Interpretação de Marcos 2

Marcos 2

Desenvolvimento da Oposição Oficial. 2:1–3:12.
O propósito do autor nesta seção é mostrar o desenvolvimento do conflito entre Cristo e as autoridades judias. A crescente popularidade do Senhor naturalmente devia despertar o desfavor delas, uma vez que a sua mensagem, pela sua própria natureza, era contraditória à crença e prática das mesmas. Consequentemente, em cada um dos cinco incidentes aqui registrados, os fariseus são apresentados murmurando entre si, ou abertamente levantando questões e objeções.

2:1. Esta volta à Cafarnaum marcou o final da primeira viagem à Galileia. A expressão dias depois seria melhor entender-se como se referindo à sua volta. Consequentemente, o versículo seria “E quando entrou novamente em Cafarnaum alguns dias depois soube-se que estava em casa”. A casa era provavelmente de Pedro (1:29) e este poderia muito bem ter relatado a Marcos a narrativa que se segue.

2:3. Paralítico. O homem foi chamado de paralitikon.

2:4. Uma casa antiga com o eirado plano devia ter uma escada que dava para cima, a qual poderia ter servido aos que carregavam o paralítico a subir sem dificuldade. Descobriram o eirado. Isso foi feito cavando a massa de capim, estuque, tijolos e sarrafos, conforme indica o exorysantes de Marcos - fazendo um buraco. O leito era um colchão ou um catre, do tipo usado pelos pobres.

2:7. Se uma pessoa aceita a suposição dos escribas de que Jesus era um simples homem, só pode chegar a mesma conclusão. Ele dizia blasfêmia. O conflito básico relacionava-se com a divindade de Cristo.

2:10. Para que saibais. A cura do paralítico tornou-se uma prova do poder do Senhor em perdoar pecados e, consequentemente, de sua divindade. Filho do homem. Este é o título que Jesus escolheu para usar quase que exclusivamente para si mesmo. Seus antecedentes se encontram em Daniel e na literatura apocalíptica extra-bíblica dos judeus, onde se tornou uma designação do Messias (conf. Dn. 7:13, 14). Poder. A palavra grega significa autoridade.

2:12. Que ele levantou-se logo indica cura instantânea, tão completa que o homem pôde carregar seu próprio catre. O resultado foi que admiraram todos. Ficaram tão aturdidos que ficaram fora de si. O verbo existêmi significa “sair do lugar” ou “descontrolar-se”.

2:13. A primeira acusação contra o Senhor na série de conflitos registrados por Marcos foi a acusação de blasfêmia (2:1-12). Uma segunda queixa levanta-se agora em 2:13-17 dizendo que Cristo se associava com os parias.

2:14. Levi, filho de Alfeu é o mesmo Mateus (Mt. 9:9; Mc. 3:18). Alfândega. A recebedoria. Cafarnaum ficava sobre a estrada que ia da Mesopotâmia para o Egito, como também ficava perto da junção da estrada que dava para Damasco. Sua localização perto dos limites do território de Herodes Antipas explica a presença do posto de pedágio.

2:15. Achando-se à mesa. O verbo significa reclinar-se numa refeição, a maneira costumeira de comer naquele tempo. Na casa de Levi. Conf. Lc. 5:29. Publicanos. Uma designação para os cobradores de impostos. O privilégio de cobrar impostos era comprado através do pagamento do imposto total exigido pelo governo. O cobrador ficava, então, livre para extrair o quanto possível do povo por meio da extorsão. Geralmente a cobrança propriamente dita era feita por cobradores menos importantes, classe estai qual Mateus provavelmente pertencia. Esses homens eram desprezados por causa dos serviços que prestavam a um senhor estrangeiro e por causa de suas práticas fraudulentas.

2:16. Os escribas dos fariseus. Os fariseus eram uma seita de leigos que seguiam rigorosamente os preceitos da lei escrita e oral, sendo meticulosos nos seus esforços de manter a pureza do cerimonial. Encaravam com desdém àqueles que não eram tão severos quanto eles na observância dos mandamentos, referindo-se a eles como “a multidão” (conf. Jo. 7:49). A classe chamada de pecadores aqui provavelmente incluía todos os que não eram fariseus.

2:17. Os sãos. Aqueles que são fortes e sadios. Jesus respondia às críticas do ponto de vista deles. Presumiam que eles mesmos eram justos e, portanto, não precisavam de ajuda. Jesus fala como o médico cuja obrigação é ajudar os doentes.

2:18. O próximo incidente registrado por Marcos é a interrogação relativa ao jejum (2:18-22). Jejuam. O grego diz simplesmente que eles jejuam. Talvez exatamente a ocasião da festa de Levi fosse um dia de jejum, uma vez que os fariseus costumavam jejuar duas vezes por semana, nas segundas e quintas-feiras (Lc. 18:12). A natureza do ministério de João e de sua mensagem estava em harmonia com a observância do jejum.

2:19. Os convidados para o casamento. Literalmente, filhos das bodas. Eram os amigos íntimos do noivo que serviam de seus assistentes, uma figura que foi usada aqui para se referir aos discípulos de Jesus. Cristo veio para anunciar notícias alegres (conf. 1:14, 15); com tal mensagem de alegria, o jejum era completamente incongruente.

2:21. Pano novo. É o pano que não foi tratado pelo pisoador, que não está encolhido nem engomado. O remendo novo. Uma tradução mais aproximada do original seria para que o tecido (isto é, o remendo) não o rasgue, arrancando o novo do velho. Quando o remendo que não foi encolhido for molhando, vai encolher e rasgar o velho que já foi anteriormente lavado e encolhido. Portanto não é bom tentar remendar o sistema velho com o novo.

2:22. Odres velhos. Recipientes, para conter vinho, feitos de couro. A distensão causada pela fermentação do vinho novo arrebentaria os odres velhos porque já foram distendidos ao máximo. Portanto não é possível confinar à estrutura do velho legalismo à vitalidade da experiência nova produzida pela fé em Cristo.

2:23. As duas outras ocasiões de oposição a Cristo relacionada com atividades no sábado (2:23 – 3:6). Searas. Os discípulos estavam colhendo espigas de cevada ou trigo.

2:24. O que não é lícito. Ele não objetara à apropriação das espigas, pois a Lei o permitia (Dt. 23:25); estavam criticando o trabalho manual realizado no sábado. No seu zelo de guardar a letra da Lei nos mínimos detalhes, eles encararam o colher das espigas como sendo trabalho e assim uma violação de Êx. 20:10.

2:25. Jesus respondeu citando o que fez Davi certa vez, conforme registrado em I Sm. 21:1-6. Sua pergunta exigia a resposta afirmativa. A característica notável do incidente encontra-se na declaração quando se viu em necessidade. Cristo está declarando que a necessidade humana supera todo o mero ritual e cerimônias.

2:27. O sábado não fora criado com a intenção de ser um déspota insensível o qual o homem deveria servir fosse qual fosse o custo; antes, fora concedido ao homem por causa de sua necessidade de descansar.

2:28. Senhor também do sábado. Cristo não estava declarando sua liberdade de violar a lei do sábado, mas antes declarava sua qualificação de interpretar essa lei.