Comentário de Jeremias 52

Comentário de Jeremias 52
de F. Hitzig (1995)





Introdução
Comentário de Jeremias 52
O capítulo final de Jeremias é como uma repetição de 2Reis 24:18-20 e 25:1-21,25-30. Relata o estado de sítio e a captura de Jerusalém, a prisão do rei Zedequias e a reabilitação de Joaquim. Muitos comentaristas consideram esse capítulo uma adição ao livro, com o propósito de mostrar que as profecias de Jeremias se cumpriram. Jerusalém foi tomada e queimada, como Jeremias anunciou. O rei Zedequias foi preso, e seus filhos foram mortos, como Jeremias profetizou. A reabilitação de Joaquim pode ser vista como resultado da restauração de Israel e de Judá, também preditas pelo profeta.

52:1-11 O destino de Zedequias
Zedequias foi conduzido ao trono de Judá por Nabucodonosor para substituir Joaquim, a quem havia deportado (2Rs 24:17). O nome de sua mãe era Hamutal (2Rs 23:31). Seu avô por parte de mãe tinha o mesmo nome de Jeremias (52:1). Seu reinado recebe uma avaliação negativa do autor, o qual afirma que suas ações lembravam as de Jeoaquim (52:2). Esse tipo de avaliação, negativa ou positiva, do reinado de uma autoridade é comum em Reis e Crônicas (lRs 15:11,26,34; 16:25,30; 22:53; 2Rs 3:2; 8:18,27; 24:19; 2Cr 14:2; 22:4; 24:2; 25:2; 36:12-13).
Os muitos pecados do povo de Judá e de Jerusalém acenderam a há do Senhor (52:3), e isso resultou em calamidade para eles. O ato que precipitou o desastre foi a rebelião de Zedequias contra o rei da Babilônia (cf. tb. 2Rs 24:20; 2Cr 36:13). Ao que parece, ele acreditava que Faraó se juntaria a ele e o ajudaria a desfazer a dominação babilônica (37:5-8). Temos detalhes muito precisos (dia, mês e ano) do início do cerco de Jerusalém pela Babilônia e de sua duração (52:4-5 ; 2Rs 25:1). As táticas empregadas pelo exército babilônico são mencionadas também em 32:24. No nono ano do reinado de Zedequias, aos dez dias do decimo mês, os soldados babilônios conseguiram fender o muro de Jerusalém e entrar na cidade, que estava bastante enfraquecida pela fome (52:6-7; 39:1-10). Sabendo que a cidade agora estava perdida, o rei, seus filhos, seus conselheiros mais próximos e seu exército tentaram fugir da cidade, acobertados pela noite, esperando escapar aos olhos vigilantes das sentinelas babilônicas. Infelizmente, foram localizados. O rei foi capturado, e seus soldados se dispersaram antes de chegar a Jericó (52:8).
O rei da Babilônia armou seu acampamento em Ribla, no sul de Hamate, para onde Zedequias foi levado a fim de ouvir de Nabucodonosor a sentença que receberia por haver tentado escapar da dominação babilônica (52:9; 39:3-8). Zedequias foi obrigado a ver a execução de todos os seus filhos e oficiais (52:10). Nabucodonosor também assegurou que esse terrível quadro fosse a última coisa que Zedequias veria, pois ele foi cegado, acorrentado e deportado para a Babilônia, e ah acabou lançado na prisão (52:11).

52:12-30 O destino de Jerusalém
Jerusalém foi entregue a Nebuzarada, o chefe da guarda. 0 relato de suas ações nesse capitulo vão do decimo nono ano do reinado de Nabucodonosor (586 a.C.) ao vigésimo terceiro ano (582 a.C.). Nebuzarada entrou em Jerusalém em julho de 586 a.C. e iniciou a demolição da cidade, queimando todas as construções (52:12; 2Rs 25:8-21). Ele começou pela Casa do Senhor (cf. SI 74:7; Is 64:11; Mq 3:12). Depois queimou a casa do rei e, por fim, todas as casas e edificações menos importantes de Jerusalém (52:13). Enquanto isso, o restante de suas tropas demolia os muros que cercavam a cidade (52:14; 39:8; Ne 1:3). Depois que essas tarefas foram cumpridas, Nebuzarada capturou a maioria do povo que ainda estava na cidade e a levou para o exílio (52:15; 39:9; 2Rs 25:11). Ele deixou apenas os mais pobres dentre o povo, para vinheiros e para lavradores (52:16).
Não somente as pessoas foram levadas: Nebuzaradã levou consigo também muitas coisas retiradas do templo do Senhor, entre elas as duas colunas de bronze que ficavam diante do templo, os suportes e o grande tanque de bronze (utilizado na limpeza ritual), conhecido como mar, e os touros de bronze em que se apoiava (52:17,20a; lRs 7:15-24). Também foram levados todos os utensílios de ouro, prata e bronze (52:18-19; lRs 7:49-50). O rei Salomão teve muito trabalho e enormes gastos para confeccioná-los. Chegou a importar um habilidoso homem de Tiro para trabalhar o bronze (lRs 7:13-51). Essa perda deve ter sido muito dolorosa para o povo de Judá. Todavia, além do valor dos objetos levados, o que causou mais sofrimento ao povo foi ver os descrentes destruindo a Casa de Deus (51:51).
Ninguém tinha ideia de quanto bronze fora usado na fabricação dos utensílios do templo (52:20). O rei nunca os pesou, apenas quis providenciar o melhor possível para a Casa de Deus. No entanto, a quantidade devia ser enorme. Por exemplo, cada uma das colunas ocas postadas diante do templo media cerca de oito metros de altura, com uma circunferência de cinco metros e meio. O bronze com que foram fabricadas tinha oito centímetros de espessura (52:21). Cada uma das colunas possuía um capitel na parte de cima, também feito de bronze, com mais de dois metros de altura. Os capiteis eram decorados com um enfeite rendilhado de romãs, havendo noventa e seis romãs em cada um (52:22-23).
Temos agora informações de pessoas importantes que foram capturadas: Seraias, o sumo sacerdote, e Sofonias, seu assistente. Também mencionados, mas sem serem nomeados, há três sacerdotes que eram guardas da porta (52:24). Nebuzarada também levou um oficial, que era comandante das tropas de guerra, sete conselheiros reais, o escrivão-mor responsável pelo alistamento do exército judeu e sessenta homens encontrados na cidade (52:25). O comandante babilônio levou esse grupo a presença de Nabucodonosor, em Ribla (52:26). O rei matou todos eles (52:27,10). Em seguida, o texto registra o numero de pessoas tiradas de Judá durante as varias deportações ocorridas no reinado de Nabucodonosor (52:28). No sétimo ano de seu reinado (598 a.C.), 3.023 judeus foram deportados. Esse numero e menor que o registrado em 2Reis 24:14,16. E possível que o número aqui represente apenas os homens e que 2Reis inclua suas famílias. No décimo oitavo ano (587 a.C.), 832 pessoas foram levadas (52:29). No vigésimo terceiro ano (582 a.C.), foram 745 pessoas (52:30).

52:31-34 Joaquim e perdoado
A última seção do livro de Jeremias descreve alguns acontecimentos durante o reinado de Evil-Merodaque, filho e sucessor de Nabucodonosor, que reinou apenas dois anos (561-559 a.C.). O exílio de Joaquim na Babilônia foi predito pelo profeta Jeremias em 22:24-30, e o cumprimento dessa profecia esta registrado em 2Rs 24:12-15. A restauração dos privilégios reais de Joaquim (mesmo permanecendo no exílio) aconteceu no primeiro ano do reinado de Evil-Merodaque (52:31). Pode ter sido uma daquelas anistias que os reis costumam conceder quando sobem ao trono. O mais surpreendente é que Joaquim Qeconias é ainda chamado rei de Judá, mesmo havendo se passado quase quarenta anos desde que fora removido do trono em Jerusalém.
O novo soberano babilônico tratou Joaquim de maneira particularmente gentil. Não somente o libertou da prisão, mas também lhe concedeu uma posição mais elevada que a dos outros reis cativos na Babilônia, a ponto de convidá-lo a sentar-se a mesa real. Esse tratamento favorável continuou até o fim da vida de Joaquim. Como sabemos que o sucessor de Nabucodonosor reinou apenas dois anos, podemos concluir que seu sucessor teve a mesma atitude gentil para com o antigo rei de Judá (52:32-33). A liberdade concedida a Joaquim deve ter sido bastante para que ele pudesse suprir suas necessidades pessoais e sustentar membros de sua família ou servos que estavam com ele na Babilônia. Suas necessidades domésticas eram mantidas a custa da corte babilônica (52:34).
A parte final da vida de Joaquim deve ter sido vista como uma ilustração de como seria o renascimento de Israel e Judá. O povo sofreu o castigo causado pelos seus muitos pecados contra o Senhor, seu Deus. O país deles foi subjugado e entregue a uma potência estrangeira, suas cidades foram tomadas, e o templo em Jerusalém foi saqueado e queimado. Os reis e o povo foram levados para o cativeiro. Todas essas calamidades correspondem ao primeiro aspecto do ministério de Jeremias, que era arrancar, destruir e derrubar (1:10). Assim que tudo isso foi realizado, o ministério de Jeremias voltou-se para a edificação e a plantação. Ele então proclamou a restauração do pais e a nova aliança com o Senhor, que seria firmada com seu povo (30—33). A restauração de Joaquim confirma essas promessas. O profeta faz algumas declarações, expressas de forma ainda mais intensa em Lamentações. Primeira: o Senhor não está rejeitando seu povo para sempre, e sua disposição natural não é de humilhar e afligir (Lm 3:31,33). Segunda: a bondade do Senhor não tem fim, e sua compaixão jamais falhará (Lm 3:22). Terceira: assim como ele aflige seu povo por causa dos pecados que cometeram, também lhes mostrara sua grande bondade e misericórdia (Lm 3:32).