Arqueologia do antigo Oriente Próximo

TEOLOGIA, ARQUEOLOGIA, ESTUDOS BIBLICOS
A descrição anterior do relevo e do clima no antigo Oriente Próximo e na Palestina baseia-se fortemente na geologia, na geografia e na metereologia. Ao mesmo tempo, até uma descrição tão simplificada chama a atenção ao modo como tanto o relevo como o clima exerciam impacto e moldavam a vida de pessoas antigas, e isso necessariamente faz entrar em jogo nosso conhecimento histórico do antigo Oriente Próximo. Falando estritamente, conhecimento histórico é conhecimento escrito. É possível, entretanto, obter conhecimento da vida humana no passado examinando cuidadosamente restos materiais, de maneira que, de certo modo, os objetos antigos são feitos para contar-nos alguma coisa a respeito dos que os fizeram e utilizaram.

Arqueologia é a recuperação e o estudo sistemático dos restos materiais do passado, dos quais se tiram conclusões sobre a cultura, a sociedade e a história do povo que deixou as relíquias. Objetos arqueologicamente relevantes incluem alicerces, muros, edifícios, estátuas, vasilhas de arte culinária e cerimoniais, ferramentas, armas, jóias e outros adornos, metais, tecido, cerâmica e ossos animais e humanos. Caso tivermos sorte, entre os objetos recuperados haverá materiais escritos ocasionais, que podem variar desde letras grosseiramente rabiscadas e palavras até textos literários extensos. Os objetos materiais, incluindo as inscrições e os textos, precisam ser estudados em relação de um com o outro, ambos nos lugares onde foram achados e em relação com outros objetos aparentados e escritos, a fim de edificar uma grade de conhecimento a respeito da cultura, da sociedade e da história subjacentes. A reconstrução arqueológica é processo lento e trabalhoso, amiúde mal entendido pelo público geral, que apenas ouve falar desta ou daquela descoberta sensacional — já muitas vezes mal interpretada ou que a imprensa popular faz aparecer desproporcionada.

Afortunadamente, possuímos uma riqueza crescente de conhecimento a respeito do antigo Oriente Próximo, riqueza que foi peneirada e correlacionada a partir das escavações arqueológicas. As cidades do antigo Oriente Próximo tendiam a desenvolver-se em níveis sucessivos de ocupação sobre sítios estrategicamente escolhidos, que costumavam ser utilizados novamente muitas vezes, em vez de ficar abandonados, mesmo após a destruição. Os outeiros artificiais (ou tells), construídos um tanto como um bolo de camadas, os quais assinalam as antigas cidades, são escavados em seções horizontais, em geral cortando valas dentro do outeiro a fim de que as camadas fiquem expostas uma acima da outra. As ocupações mais antigas do sítio serão encontradas no fundo do outeiro e as ocupações mais recentes, na parte superior. Os objetos dispostos em camadas são datados em primeiro lugar por uma análise apurada da evolução dos tipos de cerâmica, os quais, por sua vez, são datados em relação aos materiais de inscrições.

Escavações por todo o antigo Oriente Próximo, densamente concentra¬das no Crescente Fértil, revelaram antigas cidades e bibliotecas as quais nos permitem escrever uma história política daqueles tempos com certa medida de precisão e pormenor. A maioria da prova na escrita procede de textos estatais ou dos templos nos arquivos das principais potências do Egito, da Suméria, da Acádia, da antiga Babilônia, da Assíria, do império hitita e da Pérsia. Aqui e acolá, sobreviveram os documentos de estados menores esparramados pelo antigo Oriente Próximo, como de Mari sobre o médio Eufrates e Ugarit no litoral sírio. Documentos análogos sobrevivem dentro da Bíblia Hebraica e aparecem adicionalmente num conjunto de inscrições escritas, a maior parte fragmentárias, da Palestina israelita.

É essencial para o intérprete bíblico estar ciente da série assombrosa de textos do antigo Oriente Próximo, os quais têm relação com a história tanto narrada como pressuposta na Bíblia Hebraica, como também com praticamente o espectro total dos gêneros e tópicos bíblicos. Uma amostra de textos do antigo Oriente Próximo é catalogada abaixo juntamente com livros bíblicos pertinentes (tábua 1; §10.1). Os textos são identificados pelo seu lugar de origem lingüístico e/ou político e são acomodados à paginação das traduções típicas inglesas para pronta referência.

Com esta ligação da literatura bíblica e não-bíblica não se pretende insinuar que exista alguma dependência literária direta necessária de um escrito do outro. Tampouco ela sugere que os textos bíblicos e não-bíblicos se correspondam sempre intimamente em assuntos de conteúdo e de pormenor. Ela visa antes a mostrar ter existido amplo fundo de escritos no mundo mais amplo que utilizaram formas literárias muito parecidas com as formas da literatura bíblica e que se ocuparam com as mesmas ou similares preocupações históricas e temáticas. Pretende-se mostrar com a tábua que Israel não só participava realmente num mundo comum geográfico e histórico, mas também num mundo comum literário e religioso-cultural.