Salmos 73 — Comentário de Matthew Henry
Versículos 1-14: A tentação do salmista; 15-20: Como alcançou a vitória; 21-28: Como se beneficiou por ela.
Vv. 1-14. O salmista estava fortemente tentado a invejar a prosperidade do ímpio; esta é uma tentação que frequentemente prova a graça de muitos santos. Porém, Davi estabelece o grande princípio pelo qual está decidido a permanecer firme. É a bondade de Deus. Esta é uma verdade que não pode ser removida. Os bons pensamentos em relação a Deus fortalecem as pessoas contra as tentações de Satanás. Mesmo a fé dos crentes mais firmes pode ser muito inquietada e tornar-se prestes a fracassar. Há tormentas que colocarão à prova as âncoras mais resistentes. O povo néscio e ímpio tem, às vezes, uma grande quota de prosperidade exterior. Parecem ter a menor quota de problemas desta vida, e uma quota maior de conforto. vivem sem o temor a Deus, e não obstante, prosperam e progridem no mundo. Alguns dentre os maus costumam passar toda a sua vida sem serem acometidos por muitas enfermidades, e terminam seus dias sem grande dor; ao passo que muitas pessoas piedosas somente ouviram falar do que é a saúde, e morrem em meio a grandes sofrimentos. Muitas vezes, os maus não se assustam com as recordações dos seus pecados, nem com a perspectiva de sua miséria, e morrem sem terror. Não podemos julgar o estado dos homens após a morte pelo que acontece em sua morte.
O salmista olhou à sua volta, e viu muitos dentre o povo de Deus que sofriam grandes perdas. Uma vez que os ímpios são tão ousados, o seu povo retorna a este ponto; não sabem o que devem dizer sobre isto e, pior ainda, devido ao fato de eles beberem muito do amargo cálice da aflição. Fala sentido quando relata os seus problemas; não há maneira de lutar contra os sentimentos, a não ser por intermédio da fé. Por causa de tudo isso, surge a forte tentação de desprezar a fé. Porém, aprendemos que o verdadeiro caminho para a santificação consiste em limpar o homem de toda a contaminação, tanto do corpo quanto da alma. O coração é lavado pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, recebido pela fé; e as mãos são limpas através das obras empreendidas pelo Espírito santo, manifestadas pela decisão, propósito e fervoroso estudo da santidade, e do perfeito curso da vida e de suas ações. servir a Deus e guardar as suas ordenanças não é e jamais será algo vão.
Vv. 15-20. Após o salmista mostrar o avanço de sua tentação, mostra como a fé e a graça prevaleceram. Conservou o respeito pelo povo de Deus e, com isto refreou-se de mencionar o mal no qual pensara. suprimir os maus pensamentos do coração é o sinal de que nos arrependemos deles. Nada é capaz de ofender mais aos filhos de Deus do que dizer que é vão servi-lo; nada há mais contrário à experiência universal deles do que este comentário enganoso.
Davi orou a Deus para que Ele lhe esclarecesse bem este assunto; e entendeu o final de desgraça dos que são maus. Apesar de estar no ápice de sua prosperidade, não vivem além de um período de amadurecimento para serem destruídos. O santuário deve ser o refúgio da alma que é tentada. As aflições do justo terminam em paz; portanto, ele é feliz. Os prazeres do ímpio terminam em destruição; portanto, ele é infeliz. A prosperidade do ímpio é curta, além de ser um lugar incerto e escorregadio. Observemos o que é a prosperidade deles; nada além de um espetáculo vão, uma imaginação corrupta, sem nenhuma substância, senão uma pura sombra. É como um sonho capaz de nos agradar durante certo espaço de tempo, enquanto dormimos, mas que ainda assim é capaz de perturbar o nosso repouso.
Vv. 21-28. Deus não toleraria que o seu povo fosse tentado, se a sua graça não fosse suficiente, não somente para salvá-lo do dano, mas para fazê-lo vencedor. Esta tentação, obra da inveja e do descontentamento, é muito dolorosa. Ao refletir sobre este assunto, o salmista reconhece que sofreu deste modo por causa de sua ignorância e atitudes néscias. se em qualquer momento, através da surpresa e pelo poder da tentação, os homens bons pensam, falam ou agem mal, refletiriam sobre este fato pesarosos e envergonhados. Em meio à tentação, devemos atribuir a nossa segurança e vitória não à nossa própria sabedoria, mas à presença de Deus por graça junto a nós, e à intercessão do Senhor Jesus Cristo a nosso favor. Todos os que se consagram a Deus serão dirigidos pelo conselho de sua Palavra e de seu Espírito, os melhores conselhos que se pode ter, e serão recebidos em sua glória no outro mundo; a esperança e a perspectiva de fé, pelas quais seremos reconciliados com todas as providências que nos são ocultas neste mundo. E por esta razão o salmista foi vivificado, para apegar-se mais fortemente a Deus.
O próprio céu não nos poderia fazer felizes sem a presença e o amor do Senhor nosso Deus. O mundo e toda a sua glória se desvanece. O corpo poderá falhar por causa de enfermidades, idade avançada ou da morte; quando a carne falha, falham a conduta, a coragem e o consolo. Porém, o Senhor Jesus oferece-se para ser tudo em meio ao todo, para cada pobre pecador que renuncie a todas as outras porções e confianças.
Através do pecado, todos nós nos distanciamos de Deus. se continuarmos em pecado, e professarmos que somos de Cristo, a nossa condenação será agravada. Aproximemo-nos e mantenhamo-nos próximos ao nosso Deus, por intermédio da fé e da oração, e encontraremos que é bom fazê-lo assim. Aqueles que com um coração reto depositam a sua confiança em Deus, jamais terão falta de motivos para serem gratos a Ele. Bendito Senhor, que tão graciosamente nos prometeste ser a nossa porção no mundo vindouro, impeça-nos de escolher qualquer outra coisa que não seja isto.