Apóstolo João, Escritor Evangelístico

ESCRITOR, EVANGELHO, JOÃO, LIVRO, TEOLOGIA
Mas, quem era o autor? Esta é uma pergunta complicada e controvertida. O ponto de vista tradicional é que o Evangelho e as cartas foram escritas já em sua idade avançada, em Efeso, pelo apóstolo João, filho de Zebedeu. Esta interpretação remonta a Irineu, bispo de Lyons de 178 até sua morte em 195 d.C., aproximadamente. Irineu alegava ter uma ligação direta com João através de PoIicarpo, o bispo de Esmirna martirizado em 156 d.C. aos oitenta e seis anos de idade. Numa famosa carta conservada por Eusébio, o historiador da igreja, Irineu conta a um amigo como, quando jovem, sentava-se aos pés de PoIicarpo e o ouvia discorrer sobre suas conversações com João e o ensino que recebera diretamente do apóstolo. Podemos bem imaginar Policarpo, com seus vinte anos, ouvindo o apóstolo João, que, por sua vez, devia estar então nos seus oitenta anos, parecendo haver pouca razão para duvidar da alegação de Irineu.

Quando, portanto, Irineu afirma que João, o filho de Zebedeu, escreveu o quarto Evangelho, e que ele era o “discípulo a quem Jesus amava”, o qual se reclinava perto de Jesus na última ceia (13.23), devemos considerar seriamente seu testemunho.

Deve ser dito, entretanto, que somente uns poucos dentre os principais estudiosos do século vinte aceitam esta evidência. Sua relutância deriva do ponto de vista, compartilhado pela maioria dos estudiosos, de que o Evangelho de João não é fundamentalmente uma obra histórica. Ele é, antes, o resultado de um longo processo de desenvolvimento teológico, refletindo, assim, o pensamento de um período tardio travestido na forma de Evangelho.

Uma intepretação recente introduz uma distorção singular nesta visão, argumentando que o Evangelho reflete a história e as experiências, não de Jesus e seus discípulos, mas de uma igreja particular, à qual o evangelista (não João) pertencia. Para reanimar sua igreja esse evangelista escreveu a história de Jesus como se Ele tivesse passado pelas mesmas experiências de rejeição e perseguição que eles sofriam.

Esta falta de respeito pelo Evangelho de João como história resulta de três de suas características que certamente requerem uma explanação:

1. Em muitos aspectos João apresenta uma imagem diferente de Jesus comparado com aquele dos Evangelhos sinópticos. Por exemplo, no Evangelho de João Jesus de modo algum é reticente ao alegar publicamente ser o Filho de Deus (p.ex., 5.19-30).

2. Não há qualquer diferença de estilo entre o ensino de Jesus em João e as próprias palavras do evangelista. Isto indica que o evangelista é responsável pela linguagem dos discursos proferidos por Jesus.

3. O Evangelho é belamente construído. Os estudiosos concordam que ele é uma obra-prima literária. Muitos, porém, consideram que um autor que dedicou tanto cuidado à estrutura e composição de sua obra devia preocupar-se em narrar a história.

Tomados em conjunto, estes três pontos são sustentados por uma maioria de estudiosos, o que torna improvável que o Evangelho tenha sido escrito por uma testemunha ocular do ministério de Jesus. E, como conseqüência, a atribuição de sua feitura a João, filho de Zebedeu, pelos pais da igreja do primeiro século é rejeitada.

Entretanto, devemos questionar seriamente este consenso dos estudiosos.


FONTE: Homens com uma mensagem - John Stott