Interpretação de Marcos 7
Marcos 7
7:1-23 Estes versículos registram o conflito entre Cristo e os fariseus sobre a questão básica da fonte da autoridade. A tradição possui autoridade divina? Ela é igual, ou superior, à Palavra de Deus escrita? Também está envolvida aqui a discussão da verdadeira natureza da imundície e purificação. O cenário desta parte parece que foi os arredores de Cafarnaum.7:2 A explicação que Marcos faz dos costumes judeus é digna de nota, indicando como faz, de que o Evangelho foi escrito para uso dos gentios. Mãos impuras. Mãos cerimonialmente imundas. Repreendiam não se encontra nos melhores manuscritos. A sentença foi deixada incompleta e Marcos a interrompe para introduzir a explicação dos versículos 3, 4.
7:3 Os fariseus tinham tão grande influência que o lavar das mãos tornara-se, de um modo geral, prática de todos os judeus. O texto grego não apoia o uso da expressão muitas vezes. Em vez disso, ele diz com o punho, provavelmente se referindo ao ato de esfregar o punho de uma mão na palma da outra ao lavá-las.
A tradição dos anciãos era o corpo não-escrito de ordens e ensinamentos dos venerados rabis do passado, um conjunto de 613 regras com o fim de regular cada aspecto da vida.
7:6 Jesus não quis dizer que Isaías predisse especificamente as práticas dos judeus do primeiro século, mas que as palavras de Isaías relativas às pessoas do seu próprio tempo também se aplicavam aos judeus do tempo de Cristo. A citação é de Is. 29:13, seguindo a Septuaginta, com pequena alteração. O termo hipócritas é um epíteto bem escolhido, pois se referia originalmente a um ator que usava máscara e parecia ser o que realmente não era.
7:8 O ponto principal da citação de Isaías refere-se à substituição do mandamento de Deus pela tradição dos homens. Não foi uma declaração exagerada, pois os fariseus consideravam a tradição oral como superior em autoridade relativamente à lei escrita do V.T.
7:10 Em 7:9-13 esta exaltação da tradição recebe uma ilustração específica. A lei de Moisés foi citada no que se refere à honra devida aos pais. A primeira citação é de Dt. 5:16 e identifica-se com a Hebraica e a Septuaginta. A segunda, que é de Êx. 21:17, segue de perto o texto hebraico.
7:11 Como um contraste, Cristo cita a tradição rabínica que põe de lado o mandamento mosaico dado por Deus. Corbã é a transliteração da palavra hebraica que significa oferta, conforme Marcos explica em benefício dos seus leitores gentios. A palavra foi usada referindo-se a algo dedicado a Deus por meio de um voto inviolável. Se um filho declarasse que a quantia necessária para o sustento de seus pais era Corbã, esse voto era inalterável, mesmo pondo de lado o mandamento mosaico.
7:13 A palavra de Deus foi colocada em agudo contraste com a tradição dos homens. Observe que Cristo considerava a lei mosaica dada por Deus. Invalidar é tornar inválido ou nulo. O tempo presente, fazeis, fala de uma prática habitual.
7:14. Nos versículos 14-16 o Senhor volta ao assunto da imundície e purificação, mas aqui ele fala não somente aos fariseus e escribas mas também à multidão reunida outra vez. Logo a seguir Cristo discute o assunto com os seus discípulos (7:17-23).
7:15. Nada há fora do homem – isto é, nada que é físico – pode torná-lo imundo moral ou espiritualmente. No caso em discussão (v. 2), o comer sem lavar as mãos não pode produzir impureza espiritual. Tal impureza é interna na origem. O homem fica impuro pelos pensamentos que se originam no coração e saem na forma de palavras e atos. Aqui Jesus explicou o significado espiritual das leis referentes ao que é puro e imundo (Lev. 11). Um dos motivos porque foram dadas foi ensinar exatamente esta verdade da impureza espiritual, mas esses líderes judeus jamais foram além da mera exterioridade.
7:18 Puros todos os alimentos. A melhor explicação é que deveria estar ligado à ele disse (v. 18). Jesus, explicando em 7:18,19, declarou que todo o alimento é “puro”. Ele pôs de lado a distinção levítica entre o puro e o imundo (cons. Atos 10:14, 15).
7:19. O coração quando citado na Bíblia não é simplesmente a sede das emoções mas também um lugar de atividade mental e volitiva. Refere-se ao homem interior, não-físico. O ventre refere-se à cavidade do corpo que contém o estômago e os intestinos. Depois que o processo digestivo se completa, o restante sai para lugar escuso, isto é, vai para o esgoto.
7:20-22. Estes versículos contêm a explicação de Jesus sobre o que significava o que sai do homem. Os maus desígnios devem ser entendidos como sendo maquinações ou planos malignos, pensamentos deliberados. A palavra usada para lascívia tem significado mais forte de traição. Dissolução é a imoralidade não controlada e não disfarçada. A palavra inveja, em alguma outra cultura que não a judia, poderia se referir à feitiçaria (mau olhado, em português). Entre os judeus, entretanto, é uma expressão para a inveja. Neste contexto, a loucura é mais moral do que intelectual.
7:24-30. Neste pequeno trecho Marcos conta uma viagem mais ou menos longa de Cristo à região da Fenícia, onde aconteceu o incidente com a mulher siro-fenícia.
7:24. As terras de Tiro e de Sidom. Uma expressão idiomática para a região de Tiro e Sidom. Foi a única vez, até onde vai o registro, em que Jesus saiu da Palestina para visitar um território estritamente gentio. Seu propósito nessas viagens fora da Galileia não foi, em primeiro lugar, ministrar às multidões, mas instruir seus discípulos, razão porque queria que ninguém o soubesse.
7:26. Grega. É o mesmo que identificar a mulher como gentia. De nascimento era síria da região da Fenícia. Rogava-lhe. O uso que Marcos faz do imperfeito grego descreve um pedido contínuo da mulher.
7:27 Jesus usou o termo filhos representando os judeus. sua missão era em primeiro lugar junto aos judeus para que eles pudessem, por sua vez, cumprir a sua obrigação de serem uma bênção a todas as nações através da proclamação mundial do Evangelho. Cachorrinhos. Era um termo judeu comum usado para menosprezar os gentios. Entretanto, foi abrandado pelo uso do diminutivo, “cachorrinhos”, ou “filhotes”. Eram cachorrinhos de estimação, não os cães vadios das ruas.
7:28. A resposta destemida da mulher foi a resposta da fé. Os cachorrinhos debaixo da mesa. Usando o terno diminutivo que Cristo usou em relação aos cães, ela descreve uma cena tocante dos cachorrinhos lambendo as migalhas que caíam das mãos das crianças. Tudo o que pedia era uma migalha das bênçãos que estava à disposição da parte dos judeus.
7:29. Jesus reconheceu nessa palavra da mulher a existência de uma fé genuína (cons. Mt. 15:28). Enquanto Ele falava, o demônio saiu (gr. perfeito) de sua fúria. O aspecto diferente deste milagre foi que realizou-se à distância, sem qualquer ordem vocal de Cristo.
7:31–8:9 A volta da região de Tiro e Sidom não levou Cristo de volta à Galileia; em vez disso, o caminho que tomou contornava a praia ocidental do lago, levando-o à Decápolis. Ali Jesus curou o surdo que tinha um impedimento da fala (7:31-37), e alimentou a multidão de 4.000.
7:31 Neste ponto Marcos é o mais explícito dos escritores do Evangelho. Ele nos conta que Jesus deixou a região de Tiro e passou por Sidom (os melhores manuscritos gregos) aproximadamente vinte e cinco milhas ao norte, penetrando pelo território gentio adentro. Depois, voltando para o sul, ele passou pela praia ocidental do Mar da Galileia na região de Decápolis (veja comentários sobre 5:20).
7:32 A extensão do impedimento de fala é discutível. Mogilalon pode ser usado falando-se de alguém que é completamente mudo, mas seu significado literal é falando com dificuldade. A declaração de 7:35 que ele falou perfeitamente parece indicar que, antes, não era capaz de falar claramente. Entretanto, a exclamação do povo em 7:37 foi que ele faz os mudos (gr.) falarem.
7:33 Que o Senhor não tinha necessidade de tocar uma pessoa para curá-la já foi demonstrado anteriormente (cons. 2:3-12; 3:5; 7:29, 30). Aqui Jesus pôs-lhe os dedos nos ouvidos para mostrar o que Ele ia fazer e assim ajudá-lo a crer. Dois outros fatos simbólicos se seguiram. Tocou a língua com saliva. O texto não diz que Ele tivesse aplicado a saliva à língua.
7:34. Suspirou. A palavra pode se referir a um gemido. Talvez fosse uma expressão de simpatia ou desespero por causa do sofrimento da humanidade. Efatá. Uma palavra aramaica que Marcos traduz para os seus gentios.
7:35. O empecilho da língua. O laço (gr.) que prendia a sua língua foi desamarrado. Desembaraçadamente. Começou a falar correta ou perfeitamente.
7:36 Cristo ainda precisava evitar excessiva publicidade (cons. 5:43). Entretanto, o povo não podia ser aquietado. Continuaram proclamando o milagre tanto mais.
7:37. Sobremaneira. A admiração do povo excedia todas as medidas. Marcos usa uma palavra muito vigorosa aqui (hyper-perissôs).
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