Hebraico Bíblico — Qualidades e Características

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O hebraico é uma língua muito expressiva, prestando-se à descrição vívida de acontecimentos. Suas sentenças curtas e suas conjunções simples contribuem movimento e um fluxo de idéias. A poesia hebraica, que acrescenta a estas qualidades paralelismo e ritmo, é notavelmente expressiva e comovente.

O hebraico é rico em metáforas. “Beira do mar”, em Gênesis 22:17, no hebraico, é literalmente “lábio do mar”. Outras expressões são “face da terra”, “cabeça” dum monte, “boca da caverna”, e expressões metafóricas similares. Que este uso de termos humanos de modo algum indica alguma crença animística pode ser observado na leitura das próprias Escrituras, porque se mostra o maior desprezo para com aqueles que adoravam árvores e outros objetos. — Veja Is 44:14-17; Je 10:3-8; Hab 2:19.

O vocabulário hebraico compõe-se de palavras concretas, palavras que envolvem os sentidos da visão, da audição, do tato, do paladar e do olfato. Deste modo, pintam quadros mentais para o ouvinte ou o leitor. Por causa desta qualidade concreta, alguns peritos dizem que o hebraico carece de termos abstratos. No entanto, no hebraico bíblico há definitivamente alguns substantivos abstratos. Por exemplo, o substantivo mahhashaváh (derivado da raiz hhasháv, que significa “pensar”), é traduzido por termos abstratos tais como “pensamento, desígnio, invenção, ardil”. Batáhh (verbo que significa “confiar”) é a base do substantivo bétahh (segurança). Não obstante, por via de regra, idéias abstratas são expressas por substantivos concretos. Considere o verbo radical kavédh, que significa, basicamente, “ser pesado”, ou “ser intenso” (como em 1Sa 4:18 e Jz 20:34). Em Ezequiel 27:25, este mesmo verbo é traduzido ‘ficar glorioso’, isto é, literalmente, ‘ficar pesado’. De modo correspondente, deste radical deriva o substantivo kavédh, que se refere ao fígado, um dos órgãos internos mais pesados, e o substantivo kavóhdh, que significa “glória”. (Le 3:4; Is 66:12) Derivar assim o abstrato do concreto é adicionalmente ilustrado por yadh, que significa “mão”, e também “cuidado”, “meio” ou “direção” (Êx 2:19; Gên 42:37; Êx 35:29; 38:21); ʼaf refere-se tanto a “narina” como a “ira” (Gên 24:47; 27:45); zeróhaʽ, “braço”, também transmite o conceito abstrato de “força” (Jó 22:8, 9).

Na realidade, esta mesma qualidade concreta faz com que o AT se preste tão bem para a tradução, porque o sentido dos termos em geral é de uma qualidade universal, significando o mesmo virtualmente em qualquer idioma. Ainda assim, é um desafio para o tradutor reproduzir em outro idioma o peculiar encanto, simplicidade, maneira de expressão e vigor do hebraico, especialmente nas suas formas verbais.

O hebraico é notável pela sua brevidade, sendo que a sua estrutura permite tal concisão. Em comparação, o aramaico, a mais próxima ao hebraico dentre as línguas semíticas, é mais ponderoso, perifrástico e verboso. Na tradução, frequentemente é necessário usar palavras auxiliares para expressar a forma vívida, a qualidade pitoresca e a ação dramática do verbo hebraico. Embora isso diminua um pouco a brevidade, transmite mais plenamente a beleza e a exatidão do texto hebraico.