João e os Evangelhos Sinóticos

João e os Evangelhos Sinóticos


João e os Evangelhos Sinóticos

As incontestáveis diferenças entre o Evangelho de João e os sinópticos não significam necessariamente que João é historicamente falível. Estas diferenças foram notadas na igreja dos primeiros séculos e constituem a razão do comentário de Clemente de Alexandria (200 d.C., aproximadamente) de que “por fim, sabendo que os fatos ‘materiais’ estavam esclarecidos nos outros Evangelhos, compôs um Evangelho ‘espiritual’, incentivado por outros discípulos e inspirado pelo Espírito”.

A referência de Clemente sobre o Evangelho de João como sendo “espiritual” tem sido mencionada freqüentemente em apoio ao fato de que João não teve interesse na história. Nada, porém, está tão distante da verdade. De acordo com Clemente, João estava preocupado em transmitir a essência interior de Jesus Cristo, o “espírito” dentro do “corpo”, e, desta forma, prover um relato que pudesse pretender ser tão historicamente confiável como os sinópticos.

Além disso, são dignos de observação os muitos pontos em que a narrativa de João suplementa a dos sinópticos. Estes pontos foram expostos e discutidos num famoso ensaio do Dr. Leon Morris (ver no fim deste capítulo Leitura Adicional). E bem possível que João estivesse deliberadamente utilizando tradições e lembranças que não tinham sido utilizadas na tradição dos sinópticos.

Em vários aspectos João elabora o retrato que eles pintam. Por exemplo, enfatizando a discrição de Jesus em proclamar-se publicamente como “o Cristo”, os sinópticos podiam levantar a acusação de que as pessoas dificilmente poderiam ser censuradas por não crerem nele. Porém João torna evidente que o impedimento para a fé não estava no lado de Jesus. Vista de um ângulo diferente, sua autoproclamação era clara como cristal, e, portanto, a responsabilidade cabe totalmente a nós, se nos recusarmos a crer.


FONTE: Homens com uma mensagem - John Stott