Comentário de João 14:18-19

14:18 - Não vos deixarei desconsolados,… Gr.: “orfãos”, ou “sem pai”. Cristo permanece como Pai em sua relação com seu povo, e eles são seus filhos, sua semente espiritual e descendência; e assim os discípulos poderiam temer que, como Cristo estava indo embora, eles ficariam como filhos sem o Pai, e ficariam desconsolados e desolados: para sustentá-los contra esses temores, Cristo promete que ele não lhes deixaria, pelo menos não sozinhos:

Eu virei a vós;… Em um curto período de tempo, como ele fez; pois no terceiro dia ele se levantou novamente de entre os mortos, e apareceu a eles, que os encheu de grande alegria. Assim entre os Judeus, os discípulos, assim como o mundo, são representados como órfãos, quando seus doutores e homens sábios são removidos pela morte. Diz R. Aba, (x) e assim, às vezes, com respeito a R. Simeão ben Jocai:

“Ai do mundo quando sais dele, ai da geração que estará no mundo quando sereis removidos deles, וישתארון יתמין, “e eles ficaram orfanados por ti”.”

E em um outro lugar (y):

“Depois que R. Akiba saiu e clamou, e seus olhos se encheram de lágrimas, e ele disse, ai Rabi, ai Rabi, pois o mundo é deixado, יתום, “orfanado por ti”.”

14:19 - Ainda mais um pouco, e o mundo não mais me verá,… Os homens do mundo agora me veem com seus olhos corporais, que é toda visão que eles têm de mim; e isso eles serão privados por um pouco de tempo; eles não mais me verão até que eu venha com as nuvens dos céus para julgar o mundo;[1] e então todo olho me verá:

Mas vós me vereis;… Podeis me ver agora, e me vereis depois de minha ressurreição, assim como eles, de fato, viram a ele; pois ele apareceu vivo e conversou com eles durante quarenta dias;[2] quando ele ascendeu aos céus, e se assentou à mão direita de Deus, eles o viram pela fé em poder e grande glória; e eles o verão quando ele vier uma segunda vez para tomá-los consigo mesmo em sua glória.

Porque eu vivo, vós também vivereis: Cristo vive como Deus, como homem, e como Mediador: como Deus, ele vive a mesma vida que o seu Pai, enquanto participando da mesma natureza, e possuindo as mesmas perfeições; assim ele viveu desde a eternidade, e viverá para toda a eternidade; como homem, viveu ele primeiro uma vida particular, e então uma vida pública, levando sobre o seu corpo as repreensões, tristezas, e sofrimentos; uma vida cheia com atos de devoção de Deus, e com o fazer do bem aos corpos e almas dos homens; ele viveu em toda a obediência à lei de Deus, e, por final, suportou a penalidade daquela lei, no lugar de seu povo; quando a vida dele foi tomada durante algum tempo, e então levantado novamente; e agora, como homem, vive ele, e vive eternamente.[3] Como Mediador, ele tem a vida do Pai que é dependente nele por quem ele foi designado com a capacidade para seu ofício perpétuo; e como tal viverá para sempre, apesar de ter sofrido no seu corpo, passado por terríveis sofrimentos, faz agora intercessões para o seu povo, e tem todos os seus inimigos como escabelo para os seus pés.[4] E o seu povo também "vive”, que será entendido, não da preservação dos seus discípulos de morrer com ele, quando ele morreu; pois, se fosse assim, ele deveria ter dito, "porque eu morro, e vós viverão", nem da continuação da vida natural deles neste mundo; pois os santos não vão viver sempre aqui; nem eles desejam isto,[5] nem é isto próprio que eles devessem; a morte é para a vantagem deles; é uma bênção para eles. Embora estas palavras possam ser entendidas de uma vida corpórea que eles viverão depois da ressurreição; pois embora eles morram, eles viverão novamente,[6] e nunca morrerão mais; eles não só viverão e reinarão com Cristo mil anos, mas para toda a eternidade. Eles também vivem agora uma vida espiritual; uma vida de graça e santidade de Cristo; uma vida de fé nele, e às vezes de comunhão com ele, e desejam viver para a sua honra e glória; e viverão uma vida eterna de perfeição e prazer, com Pai, Filho, e Espírito, daqui por diante, e eternamente. Agora entre estas duas vidas, a vida de Cristo, e a vida do seu povo, há uma conexão íntima; uma é dependente da outra, e uma garantia pela outra: "porque eu vivo, vós também viverão”; a vida espiritual de um crente é de Cristo, e é mantida por ele; a mesma que está na cabeça, está nos membros; sim, não é tanto eles que vivem, mas Cristo que vive neles, e então a vida deles nunca poderá ser perdida; ela está vinculada, presa a de Cristo, e é guardada como em uma caixa forte e assegurada com ele em Deus, e assim fora do alcance, tanto de homens e demônios.[7] A vida corpórea dos santos depois da morte, pela manhã de ressurreição, se origina e vem da vida de Cristo: a ressurreição dele dentre os mortos é o padrão e o seu penhor; ele empreendeu levantá-los dentre os mortos, e assim fará; tão seguro quanto o seu corpo morto foi levantado e ele vive para sempre, tão seguramente devem os seus; os corpos deles, como também as suas almas, são unidas a Cristo; e em virtude desta união é que a morte não pode dissolvê-las, eles serão elevados e serão vivificados novamente. Eles estão em Cristo, ainda que eles estejam mortos; e porque eles estão "mortos em Cristo, eles subirão primeiro".
[8] a vida eterna deles está nas mãos de Cristo, e quando ele, que é o verdadeiro Deus, e a vida eterna deles, aparecerá, eles aparecerão com ele em glória.


____________
Notas
(x) Zohar em Num fol. 96. 3. & em Lev. fol. 42. 3. & em Exod. fol. 10. 3. & 28. 3.
(y) Midrash Hannealam em Zohar em Gen. fol. 65. 4.
[1] Cf. Mateus 24:30. N do T.
[2] Cf. Atos 1:3. N do T.
[3] Cf. Apocalipse 1:18. N do T.
[4] Cf. Salmo 110:1. N do T.
[5] Cf. Filipenses 1:23. N do T.
[6] Cf. João 11:25. N do T.
[7] Cf. Mateus 6:20. N do T.
[8] Cf. 1 Tessalonicenses 4:16. N do T.