João Batista — Início do Ministério

TEOLOGIA, ESTUDOS BÍBLICO, JOÃO BATISTA
O APARECIMENTO DE JOÃO BATISTA
(Mateus 3:1-6)

O aparecimento de João foi como o ressoar repentino da voz de Deus. Naquela época os judeus eram dolorosamente conscientes de que os profetas já não falavam. Dizia-se que durante quatrocentos anos não tinha havido profeta algum. Ao longo de vários séculos a voz da profecia se manteve calada. Tal como eles mesmos diziam: “Não havia voz, nem quem respondesse.” Mas em João voltou a fazer-se ouvir a voz profética.

Quais eram as características de João e sua mensagem? (1) Denunciava intrepidamente o mal em qualquer lugar que o encontrasse. Se o rei Herodes pecava, contraindo um casamento ilegal e pecaminoso, João o reprovava. Se os saduceus e os fariseus, dirigentes da ortodoxia religiosa daquela época, estavam afundados em um formalismo ritualista, João não duvidava em dizer-lhe diretamente. Se as pessoas comuns viviam afastados de Deus, João o jogava na cara. Em qualquer lugar que João visse o mal no Estado, na Igreja, na multidão intrepidamente, ele o denunciava. Era como uma luz acesa em algum lugar escuro: era como um vento de Deus que varria todo o país.

Conta-se de um famoso jornalista que, apesar de ser famoso, nunca cumpriu a fundo os deveres de sua profissão, diz-se que provavelmente nada conseguia perturbá-lo. Ainda há lugar, na mensagem cristã, para a advertência e a denúncia. “A verdade”, disse Diógenes, “é como a luz nos olhos irritados.” E acrescenta: “Quem nunca ofendeu a ninguém jamais fez bem a ninguém.” Possivelmente tenha havido momentos em que a Igreja foi muito cuidadosa e procurou não ofender. Há ocasiões em que já não há lugar para a suave amabilidade e chega o momento da acerba recriminação.

(2) Convocava os homens à justiça, e o fazia com um profundo sentimento de urgência. A mensagem do João não era uma mera denúncia negativa. Era uma apresentação positiva das exigências morais de Deus. Não somente denunciava a conduta dos homens, pelo que tinham feito, mas sim os convocava a fazer o que deviam fazer. Não somente os condenava pelo que eram, mas sim os desafiava a ser o que deviam ser. Era como uma voz que chamava os homens às coisas mais elevadas. Não se limitava à condenação do mal, mas sim punha diante dos homens o bem. É possível que a Igreja tenha passado por momentos nos quais ficou preocupada principalmente em dizer aos homens quais eram as coisas que não deviam fazer, descuidando sua missão de colocar ante eles os mais altos ideais cristãos.

(3) João vinha de Deus. Sua procedência era o deserto. Achegou-se aos homens só depois de ter passado anos de preparação sob a orientação de Deus. Tal como disse Alexander Maclaren: “João saltou na arena, por assim dizer, plenamente desenvolvido e com a armadura completa.” Veio com uma mensagem de parte de Deus e não com uma opinião pessoal dela. Antes de falar com os homens tinha passado muito tempo em companhia de Deus. O pregador, o docente que fala com voz profética, sempre é aquele que vem à presença dos homens, vindo da presença de Deus.

(4) João apontava para além de si mesmo. Não somente era uma luz que iluminava o mal, uma voz que reprovava o pecado, mas além disso, um sinal indicador do caminho para Deus. Não desejava que os homens se fixassem nele, seu objetivo era prepará-los para Aquele que havia de vir. Uma das crenças judias da época era que Elias voltaria antes da vinda do Messias, e que seria o arauto do Rei que viria. “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR” (Malaquias 4:5). João usava um vestido de pele de camelo e se cingia com um cinturão de couro. Este traje reproduz exatamente o que se descreve como a roupa de Elias em 2 Reis 1:8. Mateus o relaciona com uma profecia de Isaías (Isaías 40:3).

Na antiguidade, no oriente, os caminhos eram muito ruins. Há um antigo provérbio que diz: “Há três estados miseráveis: estar doente, passar fome e viajar.” Antes que um viajante empreendesse seu caminho recebia a recomendação de “pagar todas suas dívidas, fazer provisão para os que dependiam dele, oferecer presentes a seus amigos e parentes no momento da partida, devolver tudo o que tivesse recebido em custódia, levar consigo dinheiro e a melhor disposição para viajar e despedir-se de todos”. Os caminhos mais freqüentados não eram mais que rastros. Não eram caminhos consolidados, porque a terra na Palestina é dura o suficiente para suportar o trânsito de burros e mulas, bois e carretas.

Qualquer viagem por um daqueles caminhos era uma aventura e certamente uma circunstância que na medida do possível devia evitar-se. Havia uns poucos caminhos pavimentados, feitos pelo homem. Josefo, por exemplo, diz-nos que Salomão mandou construir uma vereda de basalto preto em todos os caminhos que levavam a Jerusalém, para que a viagem fosse menos penosa aos peregrinos, e “para manifestar a grandeza de suas riquezas e governo”.

Todos estes caminhos pavimentados, feitos pelo homem, eram construídos por ordem do rei e para uso do rei, e por isso eram chamados de “caminhos reais”. A reparação só era feita quando o rei precisava fazer uma viagem por eles. Antes que chegar, o rei enviava uma mensagem aos habitantes para que preparassem o caminho para o rei.

João estava preparando o caminho para o rei. O pregador e o docente de voz profética não se destaca a si mesmo, mas a Deus. Seu objetivo não é fazer com que seus semelhantes se dêem conta de quão inteligente ele é, mas sim percebam a majestade de Deus. O verdadeiro pregador é o que fica obliterado pela mensagem.

Os homens reconheceram João como um profeta, embora durante muitos anos não se escutou voz profética alguma, porque era uma luz que iluminava as trevas dos homens e punha de manifesto suas más ações, uma voz que convocava os homens à justiça, um sinal que dirigia a atenção dos homens para Deus, e porque descansava sobre ele essa autoridade incontestável que possuem aqueles que vêm falar aos homens vindos da presença de Deus.


Fonte: O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay.