Carta aos Gálatas — Ocasião e Tema
A autenticidade desta epístola nunca foi posta em dúvida pela Igreja primitiva, e o mais extremado e radical criticismo do Novo Testamento a tem considerado como indubitavelmente paulina. Trata-se de uma vindicação apaixonada, vigorosa e intransigente, tanto do Evangelho da graça de Deus como da própria autoridade de Paulo como apóstolo de Cristo, o qual o havia comissionado para anunciar esse Evangelho. A alma de Paulo incandesce ao escrever, visto estar perturbado, até às maiores profundezas de seu ser, pela grave crise que havia surgido nas igrejas da Galácia. Os gálatas, a maioria dos quais eram gentios que tinham escutado a pregação de Paulo e tinham crido em Cristo para sua salvação, haviam agora, entretanto, adotado apressadamente (Gl 1.6) a insidiosa sugestão de certos mestres judaizantes, os quais lhes haviam ensinado que tinham de ser circuncidados e observar a lei judaica. A alma de Paulo recua, horrorizada, perante tal idéia que obscurece a verdade vital da toda-suficiência de Cristo para a salvação; portanto, ele escreveu essa epístola a fim de salvar seus amados convertidos de serem fatalmente desviados da verdade. No dizer de Godet, esta epístola “marca época na história do homem”, visto ser “o documento perenemente precioso de sua emancipação espiritual”.