Carta aos Gálatas — Ensino da Carta

ESTUDO BIBLICO, CARTA, EPISTOLA, GALATAS, TEOLOGIA
A transição do Judaísmo para o Cristianismo foi um processo lento para alguns dos primeiros judeus crentes. Houve fariseus que creram (At 15.5), e alguns desses ensinavam que, antes de um gentio poder tornar-se Cristão, era-lhe necessário tornar-se primeiramente judeu, submetendo-se à circuncisão e observando a lei judaica, tanto moral como ritual. Alguns desses crentes judeus mais estritos se tinham apresentado aos crentes da Galácia com esses ensinamentos perturbadores. Os mestres judaizantes seguiam após os passos de Paulo, e isso durante toda a vida do apóstolo. Já em cerca de 62 D. C. encontramo-los a conspirar contra ele, em Roma, pelo que ele foi impelido a escrever, com algo do fogo que incandesce nesta epístola, algumas palavras bem mordazes sobre eles, como também a comparar com eles, como em Gl 6.16, o verdadeiro Israel, que adora pelo Espírito de Deus, que se gloria em Jesus Cristo, e que não confia na carne nem depende de qualquer privilégio externo (Fp 3.2-3). Nesta epístola, Paulo frisa de modo muito agudo a eficácia toda-determinante da fé, conforme fica demonstrado no caso de Abraão, o crente típico (Gl 3.6-9), o qual, conforme o apóstolo diz noutro passo, era crente e assim foi justificado, antes mesmo de haver sido circuncidado (Rm 4.10 e segs.).

A epístola aos Gálatas dá ênfase marcante a dois assuntos, a saber, a cruz e a fé. As grandes palavras de Habacuque: “... o justo viverá pela sua fé...”, são citadas (Gl 3.11). A lei foi um preceptor-escravo que exercia sobre os homens uma férrea disciplina até que Cristo veio, até o raiar da era da fé, na qual, mediante a fé, nos tornamos filhos de Deus (Gl 3.24-4.7). Cristo morreu a fim de redimir-nos da maldição de havermos desobedecido à lei de Deus (Gl 3.13), pelo que todos aqueles que dependem exclusivamente dEle para sua salvação são “justificados”, isto é, aceitos por Deus, o qual lhes proporciona Seu Espírito Santo, derramando nos seus corações o amor filial e uma santa confiança (Gl 3.14; Gl 4.6). Retornar à lei seria recuar para a imaturidade e as restrições da infância espiritual (Gl 4.9). O cerne da mensagem da epístola se encontra em idéias semelhantes a essas, conforme ficará demonstrado na exposição.

A lei foi dada posteriormente em relação à promessa feita a Abraão, e foi dada a fim de intensificar o senso de pecado (Gl 3.15 e segs.); a lei cumpre, por conseguinte, a sua função, quando nos conduz, profundamente convictos de pecado, a gemer sob a maldição da lei desobedecida (Gl 3.10), aos pés de Cristo, em Quem, exclusivamente, há justificação perante Deus. Assim, à semelhança de Paulo, por meio da lei morremos para a lei, como fonte de justificação, a fim de que possamos viver a nova lei no Espírito (Gl 2.19 e segs.). O Espírito Santo, que habita no crente, o trás de volta à lei, como eterno padrão de justiça pessoal, e o capacita a cada vez mais viver de conformidade com esse padrão (ver comentários sobre Gl 5.13-25). Submeter-se à circuncisão realmente significaria um passo retrógrado para os crentes gálatas: significaria retornar à confiança em meras ordenanças carnais, após terem conhecido coisas melhores. Portanto, precisavam lançar fora completamente o jugo da escravidão à lei cerimonial (Gl 5.1), pois, tendo iniciado a vida espiritual no Espírito, convinha que prosseguissem no Espírito, a fim de que possuíssem toda a riqueza espiritual que em Cristo estava entesourada para eles (Gl 3.2-3).