Unidade e Diversidade na Revelação Bíblica

REVELAÇÃO, UNIDADE, DIVERSIDADE, ESTUDOS BÍBLICOS, TEOLOGIA
Uma vez que a teologia bíblica descreve os atos divinos na história redentora, devemos esperar uma progressão na revelação. Os vários estágios da interpretação profética da história da redenção são igualmente inspirados e fontes de autoridade, mas eles incorporam graus diferentes na apreensão dos significados envolvidos. A interpretação que o Antigo Testamento apresenta da redenção divina fornece os esboços e os traços mais amplos da consumação do propósito supremo de Deus. Alguns estudantes dão muita ênfase ao fato de que os profetas tiveram pouco ou nada a dizer explicitamente sobre a era da Igreja. No entanto, a perspectiva, a partir da qual Deus garantiu aos profetas verem os grandes eventos redentores, foi a do seu próprio ambiente - a história da nação de Israel. É bom que se mencione também que alguns estudantes fazem uma nítida distinção entre o “Evangelho do Reino” proclamado por Jesus e o “Evangelho da graça” pregado por Paulo, como se fossem diferentes. Entretanto, o Evangelho do Reino é essencialmente o mesmo que o Evangelho da graça; as aparentes diferenças devem-se às perspectivas distintas ao longo da linha da história redentora.

Deveria ser óbvio que, se o nosso Senhor experimentasse grande dificuldade em convencer seus discípulos de que a morte messiânica era um fato dentro do escopo do propósito divino (Mt. 16:21-23), dificilmente poderia instruí-los a respeito da importância dessa morte em termos de graça e redenção. Era inevitável que o Evangelho, as boas-novas da redenção, fosse previamente descrito pelos profetas em termos diferentes daqueles usados pelos apóstolos, depois que o evento da morte e ressurreição messiânica já havia se tornado uma parte da história da redenção.

Pela mesma razão, devemos esperar a diversidade dentro de uma unidade básica; e, de fato, é isto o que encontramos. Na geração passada, era costumeiro alguns estudiosos verificarem uma diversidade tão radical na teologia bíblica, a ponto de destruir qualquer unidade real que porventura existisse. Contudo, a crítica mais recente dá maior reconhecimento à unidade fundamenta1. (Dodd, The Apostolic Preaching (1936); H. H. Rowley, The Unity of the Bible (1955)) De fato, A.M. Hunter exagera ao expressar o desejo de que todos os futuros livros de estudo no campo da teologia do Novo Testamento sejam escritos do ponto de vista sintético, e não analítico. (A. M. Hunter, The Message of the NT (1944), 121) Sentimos, entretanto, que esta abordagem sintética, que é adotada por Richardson, Filson, Stauffer e até mesmo por F.C. Grant, ignora o importante fato do desenvolvimento histórico dentro do Novo Testamento. Há uma grande riqueza na variedade encontrada na teologia do Novo Testamento, que não deve ser sacrificada.

Os ensinamentos do Reino de Deus nos Evangelhos Sinópticos, da vida eterna em João, da justificação e da vida em Cristo nos ensinos de Paulo, do Sumo Sacerdote divino em Hebreus, e do Cordeiro que é um vencedor, o Leão e o Filho do Homem no Apocalipse, são modos diferentes de descrever vários aspectos e profundidades de significado incorporados no único e grande evento redentor da pessoa e obra de Jesus Cristo. Há uma grande perda quando esta variedade não é reconhecida. Nosso procedimento, portanto, não será o de um tratamento monocromático dos vários temas ligados à redenção, mas procurará demonstrar o desenvolvimento, o progresso e a diversidade de significados que estão incorporados nos eventos redentores da teologia do Novo Testamento.

Para maiores detalhes sobre este assunto veja o trabalho de David Wenham no final deste livro (Capítulo 46).


FONTE: Teologia do Novo Testamento - Ladd, George Eldon.