Explicação de Apocalipse 16
Explicação de
Apocalipse 16
Apocalipse 16.1-21: Vão e derramem sobre a terra. Não
podemos deixar de nos lembrar das pragas que prepararam a saída do Egito (Êx
7—10), pragas que foram se tornando cada vez mais fortes, enquanto os corações
endureciam perante Deus (v. 9). Endurecer o coração é sinal da ausência do
Espírito Consolador, é não reconhecer a existência e soberania de Deus — e preferir
seguir o Anticristo, com seu governo e sistema de crenças descrito como os dois
monstros, as bestas do cap. 13. Estas pragas vêm castigar todos os que foram
atrás dos sinais miraculosos da besta e, assim, passaram a perseguir os
verdadeiros adoradores de Deus. A primeira taça (v. 2) provoca feridas
terrivelmente doloridas nas pessoas que obedeceram ao Estado único, enquanto
que a quinta taça (v. 10) faz com que o reino da besta (esse único governo
existente nessa época) seja ele próprio lançado na escuridão, algo que
provavelmente signifique a total perda de orientação, o caos.
Como auge das advertências, assistimos ao fim da natureza: todo o
oceano se torna um lugar morto, e toda a água potável se torna como sangue
pisado (escuro, não vermelho), e o aquecimento do planeta alcança seu pico, com
o sol infligindo queimaduras de fogo nas pessoas. Mais uma vez, as pessoas não
se arrependeram de seu estilo de vida sem Deus, e o juízo continua. A sexta
taça elimina os limites entre Oriente e Ocidente (algo que já começou a ocorrer),
fazendo com que todas as nações sejam igualmente enganadas a resistir contra
Deus (esta é a famosa Armagedom — a batalha final). Com a última taça, aí está o
grande terremoto novamente, mas desta vez ele é mostrado em mais detalhe. O
conteúdo da taça (que poderia até ser uma bomba) é lançado na atmosfera, causando
relâmpagos, estrondos, trovões e um violento
terremoto, tão
violento como nunca houve igual (v. 18). Todas
as cidades são destruídas, e pedras de 30 kg começam a cair do céu
(presumivelmente após terem sido lançadas para o alto pela mesma explosão que
provocou o terremoto).
Apocalipse 16.1: ira de Deus. Como
entender um Deus amoroso, que agora se mostra irado? Ajudará se percebermos o tamanho
da maldade humana. Pense na corrupção dos políticos, retirando dinheiro do povo
para benefício próprio; nos abusadores de crianças; nos que enriquecem às custas
da miséria e do vício dos mais fracos. Essas características estão presentes no
coração de todos os humanos, e a justiça e santidade de Deus, juntamente com
seu amor e sua verdade, não poderiam mesmo ignorar tanta maldade. Isso é
reafirmado no v. 5 ("Tu és justo... ó Deus santo") e no v. 7
("os teus julgamentos são... verdadeiros e justos"). Uma coisa,
então, não contradiz a outra se entendermos que Deus mostra a sua graça e
bondade para conosco até mesmo nos disciplinando e nos corrigindo, ainda que duramente, se necessário for. Sua misericórdia foi maior que
o juízo ao oferecer gratuitamente o castigo substitutivo em Jesus Cristo,
livrando assim todos os que nele creram. Agora estamos no momento do castigo
dos que recusaram a oferta da salvação. Veja
o quadro "Os pecados
e a salvação em Jesus" (]o 3)
Apocalipse 16.6: lhes deste sangue para beber. A água potável se transforma em sangue para vingar o sangue de todos
os mártires — aqueles que se deixaram matar pelos inimigos de Deus porque
consideraram a vida em Deus mais preciosa que a vida na terra. Estes são as
testemunhas da fé, que nos inspiram a ficarmos firmes em Cristo no sofrimento, recebendo o que merecem. Isso é verdade, mas
preste atenção quando sente algum prazer na condenação e castigo que atingem outras
pessoas, porque diante de Deus não há bondade em nenhum de nós. Se somos
poupados em algum momento e em determinadas circunstâncias, é por ato
misericordioso do próprio Deus, que ofereceu Jesus para sofrer em nosso lugar.
Apocalipse 16.9: e amaldiçoaram o nome de Deus. Aqui se pode retirar um critério para discernir reações perante o
sofrimento: quando ficamos na presença de Deus, enternecemos o coração em meio
à dor — seu Espírito Consolador faz esta obra em nós — e assim buscamos o abrigo
do Pai em Jesus Cristo. Quando, porém, nos afastamos de Deus, endurecemos o
coração e ainda blasfemamos contra Deus.
Blasfemar é diferente de reclamar: podemos levar nossas queixas a Deus
— isso é sinal de que me relaciono com ele, e espero nele. O blasfemar não
busca nenhum relacionamento; pelo contrário, só visa xingar e explodir em revolta
e rejeição, não se arrependeram. É doloroso admitir que o ser humano é capaz de resistir teimosamente
aos propósitos de Deus e se opor irremediavelmente. Que terrível disposição
perversa e maligna podemos abrigar em nosso íntimo! Precisamos admitir que, por
inclinação natural, temos uma atitude hostil a Deus, e não o contrário.
Apocalipse 16.14-16: grande Dia de Deus. É
correto pensar que a história, tal como hoje a percebemos, terá fim neste
esperado "grande dia". Lembrando que o Apocalipse utiliza a linguagem
do Antigo Testamento para falar do povo de Deus atual, o Armagedom muito provavelmente
será uma perseguição mundial contra os verdadeiros cristãos, e não uma batalha
palestina. Será em meio a este cerco, também representado pelo assassinato das
duas testemunhas (cap. 11) e pelo cerco ao final dos mil anos (20.7-9), que
Jesus voltará (v. 15), e trará o fim do mundo como o conhecemos. A cosmovisão
cristã aponta para a concretização definitiva dos propósitos de Deus, com a
extirpação do mal e suas consequências danosas.
Apocalipse 16.13: que saíam da boca. Haverá
palavras sedutoras que querem fazer o coração se voltar contra Deus; o
sofrimento pode ser uma ocasião perigosa nesse sentido, com ofertas tentadoras
de revolta contra Jesus.
Apocalipse 16.14: espíritos maus que fazem milagres. Se parece possível que o aparente mal provenha do Deus bondoso, aqui
constatamos o inverso: espíritos maus que promovem um bem aparente. Ao analisar
os fatos numa perspectiva maior, concluímos que não é seguro acreditar em
qualquer feito extraordinário, sem questionar a sua origem e o seu significado.
Pois se provêm de forças malignas, mesmo sendo verdadeiramente milagroso, o
resultado será ruim em seu final.
Apocalipse 16.15: Feliz aquele que vigia. O
convite é para vigiar e aguardar a vinda do Senhor, que acontecerá nesse
contexto de vida muito difícil e propostas enganosas. A roupa representa nossas
ações, nossa conduta. Esse versículo, então, como que interrompe a descrição de
várias tragédias e se nos apresenta como um alerta: "escutem, estejam atentos,
guardem-se em adequada compostura". O desígnio maior do livro de Apocalipse
é manter-nos alertas e vigilantes. Feliz quem não se deixa corromper, não deixando
manchar o traje de filho e filha de Deus. Podemos sempre lembrar que Jesus é a
nossa força, ele tem nossa causa e um dia vai vingá-la e enxugar toda lágrima.
Apocalipse 16.17: Está feito! A voz forte
que veio do trono garante que tudo sempre esteve sob o controle daquele que tem
o poder maior. "Tudo está completado" foi a expressão de Jesus Cristo
ao cumprir cabalmente a tarefa de redenção da humanidade (Jo 19.30). Se ainda
havia resistência e oposição às obras de Deus, tudo não passava de gestos agônicos
e desesperados que não prevaleceriam, pois a vitória final já estava estabelecida
desde então. Agora ela terminou de se concretizar, "assim na terra como no
céu".
Apocalipse 16.21: E as pessoas amaldiçoaram a Deus. Em todos os tempos, as pessoas que recusam o senhorio de Cristo ficam endurecidas.
Quando a pessoa endurece o coração contra Deus, ainda vai blasfemar em meio ao
sofrimento e acusá-lo como responsável. O coração endurecido não vê a sua
própria culpa e não consegue reconhecer erros. No processo do aconselhamento
podemos ajudar a pessoa a ser "argila" nas mãos dele, para que o
coração amoleça e não reverta em endurecimento e distanciamento. Veja o quadro "O arrependimento" (Ap 9)