têm nenhum mérito próprio neles, e os que são menos favorecidos não são menos importantes (cons. Godet, op. cit., II, 206).

12:12-31a Usando a ilustração do corpo humano, Paulo descreve o relacionamento entre os crentes que possuem dons, entre si e com Cristo na Igreja, o Seu corpo.

12:12 Porque introduz a explicação da unidade na diversidade e da diversidade na unidade dos crentes no corpo. Que Cristo dá o seu nome ao corpo vê-se nas palavras assim também com respeito a Cristo (lit. o Cristo).

12:13 Pois dá a razão da união, o batismo do Espírito formando um corpo. Em um só Espírito (lit.; cons. Mt. 3:11; Lc. 3:16; Atos 1:5) expressa a esfera da união efetuada pelo batismo. Um corpo é o fim para o qual o ato foi dirigido (cons. ICC, pág. 272). O tempo aoristo em batizados claramente indica que a ação é um ato passado, verdadeiro para com todos os crentes (até mesmo os carnais coríntios; cons. I Co. 3:1-3), que jamais deverá ser repetido. Na verdade, o batismo que unte a Cristo não deve ser buscado; já foi realizado de uma vez por todas. Como consequência dessa união com Cristo, os crentes todos beberam de um só Espírito. União com ele envolve necessariamente a habitação do Espírito.

12:14-20 A ilustração do corpo está desenvolvida nestes versículos, com ênfase sobre a diversidade dos membros, por causa dos aparentemente inferiores, que achavam que seus dons não erva importantes. O pensamento chave é: O corpo não é um só membro, mas muitos (v. 14), e os membros foram colocados no corpo, cada um deles como lhe aprouve (v. 18). Assim, os aparentemente inferiores não deviam invejar os aparentemente superiores.

12:21-24 O relacionamento de dependência dos membros é conspícuo. Membros aparentemente superiores (tendo os dons mais espetaculares) não deviam desdenhar os aparentemente inferiores. Na verdade, Paulo diz, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos merecem mais atenção (pelo uso da roupa), e de acordo com esta analogia, os aparentemente inferiores podem esperar de Deus essa mesma igualação de dignidade dentro do corpo, a Igreja. Na verdade, é justamente o que Deus tem feito, pois Ele coordenou o corpo. Coordenou refere-se à mistura de dois elementos para transformá-los em um só composto, tal como o vinho e a água (A-S, pág. 245). O corpo é uma unidade.

12:25. Para que. O propósito da unidade é (negativamente) para que não haja divisão (cons. 1:10; 11:18), no corpo; e (positivamente) para que cooperem os membros com igual cuidado, em favor uns dos outros.

12:26 Os resultados naturais da união perfeita dos membros são sofrimento e o regozijo mútuo.

12:27 O corpo de Cristo (lit. corpo de Cristo, sem artigo definido) não se refere à igreja local de Corinto, pois não existem muitos corpos, um pensamento contrário ao contexto. Antes, ele aponta para a qualidade do todo, o qual cada um deles individualmente ajuda a constituir (ICC, pág. 277).

12:28 Uma lista mais completa dos dons, influindo alguns que não se encontram nos versículos 4-11. Primeiramente, em segundo lugar, e em terceiro refere-se à hierarquia, mas depois e depois provavelmente não.

12:29, 30 As perguntas fazem o leitor voltar a 12:14, 27. E nesses versículos Paulo dá um golpe mortal na teoria de que falar em línguas seja um sinal de posse do Espírito, pois a resposta “não” é a que se espera de cada pergunta (cons. grego).

12:31 Os melhores dons (lit., os maiores dons) referem-se ao ensino, socorros, etc. Línguas foram significativamente colocadas no final da lista. Este significado inferior das línguas Paulo vai examinar no capítulo 14. Enquanto isso, ele diz que vai descrever uma busca que é muito mais importante do que a busca de qualquer dom espiritual.

12:31b–13:13 A última cláusula do capítulo 12 tem sido mal interpretada. Muitos acham que Paulo aqui está mostrando como os dons são ministrados, isto é, em amor. Entretanto, o uso da palavra caminho (hodos) no sentido de “uma estrada” em lugar de caminho (tropos) no sentido de “maneira”, e a declaração de 14:1, indicam que Paulo está, antes, apontando para um tipo de vida superior à vida gasta na procura e exibição dos dons espirituais. Num certo sentido, então, há um parêntese no argumento, mas intimamente relacionado com ele. O pensamento é este: Quando vocês exercitarem os dons, tenham a certeza de compreender o seu devido lugar no esquema geral das coisas. O amor é a coisa mais importante (12:31b-13:3), contendo nobres propriedades (vs. 4-7), e ele permanece para sempre (vs. 8-13). Ele fornece a resposta para a velha pergunta: O que é o summum bonum?

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