Interpretação de Marcos 5

Marcos 5

5:1. Os gerasenos. Os manuscritos gregos dividem-se entre três diferentes nomes nesta passagem – gadarenos, gerasenos e gergesenos. Há mais indícios que favorecem gerasenos, um termo que alguns consideram referente a bem conhecida Gerasa, vinte milhas ao sudeste do Mar da Galileia. Há, portanto, bons motivos, para crermos que Marcos se refere a uma cidadezinha do mesmo nome no litoral ocidental, cujas ruínas chamam-se hoje em dia Quersea (cons. Harvie Branscomb, Mark, págs. 89, 90).

5:3. Este homem morava habitualmente nos sepulcros ou entre as sepulturas, como indica o imperfeito grego. Alcançara um estado tão extremo que não podia ser amarrado por ninguém, nem mesmo com cadeias.

5:4. A impossibilidade de prender o homem foi dramaticamente enfatizado pelos termos e tempos vigorosos. Os grilhões eram usados nos pés. Quantas vezes foi amarrado estraçalhou as cadeias e esmigalhou os grilhões. Ninguém podia subjugá-lo. O texto grego indica que ninguém tinha forças suficientes para amansar esta besta humana.

5:5. De dia e de noite, continuamente (texto grego) clamando, dando gritos e guinchos e ferindo-se com pedras. O último verbo está na forma intensiva, significando que ele se cortava todo ou se reduzia drasticamente em pedaços.

5:7. Jesus, Filho do Deus Altíssimo. Uma indicação notável de conhecimento sobrenatural. O homem sofredor tinha consciência do nome humano de Jesus e também de sua Divindade, embora este, conforme parece, fosse o seu primeiro encontro com Cristo. Tal conhecimento é prova que o homem não estava simplesmente louco; estava habitado por poderes demoníacos que conheciam a verdadeira identidade de Cristo. Não me atormentes. Mateus 8:29 diz, “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” E Lc. 8:31 fornece maiores esclarecimentos contando que eles lhe pediram que não os enviasse “para o abismo”. O tormento do qual falavam os demônios é o castigo final depois do dia do juízo; eles pediram que não os aprisionasse no abismo antes do tempo.

5:9. A pergunta, Qual é o teu nome? foi endereçada ao espírito imundo (demônio) mencionado no versículo 8. Este mesmo espírito responde em 5:9, 10. Já por outro lado, no versículo 12, todos os demônios falaram. Legião. Uma unidade do exército romano que consistia de mais de 6.000 homens. Somos muitos. Um demônio era o porta-voz dos muitos outros que tinham se apossado do homem.

5:10 O significado da frase, para fora do país, encontra-se na referência que Lucas faz ao abismo (8:31). Eles temiam ir ao lugar da prisão onde teriam de permanecer sem corpo até o julgamento.

5:12, 13 Em lugar de serem desincorporados imploraram que fossem enviados para os porcos. A questão persistentemente provocada por esta passagem refere-se à ética da atitude de Jesus, resultando, como aconteceu, na destruição da propriedade alheia. Uma resposta comum tem sido que os judeus não deviam possuir porcos, e que Cristo assim repreendeu-os por contrariarem a lei de Moisés. Mas considerando que a região de Decápolis continha uma população mista de judeus e gentios, não temos certeza se os proprietários eram judeus ou que esse fosse o propósito da atitude de Jesus. Observe que ele não ordenou aos demônios que entrassem nos porcos; apenas permitiu. Foram os demônios, não o Senhor, que causaram a destruição. O fato de Cristo ter permitido o ato não o torna mais responsável do que Deus é responsável pelo mal de qualquer qualidade só porque o permite. O diabo afligindo Jó é um exemplo disso (Jo 1:12; 2: 6, 7).

5:15 Temeram, não do homem curado, mas do notável poder que o tinha curado. Estavam conscientes do poder sobrenatural na pessoa de Cristo mas inconscientes do seu infinito amor e misericórdia.

5:17 Sem o saber, imploraram à fonte da bênção e salvação em potencial que se retirasse do seu território.

5:18 Enquanto Jesus entrava no barco, o endemoninhado já curado continuou rogando que o deixasse estar com ele. Só ele, entre todos os seus conterrâneos, viu em Jesus, não alguém a temer, mas alguém a amar.

5:19. Jesus, porém não lho permitiu. Isto é, não permitiu que o acompanhasse. Em lugar disso, ordenou-lhe que fosse a sua própria gente e lhe contasse tudo quanto o Senhor te fez. Um princípio básico está sob a ordem de Cristo. O homem não é liberto da escravidão apenas para o prazer de desfrutar a liberdade concedida por Deus, mas também para dar o seu testemunho aos outros em relação ao divino Libertador. Nas terras ao leste do Mar da Galileia não havia motivos para se temer qualquer crise causada por excesso de popularidade. Por isso o endemoninhado curado foi estimulado a espalhar a sua história. Teve compaixão. O verbo grego significa ter compaixão ou piedade de alguém.

5:20. Em Decápolis. Esta região fica ao sudeste do Mar da Galileia, que continha dez cidades (deka, “dez”; polis, “cidade”) com cultura e organização gregas.

5:21-43 Nos versículos seguintes foram descritos dois milagres notáveis. A cura da mulher que tinha uma hemorragia, que se realizou sem qualquer ato aparentemente cônscio da parte de Cristo. A ressurreição da filha de Jairo foi o segundo exemplo no ministério de Cristo de restauração de vida aos mortos (cons. Lc. 7:11 e segs.).

5:22 Jairo era um dos principais da sinagoga, que o identifica como um dos anciãos que estavam encarregados do serviço da sinagoga que Jesus frequentava em Cafarnaum.

5:23. Insistentemente lhe suplica. Ele continuou implorando, talvez repetidas vezes e com desespero. Filhinha. Todos os comentaristas acham que o diminutivo indica um termo carinhoso. Está à morte. Uma boa paráfrase do texto grego, que indica que ela estava no último estágio de sua doença. O grego de Marcos descreve com muita vida a angústia desse pobre pai ao rogar em frases entrecortadas: “Minha filhinha está às portas da morte – que venhas e...”

5:24. A multidão que seguia Cristo continuou amontoando-se ao redor dele (imp. gr. synethlibon).

5:25. De uma hemorragia. Nenhum dos Evangelhos descreve especificamente a natureza desta hemorragia a não ser que era uma doença crônica.

5:26 Marcos é muito franco em seus comentários referentes à experiência da mulher com vários médicos. Ela foi de um médico a outro em busca de cura. Mas em lugar de ser curada, sofreu muito nas mãos deles, gastou tudo o que tinha e ainda piorou. Lucas, o médico, não é tão rude na sua descrição (Lc. 8 : 43).

5:27 A multidão que continuou a assediá-lo.

5:28 (Ela) dizia. “Ela continuou dizendo” (imp. gr.), provavelmente a si mesma.

5:29, 30 Esta cura foi excepcional, não simplesmente porque foi instantânea mas porque aconteceu sem qualquer participação aparentemente cônscia de Cristo. Entretanto, Jesus logo tomou conhecimento do que aconteceu. Não devemos imaginar que o tocar nos vestidos tivesse algum efeito mágico, mas que Jesus em sua onisciência reconheceu o toque da fé e satisfez o desejo da mulher. Pode-se também aceitar que a cura não fosse um ato consciente de Cristo, e que foi Deus o Pai que curou a mulher. Neste caso, Jesus, na limitação de sua humanidade, não o percebeu até que o milagre aconteceu. Poder. Era “poder” (gr.: dynamin) que operou a cura. A pergunta, Quem me tocou?, pode ter sido feita a fim de revelar o milagre à multidão, se aceitarmos que a cura foi conscientemente operada por Cristo. Caso contrário, Cristo pode ter perguntado para sua própria informação.

5:31 Como de costume, a maneira pitoresca de Marcos usar os tempos dos verbos esclarece-nos. Ele conta que os seus discípulos continuaram insistindo, “Não vês que a multidão te aperta continuamente...”

5:32 Evidentemente a mulher não foi percebida à primeira vista, pois Marcos diz que ele continuou olhando em redor (gr. tempo imp. voz média).

5:34. Tua fé. Vemos a fé desta mulher em ação em 5:27, 28, uma tão forte confiança que ela não achou necessário captar a atenção de Jesus. Te salvou... fica livre do teu mal. A primeira expressão significa literalmente te salvou, referindo-se à salvação da aflição física. A segunda expressão significa tenha saúde, e é um imperativo presente, significando que ela devia continuar tendo saúde.

5:35. A pergunta dos mensageiros, Por que ainda incomodas? indica que eles não esperavam uma restauração à vida. Mestre. O texto grego diz didaskalon, “professor”.

5:36 Jesus, ignorando os comentários, disse ao doutor, “Pare de temer! Continue crendo!” Os dois verbos se encontram no tempo presente no grego. A notícia desencadeou o medo no coração do homem, mas Cristo insistiu com ele a não abandonar sua fé anterior.

5:38. O alvoroço. Entre os judeus a lamentação pelos mortos era algo que nada tinha de moderação a respeito. Pranteadoras profissionais eram alugadas para que houvesse uma demonstração de tristeza. Mateus 9:23 menciona tocadores de flauta e a multidão que também estava fazendo tumulto.

5:39 A impropriedade da demonstração levou Cristo a perguntar, Por que estais em alvoroço? ou, mais literalmente, “Por que vocês estão fazendo tão grande gritaria?” A declaração de que a menina não estava morta mas dormindo tem sido interpretada por alguns que ela não estava realmente morta mas em estado de coma. Entretanto Lc. 8:55 diz que o seu espírito voltou, indicando que ela estivera morta. A referência de Cristo à morte chamando-a de sono foi interpretada como uma sugestão de que a condição era temporária e que a pessoa despertaria novamente.

5:40 Os pranteadores, interpretando literalmente a figura de linguagem de Jesus, riram (gr., imp.) dele, zombando. Sabiam que a menina estava morta, e tinham certeza de que a morte é permanente. Mandando sair a todos. O verbo de Marcos é vigoroso, significando, expulsando-o Cristo expulsou a multidão escarnecedora para fora da casa.

5:41. Talita cumi. Transliteração do aramaico de “Menina, levante-se.” Marcos insere as palavras eu te mando.

5:42. Imediatamente a menina se levantou (ação imediata) e andava (ação contínua). Doze anos. Tinha idade suficiente para andar. Os pais e os discípulos ficaram indescritivelmente assombrados com o milagre a ponto de ficarem fora de si de espanto.

5:43 Jesus ordenou que ninguém o soubesse para que os pais não proclamassem a notícia e a agitação difundida não precipitasse uma crise antes de chegar a hora da morte do Salvador (Jo. 12:23, 27).

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