Interpretação de Marcos 14

Marcos 14

A Paixão e Ressurreição de Cristo. 14:1 – 16:20.

A narrativa de Marcos, agora, movimenta-se para as cenas finais da vida de Cristo na terra. Estes foram os acontecimentos que rodearam sua morte e ressurreição. Foram os atos que realizaram a eterna redenção para todas as pessoas que a aceitassem.

Estes versículos começam com uma descrição da dissimulação com a qual os sacerdotes e escribas planejaram a morte de Jesus (vs. 1, 2). Por outro lado, segue-se uma comovente narrativa da devoção de Maria (vs. 3-9). Então, um contraste ainda mais chamativo, o evangelista conta a traiçoeira conspiração de Judas contra o Senhor (vs. 10, 11).

14:1. Dali a dois dias. O ponto do qual esses dois dias foram calculados foi provavelmente a tarde da última terça-feira, momento em que os líderes judeus estavam procurando como o prenderiam à traição. Isto colocaria a ceia da Páscoa na noite de quinta-feira.

14:3. Era noite de terça-feira; Cristo retornara à Betânia para passar a noite. Nada sabemos a respeito de Simão, o leproso, além do que foi contado nestes versículos, embora alguns o tenham erradamente identificado com Simão, o fariseu, em Lc. 7:36-50. Reclinado à mesa. Isto é, reclinado sobre um divã junto à mesa. A mulher da história era Maria, a irmã de Marta (cons. Jo. 12:2, 3).

O vaso de alabastro era um frasco de gargalo longo que tinha de ser quebrado a fim de se usar o seu conteúdo (Arndt, págs. 33, 34). Perfume de nardo puro, é a melhor tradução do texto grego. A planta do nardo era usada para se fazer perfume. Preciosíssimo. O custo era de aproximadamente cinquenta e cinco dólares por libra (cons. v. 5).

14:5. Trezentos denários. Era a moeda romana de prata que valia cerca de dezoito centavos americanos. Murmuravam contra ela. O verbo que foi usado aqui exprime forte emoção, que originalmente tem o significado de resfolegar. Uma tradução mais expressiva seria, começaram a repreendê-la severamente.

14:8. Ele explicou o verdadeiro motivo da atitude de Maria. O feito não foi simplesmente uma atitude de devoção, mas a intenção consciente de ungir Cristo antecipadamente para a sua morte e sepultamento que se aproximavam. Tendo Maria se assentado aos pés de Jesus, ouvindo atentamente os seus ensinamentos, ela compreendera, até mesmo melhor do que os discípulos, a verdade de sua morte iminente.

14:10. A reação de Judas diante da repreensão de Jesus foi vil. Uma análise completa de suas motivações para ir ter com os principais sacerdotes não é possível com nossos limitados conhecimentos. Lucas explica-o dizendo que Satanás entrou em Judas (22:3). Sabemos que o seu amor ao dinheiro foi a razão parcial de sua traição (cons. Mt. 26:14, 15). Também é possível que ele ficou desiludido com o fracasso de Cristo de se levantar contra Roma e estabelecer um reino judeu livre.

14:11. A quantia de dinheiro que lhe prometeram foi de trinta moedas de prata (Mt. 26:15), que valeriam entre vinte a vinte e cinco dólares. Buscava. Ação contínua (gr. imp.). Desse momento em diante Judas estava constantemente procurando o momento certo de traí-lo.

A Paixão do Senhor. 14:12 - 15:47.
A narrativa de Marcos do sofrimento e morte de Cristo pode ser assim esboçada: os acontecimentos relacionados com a última ceia (14:12-25); a caminhada ao Getsêmani (14:26-42); a prisão (14:43-52); os tribunais (14:53-15:15); a crucificação (15:16-41); o sepultamento (15:42-47). A cronologia habitual considera que a quarta-feira foi um dia de descanso em Betânia e que os acontecimentos da parte em consideração aconteceram na quinta e sexta-feira. Não foi explicitamente declarado que um tal dia de descanso fosse intercalado, mas uma comparação entre as narrativas do Evangelho torna necessário aceitar que ele houve.

14:12. O no primeiro dia dos pães asmos pode, à primeira vista, passar pelo dia depois da Páscoa, ou 15 de Nisã (cons. Lv. 23:5, 6). Entretanto, Marcos esclarece que ele se refere a 14 de Nisã; ele diz que foi quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal (cons. Êx. 12:6). Sabe-se que a Festa dos Pães Asmos era considerada como o começo do dia da Páscoa (cons. Jos. Antig. II xv. 1). Era a quinta-feira. Os cordeiros da Páscoa teriam sido mortos à tarde, e a ceia da Páscoa teria sido realizada depois do pôr-do-sol no começo de 15 de Nisã.

14:14. Tendo seguido o servo à casa, os discípulos deviam perguntar pelo dono da casa (grego). Não se sabe quem era o proprietário. Há quem sugira que a casa era de Marcos, mas isso não passa de especulação. O texto grego também diz, Onde é o meu aposento? Parece, devido o uso do pronome, que o Senhor já fizera os arranjos para o uso da sala. Comer a páscoa. Alguns, com base em certas declarações do Evangelho de João, supõem que a refeição não fosse a Páscoa, mas uma outra anterior à Páscoa (cons. Jo. 13:1, 29; 18:28; 19:14, 31). Entretanto, está claro que Marcos descreve Cristo com a intenção de comer a Páscoa. Além disso, as declarações de João não exigem necessariamente que se aceite que a Última Ceia tenha precedido a Páscoa (A. T. Robertson, A Harmony of the Gospels, págs. 279-284).

14:16. Além de Cristo realmente ter a intenção de comer a Páscoa, Marcos declara especificamente que os discípulos prepararam a Páscoa. Isto incluiria o sacrifício e a preparação do cordeiro e demais itens necessários.

14:17. Ao cair da tarde. A Páscoa era comida depois do pôr-do-sol ao começar do dia quinze de Nisã.

14:19. A pergunta, Porventura sou eu? aguardava uma resposta negativa, e pode ser traduzida assim, Não sou eu, ou sou? Um crime tão monstruoso parecia incrível aos onze. Mateus diz (26:25) que Judas também fez a pergunta, mas era obviamente uma tentativa de esconder seu ato traiçoeiro.

14:20. No prato. Comer junto, e especialmente participar do conteúdo de uma vasilha comum, era sinal de estreita amizade. À luz desse costume, a traição planejada por Judas revela-se ainda mais hedionda.

14:21. Como está escrito a seu respeito. Veja 1:2. A passagem do V.T. à qual Jesus referiu parece ser uma que descreve a traição, talvez Sl. 41:9. Observe que o soberano propósito de Deus, expresso nas palavras, está escrito, não livra Judas de modo nenhum da responsabilidade moral do seu ato.

14:22. Na refeição da Páscoa, o pão que Jesus usou deveria ser os pães asmos prescritos para a festa. Quando Jesus disse Isto é o meu corpo, obviamente quis dizer: “Isto simboliza meu corpo”. Seu corpo físico ainda estava presente. É semelhante ao uso simbólico que ocorre em Jo. 6:35; 8:12; 10:9. O mesmo é verdade acerca de sua declaração referente ao seu sangue (Mc. 14:24). 

14:23. O cálice. Não temos jeito de verificar qual dos quatro cálices da Páscoa Jesus usou. De qualquer modo, entretanto, o conteúdo deveria ser vinho misturado com dois terços de água.

14:24. Nova aliança. Tanto em Mateus como em Marcos, os melhores textos gregos omitem a palavra novo. Entretanto, veja Lc. 22:20; I Co. 11:25. Enquanto a palavra grega diathêkê pode se referir a um testamento ou vontade, os antecedentes da observação de Cristo no V. T. exigem a tradução aliança (cons. Êx. 24:8). Não é o termo usado para expressar um trato feito entre duas partes iguais (synthêkê). Deus sozinho determinou as condições da aliança, e o homem só podia aceitar ou rejeitar. O sangue de Cristo é o sangue da nova aliança prometida em Jr. 31:31-34 (cons. Hb. 8:6-13). De muitos. Embora a preposição grega, hyper possa significar “em favor de”, ela é usada muitas vezes significando “em lugar de”. Taylor diz que esta é uma das evidências mais claras de que Jesus encarava sua morte como vicária (Vincent Taylor, Mark, pág. 548).

14:25. Jamais. Uma forte negativa significando que Jesus de modo nenhum beberia outra vez com eles durante a presente dispensação. O reino de Deus nesta observação é escatológico, provavelmente referindo-se à sociedade do reino milenar a ser estabelecido quando Cristo voltar (Ap. 20:4-6).

14:26. O hino, de acordo com o costume da Páscoa, deveria ser uma porção dos Salmos de Halel (SI. 105-118). A caminhada até o Jardim do Getsêmani no Monte das Oliveiras e os três períodos de oração de Cristo estão registrados em 14:26-42.

14:27. Escandalizareis. A palavra originalmente significa apanhar em uma armadilha. Passou a se referir, também, ao ato de provocar a queda de alguém. Jesus disse, portanto, que os acontecimentos daquela noite apanhariam todos os seus discípulos desprevenidos como uma armadilha ou uma pedra de tropeço. Esta noite... em mim. Omitido por diversos manuscritos gregos muitíssimos significativos. Está escrito. Veja 1:2. A citação foi extraída de Zc. 13:7, livremente traduzida do texto hebraico.

14:30. Cristo enfatizou a proximidade da ocorrência – hoje, nesta noite. Dirigiu-se também a Pedro com o enfático pronome pessoal, te. Entre todos os discípulos, Pedro, embora insistisse na sua lealdade, negaria o Senhor. Nenhuma contradição deve ser imaginada em relação ao número de vezes que os outros Evangelhos mencionam que o galo cantaria. Os outros simplesmente declaram o fato que a negação seria feita antes do cantar do galo (a terceira vigília da noite; veja 13:35). Marcos dá mais detalhes mencionando o número específico de vezes que o galo cantaria.

14:31. Ele disse. Repetidamente Pedro confirmou sua jactância (gr. imp.), e ele o fez com ênfase (veemência). De modo nenhum. Uma excelente tradução da negativa dupla grega, ou , que expressa forte negação. Com isso, todos os discípulos concordavam (gr. Imp. elegon).

14:33. Ter pavor. Uma palavra forte, expressando profunda perturbação emocional e angústia. Foi traduzido de diversas maneiras (completamente perturbado, aterrorizado, estarrecido, profundamente agitado). Marcos acrescenta a expressão, angustiar-se (adêmoinein), que se refere a perplexidade e angústia. (MM, pág. 9).

14:34. Jesus estava angustiado e triste até à morte. Assim Jesus pediu vigiai (gr. “ficar acordado, alerta, vigilantes”).

14:35. A hora sobre a qual Jesus orou foi o momento em que, no plano de Deus, ele teria de sofrer e morrer para expiação do pecado (cons. Jo. 12:23, 27;13:1).

14:36. Aba é a palavra aramaica para “pai”. Este cálice refere-se às mesmas coisas daquela hora (v. 35). Era o cálice de um sofrimento e morte que eram mais do que físicos. A agonia da qual o Senhor recuava era a agonia da alma resultante do ato de suportar a culpa do mundo perdido. O sofrimento seria sofrimento espiritual, uma separação de Deus Pai (cons. Mc. 15:34). E foi com referência a isto que Cristo orou pedindo que o cálice fosse afastado se possível fosse a Deus realizar seu propósito redentor de alguma outra maneira. Estava, entretanto em perfeita submissão ao Pai, desejando tão-somente a vontade dEle. 

14:38. Aqui o Senhor acrescenta a ordem de orar (gr. continuar orando) a fim de não entrarem em tentação. Esse perigo deve ser interpretado como referência específica às provações iminentes associadas à prisão e morte do Senhor.

14:40. Pesados. Literalmente, carregados de sono. Não sabiam o que lhe responder. Não encontravam uma desculpa.

14:41. Ele voltou pela terceira vez depois de tornar a orar (Mt. 26:44). Difícil é saber em que sentido Jesus se referiu ao dormir e descansar. Há quem o interprete como uma pergunta; outros acham que é “um pouco de amargura” (Ezra P. Gould, Mark, págs. 271, 272). Depois de emergir das trevas daquela hora, ele já não tinha mais necessidade da certeza de que eles estavam de algum modo enfrentando a provação com ele. Parece que esse é o pensamento por trás das palavras. Basta... Está sendo entregue. O tempo presente significa que a traição estava acontecendo exatamente naquele momento.

14:43. Os versículos seguintes (43-52) narram a prisão de Cristo. A populaça foi conduzida por Judas, que sabia que Jesus costumava retirar-se para a solidão do Getsêmani (Jo. 18:2). A turba incluía alguns membros da corte romana aquartelada em Jerusalém como também a polícia do templo (Jo. 18:3). Sem dúvida os soldados estavam armados com espadas e a polícia do templo com cacetes. Os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos eram os três grupos que compunham o Sinédrio, indicando que o grupo designado para prender Jesus fora oficialmente despachado por esse corpo.

14:45. Judas, com tingido respeito, fez o papel de um leal discípulo, saudando seu Mestre (gr. rabi) e o beijando cordialmente. O verbo grego para este último ato é uma forma intensificada da palavra que foi traduzida para “beijar” no versículo 44. Com esse intensificado ato de fingida devoção Judas apenas aumentou a sua culpa.

14:48. Cristo os repreendeu por tratá-lo como se ele fosse um salteador armado ou ladrão de estrada.

14:49. Essa prisão em um lugar tão fora de mão sob a cobertura da noite era completamente desnecessária, uma vez que ele estivera no templo ensinando todos os dias. Com esse protesto Cristo apontou para o absurdo do procedimento deles, rebatendo assim seus motivos para a prisão e julgamento. Mas Deus já tinha previsto suas atitudes e predissera o curso dos acontecimentos nas Escrituras (como exemplo, cons. Is. 53:8, 9, 12). Portanto, apesar da lógica dos protestos de Cristo, a prisão resultaria em julgamento e o julgamento em execução.

14:51. Um jovem. A palavra grega neaniskos era usada em relação aos homens entre vinte e quatro e quarenta anos de idade (Arndt, pág. 536). Nenhum outro Evangelho registra este incidente. Consequentemente não temos outras informações relativas à identidade da pessoa. Já houve quem sugerisse, talvez corretamente, que Marcos fizesse uma velada referência a si mesmo. Parece que não há nenhum outro motivo para que este insignificante incidente fosse incluído.

14:52. Desnudo. A palavra gymnos não significa necessariamente que a pessoa estivesse completamente nua; era também usada para descrever uma pessoa vestida apenas de roupas íntimas.

14:53. Aqui a narrativa volta-se para o julgamento de Cristo pelos judeus e romanos (14:53 - 15:15). Marcos dirige-se imediatamente para a narrativa da noite do julgamento diante do Sinédrio (vs. 53-65). Que o grupo examinador era o Sinédrio vê-se pela presença de todos os principais sacerdotes, e os anciãos e os escribas. O sumo sacerdote nessa ocasião era Caifás.

14:54. Talvez porque estivesse determinado a cumprir a sua lealdade gabola, Pedro seguia-o. Entretanto, o medo o mantinha à distância, e como resultado não conseguiu introduzir-se na casa do sumo sacerdote com a multidão. A palavra usada por Marcos que foi traduzida para palácio (em inglês) é aulên e é realmente o pátio. João explica (18:15, 16) que outro discípulo deu um jeito de Pedro entrar. Os serventuários com os quais estava assentado eram provavelmente membros da polícia do templo e servos do sumo sacerdote.

14:55. A palavra traduzida para Sinédrio é synedrion. Realizaram uma longa investigação (azêtoun, imp.) procurando testemunhas contra Jesus. Esses membros da corte judia estavam agindo como promotores públicos.

14:58, 59. Essas pessoas estavam falando sobre as observações que Cristo fizera durante o começo do seu ministério na Judeia por ocasião da primeira purificação do Templo (Jo. 2:19). A falsidade do seu testemunho está evidente pela deturpação da declaração e pela falta de concordância entre elas.

14:60. Embaraçado pela falta de concordância das testemunhas, o sumo sacerdote tentou envolver Cristo em uma discussão, aparentemente esperando que sua resposta o comprovasse culpado.

14:61. A pergunta, És tu o Cristo?, coloca o pronome pessoal na posição enfática; pode ser traduzido assim, Você, você é o Messias? Era comum entre os judeus usar ternos tais como o Bendito quando se referiam a Deus, para que não fossem culpados de tomar o nome divino em vão. Mateus esclarece (26:63) que o sumo sacerdote colocou Jesus sob solene juramento, que o obrigava a responder. Ele não tinha outra escapatória senão dar o seu testemunho, o qual seria usado contra ele.

14:62. Com uma afirmação direta, Jesus respondeu, Eu sou. O restante de sua resposta foi expressado em termos extraídos de Dn. 7:13 e Sal. 110:1. A direita do Todo-Poderoso é a mão direita de Deus. Cristo assegurou aos seus juízes que viria o dia quando eles o veriam como o Messias exercendo o poder da divindade e vindo para juízo (veja 13:26).

14:63. Esse foi o tipo de resposta que o sumo sacerdote desejava. Prontamente rasgou as suas vestes, como devia fazer quando ouvisse uma blasfêmia (cons. H. B. Swete, Mark, págs. 359, 360). Já não necessitavam de mais... testemunhas, uma vez que Jesus foi forçado a testemunhar contra Si mesmo, um procedimento ilegal na lei judaica.

14:64. A declaração de Cristo foi interpretada como blasfêmia porque as autoridades viam em Jesus um simples homem (cons. Jo. 10:33). A questão de sua culpa foi colocada diante de todo o concilio, e eles unanimemente o julgaram réu de morte. A pena estabelecida para blasfêmia era a morte (Lv. 24:16).

14:65. Parece que foram alguns membros do sinédrio que começaram a tratar Jesus da maneira vergonhosa descrita. Para tais líderes religiosos do Judaísmo, altamente qualificados e respeitados, suas atitudes foram muitíssimo degradantes. Cobriram-lhe o rosto com uma venda quando batiam nele para ridicularizar seu conhecimento sobrenatural (cons. Lc. 22:64). Quando foi entregue aos guardas (a polícia do templo), estes seguiram o exemplo dos seus superiores e começaram a lhe bater. A palavra rapisma refere-se a um golpe dado com uma vara ou a uma bofetada.

14:67. Fixou-o. A palavra indica que ele fixou o seu olhar. Por causa da intercessão de João por Pedro (Jo. 18:15, 16), a criada sem dúvida estava certa que Pedro era um seguidor de Jesus.

14:68. A negação de Pedro foi reforçada pela repetição (Não o conheço, nem compreendo o que dizes). Apanhado pela inesperada identificação, ele se esqueceu de sua lealdade gabola. O alpendre para o qual Pedro saiu era o pátio externo ou o vestíbulo que dava da rua para o pátio interno. Muitos textos antigos omitem as palavras e o galo cantou.

14:69. O texto grego indica que foi a mesma criada que anteriormente já acusara Pedro. Entretanto, Mt. 26:71 fala de outra criada, enquanto que Lc. 22:58 declara que uma outra pessoa (do sexo masculino) dirigiu-se a Pedro diretamente. Não é necessário procurar contradições entre as narrativas neste ponto. Evidentemente havia duas criadas, o porteiro e outra pessoa, os quais apontaram Pedro entre os circunstantes. Além disso, um homem disse a Pedro “Você também é um deles”.

14:70. A terceira acusação partiu de diversas pessoas que estavam ao redor. Provavelmente houve diversas declarações, como o tempo imperfeito elegon pode muito bem indicar. João 18:26 revela que uma pessoa daquelas que fazia acusações era um parente do indivíduo a quem Pedro cortou a orelha. 

14:71. A praguejar e a jurar. Esses verbos não indicam que Pedro tenha usado de irreverência como o termo é compreendido hoje em dia. Em vez disso, ele provavelmente amaldiçoou-se caso estivesse mentindo e colocou-se sob juramento ao fazer a sua negativa.

14:72. Neste ponto as evidências dos manuscritos justificam a inclusão das palavras, segunda vez (veja v. 68). Os melhores textos também contêm a palavra “imediatamente” (euthys). O cantar do galo seguiu-se firme à terceira negativa, penetrando profundamente na consciência do discípulo. Naquele instante Pedro viu Jesus que olhava para ele (Lc. 22:61) de uma sala acima do pátio. Caindo em si. A palavra epibalôn há muito que constitui um problema de tradução aqui. Enquanto epibalôn descreve o início do choro, o tempo imperfeito eklaien, chorou, descreve a continuação dele.