Livro de Provérbios — Escritor

Escritor do Livro de Provérbios

Escritor do Livro de Provérbios 


O título geral é “Provérbios de Salomão, filho de Davi”. Em diversos pontos do livro, entretanto, ocorrem rubricas que denotam a autoria de diferentes seções. Assim, há seções atribuídas a Salomão em Pv 10.1 e aos “sábios”, em Pv 22.17 e Pv 24.23. Em Pv 25.1 existe uma interessante rubrica: “provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá”; o capítulo 30 é introduzido como: “palavras de Agur, filho de Jaque”; e o capítulo 31 com os seguintes termos: “palavras do rei Lemuel”, ou melhor, de sua mãe.

Os rabinos diziam: “Ezequias e seus homens escreveram Isaías, Provérbios, Cantares e Eclesiastes” (Baba Bathra 15a); em outras palavras, editaram ou publicaram esses livros. No que tange ao livro de Provérbios é duvidoso que essa declaração rabínica esteja baseada em outra coisa além da rubrica de Pv 25.1.

O ceticismo que desde o século 1 tem reduzido ao mínimo o elemento salomônico, atualmente parece estar desaparecendo. Quanto a uma revisão de algum criticismo moderno sobre Provérbios, que faça algum exame pesquisador no mesmo, consultar An Introduction to the Old Testament, de E. J. Young. Anteriormente, a literatura de Sabedoria, como um todo, era geralmente atribuída a uma data pós-exílica. Agora o devido reconhecimento está sendo dado à poesia de Sabedoria, não apenas nos escritos proféticos, mas também nos escritos pré-proféticos (cf. Jz 9.8 e segs.). Por exemplo, escreve W. Baumgartner:

“Portanto, visto que não pode ter surgido simplesmente como sucessor da Lei e da Profecia, em tempos pós-exílicos, uma data tão posterior exige cuidadoso reexame” (The Old Testament and Modern Study, editado por H. H. Rowley, 1951, pág. 211). O resultado desse reexame, por parte de eruditos críticos, tem levado, geralmente falando, a uma conceituação mais séria sobre as rubricas.

Consideremos os autores nomeados nessas rubricas.


I. Salomão

No livro de Provérbios, a sabedoria não é simplesmente intelectual, mas envolve o homem inteiro; e dessa sabedoria Salomão, no zênite de sua fama, e a materialização. Ele amava ao Senhor (1Rs 3.3); ele orou pedindo um coração entendido pala discernir entre o bem e o mal (1Rs 3.9,12); sua sabedoria foi-lhe proporcionada por Deus (1Rs 4.29), e era acompanhada por profunda humildade (1Rs 3.7); foi testada em questões práticas, tais como administração justa (1Rs 3.16-28) e diplomacia (1Rs 5.12). Sua sabedoria tornou-se famosa no oriente (1Rs 4.30 e segs.; Pv 10.1-13); ele compôs provérbios e cânticos (1Rs 4.32) e respondeu “enigmas” (1Rs 10.1); e muito de sua coletânea de fatos foi tirado da natureza (1Rs 4.33).

Consideramos que as coleções em Pv 10-22.13 e 25-29 vieram substancialmente dele. Existem, naturalmente, outros elementos salomônicos em outras porções do livro. Mas mesmo assim, essas coleções podem ser apenas uma seleção inspirada dentre sua sabedoria, pois não existem cerca de 3.000 provérbios em todo o livro de Provérbios (cf. 1Rs 4.32).


II. Os sábios

As nações do oriente antigo tinham os seus “sábios”, cujas funções iam desde a política do estado até a educação. (Quanto ao Egito, cf., por exemplo, Gn 41.8; quanto a Edom, cf. Ob 8). Em Israel, onde era reconhecido que “o temor do Senhor é o princípio da ciência”, os “sábios” também ocupavam uma função mais importante. Jr 18.18 demonstra que, no tempo daquele profeta, os sábios estavam no mesmo nível com o profeta e com o sacerdote como órgão da revelação de Deus. Porém, assim como os verdadeiros profetas tiveram de entrar em luta com profetas e sacerdotes movidos por motivos indignos, semelhantemente, muitos dos “sábios” transigiram em sua função que era de declarar o “conselho de Jeová” (Is 29.14; Jr 8.8-9).

Existem pelo menos duas coleções de “palavras dos sábios” no livro de Provérbios; estas se encontram em Pv 22.17-24.22 e em Pv 24.23-34. Talvez que os capítulos 1-9, que contêm uma exposição do alvo e do conteúdo do “conselho dos sábios”, venham da mesma origem. É virtualmente impossível datar essas coleções. Provavelmente representam a sabedoria destilada de muitos indivíduos que temiam a Deus e viveram dentro de um considerável período de tempo. Porém muito desse material é de data antiga. E. J. Young sugere que pode ser até pré-salomônico (op. cit., pág. 302).


III. Os homens de Ezequias

Por 2Cr 29.25-30 aprendemos que Ezequias providenciou para restaurar a ordem davídica no templo, bem como os instrumentos davídicos e os salmos de Davi e de Asafe. Não há dúvida que um reavivamento de interesse na sabedoria “clássica” de Salomão foi outra conseqüência dessa reforma, um reavivamento motivado, não pelo amor às coisas antiquadas, mas pelo desejo de explorar novamente a sabedoria de alguém que havia amado supremamente a Jeová. E assim, a coleção salomônica dos capítulos 25-29 foi editada e publicada. A. Bentzen (Introduction to the Old Testament, Copenhague, 1949, Vol. II, pág. 173) apresenta a interessante sugestão que essa coleção até aquele tempo tinha sido preservada exclusivamente em forma oral.


IV. Agur, filho de Jaque

Não sabemos quem foi Agur. É possível que devêssemos traduzir a palavra que aparece como “oráculo”, em Pv 30.1, como “de Massa”. Massá era uma tribo árabe que descendia de Abraão por meio de Ismael (Gn 25.14), e as tribos orientais eram famosas por sua sabedoria (1Rs 4.30). Mas isso de modo algum pode ser mantido com certeza.


V. Rei Lemuel

A mãe desse rei aparece como a originária da seção de Pv 31.1-9, mas ela é igualmente uma personagem desconhecida, embora também se possa traduzir como “de Massa” a palavra que aqui surge como “profecia”. Não precisamos supor que ele tenha sido o autor do magnífico poema da Esposa Perfeita (Pv 31.10-31), que forma um apêndice ao livro de Provérbios.