Exposição da Epístola aos Efésios 2:1-10
2:1 και υμας οντας νεκρους τοις παραπτωμασιν και ταις αμαρτιαις 2:2 εν αις ποτε περιεπατησατε κατα τον αιωνα του κοσμου τουτου κατα τον αρχοντα της εξουσιας του αερος του πνευματος του νυν ενεργουντος εν τοις υιοις της απειθειας 2:3 εν οις και ημεις παντες ανεστραφημεν ποτε εν ταις επιθυμιαις της σαρκος ημων ποιουντες τα θεληματα της σαρκος και των διανοιων και ημεν τεκνα φυσει οργης ως και οι λοιποι 2:4 ο δε θεος πλουσιος ων εν ελεει δια την πολλην αγαπην αυτου ην ηγαπησεν ημας 2:5 και οντας ημας νεκρους τοις παραπτωμασιν συνεζωοποιησεν τω χριστω χαριτι εστε σεσωσμενοι 2:6 και συνηγειρεν και συνεκαθισεν εν τοις επουρανιοις εν χριστω ιησου 2:7 ινα ενδειξηται εν τοις αιωσιν τοις επερχομενοις τον υπερβαλλοντα πλουτον της χαριτος αυτου εν χρηστοτητι εφ ημας εν χριστω ιησου 2:8 τη γαρ χαριτι εστε σεσωσμενοι δια της πιστεως και τουτο ουκ εξ υμων θεου το δωρον 2:9 ουκ εξ εργων ινα μη τις καυχησηται 2:10 αυτου γαρ εσμεν ποιημα κτισθεντες εν χριστω ιησου επι εργοις αγαθοις οις προητοιμασεν ο θεος ινα εν αυτοις περιπατησωμεν
A forma mais simples de entendermos esse texto é dividi-lo em três tempos: passado, presente futuro.
I. No passado, apresenta o que éramos
Éramos "mortos em delitos epecados". Esse tipo de morte é espiritual, isto é, morte em relação a Deus. Há também o tipo de morte espiritual para o pecado. Nesse segundo tipo de morte, a condenação não deixa de existir. A palavra delito indica um estado. A Bíblia afirma que o homem é pecador por natureza pecaminosa adquirida (Rm 5.11). No nascimento físico, o homem vem ao mundo com essa natureza pecaminosa, mas para entrar no reino de Deus ele precisa nascer de novo (Jo 3.3-5). A idéia de vida, na Bíblia em geral, é um estado de comunhão com Deus; e a idéia de morte é um estado de separação de Deus. Então, toda a raça humana, em Adão, depois da queda, é espiritualmente morta. Em Cristo, o último Adão, os homens são vivificado espiritualmente para terem comunhão com Deus (1 Co 15.45-48)
"... em que noutro tempo andastes". Esse versículo mostra como andávamos no passado sem Cristo. O verbo andar implica ação e movimento. Todos os nossos passos eram inseguros e tristes.
"... segundo o curso deste mundo". Estávamos condicionados a uma peregrinação sem destino certo. Estávamos sob o domínio do espírito do mundo e andávamos segundo a vida deste mundo, isto é, nos conformávamos com a corrente da vida pecaminosa deste mundo. A expressão "segundo o curso deste mundo" aparece com um sentido mais claro em outras traduções, como "seguindo o espírito deste mundo". Esta segunda expressão nos dá a idéia do mundo como inimigo de Deus, isto é, não o mundo físico, mas o mundo como sistema espiritual satânico. A palavra "mundo" no grego é kosmos, que significa sistema de coisas, ou governo. Em relação ao mundo influenciado pelos poderes satânicos, caracteriza os homens inconversos sob o seu domínio. A palavra "curso" dá o sentido de sistema no original grego. Por outro lado, quando lemos "segundo o curso deste mundo", o apóstolo quer fazer-nos entender como sendo o conjunto de idéias e de tendências que marcam cada época da história do homem.
Também a influência do século sobre a vida dos homens representa "o mundo" em suas manifestações práticas. Outro sentido da palavra "curso" é carreira, ou seja, a manifestação do sistema satânico ("mundo") sobre a vida dos homens que seguem seu próprio caminho. A seqüência do verso 2 mostra a força que impele a manifestação do mal, quando afirma que "o curso deste mundo [segue] segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência". Logo, entendemos que existe um causador da manifestação do mal, e esse é o diabo, identificado como "o príncipe das potestades do ar", e como "o espírito da desobediência" operando nos homens inconversos (Cl 3.6). Sua missão é a de subjugar os homens e insurgi-los contra Deus através da desobediência, que é uma forma de rebelião contra o Senhor e Criador do homem. Todas as formas contrárias ao "espírito da desobediência" glorificam a Deus; por isso, Satanás usa seus aliados (espíritos caídos) para impelirem as almas humanas à satisfação da carne, com o fim de impedir que elas comunguem com Deus. A atuação do poder do pecado é detida pelo poder da obra redentora de Cristo.
O verso 3 apresenta o relato do homem carnal. As primeiras palavras, "entre os quais", indicam uma olhada retrospectiva do apóstolo, identificando a si mesmo e aos outros judeus, agora crentes em Cristo, como participantes daquela situação. A colocação verbal no tempo passado — "entre os quais todos nós também antes andávamos" — mostra que os crentes, antes de crerem em Cristo, viviam como "filhos da desobediência" e, sendo assim, não havia diferença alguma quanto ao estado do pecado, tanto para os judeus como para os gentios. Todos os filhos de Adão, em seu estado natural, são filhos da desobediência, indicando logo a fonte do pecado no homem, ou seja, a causa pela qual vive no pecado.
"... fazendo a vontade da carne e dos pensamentos" apresenta a razão por que andávamos "segundo o curso deste mundo". A fonte do mal dentro do pecador está em sua natureza pecaminosa. É essa natureza pecaminosa que obriga ou subjuga a vontade do homem a obedecer às "inclinações da carne". O termo "carne" aqui denota o ser moral do homem dominado pelo pecado. Os apetites da nossa carne (corpo) física, sob o domínio das concupiscências, somente são satisfeitas mediante a busca e realização desses desejos. A carne física é inconsciente, e o que a torna pecaminosa e desequilibrada são os desejos da natureza pecaminosa dominante. O homem em seu estado natural vive segundo os desejos da carne. Esses desejos, alimentados no interior, transformam-se em vontade, e essa vontade, sob o domínio da natureza pecaminosa, torna-se "vontade da carne e dos pensamentos". O pecador não consegue dominar esses desejos da carne e dos pensamentos, senão pelo Espírito Santo e depois da obra de regeneração (Gl 5.16-18).
Vários outros textos da Bíblia fornecem a mesma idéia que a expressão "filhos da ira" encerra: "filhos da desobediência" (Ef 2.2); "filhos da morte" (2 Sm 12.5; SI 79.11; SI 102); "filhos da perdição", ainda que este indique objetivamente o diabo (Jo 17.12; 2 Ts 2.3); "filhos do inferno" (Mt 23.15) etc. Todas essas expressões mostram a paternidade ou a origem do mal, que é Satanás. Por outro lado, "filhos da ira" são todos aqueles que, por seu pecado, estão sob a ira de Deus. A ira divina é a santa indignação do Todo-Poderoso contra o pecado. Entretanto, deixam de ser "filhos da ira" os que se colocam debaixo do sangue expiador de Jesus Cristo.
Uma pessoa crente que se deixa dominar pelas concupiscências da carne obriga o Espírito de Deus a retirar-se do seu interior e, automaticamente, a ira de Deus se manifesta contra essa pessoa, por ter Deus sofrido um agravo à sua santidade. A santidade de Deus se levanta como uma barreira contra a possibilidade do pecado. Podemos identificar essa barreira como sendo "a sua ira" (Rm 1.18). "Éramos por natureza" assinala um estado natural, inato no pecador, que se expressa com características próprias e ativas. A natureza caída do homem sempre se opõe às características benéficas do seu primeiro estado antes da queda. Os estigmas do pecado aparecem tão logo uma criança venha ao mundo, mesmo não tendo conhecimento do mundo que a rodeia. Enquanto estamos no mundo, haverá sempre uma batalha dentro de nosso ser entre a carne e o espírito. Devemos manter as inclinações da carne subjugadas ao espírito, para que, ao final da vida física, o espírito vença de uma vez por todas a carne, e livre-se dela pela transformação do nosso corpo mortal em corpo espiritual (1 Co 15.51-57).
II. No presente, apresenta o que somos agora
A expressão "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia" nos dá uma visão maravilhosa do novo estado espiritual daquele que aceitou a obra de Cristo em sua vida. Nesse versículo está em destaque a riqueza da misericórdia de Deus e a grandiosidade do seu amor.
Nos versos 1-3 estudamos a triste condição de pecado da humanidade, mas agora, no verso 4, Deus entra em ação em favor dos que buscam a sua misericórdia: Ele interrompe a história. Com as palavras iniciais do versículo "Mas Deus...", vemos a intervenção divina em favor da humanidade. Ele resolve abrir os mananciais de sua misericórdia para os homens. A palavra "misericórdia" tem um significado bem mais rico do que aquele que comumente conhecemos. É uma palavra composta de duas outras do latim: miseri e cordis, que respectivamente significam miserável e coração. A interpretação que resulta da junção dessas duas palavras para formar "misericórdia" é: "colocar um miserável no coração". Assim fez Deus através de Jesus Cristo. Deus amou o mundo miserável e o colocou no seu coração. A natureza divina é de amor e justiça. Há um profundo desejo no coração de Deus de que todos os homens sejam salvos e restaurados, a fim de que o seu elevado propósito para a humanidade seja alcançado (Jo 3.16; 1 Jo 4.9). A manifestação da misericórdia divina para com o ser humano prova o seu grande amor e o desejo de que todos sejam recuperados.
"... estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo". Primeiro, o texto nos mostra a situação anterior, e depois, o meio pelo qual fomos alcançados. Literalmente traduzida, a expressão "nos vivifícou com Cristo", apresenta-se assim: "nos fez viver com Cristo", isto é, nos fez viver segundo o mesmo poder que vivifícou a Jesus Cristo (Rm 6.4,7,8,11). Entendemos que, pela morte de Jesus, morremos com Ele para, em sua ressurreição, com Ele ressuscitarmos. Essa nossa ressurreição é espiritual, pois indica a nova vida recebida. Pela cruz morremos para o pecado, e pela ressurreição ganhamos nova vida em Cristo Jesus.
"... e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus". Que entendemos por "assentar nos lugares celestiais em Cristo"? A designação para "lugares celestiais", antes de tudo, indica a nova cidadania do cristão. Somos cidadãos do Céu (Fp 3.20), por isso mesmo, a vida espiritual em Cristo está num plano elevado, superior.
"Lugares celestiais" indica o nível fora deste mundo (sistema satânico) no qual somos colocados na condição de "novas criaturas" (2 Co 5.17). A contínua comunhão do crente com Cristo lhe dá, já nesta vida, uma posição celestial que alcançará sua plenitude na vinda do Senhor Jesus Cristo. Visto que estamos nEle (em Cristo), e sendo o seu corpo místico, como regenerados podemos compreender o sentido dessa importante afirmação. Indica o terceiro estado de Cristo depois da sua morte. Primeiro, Ele morreu, e nós morremos com Ele; segundo, Ele ressuscitou gloriosamente, e nós ressuscitamos com Ele em novidade de vida; terceiro, Ele foi elevado ou exaltado às regiões celestiais, na presença do Pai, e nós também fomos elevados com Ele, participando da sua glória nas "regiões celestiais". Estamos assentados "nEle", isto é, fazemos parte do seu corpo místico e glorioso, que é a Igreja. A grande lição desse novo estado de vida espiritual da Igreja nas "regiões [lugares] celestiais" é que o crente tem por obrigação estar acima do regime que governa este mundo. O seu sistema é o de Cristo e, por isso mesmo, superior. O crente não deve se submeter ao sistema mundano, sobre o que Paulo aconselha: "E não vos conformeis com este mundo" (Rm 12.2). Não conformar-se com este mundo significa não entrar na fôrma deste mundo, ou no curso deste mundo.
III. O que seremos no futuro
As palavras do verso 7 anunciam a razão final da salvação. A expressão "para mostrar nos séculos vindouros" diz respeito ao futuro da Igreja. Ela será a demonstração eterna da graça de Deus, ou seja, o testemunho da manifestação de Deus e do seu poder sobre a terra. Após o arrebatamento, a destruição do anticristo e prisão do diabo, será instaurado o reino milenar e o mundo verá a grandeza da Igreja.
"... pela graça sois salvos". Esse versículo indica a fonte da salvação — a graça de Deus. A continuação do texto aponta o meio de alcance, que é a fé, quando diz: "sois salvos por meio da fé". Uma das grandes finalidades da redenção é a manifestação da graça de Deus. A fé é o instrumento para se obter a salvação. A graça de Deus foi manifesta na pessoa de Jesus, pois Ele conquistou essa salvação.
O verso 9 diz: "Não por obras" se alcança a graça de Deus, enquanto o versículo anterior afirma que essa graça é "dom de Deus". Não se compra nem se vende, é independe de mérito humano. A salvação se recebe pelo ato da fé, sem as obras da lei (Rm 3.20,28; 4.1-5; Gl 2.16; 2 Tm 1.9; Tt 3.5).
O verso 10 mostra o resultado da obra salvadora. "... somos feitura sua" significa que fomos feitos novas criaturas em Cristo Jesus (2 Co 5.17). No ato da criação, no Éden, Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Com a queda e o pecado, essa feitura divina foi arruinada e essa imagem do divino no ser interior foi distorcida. Então Deus, num ato de recriação do homem interior arruinado, fez uma nova criatura à imagem do seu Filho Jesus (Gl 6.15; Ef 4.24; Cl 3.10).
Refeitos, podemos agora andar num novo caminho e fazer as boas obras. O fazer boas obras independe da vontade do regenerado, porque é parte de sua vida nova. Isso está em consonância com o objetivo da nossa eleição, conforme está escrito: "... para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele" (Ef 1.4).
A forma mais simples de entendermos esse texto é dividi-lo em três tempos: passado, presente futuro.
I. No passado, apresenta o que éramos
Éramos "mortos em delitos epecados". Esse tipo de morte é espiritual, isto é, morte em relação a Deus. Há também o tipo de morte espiritual para o pecado. Nesse segundo tipo de morte, a condenação não deixa de existir. A palavra delito indica um estado. A Bíblia afirma que o homem é pecador por natureza pecaminosa adquirida (Rm 5.11). No nascimento físico, o homem vem ao mundo com essa natureza pecaminosa, mas para entrar no reino de Deus ele precisa nascer de novo (Jo 3.3-5). A idéia de vida, na Bíblia em geral, é um estado de comunhão com Deus; e a idéia de morte é um estado de separação de Deus. Então, toda a raça humana, em Adão, depois da queda, é espiritualmente morta. Em Cristo, o último Adão, os homens são vivificado espiritualmente para terem comunhão com Deus (1 Co 15.45-48)
"... em que noutro tempo andastes". Esse versículo mostra como andávamos no passado sem Cristo. O verbo andar implica ação e movimento. Todos os nossos passos eram inseguros e tristes.
"... segundo o curso deste mundo". Estávamos condicionados a uma peregrinação sem destino certo. Estávamos sob o domínio do espírito do mundo e andávamos segundo a vida deste mundo, isto é, nos conformávamos com a corrente da vida pecaminosa deste mundo. A expressão "segundo o curso deste mundo" aparece com um sentido mais claro em outras traduções, como "seguindo o espírito deste mundo". Esta segunda expressão nos dá a idéia do mundo como inimigo de Deus, isto é, não o mundo físico, mas o mundo como sistema espiritual satânico. A palavra "mundo" no grego é kosmos, que significa sistema de coisas, ou governo. Em relação ao mundo influenciado pelos poderes satânicos, caracteriza os homens inconversos sob o seu domínio. A palavra "curso" dá o sentido de sistema no original grego. Por outro lado, quando lemos "segundo o curso deste mundo", o apóstolo quer fazer-nos entender como sendo o conjunto de idéias e de tendências que marcam cada época da história do homem.
Também a influência do século sobre a vida dos homens representa "o mundo" em suas manifestações práticas. Outro sentido da palavra "curso" é carreira, ou seja, a manifestação do sistema satânico ("mundo") sobre a vida dos homens que seguem seu próprio caminho. A seqüência do verso 2 mostra a força que impele a manifestação do mal, quando afirma que "o curso deste mundo [segue] segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência". Logo, entendemos que existe um causador da manifestação do mal, e esse é o diabo, identificado como "o príncipe das potestades do ar", e como "o espírito da desobediência" operando nos homens inconversos (Cl 3.6). Sua missão é a de subjugar os homens e insurgi-los contra Deus através da desobediência, que é uma forma de rebelião contra o Senhor e Criador do homem. Todas as formas contrárias ao "espírito da desobediência" glorificam a Deus; por isso, Satanás usa seus aliados (espíritos caídos) para impelirem as almas humanas à satisfação da carne, com o fim de impedir que elas comunguem com Deus. A atuação do poder do pecado é detida pelo poder da obra redentora de Cristo.
O verso 3 apresenta o relato do homem carnal. As primeiras palavras, "entre os quais", indicam uma olhada retrospectiva do apóstolo, identificando a si mesmo e aos outros judeus, agora crentes em Cristo, como participantes daquela situação. A colocação verbal no tempo passado — "entre os quais todos nós também antes andávamos" — mostra que os crentes, antes de crerem em Cristo, viviam como "filhos da desobediência" e, sendo assim, não havia diferença alguma quanto ao estado do pecado, tanto para os judeus como para os gentios. Todos os filhos de Adão, em seu estado natural, são filhos da desobediência, indicando logo a fonte do pecado no homem, ou seja, a causa pela qual vive no pecado.
"... fazendo a vontade da carne e dos pensamentos" apresenta a razão por que andávamos "segundo o curso deste mundo". A fonte do mal dentro do pecador está em sua natureza pecaminosa. É essa natureza pecaminosa que obriga ou subjuga a vontade do homem a obedecer às "inclinações da carne". O termo "carne" aqui denota o ser moral do homem dominado pelo pecado. Os apetites da nossa carne (corpo) física, sob o domínio das concupiscências, somente são satisfeitas mediante a busca e realização desses desejos. A carne física é inconsciente, e o que a torna pecaminosa e desequilibrada são os desejos da natureza pecaminosa dominante. O homem em seu estado natural vive segundo os desejos da carne. Esses desejos, alimentados no interior, transformam-se em vontade, e essa vontade, sob o domínio da natureza pecaminosa, torna-se "vontade da carne e dos pensamentos". O pecador não consegue dominar esses desejos da carne e dos pensamentos, senão pelo Espírito Santo e depois da obra de regeneração (Gl 5.16-18).
Vários outros textos da Bíblia fornecem a mesma idéia que a expressão "filhos da ira" encerra: "filhos da desobediência" (Ef 2.2); "filhos da morte" (2 Sm 12.5; SI 79.11; SI 102); "filhos da perdição", ainda que este indique objetivamente o diabo (Jo 17.12; 2 Ts 2.3); "filhos do inferno" (Mt 23.15) etc. Todas essas expressões mostram a paternidade ou a origem do mal, que é Satanás. Por outro lado, "filhos da ira" são todos aqueles que, por seu pecado, estão sob a ira de Deus. A ira divina é a santa indignação do Todo-Poderoso contra o pecado. Entretanto, deixam de ser "filhos da ira" os que se colocam debaixo do sangue expiador de Jesus Cristo.
Uma pessoa crente que se deixa dominar pelas concupiscências da carne obriga o Espírito de Deus a retirar-se do seu interior e, automaticamente, a ira de Deus se manifesta contra essa pessoa, por ter Deus sofrido um agravo à sua santidade. A santidade de Deus se levanta como uma barreira contra a possibilidade do pecado. Podemos identificar essa barreira como sendo "a sua ira" (Rm 1.18). "Éramos por natureza" assinala um estado natural, inato no pecador, que se expressa com características próprias e ativas. A natureza caída do homem sempre se opõe às características benéficas do seu primeiro estado antes da queda. Os estigmas do pecado aparecem tão logo uma criança venha ao mundo, mesmo não tendo conhecimento do mundo que a rodeia. Enquanto estamos no mundo, haverá sempre uma batalha dentro de nosso ser entre a carne e o espírito. Devemos manter as inclinações da carne subjugadas ao espírito, para que, ao final da vida física, o espírito vença de uma vez por todas a carne, e livre-se dela pela transformação do nosso corpo mortal em corpo espiritual (1 Co 15.51-57).
II. No presente, apresenta o que somos agora
A expressão "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia" nos dá uma visão maravilhosa do novo estado espiritual daquele que aceitou a obra de Cristo em sua vida. Nesse versículo está em destaque a riqueza da misericórdia de Deus e a grandiosidade do seu amor.
Nos versos 1-3 estudamos a triste condição de pecado da humanidade, mas agora, no verso 4, Deus entra em ação em favor dos que buscam a sua misericórdia: Ele interrompe a história. Com as palavras iniciais do versículo "Mas Deus...", vemos a intervenção divina em favor da humanidade. Ele resolve abrir os mananciais de sua misericórdia para os homens. A palavra "misericórdia" tem um significado bem mais rico do que aquele que comumente conhecemos. É uma palavra composta de duas outras do latim: miseri e cordis, que respectivamente significam miserável e coração. A interpretação que resulta da junção dessas duas palavras para formar "misericórdia" é: "colocar um miserável no coração". Assim fez Deus através de Jesus Cristo. Deus amou o mundo miserável e o colocou no seu coração. A natureza divina é de amor e justiça. Há um profundo desejo no coração de Deus de que todos os homens sejam salvos e restaurados, a fim de que o seu elevado propósito para a humanidade seja alcançado (Jo 3.16; 1 Jo 4.9). A manifestação da misericórdia divina para com o ser humano prova o seu grande amor e o desejo de que todos sejam recuperados.
"... estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo". Primeiro, o texto nos mostra a situação anterior, e depois, o meio pelo qual fomos alcançados. Literalmente traduzida, a expressão "nos vivifícou com Cristo", apresenta-se assim: "nos fez viver com Cristo", isto é, nos fez viver segundo o mesmo poder que vivifícou a Jesus Cristo (Rm 6.4,7,8,11). Entendemos que, pela morte de Jesus, morremos com Ele para, em sua ressurreição, com Ele ressuscitarmos. Essa nossa ressurreição é espiritual, pois indica a nova vida recebida. Pela cruz morremos para o pecado, e pela ressurreição ganhamos nova vida em Cristo Jesus.
"... e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus". Que entendemos por "assentar nos lugares celestiais em Cristo"? A designação para "lugares celestiais", antes de tudo, indica a nova cidadania do cristão. Somos cidadãos do Céu (Fp 3.20), por isso mesmo, a vida espiritual em Cristo está num plano elevado, superior.
"Lugares celestiais" indica o nível fora deste mundo (sistema satânico) no qual somos colocados na condição de "novas criaturas" (2 Co 5.17). A contínua comunhão do crente com Cristo lhe dá, já nesta vida, uma posição celestial que alcançará sua plenitude na vinda do Senhor Jesus Cristo. Visto que estamos nEle (em Cristo), e sendo o seu corpo místico, como regenerados podemos compreender o sentido dessa importante afirmação. Indica o terceiro estado de Cristo depois da sua morte. Primeiro, Ele morreu, e nós morremos com Ele; segundo, Ele ressuscitou gloriosamente, e nós ressuscitamos com Ele em novidade de vida; terceiro, Ele foi elevado ou exaltado às regiões celestiais, na presença do Pai, e nós também fomos elevados com Ele, participando da sua glória nas "regiões celestiais". Estamos assentados "nEle", isto é, fazemos parte do seu corpo místico e glorioso, que é a Igreja. A grande lição desse novo estado de vida espiritual da Igreja nas "regiões [lugares] celestiais" é que o crente tem por obrigação estar acima do regime que governa este mundo. O seu sistema é o de Cristo e, por isso mesmo, superior. O crente não deve se submeter ao sistema mundano, sobre o que Paulo aconselha: "E não vos conformeis com este mundo" (Rm 12.2). Não conformar-se com este mundo significa não entrar na fôrma deste mundo, ou no curso deste mundo.
III. O que seremos no futuro
As palavras do verso 7 anunciam a razão final da salvação. A expressão "para mostrar nos séculos vindouros" diz respeito ao futuro da Igreja. Ela será a demonstração eterna da graça de Deus, ou seja, o testemunho da manifestação de Deus e do seu poder sobre a terra. Após o arrebatamento, a destruição do anticristo e prisão do diabo, será instaurado o reino milenar e o mundo verá a grandeza da Igreja.
"... pela graça sois salvos". Esse versículo indica a fonte da salvação — a graça de Deus. A continuação do texto aponta o meio de alcance, que é a fé, quando diz: "sois salvos por meio da fé". Uma das grandes finalidades da redenção é a manifestação da graça de Deus. A fé é o instrumento para se obter a salvação. A graça de Deus foi manifesta na pessoa de Jesus, pois Ele conquistou essa salvação.
O verso 9 diz: "Não por obras" se alcança a graça de Deus, enquanto o versículo anterior afirma que essa graça é "dom de Deus". Não se compra nem se vende, é independe de mérito humano. A salvação se recebe pelo ato da fé, sem as obras da lei (Rm 3.20,28; 4.1-5; Gl 2.16; 2 Tm 1.9; Tt 3.5).
O verso 10 mostra o resultado da obra salvadora. "... somos feitura sua" significa que fomos feitos novas criaturas em Cristo Jesus (2 Co 5.17). No ato da criação, no Éden, Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Com a queda e o pecado, essa feitura divina foi arruinada e essa imagem do divino no ser interior foi distorcida. Então Deus, num ato de recriação do homem interior arruinado, fez uma nova criatura à imagem do seu Filho Jesus (Gl 6.15; Ef 4.24; Cl 3.10).
Refeitos, podemos agora andar num novo caminho e fazer as boas obras. O fazer boas obras independe da vontade do regenerado, porque é parte de sua vida nova. Isso está em consonância com o objetivo da nossa eleição, conforme está escrito: "... para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele" (Ef 1.4).