Comentário de J.W Scott: Zacarias 1:7-17

comentário bíblico de zacarias
II. AS OITO VISÕES Zacarias 1.7-6.8

II. a A primeira visão (Zc 1.7-17)

O apelo para que se arrependessem é imediatamente seguido por urna narração da primeira das oito visões que compõem a primeira porção da narrativa. Esta visão foi dada no décimo primeiro mês do ano judaico, o mês de Sebate, enquanto que a conclamação ao arrependimento foi transmitida no oitavo mês (ver versículo 1).

A cena da primeira visão foi um vale baixo, onde crescia um bosque de murtas (8). Os personagens presentes foram um homem montado num cavalo vermelho (8), que é chamado de anjo do Senhor (12), e de o Senhor (13), um grupo de cavaleiros sobre cavalos vermelhos, morenos e brancos (8), um anjo intérprete (9), e o próprio profeta.

O cavaleiro do cavalo vermelho é, claramente, mais que homem e mais que anjo - é o divino Mediador, o Senhor Jesus Cristo, aparecendo nesta cena como Protetor de Seu povo. O fato que Ele e o grupo ao Seu redor estavam montados sugere tanto poder como velocidade; e as cores dos cavalos são consideradas por alguns como símbolos de várias dispensações da providência divina - os cavalos vermelhos denotariam derramamento de sangue e batalha; os brancos, paz e vitória; os morenos, ou baios, uma condição intermediária em que aparecem elementos de contendas e desassossego, apesar de também haver paz e prosperidade.

Perplexo com a visão, o profeta se voltou para o anjo intérprete e lhe perguntou: “Senhor meu, quem são estes?” (9). Neste caso a interpretação foi dada pelo homem que estava entre as murtas (10), isto é, o próprio anjo do Senhor (11). Estes são, explicou Ele, referindo-se aos Seus seguidores, os que o Senhor tem enviado para “andarem pela terra” (10). Essas pessoas referidas, em seguida apresentam relatório ao seu Líder, vindos de sou circuito. Toda a terra, disseram eles, está tranquila e em descanso (11). Essa descrição se ajusta bem com a situação contemporânea. A calma que precede a tempestade estava pairando sobre as nações que compunham o império persa. Tal situação favorecia os judeus, visto que proporcionava oportunidade para reconstruírem o templo. Porém, as notícias não foram totalmente boas, pois Ageu, cuja profecia é complementar à de Zacarias, havia proclamado a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca” (Ag 2.6). Seria num tal tempo de desassossego que a prosperidade de Jerusalém seria restaurada; e o anúncio de que a terra estava em descanso indicava que o “daqui a pouco” de Ageu ainda não havia expirado.

O Anjo do Senhor, tendo recebido o relatório da parte de Seus cavaleiros, tornou-se intercessor a favor de Seu povo, que estava esperando. Durante setenta anos (12) tinham estado em escravidão na Babilônia. Poucos haviam aproveitado a oportunidade de retornar, dada pelo decreto de Ciro, e Jerusalém e as cidades de Judá estavam em triste condição. Até quando, pleiteia Ele, fiel ao Seu caráter de Mediador - Até quando não terás compaixão...? Sua intercessão é dirigida ao Pai eterno, porém, não ouvimos a resposta dEste. O Senhor que respondeu, com palavras boas, palavras consoladoras (13) foi o próprio Intercessor. A súbita transição de anjo do Senhor para Senhor, que temos nos versículos 12 e 13, não é algo incomum (cf. Êx 3.2,4).

A confortadora mensagem, transmitida pelo Anjo do Senhor ao anjo intérprete, tornou-se a substância da mensagem que o profeta foi ordenado a transmitir aos seus compatriotas. Deus não era indiferente para com a situação deles; mas, como disse o Senhor, “Com grande zelo estou zelando” (14). A pacífica quietude que havia prevalecido entre as nações em descanso (15) não deve ser considerada como indicativa de que Ele havia fechado os olhos à sua iniquidade. Ele tinha estado apenas um pouco desgostoso com Judá, e havia usado seus inimigos como chicote para castigá-lo. Porém, as nações auxiliaram no mal (15), isto é, haviam-se excedido em sua comissão, tirando vantagem da oportunidade para assaltarem e oprimirem Judá, conforme a situação lhes permitiu. O tempo da recuperação de Judá estava próximo. O templo seria reconstruído, Jerusalém seria restaurada e alargada e as cidades de Judá seriam numerosas e prosperamente habitadas (16-17).

Muitos escritores tomam a posição que as murtas desta visão (a murta é indígena da Palestina) simbolizam os judeus. A situação das murtas na profundeza de um vale poderia sugerir sua humilde condição por ocasião do tempo da visão; mas, apesar de que não haja faltas nessa sugestão, sua posição claramente tem a intenção de simbolizar sua segurança (cf. Sl 125.2). Por poucos e fracos como fossem, desfrutavam da proteção do Anjo de Jeová e de Seus poderosos exércitos.

Deve-se notar que há uma tríplice promessa na mensagem do anjo intérprete: “Minha casa nela (em Jerusalém) será edificada... o cordel será estendido sobre Jerusalém... e as minhas cidades ainda aumentarão e prosperarão” (16-17). A primeira dessas predições foi cumprida no sexto ano do reinado de Dario, isto é, quatro anos após o tempo dessa visão; a segunda foi cumprida cerca de setenta anos mais tarde, quando Jerusalém foi reedificada por Neemias; e o cumprimento da terceira predição pode ser encontrada na história dos judeus debaixo dos príncipes hasmoneanos. A certeza final, de que o Senhor ainda consolará a Sião (17), provavelmente se relaciona àquele acontecimento ainda mais distante - a vinda dAquele que é referido por Lucas como a “consolação de Israel” (Lc 2.25).

II.b A segunda visão (Zc 1.18-21)

A visão se explica por si mesma. O Senhor já havia declarado Sua intenção de pedir contas dos opressores de Seu povo. Tais opressores são representados aqui por quatro cornos (18), simbolizando, como parece, os quatro poderes mundiais, Assíria, Egito, Babilônia e Média-Pérsia, que dispersaram a Judá, a Israel e a Jerusalém (19). Os cornos, entretanto, talvez envolvam uma aplicação menor e podem simbolizar os quatro pontos cardeais, para significar que Deus trataria com os inimigos de Seu povo, de qualquer quadrante que se levantassem eles.

Após os quatro chifres, o profeta viu quatro ferreiros (20), ou melhor, "artífices", que simbolizavam os poderes mediante os quais Deus haveria de cumprir Sua promessa de vingança contra Seus adversários. Estes haveriam de derrotar, ou desgastar os cornos que haviam espalhado o povo escolhido de Deus (21).