Interpretação de Marcos 8
Marcos 8
8:1. Os quatro mil que foram alimentados não tiveram um cenário específico além da declaração generalizada de que aconteceu em um lugar deserto (v. 4). Naqueles dias. O texto grego acrescenta a palavra “novamente”, provavelmente referindo-se aos cinco mil que há pouco foram alimentados.8:2. Jesus foi movido de compaixão para com esse povo exatamente como fora na ocasião em que dera de comer aos cinco mil (6:34), mas aqui a sua preocupação foi causada mais pela necessidade física do que pela condição espiritual.
8:6. Aqui, por ocasião dos cinco mil, as palavras tomando, partiu-os, após ter dado graças estão todas no aoristo grego, mas a palavra deu está no imperfeito, mostrando que Cristo continuou dando pão aos discípulos para a distribuição (cons. 6:41).
8:8. A suficiência do milagre vê-se nas declarações de que comeram e se fartaram e que sobejaram pedaços em abundância (gr.). A palavra alimento, refere-se ao alimento em geral. Essas cestas eram diferentes daquelas que foram usadas depois de alimentar os cinco mil. Isto está indicado pela distinção feita entre os dois em 8:19, 20 (texto grego). O tipo de cestos usados desta vez era bem maior. Foi o tipo usado para descer Saulo por cima do muro de Damasco (Atos 9:25). Assim, as sete canastras de 8:8 provavelmente continham mais do que os doze cestos de provisão de 6:43.
8:10–9:50 A quarta e última retirada da Galileia foi para o norte na região de Cesareia de Filipe. Vindo de Decápolis, Jesus atravessou o Mar da Galileia na direção da costa oriental, onde os fariseus o encontraram pedindo-lhe um sinal (8:10-12). Depois ele viajou de barco dirigindo-se para o nordeste na direção de Betsaida Julias (8:13-21), onde curou um cego (8:22-26). Dali sua viagem o levou por terra até às vizinhanças de Cesareia de Filipe. Aqui novamente, a principal atividade de Cristo foi instruir os discípulos com referência a temas tais como a sua pessoa, sua morte e ressurreição, o discipulado deles e a sua vinda em glória prefigurada na Transfiguração (8:27 – 9:13). Aqui também ele curou outro endemoninhado (9:14-29). Depois disso, Cristo retornou à Galileia, prosseguindo com a instrução dos Doze (9:30-50).
8:10 Até o presente os mestres não conseguem determinar a localização da cidade de Dalmanuta com certeza. O contexto parece supor uma localidade, do outro lado do mar partindo de Betsaida, provavelmente na praia oriental (cons. vs. 13, 22). Mateus a chama de Magadã (Mt. 15: 39; texto grego), um lugar também desconhecido para nós hoje em dia.
8:11 Os fariseus estavam pedindo um sinal sensacional da parte de Deus para provar que Jesus era o Messias. Tentando-o. A palavra grega peirazô quer dizer “experimentar”. Em vez de tentarem Jesus a pecar, eles estavam experimentando-o por causa de suas mentes incrédulas.
8:12 Tão persistente recusa em crer levou Cristo a suspirar do íntimo do seu espírito um gemido. A palavra, empregada aqui em sua forma intensificada, significa provavelmente que ele realmente gemeu quando o cansaço e a tristeza penetraram nas profundezas do seu coração.
Por que esta geração pede um sinal? (cons. Jo. 2:18; Mt. 12:38). Mateus acrescenta uma exceção à declaração de Cristo, dizendo que nenhum sinal lhes seria dado (Mt. 16: 4). O sinal de Jonas foi explicado em Mt. 12:39, 40 como se referindo à ressurreição de Cristo, o milagre mais significativo de todos.
8:15 Preveniu-os Jesus repetidas vezes (gr. imp.), mostrando a urgência da necessidade de estarem continuamente em guarda (gr. pres. prestem atenção, estejam atentos). O fermento foi usado aqui simbolizando alguma coisa com influência perigosamente penetrante. Lucas 12:1 explica que fermento dos fariseus é a hipocrisia. O fermento de Herodes pode ser a influência dos herodianos, que possuíam um espírito mundano, um secularismo infeccionante.
8:19, 20 Os discípulos tão depressa esqueceram-se das lições básicas da ocasião em que os cinco e os quatro mil foram alimentados. O Filho de Deus não precisa se preocupar com a alimentação de treze homens numa curta viagem através do lago. Há pouco demonstrara o seu poder fornecendo alimento a mais do que nove mil pessoas.
8:22 A cura do cego aconteceu quando Jesus passou por Betsaida Julias no seu caminho a Cesareia de Filipe.
8:23 Jesus levou-o para fora da aldeia, provavelmente para evitar publicidade excessiva (cons. v. 26). Aqui, como no caso do surdo (7:33), ele usou a saliva, não como um medicamento, mas como auxílio à fé do homem que não podia ver.
8:24 Esta cura foi diferente das outras em que consistia de duas etapas. Depois dos primeiros atos de cura, o homem viu as pessoas indistintamente, como objetos que se movessem, como árvores as vejo andando.
8:25 O segundo estágio da cura foi precedido pelo toque nos olhos. O texto grego não diz que Jesus mandou que olhasse para cima, mas que o homem olhou firmemente. E quando o fez, começou a ver todas as coisas de modo perfeito.
8:26 Novamente a fim de evitar os resultados de indesejada publicidade, Cristo mandou o homem para casa. Dizendo-lhe que não entrasse na aldeia indica que ele morava em outro lugar, talvez nas redondezas.
8:27 Indo para o norte de Betsaida, Cristo chegou às aldeias de Cesareia de Filipe. Mateus (16:13) explica que ele chegou às partes (gr.) ou à região de Cesareia. Marcos fez referência às aldeias localizadas nos campos à volta da cidade maior. Esta Cesareia, situada ao noroeste da tetrarquia de Filipe, era chamada de Filipe para distingui-la da outra Cesareia que ficava na costa mediterrânea.
8:29. Mas vós, quem dizeis. Este era o ponto ao qual Cristo queria chegar. A ênfase foi colocada sobre a palavra “vós”. “Mas vós (em contraste com os outros), quem dizeis que eu sou?” Pedro foi o porta-voz dos discípulos. Sua admissão de que Jesus é o Cristo foi apresentada da maneira mais completa em Mt. 16:16, que acrescenta as palavras “o Filho do Deus vivo”. Jesus é o Messias prometido e também o único Filho de Deus.
8:30 Aqui novamente Cristo ordenou silêncio, provavelmente por causa das ideias revolucionárias ligadas ao conceito messiânico. Cristo não estava pronto nessa ocasião para estabelecer um reino messiânico terreno.
8:31 Em vez disso, na sua primeira vinda, Cristo veio para sofrer, ser morto e ressuscitar. Atenção especial deve-se dar ao forte contraste entre a confissão apaixonada de Pedro e a imediata declaração de Cristo sobre a sua morte e sofrimento. Observe que Aquele que tinha de morrer foi designado pelo título messiânico, Filho do homem. A cruz era um aspecto necessário da obra do Messias. Era necessário que sofresse muitas coisas.
8:32. Expunha claramente. O imperfeito grego foi usado para mostrar que Jesus começou e continuou a falar sobre a sua morte. Já não se referia a ela da maneira velada (cons. Jo. 2:19), mas desse momento em diante ele instruía seus discípulos claramente e explicitamente sobre o fato. Foi o segundo estágio do seu treinamento. Pedro chamando-o à parte repreendeu-o por falar desse modo. Na mentalidade de Pedro a morte violenta não se harmonizava com a dignidade messiânica.
8:33 A tentativa de Pedro de dissuadir o Senhor de ir para a cruz foi parecida com a tentação no deserto. Nesta ocasião, Satanás, com grande sutileza, usou um dos discípulos mais achegados a Cristo (cons. Lc. 4:13). Observe repreensão semelhante em Mt. 4:10. Cogitas. O verbo grego refere-se à disposição da mente, a direção do pensamento. A mente de Pedro corria em direção contrária dos propósitos de Deus.
8:34 O ensinamento registrado em 8:34-38 é o resultado natural do fato do sofrimento de Cristo. Se alguém quer vir após Cristo deve andar pelo caminho que ele andou, o caminho da abnegação e da cruz. A cruz é o símbolo do sofrimento, e a abnegação fala da prontidão em sofrer por alguém. Cristo é o padrão; o discípulo deve segui-lo continuamente (gr. pres. imperativo).
8:35. O paradoxo desses versículos foi resolvido entendendo-se que o Senhor usou o termo vida em dois sentidos diferentes. A primeira expressão, salvar a sua vida, refere-se à preservação da vida física salvando-o da morte. A pessoa que se devota completamente à proteção desta vida perderá aquela que é eterna. Pelo contrário, a pessoa que é tão devotada a Cristo que está pronta a perder a sua vida, é a pessoa que ganha a verdadeira vida. Descobre que o morrer é ganho (Fl. 1:21). Esta não é uma descrição do caminho da salvação para os perdidos, mas antes a filosofia da vida do discípulo.
8:36 Aqui o contraste está entre o mundo e a alma. O último termo é o mesmo que vida no versículo 35. Ambos são traduções de psyché. Este princípio se aplica ao nível físico como também ao espiritual. Que valor há em se obter tudo o que o mundo oferece se uma pessoa morre e não pode desfrutá-lo? Ou, qual a virtude de se amontoar um mundo de possessões terrenas durante alguns poucos anos se isso significa perder a vida eterna.
8:38 Quando Cristo usou a expressão, se envergonhar de mim e das minhas palavras, estava estabelecendo um contraste com a atitude de disposição de perder-se a vida por causa dele e do Evangelho (v. 35). Se envergonhar é negar Cristo na hora da provação em lugar de ficar com ele, mesmo sob o risco da morte. É ficar do lado desta geração pecadora e não com Cristo. Adúltera. Usado espiritualmente para descrever a infidelidade para com Deus. Da mesma maneira, quando o Senhor vier como Juiz, ele se envergonhará e repudiará aqueles que o repudiaram.
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