Interpretação de Marcos 13
Marcos 13
13:1-37 O discurso pronunciado no Jardim das Oliveiras aconteceu na terça-feira depois que se acabaram as controvérsias com os líderes judeus nos átrios do templo. Pode ser dividido da seguinte forma: as perguntas dos discípulos (13:1-4); as condições características da presente dispensação (13:5-13); a crise que viria (13:14-23); o segundo advento de Cristo (13:24-27); instruções referentes à necessidade de se vigiar (13:28-37).13:1. À luz da descrição que Josefo fez do Templo, não nos surpreende que um dos discípulos exclamasse referindo-se às pedras e aos edifícios. Josefo descreve pedras dizendo que tinham trinta e sete pés, por doze, por dezoito. Explica ainda mais, dizendo que a “... fachada era toda de pedra polida, de maneira que a sua aparência, para os que não a tinham visto, era incrível, e para os que já a tinham visto, era grandemente assombrosa” (Antig. XV xi. 3-5).
13:2. Jesus usou a forte construção negativa dupla dos gregos (ou mê) duas vezes neste versículo a fim de negar que ficaria pedra sobre pedra. Era positivamente certo que o Templo seria completamente destruído, um fato confirmado pela história quando em 70. A. D. O Templo e a cidade foram deixados em ruínas, sob o comando de Tito.
13:4. Essas coisas. Uma referência óbvia à predição declarada em 13:2. Temos motivos para crer, entretanto, que os discípulos também tinham em mente a sequência dos acontecimentos do fim dos tempos. Sua segunda pergunta amplificou a primeira em que pediram um sinal que indicasse que o cumprimento estava para acontecer (mellê). Em Mateus ficamos sabendo que os discípulos também perguntaram com referência ao sinal da vinda de Cristo e sobre o final da dispensação (24:3).
13:5. Jesus começou a sua resposta descrevendo as condições características da presente dispensação (vs. 5-13). A primeira é a presença dos enganadores, contra os quais os discípulos deviam estar atentos constantemente (gr., pres. imp.).
13:6. Em meu nome. Essas palavras referem-se à vinda de falsos messias, que reivindicarão a posição e a autoridade que só pertencem a Cristo. A predição foi cumprida em muitas ocasiões. Talvez a personalidade mais destacada fazendo tal reivindicação fosse Bar Cochba (132 A. D.).
13:8 Guerras são características de toda a dispensação, como também terremotos fomes. A palavra dificuldades não se encontra nos melhores manuscritos gregos. Todas essas condições são descritas como sendo o princípio das dores. Assim, destacam-se do fim propriamente dito (v. 7). A palavra dores são realmente dores de pano, um termo que os judeus usavam para descrever as aflições e as desgraças que introduzirão a vinda do Messias.
13:9 O discípulo recebe a ordem de prestar atenção, isto é, de estar constantemente alerta (gr., pres. imper.). Tribunais. Literalmente sinédrios. As prisões e os espancamentos preditos aqui começaram a se cumprir no livro de Atos (cons. 4:5 e segs.; 5:27 e segs.), como também as apresentações a presença de governadores e reis (cons. 12:1 e segs. 24:1 e segs.; 25:1 e segs.). Essas apresentações seriam para lhes servir de testemunho (autois), não contra eles. Examine o testemunho de Paulo diante de Félix (Atos 24:24,25) e Agripa (Atos 26).
13:10. Outro aspecto da dispensação é a pregação do evangelho pelo mundo inteiro. O fim (v. 7) não pode vir até que a tarefa evangelística seja primeiro completada. Mateus 24:14 conclui com a declaração então virá o fim, referindo-se ao final da dispensação.
13:13. No meio de todos esses distúrbios do declínio moral e das perseguições, a perseverança torna-se o distintivo da genuinidade espiritual. O fim. Considerando que as condições descritas em 13:5-13 têm a duração de uma dispensação, “o fim” não se refere aqui ao fim da dispensação, mas antes à duração da vida ou da provação. Será salvo. Neste contexto não se pode pensar em libertação física. A promessa é que aquele que perseverar será salvo espiritualmente. A perseverança, entretanto, não é a base da salvação. Apegando-se aos ensinamentos gerais do NT a perseverança deve ser encarada como o resultado do novo nascimento (cons. Rm. 8:29-39; I Jo. 2:19). Uma pessoa regenerada, que persevera por causa disso, é mais do que certo que experimentará a consumação da experiência da salvação.
13:14 Tendo descartado alguns dos aspectos salientes desta dispensação, Cristo prosseguiu descrevendo a crise iminente (vs. 14-23). O abominável da desolação é uma expressão extraída textualmente de Dn. 12:11 (Septuaginta). Também se encontra com pequenas variações em Dn. 9:27 e 11:31. Entre os judeus o termo abominável era usado para descrever a idolatria ou o sacrilégio (cons. Ez. 8:9, 10, 15, 16). Parece, entretanto, que tanto Daniel como Cristo estavam falando de uma consternadora profanação do Templo. O primeiro cumprimento do uso profético que Daniel fez do termo, dizem alguns escritores, foi a construção de um altar para Zeus sobre o altar dos sacrifícios segundo as ordens de Antíoco Epifânio, em 168 A.C. (I Mac. 1:54, 59). O uso que Cristo fez das palavras tinha referência imediata à profanação do Templo pelos romanos (70 A. D.). Deve-se lembrar que os discípulos perguntaram relativamente à destruição do Templo (Mc, 13:2,4). Além disso, as instruções dadas em 13:14b-18 parecem se encaixar melhor nessa ocasião. Entretanto, a íntima relação dessas condições com o segundo advento de Cristo (vs. 24-27) exige uma aplicação adicional ao fim dos tempos. As condições dos dias de Antíoco Epifânio e quando os romanos destruíram o Templo serviram de figura dos dias do anticristo, imediatamente antes da volta de Cristo (cons. II Ts. 2:3, 4; Ap. 13:14, 15). Situada onde não deve estar. No lugar santo (Mt. 24:15). A aparição da consternadora profanação seria um sinal para os habitantes da Judéia fugirem para os montes a fim de escapar ao sítio iminente. A referência específica dessa ordem, e também das que foram dadas nos versículos 15-18, foi à iminente destruição de Jerusalém (70 A.D.).
13:15, 16. A necessidade da pressa seria tão urgente que não haveria tempo para tirar causa alguma para a fuga.
13:17, 18. Seria uma ocasião muito difícil para as mulheres grávidas e para aquelas que tivessem crianças pequenas. Uma fuga no inverno aumentaria as dificuldades de uma situação já bastante difícil.
13:19. Essa descrição resumida das tribulações de aqueles dias certamente se aplicavam aos horrores de 70 A.D., quando comparadas com Wars of the Jews de Josefo (Prefácio, 4; V, VI). Entretanto, há motivos para se crer que Cristo olhava para além do período romano, para a grande tribulação final que precederá a sua segunda vinda. Isto foi sugerido pelas palavras nunca jamais haverá, que são a tradução de uma vigorosa negativa grega (ou mê). 20. Não se pode limitar este versículo à situação de 70 A.D. Nenhuma das explicações sugeridas com base sobre tal limitação satisfaz. Temos elementos aqui que vão além daquele período e se associam mais corretamente com o fim dos tempos. A referência aos escolhidos parece apontar para os salvos durante os dias da Grande Tribulação exatamente antes da volta de Cristo. Por amor deles Deus tem abreviado aqueles dias do período da terrível aflição.
13:22. Tão atrevidos serão esses enganadores que tentarão desviar os próprios eleitos. Entretanto, a cláusula, se possível, mostra que é inconcebível que tenham sucesso. Para identificação dos eleitos, veja Lc. 18:7; Rm. 8:33; Cl. 3:12; I Pe. 1:2.
13:24, 25. A profecia agora prossegue para o Segundo Advento (vs. 24-27). Cristo colocou este grande acontecimento especificamente naqueles dias, após a referida tribulação, obviamente se referindo ao tempo descrito em 13:14-23. Isto exige uma de duas explicações. Ou Cristo viria logo depois de 70 A.D, ou as aflições dos versículos 14-23 têm uma dupla referência, tanto à destruição de Jerusalém por Tito como à Grande Tribulação no fim dos tempos. Considerando que a primeira explicação é impossível, a última interpretação torna-se a chave para se compreender o capítulo como um tudo. A linguagem usada para descrever os abalos nos céus foi em grande parte extraída do V.T. (cons. Is. 13:10; 34:4; Joel 2:10, 30, 31). Ainda que seja melhor fugir aqui a um literalismo extremo, não temos motivos para não entendermos estas expressões como se referindo às alterações celestiais reais que precederão imediatamente a vinda de Cristo. De modo nenhum torna-se estranho que um acontecimento tão momentoso seja introduzido dessa maneira.
13:26. Esta é a volta pessoal e corporal de Cristo à terra com grande poder e glória, que foi descrita em passagens tais como essas Atos 1:11; II Ts. 1:7-10; 2:8; Ap. 1:7; 19:11-16. “Com o céu obscurecido servindo de cenário, o Filho do Homem se revela no Shequiná da glória de Deus.” (G. R. Beasley-Murray, A Commentary on Mark Thirteen, pág. 89). A linguagem que foi usada aqui foi extraída de Dn. 7:13. Verão. Sua vinda será visível a todos os homens.
13:27 Neste ponto acontecerá a ressurreição dos justos mortos e a transformação dos santos vivos (cons. I Co. 15:51-53; I Ts. 4:13-18). Então ele reunirá os seus escolhidos, os redimidos de todas as dispensações, presente e passadas. Quanto à palavra escolhidos, veja 13:22. A palavra episynaxei, ajuntará, é a forma verbal do substantivo episynagôgê, “ajuntamento”, em II Ts. 2:1 (reunião). Ajuntar-se-ão com o Senhor descendo, vindos de todas as partes da terra (dos quatro ventos), até mesmo dos recantos mais remotos (da extremidade da terra até à extremidade do céu).
13:28, 29. Tendo terminado a descrição dos acontecimentos futuros, o Senhor voltou a discutir a necessidade de se vigiar (vs. 28-37). Não há nenhuma indicação de que Israel esteja aqui simbolizada pela figueira. Em vez disso, a parábola é apenas uma demonstração da verdade que os acontecimentos futuros lançam suas sombras diante deles. Quando essas coisas começarem a acontecer, saberemos que a consumação está muito próxima. As cousas às quais Cristo se refere são os acontecimentos descritos nos versículos 14-25.
13:30. A explicação mais natural da expressão, esta geração, é que ela se refere à geração viva quando Cristo estava falando. Durante a vida dela todas essas coisas aconteceriam no que se refere à destruição de Jerusalém em 70 A.D. Esse acontecimento foi empregado por Cristo como um quadro preliminar prefigurado, em todas as suas características essenciais, o fim desta dispensação (cons. Mc. 9:1).
13:32. A hora e o dia exatos da volta de Cristo não podem ser discernidos pelo homem. Na verdade, o momento só é conhecido por Deus Pai. A declaração de que o Filho não sabe o momento da consumação deve ser entendida à luz da sua auto-limitação durante os dias de sua humilhação (cons. Fl. 2:5-8). Ele assumiu uma posição de completa sujeição ao Pai, exercendo seus atributos divinos apenas quando o Pai mandava (cons. Jo. 8:26, 28, 29).
13:33. Estai de sobreaviso. Este presente imperativo exige constante estado de alerta. O mesmo acontece com o verbo vigiai, que significa manter-se acordado (Arndt págs. 13, 14). Tal prontidão é necessária por que não sabemos quando esses acontecimentos do fim dos tempos podem se desencadear sobre nós.
13:35. O discípulo deve vigiar continuamente (gr. pres.). Este verbo, como também aquele do versículo 33, significa estar ou manter-se acordado. Exige prontidão constante contra o sono ou a modorra (Arndt, pág, 166; cons. v. 36), se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã. São as quatro vigílias da noite de acordo com a computação romana.
13:36. Tal prontidão é necessária para que o Senhor não chegue quando nós não o estivermos esperando. Isto é o que ele quer dizer com não vos ache dormindo. Para a pessoa que não estiver alerta, a vinda de Cristo será súbita. Aquele que estiver alerta verá os sinais da volta do Senhor (vs. 28, 29) e não será tomado de surpresa.