Superstição Judaica ao Nome Divino

(Esse é um estudo bíblico longo composto de inúmeras partes complementares devido a sua importância. Caso você tenha chegado ao nosso blog por meio dessa página, sugerimos que acompanhe nosso estudo dentro do seu contexto, começando com: O Nome Divino - YHWH)

TETRAGRAMA, LXX, GREGO, SEPTUAGINTA, JEOVÁ, JAVÉ, NOME DE DEUS, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
§ 4.c Superstição Judaica


Ao que tudo indica, durante o primeiro e o segundo séculos EC, desenvolveu-se entre os judeus uma superstição contra o uso do nome de Deus. A Míxena (uma coleção de comentários rabínicos que se tornou o fundamento do Talmude) declara que “quem pronunciar o nome divino conforme é escrito” não terá parte no futuro Paraíso terrestre prometido por Deus.

Qual foi a origem dessa proibição? A Wikipédia diz que

“Não se sabe exatamente em que se baseou a descontinuidade do uso deste nome. Alguns sustentam que o nome era considerado sagrado demais para ser proferido por lábios imperfeitos. Mas uma pesquisa no Velho Testamento não revela nenhuma evidência de que quaisquer dos adoradores de YHWH alguma vez hesitassem em proferir o nome Dele.”

Segundo certa fonte, esse medo surgiu devido à preocupação de que o documento no qual o Nome estivesse escrito pudesse acabar no lixo, dessacralizando o nome divino.

A Jewish Encyclopaedia diz:

“As pessoas passaram a evitar pronunciar o nome YHWH . . . devido a um mal-entendido em relação ao Terceiro Mandamento”.

O terceiro dos Dez Mandamentos dado aos israelitas por Deus declara:

“Não deves tomar o nome de Yahweh, teu Deus, dum modo fútil, pois Yahweh não deixará impune aquele que tomar seu nome dum modo fútil.” (Êxodo 20:7)

Assim, o decreto de Deus contra o uso impróprio do Seu Nome foi distorcido e transformado numa superstição.

Quando se arraigou essa superstição? Assim como não se tem certeza do motivo ou motivos originalmente apresentados para se descontinuar a usar o Nome Divino, assim também há muita incerteza quanto à época em que tal conceito supersticioso realmente se arraigou. Alguns afirmam que começou após o exílio babilônico (607-537 AEC). Esta teoria, porém, baseia-se numa suposta redução do uso do Nome por parte de escritores posteriores das Escrituras Hebraicas, conceito este que um exame mais detido mostra inválido. Malaquias, por exemplo, foi evidentemente um dos últimos livros das Escrituras Hebraicas a ser escrito (na última metade do quinto século AEC), e dá grande destaque ao Nome Divino.

Muitas obras de referência sugerem que o nome deixou de ser usado por volta de 300 AEC. Evidência para esta data foi supostamente encontrada na ausência do Tetragrama (ou de uma transliteração dele) na tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas, iniciada por volta de 280 AEC. É verdade que as cópias mais completas dos manuscritos da Septuaginta agora conhecidas seguem uniformemente o costume de substituir o Tetragrama pelas palavras gregas Kýrios (Senhor) ou Theós (Deus). Estes manuscritos principais, porém, remontam apenas ao quarto e ao quinto séculos EC. Descobriram-se recentemente cópias mais antigas, embora em forma fragmentária, que provam que as cópias mais antigas da Septuaginta continham deveras o Nome Divino. (Veja o Estudo: O Tetragrama na Septuaginta)

Uma delas são os restos fragmentários dum rolo de papiro duma parte de Deuteronômio, alistado como P. Fouad Inventário N.° 266. Apresenta regularmente o Tetragrama, escrito em caracteres hebraicos quadrados, em cada ocorrência no texto hebraico traduzido. Os peritos datam este papiro como do primeiro século AEC, e neste caso foi escrito quatro ou cinco séculos antes dos manuscritos já mencionados.

Quando foi que os judeus, em geral, realmente pararam de pronunciar o nome pessoal de Deus? Assim, pelo menos em forma escrita, não existe evidência sólida de qualquer desaparecimento ou desuso do Nome Divino no período AEC. No primeiro século EC, surge pela primeira vez alguma evidência duma atitude supersticiosa para com esse nome. Josefo, historiador judeu que descendia duma família sacerdotal, ao narrar a revelação que Deus forneceu a Moisés no local do espinheiro ardente, diz:

“Então, Deus lhe revelou Seu nome, que antes disso não tinha chegado aos ouvidos dos homens, e sobre o qual estou proibido de falar.” (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], II, 276 [xii, 4] Publicado no Brasil como História dos Hebreus)

No entanto, a declaração de Josefo, além de ser inexata quanto a se conhecer o Nome Divino antes de Moisés, é vaga e não revela de forma clara exatamente qual era a atitude geral prevalecente no primeiro século quanto a se pronunciar ou empregar o Nome Divino.

A Míxena judaica, uma coleção de ensinos e de tradições rabínicos (Cf. Escritos Sagrados dos Judeus), é um tanto mais explícita. Credita-se sua compilação ao rabino Judá, o Príncipe, que viveu no segundo e no terceiro séculos EC. Parte da matéria da Míxena relaciona-se claramente às circunstâncias anteriores à destruição de Jerusalém e do seu templo, em 70 EC. No entanto, certo perito diz a respeito da Míxena:

“É extremamente difícil decidir que valor histórico devemos atribuir a qualquer tradição registrada na Míxena. O espaço de tempo, que talvez tenha contribuído para obscurecer ou distorcer as lembranças de épocas tão diferentes; as sublevações políticas, as mudanças e as confusões resultantes de duas rebeliões e de duas conquistas romanas; os padrões prezados pelo partido dos fariseus (cujas opiniões a Míxena registra), que não eram os do partido dos saduceus . . . — estes são fatores a que se deve dar o devido peso na avaliação do caráter das declarações da Míxena. Além disso, há muita coisa no conteúdo da Míxena que se encontra num ambiente de discussão acadêmica travada só pela discussão, (conforme parece) com pouca pretensão de registrar usos históricos.” (The Mishnah [A Míxena], traduzida para o inglês por H. Danby, Londres, 1954, pp. xiv, xv)

Algumas das tradições da Míxena referentes à pronúncia do Nome Divino são como segue: Relacionado com o anual Dia da Expiação, a tradução da Míxena por Danby declara:

“E quando os sacerdotes e o povo, que estavam de pé no Pátio do Templo, ouviam o Nome Expresso sair da boca do Sumo Sacerdote, costumavam ajoelhar-se, e curvar-se, e prostrar-se, e dizer: ‘Bendito seja o nome da glória do seu reino para todo o sempre!’” (Yoma 6:2)

A respeito das bênçãos sacerdotais diárias, Sotah 7:6, diz:

“No Templo, eles pronunciavam o Nome assim como estava escrito, mas, nas províncias, usavam uma palavra substituta.”

Sanhedrin 7:5, declara que o blasfemador não era culpado ‘a menos que tivesse pronunciado o Nome’, e que, num julgamento que envolvesse uma acusação de blasfêmia, usava-se um nome substituto até que toda a evidência tivesse sido ouvida; daí, pedia-se em particular à testemunha principal que ‘dissesse expressamente o que ouvira’, presumivelmente usando o nome divino. Sanhedrin 10:1, ao alistar aqueles “que não têm parte no mundo vindouro”, declara: “Abba Saul diz: Também aquele que pronunciar o Nome com as suas letras corretas.” Todavia, apesar destes conceitos negativos, encontramos também, na primeira seção da Míxena, a injunção positiva de que “o homem deve cumprimentar seu próximo com [o emprego de] o Nome [de Deus]”, citando-se então o exemplo de Boaz (Ru 2:4). — Berakhot, 9:5.

Estes conceitos tradicionais, encarados pelo que possam valer, talvez revelem uma tendência supersticiosa de evitar o uso do nome divino algum tempo antes de o templo de Jerusalém ser destruído em 70 EC. Mesmo então, diz-se explicitamente que eram primariamente os sacerdotes que usavam um nome substituto para o nome divino, e isso apenas nas províncias. Adicionalmente, o valor histórico das tradições da Míxena é questionável, conforme vimos.

Não existe, portanto, nenhuma base genuína para se atribuir a qualquer época anterior ao primeiro e ao segundo séculos EC o desenvolvimento do conceito supersticioso que exigia a descontinuação do uso do nome divino. Chegou deveras a época, contudo, em que, ao fazer a leitura das Escrituras Hebraicas na língua original, o leitor judeu, em vez de pronunciar o Nome divino, representado pelo Tetragrama (YHWH), o substituía por ’Adhonaí (Soberano Senhor) ou por ’Elohím (Deus). Nota-se isto no fato de que, quando os sinais vocálicos passaram a ser empregados, na segunda metade do primeiro milênio EC, os copistas judeus inseriram no Tetragrama os sinais vocálicos quer de ’Adhonaí, quer de ’Elohím, evidentemente para alertar o leitor a proferir essas palavras, em lugar de pronunciar o nome divino. Caso ele estivesse usando a tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas em cópias posteriores, o leitor, naturalmente, encontraria o Tetragrama já inteiramente substituído por Kýrios e Theós.

Traduções para outras línguas, tais como a Vulgata latina, seguiram o exemplo destas cópias posteriores da Septuaginta grega. A versão católica de Antônio Pereira de Figueiredo (originalmente de 1778-1790), baseada na Vulgata latina, por isso, não traz o Nome Divino no texto principal, ao passo que a Trinitariana e a versão Matos Soares empregam Senhor ou Deus (às vezes todo em maiúsculas) para representar o Tetragrama nas Escrituras Hebraicas.

Pelo menos, tendo tudo isso em mente, poder-se-á ver que a questão do não uso, quer gráfico quer fonético de יְהוָה se dá devido a uma superstição judaica e uma mal compreensão do terceiro Mandamento. Agora, prezado leitor, quem poderia dizer, melhor dizendo, quem teria a CORAGEM de dizer, que Jesus Cristo tinha essa superstição, ou mesmo não entendia bem o terceiro Mandamento a ponto de não usar o Nome Divino no seu ministério terrestre? Levando ainda mais em consideração que Ele se opunha às tradições judaicas inventadas pelos rabinos e que nada tinha a ver com a Palavra de Deus? – Mateus 15:3, 6.

Alguns pensem: “Mas é fato escriturístico que Jesus nunca chamou Deus de יְהוָה”. Bom, mas uma vez, por termos apenas cópias de cópias de cópias de originais, ninguém pode dizer ao certo que Jesus não fez uso do Tetragrama, principalmente em vista de declarações como: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o Teu Nome.” (Mateus 6:9) “Tenho feito manifesto o Teu Nome.” – João 17:6.

Analise alguns fatos sobre as declarações de Jesus. Em Atos 20:35 o apóstolo Paulo faz um citação que não se encontra em nenhum lugar dos Evangelhos, e atribui essa citação à Jesus Cristo. O apóstolo João diz que Jesus fez muito mais do que está escrito nos Evangelhos, isso pode incluir muitos ditos que não foram coligidos.

Outra coisa que podemos levar em conta era a comunhão entre Jesus Cristo e Yahweh Deus. Imagine esse cena. Conversando com certo jovem que afirmava que Jesus nunca chamou Deus de Yahweh (Javé, Jeová, Iavé) e por isso não existe razão para acreditar que esse fosse o Nome Divino, muito menos que ele aparecia no N.T., eu perguntei-lhe como se chamava o seu pai. Ele respondeu: “Valdemir Neto”. Então lhe disse: “Poderia chamar o Senhor Valdemir, por favor?”, daí o jovem gritou: “Pai, venha até aqui por favor.” Percebeu amado leitor(a)? Devido a nossa relação íntima com nossos pais, quase nunca os chamamos pelos seus nomes próprios. O jovem não chamou: “Valdemir Neto, venha aqui”, mas, ao invés disso, ele disse: “Pai”. Se isso ocorre com nossa relação com nossos pais humanos, imaginem a relação, a comunhão entre Jesus e Deus, Pai e Filho! Portanto, compreende-se plenamente porque Jesus ao se dirigir a Deus apenas chamava-O com termos íntimos, e não o nome próprio, pelo menos até onde se tem relato. (Leia João cap. 17 inteiro) A verdade é que Jesus usava uma palavra em aramaico (aba) que significa literalmente “papaizinho”.

Juntando esses três pensamentos, poder-se concluir que existe uma grande probabilidade de Jesus ter usado יְהוָה em seus ensinos diários, mas que, ou não foi preservado nas cópias, ou não foi registrado pelos escritores bíblicos. Não existe ninguém vivo hoje que tenham acompanhado Jesus dia e noite e possa dizer categoricamente: “Jesus nunca chamou Deus de יְהוָה [Javé]” ou “Jesus nunca mencionou YHWH nos seus ensinos”.

Outro exemplo que podemos citar é que muitas obras dizem que יְהוָה é o nome dos Judeus em relação ao pacto com a nação judaica. Em Mateus 26:26-29 o evangelista nos apresenta Cristo iniciando a nova aliança, concluindo um novo “pacto” com o posteriormente chamado “Israel de Deus”. (Gl. 6:12) É inconcebível que, durante toda essa cerimônia, os lábios de Cristo não tenham em nenhum momento dito יְהוָה; principalmente ao fazer menção do significado pascal que eles relembravam, quando Yahweh livrou os israelitas do cativeiro egípcio, e fez com eles um pacto, que envolvia o Nome Divino.

Leve em consideração também a questão sacerdotal. Por meio duma cerimônia de investidura de sete dias, Arão foi investido em seus sagrados deveres por Moisés, como agente de Deus, e seus quatro filhos também foram empossados como subsacerdotes. Moisés vestiu Arão de belas vestes de materiais de ouro, azuis, púrpuras e escarlates, inclusive ombreiras e um peitoral adornado com pedras preciosas de diversas cores. Sobre a cabeça dele foi colocado um turbante de linho fino. Presa a este havia uma lâmina de ouro puro, estando gravadas nela as palavras: “A santidade pertence a Yahweh [יְהוָה].” (Le 8:7-9; Êx 28) Arão foi então ungido da maneira descrita no Salmo 133:2, e depois disso podia ser chamado de mashíahh, ou messias (khristós, LXX), isto é, o “ungido”. — Le 4:5, 16; 6:22.

O livro bíblico de Hebreus salienta que Jesus Cristo, desde a sua ressurreição e entrada no céu, é “sumo sacerdote para sempre à maneira de Melquisedeque”. (He 6:20; 7:17, 21) Como podemos conceber a imagem de Cristo Jesus como Sumo Sacerdote sem fazer uso do Nome Santo? O Sacerdócio estava intimamente conectado ao Tetragrama, assim como o sacerdócio superior de Jesus está. Como podemos desvincular o Tetragrama da atividade de Cristo como Sumo Sacerdote? Impossível!

Para um exame das mudanças judaicas do texto hebraico sobre do Nome Divino, iremos postar a seguir uma matéria complementar à esta. (Cf. Mudanças Feitas Pelos Soferins)