O Partido Helenista em Jerusalém

PALESTINA, CULTURA, GREGA, HELENÍSMO, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
PARTIDO HELENISTA EM JERUSALÉM

Muito antes de Antíoco IV assumir o trono, havia um forte partido helenista entre os judeus da Palestina, cujos líderes podiam ser encontrados principalmente entre a aristocracia rica e sacerdotal que, por sua posição social, desfrutava dos privilégios da corte real e bajulava os favores do rei.

Além disso, todo esse período foi marcado por amarga rivalidade entre duas grandes famílias, a Casa de Tobias e a Casa de Onias, que iriam influenciar profundamente o curso dos eventos nos anos futuros, particularmente em relação ao ofício do Sumo Sacerdócio. Josefo conta como o Sumo Sacerdote Onias II, “um grande amante do dinheiro”, recusou-se a pagar o imposto anual de 20 talentos a Ptolomeu IV (221-203 a.C), depois que José, filho de Tobias, havia sido indicado coletor de impostos de todo o país. José e sua casa tornaram-se extremamente ricos e ganharam uma posição de poder considerável perante a nação. E assim, naquele momento, as duas casas rivais estavam representadas nos dois ofícios mais elevados do Estado.

No tempo de Antíoco, o Grande (223-187 a.C), o controle da Palestina passou dos Ptolomeus para os Selêucidas e em seguida José e seus seguidores transferiram sua submissão àquele monarca, cujo governo estava terrivelmente dependente de dinheiro. Havia, em Jerusalém, homens prontos a levantar ou oferecer dinheiro em troca de posições de poder. Um desses era Simão, da Casa de Tobias, que no reinado de Seleuco IV (187-175 a.C.) encorajou o ministro-chefe do rei a se apoderar do dinheiro sagrado do Templo e então tentou incriminar o Sumo Sacerdote, Onias III. Várias revoltas eclodiram em Jerusalém e Onias III partiu para a corte de Seleuco, a fim de pedir a ajuda do rei para suprimir os distúrbios.

A rixa entre as duas casas rivais chegou a um ponto crítico no reinado de Antíoco IV (175-163 a.C.) que sucedeu a seu irmão Seleuco. Os helenistas em Jerusalém, e em particular no partido aristocrático, que eram abertamente favoráveis à Síria, viram na ascensão de Antíoco uma oportunidade para atingir seus objetivos. O Sumo Sacerdote legítimo, Onias III, cuja lealdade era pró-Egito, era um obstáculo às suas esperanças e assim, durante sua ausência temporária do país, e com a concordância do rei, seu irmão Jesus ou Josué (que mudou seu nome para a forma grega, Jason) foi designado Sumo Sacerdote em seu lugar, em troca de um suborno significativo para o rei (2 Macabeus 4.7-10). Antíoco, sem dúvida, considerou essa indicação como um sábio movimento político. Concedeu permissão para remodelar Jerusalém segundo as linhas helenísticas (I Macabeus 1.11-15); um ginásio foi construído em Jerusalém e muitos judeus se vestiam segundo a moda grega.

Os judeus ortodoxos, e em particular os Hasidim ou os Piedosos (antecessores dos Fariseus), ficaram furiosos com esses acontecimentos e com a expansão da influência helenística em geral. Para eles, a indicação de um Sumo Sacerdote era um ato de Deus, que nada rinha a ver com a aprovação ou desapro¬vação de um rei gentio. O único consolo era que o novo Sumo Sacerdote, Jason, pelo menos era membro do partido ortodoxo. Porém, tal situação seria logo alterada, porque a essa altura, um Menelau, que não era membro da família do Sumo Sacerdote, expulsou Jason do ofício com a ajuda de Tobias e a oferta ao rei de um suborno maior que o oferecido por seu rival (II Mac 4.23 ss)! Os seguidores de Menelau apoiavam abertamente o estilo de vida grego e se colocaram contra o partido ortodoxo. A divisão entre essas duas facções do povo aumentou e a luta irrompeu em Jerusalém entre os partidos helenista e ortodoxo. Encorajados por um rumor de que Antíoco havia morrido em uma campanha no Egito (170-169 a.C), Jason se apressou rumo a Jerusalém e expulsou Menelau (II Macabeus 5.5 ss).

O cenário já estava pronto para o início da luta. O conflito que se seguiria não era simplesmente uma questão de “judeus contra sírios”, mas de “judeus contra judeus”; porque, em oposição ao partido helenista em Jerusalém, a vasta maioria dos judeus nos arredores do país estava alinhada em oposição a qualquer política de helenização. Como o Dr. Oesterley observa: “Durante uma boa parte do segundo século a.C, ‘Jerusalém contra Judá’ descreve corretamente o conflito interno judaico.”

O rumor referente à morte de Antíoco mostrou-se falso e o rei voltou, determinado a fazer que a Palestina se submetesse a sua política declarada de unificar o reino por meio da cultura e da religião helenísticas. Sem dúvida, sua determinação foi fortalecida pelo medo do crescente poder de Roma e da consequente necessidade de consolidar o Império. A expulsão de seu protegido, Menelau, do ofício de Sumo Sacerdote era considerada uma afronta à sua dignidade real, por isso resolveu vingar-se dos judeus. Assim, ele atacou Jerusalém, expulsou Jason e restabeleceu Menelau em seu ofício. Seus soldados ficaram livres e massacraram muitos dentre o povo; o Templo foi profanado e os utensílios sagrados saqueados (I Mac 1.20-28).


Fonte: Between the Testaments: From Malachi to Matthew, de Richard Neitzel Holzapfel.

Veja outros estudos bíblicos relacionados:

Cf. Cultura Grega na Palestina
Cf. Reação Judaica contra o Helenísmo
Cf. Templo Construído por Zorobabel