O Epicurismo — Mundo do Novo Testamento
O Epicurismo — Mundo do Novo Testamento
A designação de Epicurismo vem de Epícuro, filho de um ateniense. Estudou em Atenas e fundou a sua escola filosófica em volta de 306 a. C. Os seus ensinos foram melhor expostos nas obras do seu discípulo Lucrécio, filósofo materialista romano e poeta do século pré-cristão. O mundo, ensina ele, começou com urna chuva de átomos; alguns deles, por mero acaso, movimentando-se um pouco obliquamente, colidiram uns com os outros. Estas colisões produziram outras colisões, até que, por fim, esse movimento continuado deu origem ao presente universo. A cosmologia do Epicurismo é semelhante à da moderna evolução materialista.
Em um tal mundo de acaso, não pode haver nem propósito nem desígnio. Não podia haver, por consequência, nenhum bem. final ou absoluto. O bem mais elevado possível, dizia Epícuro, era o prazer que ele definia como a ausência do sofrimento.
Contrariamente à concepção popular do Epicurismo, tanto a daquele tempo como a de hoje, tal sistema não advoga a sensualidade, mas insistia até, pelo contrário, na escolha daqueles prazeres que dessem a mais duradoura e mais profunda satisfação ao indivíduo. Se o abster-se de alguns desejos trouxesse maior satisfação fundamental do que a realização dos próprios desejos, recomendava então a abstinência. O Epicurismo não advogava a libertinagem, mas não proporcionava resistência ao egoísmo.
O Epicurismo era essencialmente anti-religioso. Se o mundo teve a sua origem na matéria e por acaso, então não era necessária a existência de um poder criador. Se é o acaso que domina o resultado dos assuntos cósmicos, então não há lugar para uma Mente com um fim em vista, uma Mente diretiva. Os epicuristas falavam, não há dúvida, dos deuses, e não negavam categoricamente a sua existência; mas os deuses, como eles os pintavam, fechados num asilo de felicidade, gozavam o intercâmbio social uns com os outros e não tinham interesse nos fúteis problemas dos homens. O Epicurismo, na melhor das suas expressões, era deísta e, na prática, era ateu, pois um deus inacessível ou desinteressado dos problemas humanos podia, igualmente, não ter existência real.
Como filosofia, era o Epicurismo muito popular, porque não se engolfava em grandes raciocínios abstratos. Apelava mais para as reflexões de caráter emocional, dado que apresentava uma justificação filosófica para se fazer o que a maior parte do povo faz, de qualquer modo — apresentar o prazer como o principal objetivo da vida. Punha inteiramente de parte toda a ideia de pecado, ou de responsabilidade num juízo final, pois não proclamava nem propósito nem fim para o atual processo do mundo. Não reconhecia a existência de imortalidade, pois um corpo composto semente de átomos não sobrevive à vida presente. Considerando os princípios fundamentais do Epicurismo, não admira que os atenienses se rissem do discurso de Paulo no Areópago, quando ele pregou “Jesus e a ressurreição” (At 17:18-32).