Introdução ao Livro de Rute
Cena inicial caps.
1—2
1. Jó e a sua família 1.1-5
2. Deus, Satanás e Jó 1.6—2.10
3. Jó e os seus amigos 2.11-13
Diálogos entre Jó e os seus
amigos caps. 3—31
1. Primeiro diálogo caps. 3—14
2. Segundo diálogo caps. 15—21
3. Terceiro diálogo caps.
22—27
4. Elogio da sabedoria cap. 28
5. Defesa final de Jó caps.
29—31
As falas de Eliú caps. 32—37
Diálogo final entre Deus e Jó
38.1—42.6
1. Primeira resposta de Deus a
Jó 38.1—40.2
2. Primeira resposta de Jó a
Deus 40.3-5
3. Segunda resposta de Deus a
Jó 40.6—41.34
4. Última resposta de Jó a
Deus 42.1-6
Cena final 42.7-17
1. Os três amigos de Jó 42.7-9
2. Jó e a sua nova família
42.10-17
INTRODUÇÃO
1. CONTEÚDO
1.1. O Livro de Jó tem três
pequenos trechos em prosa (caps. 1—2; 32.1-6; 42.7-16); o resto do livro está
escrito em forma de poesia (ver a Introdução aos Livros de Sabedoria e aos
Livros Poéticos 2.3.1; 3.3.1).
1.2. Nesse livro conta-se a
história dos sofrimentos de um homem bom, honesto e fiel a Deus. Por sugestão
que Satanás faz a Deus, Jó perde, de uma hora para outra, riqueza, filhos e
filhas e é vítima de uma doença da pele, dolorosa e nojenta.
1.3. Três amigos visitam Jó para
consolá-lo. Em diálogos poéticos, procuram achar explicação para tanta desgraça
e afirmam que Jó está sofrendo porque pecou. Mas Jó reage contra essa opinião,
afirmando que sempre foi um homem bom e honesto. Tomado de angústia e de
dúvidas, Jó chega a desafiar a Deus, exigindo uma explicação para os seus
sofrimentos. Ele deseja ser aceito por Deus e considerado pelos outros como um
homem bom e correto.
Os diálogos que Jó manteve com seus amigos, numa
série de três, aparecem nos caps. 3—31: o primeiro diálogo, nos caps. 3—14; o
segundo diálogo, nos caps. 15—21; o terceiro, nos caps. 22—27.
O primeiro diálogo (caps. 3—14) começa com a queixa
de Jó (cap. 3). Em seguida, cada amigo fala: Elifaz (caps. 4—7), Bildade (caps.
8—10) e Zofar (caps. 11—14), e Jó dá resposta a cada um deles.
Na sua segunda série (caps. 15—21), os diálogos são
menos extensos. Os amigos dialogam com Jó, falando na mesma ordem da primeira
série (caps. 3—14): Elifaz (caps. 15—17), Bildade (caps. 18—19) e Zofar (caps.
20—21).
Na terceira e última série de diálogos
(22.1—27.23), Jó e os seus amigos falam nesta ordem: Elifaz (22.1-30); Jó
(23.1—24.17); Zofar (24.18-25); Bildade (25.1-6); Jó (26.1-4); Bildade
(26.5-14); Jó (27.1-12); Zofar (27.13-23).
No cap. 28, aparece um elogio à sabedoria, e, logo
em seguida, a defesa final de Jó (caps. 29—31).
1.4. Depois, entra em cena um
quarto sábio, mais jovem que os três amigos de Jó, chamado Eliú (caps. 32—37).
De Eliú nada se diz no início do livro, nem no final. E Jó também não lhe dá
resposta. Eliú não diz nada de novo, e tem-se a impressão de que, com o seu
aparecimento em cena, o autor do livro tem o objetivo de mostrar como são
falhas e inadequadas as explicações que foram dadas para o problema do
sofrimento humano.
1.5. Segue-se, então, um diálogo
entre Deus e Jó (caps. 38.1—42.6), no qual Jó fala muito pouco (40.3-5;
42.1-6). E Deus não discute com Jó o problema do sofrimento humano; ele fala
sobre a sua própria sabedoria e sobre o seu poder. E, finalmente, Jó se
arrepende de haver usado contra Deus palavras duras e violentas, frutos da sua
ignorância.
1.6. No fim da história, Deus
repreende os amigos de Jó por não terem entendido a razão do seu sofrimento e
por haverem defendido idéias erradas a respeito dele, Deus. E Deus muda a
situação de Jó, abençoando-o mais do que no começo da história.
2. AUTOR E DATA
2.1. O autor deste livro é
desconhecido. Dele sabemos três coisas: ele era um israelita, morava fora da
terra de Israel (ver Jó 1.1, n.) e pertencia à classe dos chamados sábios.
Assim, quanto ao conteúdo, Jó é um livro de sabedoria; quanto à forma,
classifica-se como poético (ver a Introdução aos Livros de Sabedoria e aos
Livros Poéticos 2.2; 2.3.1; 3; 3.1).
2.2. Não se sabe quando o Livro de
Jó foi escrito. Alguns autores entendem que o livro pertence ao período dos
patriarcas (entre 1.900 e 1.800 a.C.), enquanto que a maioria o localiza no quinto
século (entre 500 e 400) a.C.
3. MENSAGEM
3.1. Os amigos de Jó, nas suas
falas, refletem o pensamento corrente naquele tempo, segundo o qual o
sofrimento é sempre resultado de pecado. Se Jó está sofrendo, é porque pecou. A
justiça de Deus, diziam eles, se manifesta nisto: ele castiga as pessoas más e
cobre de bênçãos as pessoas boas. A Lei ensinava isso (Dt 28), os sábios também
(Jó 4.7-11; Sl 37; 92; Pv 10.27-30), e também os profetas (Is 13.10; 49.4;
61.8; Jr 23.12; Ez 7.8-9; Os 4.9; Sf 1.9-12; Ag 2.15-19).
3.2. Jó também acreditava na
justiça de Deus. Mas, no seu modo de pensar, Deus estava sendo injusto para com
ele. Por ser um homem bom, que “procurava não fazer nada que fosse errado”
(1.1), ele não merece ser castigado. De outro lado, em outras partes do AT estão
registradas queixas de uma aparente injustiça cometida por Deus quando deixa de
punir pessoas que têm cometido maldades (Sl 73; Ec 3.16—4.3; Jr 12.1-4; Hc
1.2-4).
3.3. O autor do Livro de Jó
entende que nem sempre o princípio de retribuição divina se aplica a casos de
sofrimento humano. Em geral, é verdade que as pessoas más são castigadas por
causa dos seus pecados e que as pessoas boas recebem bênçãos de Deus, mas esse
princípio não explica todos os casos de sofrimento que há no mundo. Nem sempre
as pessoas pagam aqui no mundo pelos seus pecados e nem sempre as pessoas boas
são recompensadas neste mundo com bênçãos e prosperidade. Nas suas respostas a
Jó (38.1—40.2 e 40.6—41.34), Deus fecha a questão, dizendo que a sabedoria dos
seres humanos é muito limitada para compreender os caminhos de Deus, a sua
sabedoria e o seu poder.
3.4. Tanto Jó como os seus amigos
não sabiam que os sofrimentos dele estavam sendo causados por um desafio que
Satanás tinha feito a Deus. Satanás diz que Jó é fiel a Deus enquanto vive na
prosperidade e é coberto de bênçãos. Mas, se lhe acontecerem desgraças e
sofrimentos, ele amaldiçoará a Deus. E cabe a Satanás provar se a fidelidade de
Jó é ou não uma questão de interesse próprio. Jó passa pelas provas e não
amaldiçoa a Deus. Depois, na conversa com os amigos, ele reclama contra Deus
(6.4; 13.25), mas, no final, se arrepende (42.6) e volta a confiar inteiramente
nele.
3.5. A solidão no sofrimento e a
sensação da ausência de Deus atormentam Jó. Embora tenha se revoltado contra
Deus, ele anseia encontrá-lo e ter comunhão com ele (13.24; 14.13-17; 23.3-6).
E essa esperança se cumpre afinal (42.4-5). A solidão de Jó traz ao cristão a
lembrança da figura solitária e desprezada do Servo, o Filho de Deus, que, na
cruz, sofreu por nós, carregando sozinho o peso dos pecados de todos nós (Is
52.13—53.12). No desamparo da cruz, sentindo a mesma angústia do salmista,
Jesus gritou bem alto: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15.34;
Sl 22.1).
3.6. O sofrimento das pessoas boas
é um mistério. Os amigos de Jó pensavam, erradamente, que ele sofria porque
havia pecado, mesmo em segredo, e que o resultado disso era o castigo divino.
Jó, por sua vez, pensava que, no seu caso, Deus estava cometendo uma injustiça.
Mas, nas respostas de Deus a Jó, o autor do livro torna claro que a sabedoria e
as ações do Deus Todo-Poderoso não podem ser compreendidas pelo ser humano, que
é limitado. Há mistérios, como, por exemplo, o sofrimento de certas pessoas,
que nós não podemos entender. Os que sofrem assim têm de se conformar com o que
Deus faz. Ele dirige todas as coisas, embora suas decisões, às vezes, estejam
além da nossa capacidade de entender. Assim, Jó, no final, tem um encontro com
Deus. E, quando Deus fala, a palavra divina leva Jó a adotar uma atitude de
humildade e de aceitação de uma situação que o seu limitado entendimento não
pode compreender nem explicar.