Parábola do Construtor da Torre (Lc 14:25-30)

PARÁBOLAS, CONSTRUTOR, TORRE, LUCAS, SIGNIFICADOO cenário dessa breve, porém, notável parábola, é encontrado no ensinamento de nosso Senhor sobre o renunciar a si mesmo como condição indispensável para ser o seu discípulo. Todos os que participam de sua Ceia (Lc 14:24) devem considerar o custo de estar em comunhão plena com ele. A exigência de entregarmos o coração completamente está aqui numa forma mais forte do que estava num apelo semelhante que fora feito anteriormente (Mt 10:37-39), e aqui é dirigida não apenas aos seus discípulos, mas à grande multidão de seguidores ansiosos, porém indecisos. O momento dele carregar a sua própria cruz tornava-se a cada dia "mais nítido e terrível, à medida que se aproximava"; por isso, o seu apelo a todos os que desejavam segui-lo, a fim de dizer-lhes que deveriam carregar a cruz deles mesmos, adquiria um significado mais profundo.

Na realidade as três parábolas e a exortação encontrada nos versículos 25-35 estão ligadas e formam um todo. H. T. Sell diz o seguinte: "Seguem em seqüência e ordem naturais, e são encaixadas umas às outras com rara arte e habilidade precisa". Através de todo esse texto, temos a mesma lição enfatizada, ou seja, a natureza e a influência do verdadeiro discipulado. É por isso que temos por três vezes a declaração com autoridade: "Não pode ser meu discípulo" (Lc 14:26,27,33). A exigência que Cristo faz é muito abrangente. Os que querem segui-lo, por onde quer que ele vá, devem estar preparados para aborrecer, ou amar menos, "pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria vida". A lealdade ao nosso Senhor precisa estar acima da que é baseada no amor terreno, por mais alta, refinada e nobre que seja. O amor a todas as coisas, e até a si próprio e à vida, tem de estar subordinado ao nosso amor por ele, que deve ocupar o primeiro lugar em nossas vidas.

Para reforçar a sua exigência, Cristo transmitiu duas parábolas bem contundentes sobre a construção e a batalha. Campbell Morgan compara, contrasta e desenvolve a idéia de que a construção de uma torre é um trabalho construtivo; no entanto, lutar numa batalha é um trabalho destrutivo. Quando separamos as duas parábolas uma da outra, entendermos o significado simbólico do construtor da torre. Se você for um pregador do evangelho, assegure-se de ler o sermão com toque de mestre que C. H. Spurgeon transmitiu sobre essa parábola, no qual ele trata até certo ponto desses três pontos principais:

1. A verdadeira religião custa caro;
2. A sabedoria sugere que, antes de entrarmos na religião, devemos avaliar o custo;
3. Não importa o custo, pois vale o preço.

Em sua introdução a esse sermão sobre Counting the cost [Avaliando o custo], esse famoso pregador do evangelho, ao discutir o processo de seleção do nosso Senhor, diz: "O Mestre era sábio demais para se sentir orgulhoso sobre o número de seus convertidos; ele se preocupava mais com a qualidade do que com a quantidade. Ele sentia grande alegria por um pecador que se arrependia; porém dez mil pecadores, os quais somente o faziam da boca para fora, não lhe dariam nenhum tipo de alegria. O seu coração ansiava pelo que era verdadeiro, e ele tinha aversão ao falso; ele pulsava pelo conteúdo real, e não se satisfazia com a sombra".

Em virtude do seu conhecimento dos assuntos locais, é bem possível que Cristo tenha transmitido a Parábola da torre, a partir de um fato recente. Provavelmente Pilatos tinha começado a construir um aqueduto, ou algum tipo de torre, mas não teve condições de terminar. Esse governante talvez não tenha avaliado o custo e também não pôde usar o dinheiro do tesouro do templo, e assim contemplou a diluição de seus recursos, e o projeto de construção foi abandonado. Essa insensatez tem acontecido muitas vezes com os que não tiveram a sabedoria de calcular tudo o que seria necessário para terminar um projeto. A história aponta para muitas torres inacabadas, monumentos surpreendentes à loucura de não fazer a necessária preparação com antecedência.

Não é difícil de achar a aplicação da parábola. Uma vida inacabada é um espetáculo mais trágico do que um alicerce de cimento exposto ao léu. Há muitos que são como o personagem do livro "O Peregrino", de John Bunyan, o qual voltou atrás e, como o construtor na parábola que não calculou o custo antes de iniciar os alicerces, foi depois ridicularizado por sua falha vergonhosa. Paulo repreendeu os gaiatas, pois tinham começado no Espírito e terminado na carne. "Corríeis bem. Quem vos impediu de obedecer à verdade?" O resultado de falhar no cálculo adequado do custo de seguir a Cristo, é uma vida inacabada.

O que nada custa também não tem valor algum. O discipulado, para o qual Cristo nos chama, significa uma vida em que as exigências de Jesus devem ocupar o primeiro lugar. Se ele não for o Senhor de tudo, então ele não é Senhor de nada. Mas se calcularmos o custo de uma rendição total às suas exigências como Rei, contaremos também com a graça, o auxílio e o alívio que precisarmos, por completamente nos identificarmos com ele. No meio de todo esse alto preço da devoção à vontade e ao propósito divinos, Jesus nos deixou um exemplo para que sigamos os seus passos. Cristo nunca pede de nós algo que ele próprio não tenha feito. Ele tem todo o direito de pedir-nos que deixemos o nosso pai —ele deixou o seu e a sua casa, quando veio do céu à terra. A sua mãe terrena, Maria, estava em segundo lugar para ele. Jesus a reprovou quando fez a pergunta: "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" Ele conhecia tudo sobre a vergonha, o desprezo, a humilhação e a angústia que estão associados a uma vida vivida na vontade de Deus.

Por que ele deixou a morada de seu Pai? Para construir a torre de sua Igreja, cujos planos foram traçados desde a eternidade. Mas, tanto o Pai como o Filho calcularam o custo da construção de tal torre, a qual as portas do inferno não puderam destruir. O preço gigantesco foi a humilhação voluntária e a morte redentora do Filho. Tal preço foi estabelecido antes de Jesus assumir sobre si mesmo a semelhança de nossa carne, porque, quando ele veio, foi como o Cordeiro morto antes da fundação do mundo. Portanto, sobre o caminho do verdadeiro discipulado, podemos ver as marcas de seu sangue, que nos chama para que O sigamos como ele seguiu o Pai. E, quanto a completar a obra, Jesus é nosso Exemplo. Ele sabia tudo sobre a tarefa para a qual foi enviado a realizar no mundo e, apesar dos demônios e dos homens, ele a cumpriu. Foi grande o seu triunfo quando ele pôde clamar com grande voz: "Está consumado!", e orar ao Pai: "Concluindo a obra que me deste para fazer" (Jo 17:4).