Evangelho de João — Outras Fontes

Outras Fontes do Evangelho de João

Outras Fontes do Evangelho de João


Assim como a crítica da forma tentou isolar blocos de tradição oral (denominadas pericopae; sing. perícope) nos Sinópticos, da mesma forma houve tentativas de se fazer isto no quarto Evangelho. Alguns estudiosos insistiram que muitas seções de João estão fora de ordem, no tocante ao ministério de Jesus, e houve tentativas de se corrigir esses deslocamentos. A história de Jesus e a mulher adúltera (João 7:53-8:11) é largamente reconhecida como um excelente exemplo de uma perícope flutuante. Certamente não é uma parte original do texto joanino (está ausente na maioria dos manuscritos gregos antigos), mas serve como uma ilustração de segmento de tradição, formado distinta e caracteristicamente, que, de alguma maneira, foi preservado e encontrou seu caminho posteriormente no texto. Outras três seções, cuja formação pericopada é estabelecida devido ao fato de serem encontradas em todos os quatro Evangelhos, são: a purificação do templo (2:13-22), a alimentação da multidão (6:1-15) e a entrada em Jerusalém (12:12-19). Há várias diferenças nestes paralelos, mas substancialmente, como forma, são iguais. Cada um é uma perícope distinta, de tradição, que pode ser contada inteligentemente, independente de seu contexto.

Estas seções de João não diferem, de nenhuma maneira, na forma, de outras partes do quarto Evangelho. Existe evidente formação pericopada, por exemplo, em seções como as bodas em Caná (2:1-11), a cura do homem paralítico (5:1-15) e a pergunta dos gregos (12:20-36). Nenhuma destas é encontrada nos Sinópticos; portanto, devem ser provenientes de uma corrente de tradição distinta da tradição sinóptica. Dana sugeriu que, em João 1:19-4:54, há dez perícopes a serem encontradas; cinco perícopes narrativas em 5:1-10:39; quatro perícopes distintas em 10:40-13:30, moldadas em uma história contínua; o material de discurso derivado de perícopes acerca da Última Ceia, em 13:31-17:26; e a seção inteira acerca da paixão e ressurreição são formas pericopadas (18:1-20: 29). O último capítulo é uma perícope acrescentada como um epílogo, com alguns elementos de redação (21:24).

Seja qual for a conclusão quanto à formação das perícopes, deve ser observado que os manuscritos mais antigos preservam a mesma ordem encontrada nos manuscritos posteriores (a única exceção é o caso da mulher adúltera, em João 7:53-8:11). Também se observa que é mais fácil localizar-se o material sinóptico dentro da moldura cronológica do quarto Evangelho do que ao contrário. O único problema real parece ser a perícope acerca da purificação do templo. João coloca esta no início do ministério de Jesus e os Sinópticos a colocam no final. Esta localização anterior, em João, ajudaria na explicação da oposição a Jesus logo no início, oposição esta que aparece tanto nos Sinópticos quanto em João. Isto não quer dizer que ela (a purificação) não poderia ter ocorrido mais de uma vez. Isto poderia ter acontecido com uma diferença de tempo de pelo menos dois anos entre cada ocasião.

Outra maneira de tratar o problema das fontes é ver no “Livro dos Sinais” (2:1-12:50) um forte elemento judaico. Isto tem sido frequentemente referido como a Tradição Palestínica em contraste com a Tradição Sinóptica). Esta divisão seria de grande interesse para o leitor judeu. O discurso no cenáculo (13:1-17:26) mostra muito pouco interesse nos judeus como tais. Estes capítulos apresentam um discurso, que é mais pessoal do que institucional, e o elemento místico apelaria a leitor não-judeu. A narrativa da paixão, naturalmente, forma o verdadeiro coração da pregação cristã. Foi sugerido que este material foi compilado antes de 70 d.C, para formar os elementos básicos de um evangelho primitivo, ao qual o redator final se refere como aquelas coisas escritas pelo “discípulo a quem Jesus amava”. O redator então acrescentou três fontes menores: o prólogo (1:1-18), material acerca do Batista (1:19-51), e o apêndice (21:1-25).

A crítica literária chegou à conclusão que, enquanto se torna duvidosa a identificação clara das fontes, produz-se alguma evidência de que o autor realmente usou fontes. Parece que se o autor realmente se valeu de fontes, ele próprio as escreveu. O evangelista extraiu de fontes orais independentes e originais que não estão, na maior parte, ligadas às fontes dos Sinópticos. Há grande evidência em favor do ambiente palestino para esta tradição, e, mais uma vez, podemos voltar à crença de que João, o filho de Zebedeu, um dos doze, está por trás do Evangelho escrito.