Interpretação de Marcos 3
Marcos 3
3:1. A segunda controvérsia relacionada com o sábado e registrada por Marcos (3:1-6) ocorreu na sinagoga, provavelmente em Cafarnaum, uma vez que 3:7 fala de retirar-se para o mar.
3:2. Os críticos do Senhor estavam observando persistente e rigorosamente. O verbo indica uma posição maliciosa de esperar para poder apanhar uma pessoa numa armadilha. A prática da medicina no sábado era proibida pela tradição rabínica a não ser que a pessoa estivesse às portas da morte, que não era o caso nesta instância. Consequentemente, se Cristo curasse o homem, os judeus estariam prontos para o acusarem como violador do sábado.
3:4. É lícito? A pergunta de Jesus retrocede ao princípio da necessidade que já foi discutida na discussão anterior sobre o sábado. Atender a necessidade desse homem seria fazer o bem; deixar de atender seria fazer o mal. Eles calaram-se. O imperfeito grego descreve-os persistindo em seu silêncio. Responder seria prejudicial. Obviamente, fazer o mal não era permitido pela lei, e fazer o bem seria curar o homem.
3:6. Os herodianos não eram por assim dizer uma seita religiosa. Eram, antes, homens politicamente devotados à família de Herodes. Consequentemente, não tinham verdadeira afinidade com os fariseus, que odiavam zelosamente a dominação estrangeira; mas um oponente comum pode criar estranhas coligações entre inimigos.
3:7. O incidente registrado nos versículos 7-12 fornece outro vislumbre da fama muito difundida do Senhor, que trazia gente de perto e de longe para vê-lo e ouvi-lo. A multidão se compunha de pessoas de todas as províncias com exceção de Samaria, até mesmo de áreas externas da Palestina, tais como Tiro e Sidom (vs. 7, 8). O mar para o qual retirou-se Jesus era o Mar da Galileia.
3:9. Um barquinho. A multidão era tão grande que chegava a oprimi-lo (thlibô), ficando Jesus em perigo de ser esmagado. Portanto o barco devia ficar pronto... junto dele para que pudesse entrar no mesmo se fosse necessário escapar à pressão da multidão.
3:10. Essa grande popularidade desenvolveu-se pois curava a muitos. O grande desejo dos doentes e aflitos de receberem ajuda está evidente nas palavras ...se arrojavam a ele. Marcos diz ao pé da letra que eles praticamente se jogavam sobre o Senhor, tal era a sua ansiedade de se aproximarem dele. O verbo é contínuo no sentido, descrevendo ação continuada.
3:11. Veja comentários sobre 1:24, 34.
A Escolha dos Doze. 3:13-19.
Desde o começo do seu trabalho na Galileia (1:14) até a escolha dos doze, Jesus experimentou sucesso notável em alcançar o povo com a sua mensagem. Ele tinha acesso às sinagogas, e a oposição oficial estava apenas começando a se solidificar. Durante esses dias ele estava agrupando à sua volta um grupo de seguidores dentre os quais selecionaria um grupo permanente de discípulos. Em contraste, o segundo período do ministério na Galileia foi marcado pela presença dos doze discípulos como ajudantes escolhidos de Cristo. O ministério às multidões prosseguiu, mas houve também um esforço da parte de Jesus de começar a instrução dos seus discípulos. Sua popularidade com o povo simples e a oposição dos líderes continuaram a se desenvolver até que finalmente tornou-se necessário que ele se retirasse da Galileia.
3:13. A escolha dos discípulos aconteceu em um monte, provavelmente nas vizinhanças de Cafarnaum. Parece que Jesus pediu a um grupo maior que o acompanhasse na viagem até a região montanhosa.
3:14. Desse grupo maior ele selecionou os doze que ele designou como seus apóstolos (conf. Lc. 6:13). Designou é o verbo grego que melhor traduz (epoésen; literalmente, fez). O propósito da nomeação era duplo: para estarem com ele (companhia e treinamento) e para que pudessem sair e pregar e expulsar demônios (v. 15).
3:16. Em relação à ocasião quando Simão foi chamado de Pedro, veja Jo. 1:42, onde o nome aramaico, Cefas, foi usado em lugar do grego, Pedro.
3:17. Boanerges. Este lado de suas personalidades pode ser visto em Lc. 9:54.
3:18. André. O irmão de Pedro (Jo. 1:40,41). Bartolomeu. Identifica-se com Natanael (Jo. 1:45-51; 21:2). Tiago, filho de Alfeu, pode ser o mesmo Tiago menor (Mc. 15:40). Tadeu é o mesmo Judas, irmão de Tiago menor (Lc. 6:16). Simão o zelote. O nome encontrado nos melhores manuscritos gregos é kananaion, uma transliteração do termo aramaico que significa “zelote”. Parece que Simão, antes de ser discípulo de Cristo, era membro do fanático partido patriota dos zelotes, que estavam a favor da revolta imediata contra o poderio romano.
3:19. É nesta altura que Mateus e Lucas colocam o Sermão do Monte.
3:20. Para casa. Uma expressão que significa “voltar para casa”. Provavelmente Cristo retornou à casa de Pedro em Cafarnaum.
A Preocupação dos Amigos de Cristo e as Acusações dos Seus Inimigos. 3:20-35.
Estes versículos indicam as atitudes dos amigos e inimigos em relação a Jesus. Ambos os grupos o interpretaram mal, com o resultado de que seus amigos preocuparam-se demais com o seu bem-estar, enquanto seus inimigos voltaram-se contra ele com acusações viciosas.
3:20. Que nem podiam comer pão. Marcos dá um vislumbre das grandes multidões que continuamente vinham ouvir e ver Cristo. Pão deve ser entendido como uma referência ao alimento em geral. 21. Os parentes que se preocuparam eram de fato membros da família, que é a conotação normal da frase grega, hoi par' autou. Parece que sua mãe e seus irmãos ficaram sabendo, lá em Nazaré, de suas incessantes atividades. Seu propósito era de o prender e de levá-lo à força com eles, porque achavam que ele estivesse esgotado e mentalmente perturbado.
3:22. Quando a família chegou a Cafarnaum, encontrou o Senhor ocupado discutindo com os escribas... de Jerusalém. A discussão surgiu por causa das repetidas acusações dos escribas (gr., imperfeito, elegon) que Jesus estava aliado ao poder satânico. Belzebu. A origem e o significado da palavra não são conhecidos, mas obviamente foi usada nesta ocasião referindo-se ao diabo, o maioral dos demônios. A acusação era que Cristo recebera poder do próprio Satanás e que através dele expulsava demônios.
3:23. Jesus tomou a iniciativa e convocando os seus acusadores, convidou-os a enfrentá-lo face a face. A lógica que usou contra aqueles acusadores foi irrefutável. Se concordassem que os demônios são servos de Satanás, então seria ilógico assegurar que Ele estivesse expulsando os seus próprios servos. Este argumento o Senhor reiterou em 3:24-27, corroborando-o com uma série de ilustrações.
3:27. O valente deve representar Satanás. Expulsar demônios é entrar na casa e roubar-lhes os seus bens. Cristo estava afirmando que, em vez de estar aliado a Satanás, Ele estava ocupado em combater o mesmo.
3:29. Blasfemar contra a Espírito Santo é o ato de injuriar, vilipendiar, falar maliciosamente contra a Espírito. Para tal pecado não haverá perdão nunca. Visto que é réu, culpado, intimado, tem o sentido de estar sob o seu domínio. Todos os melhores manuscritos dão pecado eterno em lugar de eterno juízo.
3:30. Porque diziam. A declaração dos escribas revela a natureza de sua ofensa eterna. Eles explicavam os milagres de Cristo como exorcismo realizado pelo poder de Satanás, quando na realidade eram realizados pelo Espírito Santo. Entretanto, não devemos interpretar esta passagem como se ensinasse que uma simples declaração contra o Espírito seja pecado imperdoável, pois isto seria contrário ao ensino geral das Escrituras que todo e qualquer pecado será perdoado à alma arrependida. A essência do “pecado eterno” é a atitude do coração que sustenta o ato. À luz das Escrituras, considerando-as como um todo, esta atitude só pode ser um estado de espírito fixo e impenitente que persiste na rejeição rebelde das propostas do Espírito Santo.
3:31. Enquanto Jesus estava ocupado nesta discussão com os escribas, chegaram sua mãe e seus irmãos e mandaram chamá-lo. Parece que fizeram a viagem de Nazaré a fim de levá-lo com eles para casa para descansar e se recuperar, pois é o que pensavam que estava precisando (conf. 3:20, 21). Irmãos. Veja comentários sobre 6:3.
3:33. Cristo aproveitou esta ocasião oportuna para destacar a importância de se relacionar com ele espiritualmente.
3:35. A entrada na família de Deus se consegue fazendo a vontade de Deus, e tal obediência começa ouvindo, crendo e seguindo o Filho de Deus.