Comentário de J.W Scott: Juízes 1:1-21

comentário bíblico de juizes
I. CONQUISTA PARCIAL DE CANAÃ. Juízes 1.1-2.5.

I. a Conquista do sul de Canaã (Jz 1.1-21).

Sucedeu, depois da morte de Josué (1). Estas palavras são consideradas como uma nota ou apostila do editor, pois a morte de Josué vem descrita no seu devido lugar em Jz 2.8. Este primeiro capítulo é uma coleção de fragmentos diversos: os vers. 2-21 narram a conquista do sul de Canaã por Judá e outros grupos filiados; os vers. 22-26 descrevem a tomada de Betel pelas tribos de José; finalmente os vers. 27-36 enumeram uma série de cidades das quais as tribos do norte e do centro não puderam expulsar os seus habitantes. Quem dentre nós primeiro subirá? (1). Em Nm 21.1-3 recorda-se uma invasão israelita que primeiramente partiu do sul. Cf. Jz 1.16-17. Disse Judá a Simeão, seu irmão (3). Fala-se muitas vezes numa tribo ou dum país aludindo apenas ao seu antepassado ou fundador, como no caso presente onde é óbvio, mas outros casos há, onde não é o mesmo sentido. Simeão deixara de ser uma tribo separada e se incorporara na de Judá. E subiu Judá (4). Parte deste território fora habitado por Judá e seus descendentes antes da vinda para o Egito (Gn 38). Os cananeus e fereseus (4). Por fereseus devemos possivelmente entender uma raça indígena diferente dos cananeus. Acharam a Adoni-Bezeque em Bezeque (5). Cidade talvez ao sul de Canaã, cujo rei se chamava apenas "senhor de Bezeque". Cortaram os dedos polegares das mãos e dos pés (6). Com certeza como sinal de humilhação e não apenas para o impedir de utilizar as armas de guerra. E o trouxeram a Jerusalém (7). A cidade mais antiga construída sobre o monte Ofel, ao sul da área do templo, remonta a cerca do ano 3000 a.C. no dizer dos arqueólogos. Documentos egípcios do ano 1900 a.C. referem-se a Jerusalém, que é sem dúvida a Salém do Gn 14.18. Segundo Ezequiel, no tempo dos cananeus a cidade era habitada por dois grandes grupos: os heteus e os amorreus (Ez 16.3). Na "Idade Amarna" (cerca de 1400-1360 a.C.) constituía uma das principais cidades-estados dos cananeus. Os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém, e a tomaram (8). Acontecimento relacionado talvez com a ameaça do povo habiru, à cidade, quando era seu governador Puti-Hepa, no reinado de Akhnaton (cerca de 1370 a.C.). Em qualquer caso esta vitória pode ter sido simplesmente um episódio isolado na conquista, logo seguido da recuperação da cidade por parte dos jebuseus (Jz 1.21).

Era porém, dantes o nome de Hebrom Quiriate-Arba (10). Significa este nome "cidade dos quatro", lembrando uma antiga "confederação", que é o que quer dizer o vocábulo "Hebrom". Em conformidade com Nm 13.22 foi esta cidade construída sete anos antes de Tanis (Zoã) no Egito. Talvez queira referir-se à fortificação dos hicsos em Tanis (Avaris), que dá uma possível data da fundação de Hebrom, cerca do ano 1725 a.C. São paralelos os textos de Jz 1.10-15 e Js 15.14-19, onde se atribui a Calebe a tomada de Hebrom e Debir. E feriram a Sesai, e a Aimã e a Talmai (10). Eram filhos de Enaque, no dizer dos espias. Nm 13.22. Cf. Jz 1.20. Dali partiu contra os moradores de Debir (11). Com a queda de Hebrom não foi difícil tomar Debir. O seu primitivo nome Quiriate-Sefer significa "cidade dos livros" ou "cidade dos escribas". Escavações recentes confirmam que a cidade (agora Tell Beit Mirsim) foi queimada cerca de 1230 a.C. e mais tarde restaurada, embora com muralhas mais estreitas, menor população e inferior cultura. Tomou-a Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe (13). Os filhos de Quenaz, bem como os de Queneu (16), misturaram-se com a tribo de Judá.

Os filhos de Queneu, sogro de Moisés (16). Tal como em Jz 4.11 a respeito de Hobabe, a palavra hebraica tem duas leituras: hothen (literalmente: "aquele que circuncida") significa sogro, com uma diferente vocalização, hathan, com o significado de "genro" ou "noivo" (cf. Êx 4.25-26), que aliás era quase sempre circuncidado pelo sogro na véspera do casamento. Há uma relação, portanto, entre os dois vocábulos. Os queneus (do heb. qain, "ferreiro") eram um povo nômade, talvez de funileiros ou latoeiros ambulantes, que circulavam no Neguebe e no Arabah, tendo por vizinhos os amalequitas. Cidade das palmeiras (16), isto é, tamareiras. Geralmente atribuía-se este epíteto a Jericó (cf. Jz 3.13), mas aqui pode referir-se a Tamar ("palmeira") e cerca de 150 quilômetros ao sul de Arade. Que está ao sul de Arade (16). Veja-se a derrota do rei de Arade em Nm 21.1-3. E chamaram o nome desta cidade Hormá (17), isto é, "devoção" no sentido de destruição completa. Veja-se Nm 21.3 para outra narração e cf. Nm 14.45; Dt 1.44. Tomou mais Judá a Gaza... Ascalom... e a Ecrom (18). Tais cidades encontravam-se ainda em meados do séc. XII ocupadas pelos filisteus. Despovoou as montanhas (19). Os cananeus continuavam a manter os seus centros de civilização nas terras mais baixas que podiam facilmente vigiar e dominar com os seus carros de ferro. Vimos que foi através dos impérios hitita (ou heteu) e matani que esses povos chegaram ao conhecimento dos processos de fabricar objetos de ferro, dois séculos antes dos israelitas. E deram Hebrom a Calebe (20). Cf. Js 15.13. Os filhos de Benjamim não expeliram os jebuseus que habitavam em Jerusalém (21). Cf. Js 15.63, onde se faz referência a Judá e não a Benjamim (Js 18.28). Jerusalém ficava situada na fronteira entre Judá e Benjamim. Os jebuseus eram talvez um grupo de amorreus, que se fixaram em Jerusalém nos primeiros tempos, onde antes tinham vivido os hititas. Os jebuseus habitaram com os filhos de Benjamim em Jerusalém, até ao dia de hoje (21). Este breve passo leva-nos a crer que foi escrito antes do ano 1003 a.C., quando Davi tomou a cidade, embora a população constituída por elementos heteus e amorreus continuasse lá a viver depois disso. Cf. Araúna, o jebuseu (2Sm 24.16), cujo nome se supôs ter o significado de "fidalgo" ou "nobre" na língua indo-européia.