Parábola do Pão da Vida — João 6:35-38

João 6:35-38 e a Parábola do Pão da Vida

Biblioteca Bíblica

VIDA, PÃO, PARÁBOLA, ESTUDO BIBLICOQuando comparamos o ensino de nosso Senhor aqui ao de sua conversa com a samaritana, descobrimos que um pensamento semelhante foi expresso. A mulher veio para tirar água, e o Senhor ofereceu a ela a si mesmo como uma fonte de água viva. Na narrativa que examinaremos, as pessoas desejavam pão, e ele ofereceu a si mesmo como o Pão da Vida que desceu dos céus. Esse capítulo como um todo pode ser adequadamente intitulado de "O Capítulo do Pão", termo que ocorre aproximadamente vinte e uma vezes, e a ilustração parabólica de Cristo para o pão está cheia de instrução espiritual.

Um dia antes do seu discurso, Cristo havia alimentado sobrenaturalmente os famintos com o pão real, literal, como se menciona no livro All miracles of the Bible [Todos os milagres da Bíblia]. Mas a quantidade multiplicada, a partir dos cinco pãezinhos do menino, não foi suficiente para outro dia de necessidade. Por isso o povo voltou ao Senhor, na esperança de que ele fizesse outra manifestação do seu poder para satisfazer a sua fome. Eles pensavam apenas no material, pois eram ignorantes da satisfação espiritual que o milagre da multiplicação dos pães deveria significar. Tudo o que as pessoas queriam era encher seus estômagos. Eles buscavam e trabalhavam pelo pão que perecia. Jesus veio para dar-lhes o Pão que poderia supri-los com a vida eterna, tal qual ele tinha dado à mulher, uma fonte geradora de vida que eliminara a sua sede espiritual. O tema central sobre o qual se desenvolve o ensino do Senhor acerca do Pão vivo, encontra-se em suas palavras: "Quem de mim se alimenta, viverá por mim" (Jo 6:57). Após anunciar que era o "Pão da Vida", ele aprofundou cada vez mais o nível de suas revelações. "Este pão é a minha carne que eu darei pela vida do mundo" (Jo 6:51-53).

As três maiores necessidades de nossa vida material são: ar, água, e alimento. O homem pode viver apenas alguns minutos sem ar, somente uma semana sem água e cerca de quarenta dias sem alimento. No evangelho de João, Jesus promete satisfazer as três necessidades da vida espiritual.

No terceiro capítulo, ele falou do fôlego ou vento do Espírito Santo, sem o qual o homem não pode ter vida espiritual e eterna.

No quarto capítulo, falou à mulher sobre a água viva por meio da qual ela poderia viver para sempre.

Nesse sexto capítulo, ele se apresenta como o alimento essencial à vida presente e futura. A mais profunda fome do homem é espiritual, e Jesus Cristo é o único capaz de saciá-la. Por ser o Pão, ele satisfaz a nossa profunda fome, pois veio como o pão de Deus ou o Pão que é Deus. Como homem, ele conhecia todas as necessidades humanas; como Deus, ele é apto a satisfazer a cada uma delas. Não foi realmente apropriado que Jesus nascesse em Belém, que significa "casa do pão"? Ele nasceu para ser o "Pão de Deus" (Jo 6:32, 33), "o Pão da Vida" (Jo 6:35,48), "o Pão do céu" (Jo 6:50,51,58). Não revelam essas designações a sua antigüidade, capacidade e autoridade? Por ser a "Vida" (Jo 14:6), ele pode conceder e sustentar a vida. Mais profunda que quaisquer outras necessidades está a fome espiritual do homem, que só Cristo pode satisfazer, e que, quando ele satisfaz, conseqüentemente atende às menores necessidades.

No Oriente, o pão, como entendemos o termo, feito com farinha, era o principal e mais básico alimento do povo, a sua fonte geral de sustento. Quando Deus disse a Adão: "Do suor do teu rosto comerás o teu pão" (Gn 3:19), a palavra pão não significa somente o alimento feito de cevada ou trigo, mas a comida em geral. No pensamento oriental, o pão sempre é sinônimo de hospitalidade e de comunhão. Reunidos, amigos partiam o pão uns com os outros como sinal de unidade e comunhão. Nosso corpo físico precisa de alimentação adequada e nutritiva. O pão comum não pode produzir ou gerar vida material. Pode, entretanto, se perfeitamente digerido, gerar energia e força, a fim de nos capacitar para a caminhada e tarefas diárias. Cristo se oferece como Alimento vivificante, e somente se nos apropriarmos e assimilarmos o que ele é em si mesmo, seremos vitalizados ou avivados.

O pão não gera a vida, mas contém o gérmen da vida, tão necessário para a manutenção do nosso bem-estar físico e da nossa vitalidade. Augustamente, Jesus declarou ser "O Pão da Vida", "O Pão Vivo". Diferentemente do pão natural, ele é capaz de não apenas suprir nossa vida como sustentá-la. Aqueles maravilhosos oito Eu Sou, de Jesus, contêm reivindicações significativas. O grande nome de Deus revelado a Moisés na Sarça é reafirmado majestosamente nesses Eu Sou —"Eu sou o que Sou". Quando Jesus disse: "Eu sou o Pão da vida," queria dizer que era capaz de transmitir vida e dar continuidade a ela. Ele não disse: "Assim como o Pai tem vida em si mesmo, ele concedeu ao Filho ter vida em si mesmo?" Portanto, ele trouxe consigo essa vida infinita e para sempre abençoada, do Eterno. Ele veio como o Pão que desceu dos céus, para que o homem por meio dele pudesse subir aos céus.

O maná, que ele usa nessa narrativa como ilustração parabólica de si mesmo, apesar de milagroso em sua origem, ainda assim era um alimento natural. Mas Jesus veio como o "verdadeiro Maná" —verdadeiro, no sentido de que aquele maná cessou. Jesus era e é milagroso, tanto em sua origem como em sua natureza, sendo, portanto, Todo-Poderoso para nos conceder a vida. Como o pão que comemos contém em si muitos dos elementos necessários à nutrição, da mesma forma em Cristo temos tudo o que é necessário para a nossa vida espiritual e eterna.

“Pão do céu, Pão do céu, Alimentai-me até que eu não mais queira.”

Mas o que é o pão que diariamente comemos? Não é trigo moído? Diz o profeta: "O trigo deve ser moído para se fazer pão" (Is 28:28), o que nos lembra que nosso sustento espiritual vem em conseqüência de seu sofrimento. No Calvário, o Pão do céu foi moído e quebrado por nossa iniqüidade. Agora temos vida por sua morte.

Pão do mundo, em misericórdia quebrado; Vinho da alma, em misericórdia derramado."

O pão, contudo, é nutritivo e sustentador somente se for assimilado e apropriado. É por isso que Jesus prosseguiu em suas declarações, que a igreja Romana erroneamente interpreta, sobre o comer a sua carne e beber o seu sangue. Sua "presença real" não está na assim chamada "missa", mas no coração dos que foram tocados pelo seu Espírito. O uso que nosso Senhor deu à ilustração parabólica da "carne" e do "sangue" deve ser entendido no sentido espiritual (6:55,57; Jr 15:26; Ez 2:8;3:4; Ap 10:6,). Em sua encarnação, ele se tornou carne; e, no Calvário, seu sangue, ou vida, foi liberado por meio da morte. Portanto, comer a sua carne e beber o seu sangue representa a nossa apropriação, pela fé, de tudo o que a sua vida e morte tornou possível. Os israelitas porventura não comeram a carne espiritual? (ICo 10:3,4). Quando Cristo entra no coração do pecado entranha-se em sua vida; ele se torna a fonte de vigor e vitória, de energia e expansão, de força e sustento. Ao "comer" dele, temos vida para sempre (Jo 6:51).

O lado prático dessa parábola jamais deve ser esquecido. Jesus, como o Pão de Deus, não nos satisfaz simplesmente para nosso próprio alívio pessoal. Uma vez que ele se torna nossa vida, deseja alimentar outros corações famintos por meio de nossas vidas e de nossos lábios. "Dai-lhes de comer". O pão que Jesus partiu para as multidões foi passado pela mãos dos discípulos, que, portanto, tiveram uma parte em sua gloriosa tarefa. Devemos nos envergonhar, se nos contentamos em ban-quetear nossas almas nele e negligenciamos ao clamor de milhares que morrem por causa da fome espiritual. Não devemos nos atrever a nos satisfazer, e deixar os outros sem uma migalha sequer. Uma vez salvos, devemos nos tornar canais de salvação para os outros. A força que vem quando nos alimentamos dele deve ser usada a seu serviço para nos guiar aos que espiritualmente morrem de fome por falta do Pão de Deus que desceu do céu, para que também muitos possam ser feitos participantes de sua natureza.