A inspiração da Bíblia (Part. 17)


A inspiração dos escritos: É provável que o Antigo Testamento originariamente tivesse apenas duas divisões básicas: a lei e os profetas (v. Cap. 7). Esta última seção seria dividida posteriormente em profetas e escritos. Talvez essa divisão ocorresse com base na posição oficial do autor: era ele profeta por ocupação ou simplesmente pelo dom divino? Os que fossem profetas pelo dom se enquadrariam na categoria de escritos. Salmos, o primeiro livro dessa coleção, fora escrito em grande parte por Davi, que dizia que seus salmos lhe haviam sido ditados — letra por letra— pelo Espírito (2Sm 23.2). Cântico dos Cânticos, Provérbios e Eclesiastes tradicionalmente são atribuídos a Salomão; seriam o registro da sabedoria que lhe fora concedida por Deus (v. 1Rs 3.9,10). Provérbios contém vindicações específicas de autoridade divina. Eclesiastes (12.13) e Jó (cap. 38) encerram-se com uma declaração de serem ensino autorizado. O livro de Daniel baseia-se numa série de visões e sonhos oriundos da parte de Deus (Dn 2.19; 8.1 etc). Vários livros deixam de apresentar vindicação de inspiração divina: Rute, Ester, Cântico dos Cânticos, Lamentações, Esdras-Neemias e Crônicas. Se o livro de Rute foi escrito por Samuel, como parte de Juizes, fica sob a vindicação genérica de escrito profético. De semelhante modo, Lamentações, livro escrito por Jeremias, é profético. Já vimos que Cântico dos Cânticos é obra derivada da sabedoria concedida por Deus a Salomão. A tradição judaica atribui Crônicas, Esdras e Neemias a Esdras, o sacerdote, e a Neemias, que atuou com autoridade profética na repatriação de Israel, remindo essa nação do cativeiro babilônico (cf. Esdras 10 e Neemias 13). Não se menciona quem escreveu o livro de Ester, talvez para que se preservasse seu anonimato naquele ambiente pagão e hostil. A visão do livro de Ester é notadamente judaica; esse livro serve de autoridade escrita para a celebração da festa judaica do Purim. Tal fato significa vindicação implícita de autoridade divina. Em suma, então, quase todos os livros do Antigo Testamento oferecem alguma vindicação de inspiração divina. Às vezes se trata de autoridade implícita, mas em geral há uma declaração explícita do tipo "assim diz o Senhor". Do início ao fim, a doutrina da inspiração do Antigo Testamento está solidamente instalada em numerosos trechos, os quais sustentam sua origem divina.