Significado de 1 Coríntios 16
1 Coríntios 16
1 Coríntios 16 é o capítulo final do livro e contém uma série de instruções e saudações de Paulo à igreja de Corinto. Paulo começa instruindo os coríntios a fazerem uma coleta para os crentes necessitados em Jerusalém. Ele orienta a arrecadação, afirmando que ela deve ser feita no primeiro dia de cada semana e que deve ser proporcional à renda de cada pessoa.
Paulo também fornece instruções para seus próprios planos de viagem, afirmando que planeja visitar os coríntios depois de passar pela Macedônia. Ele encoraja os coríntios a estarem vigilantes e a permanecerem firmes na fé, lembrando-os de agir com amor e de deixar que tudo o que façam seja feito com amor. Ele também menciona a chegada de Estéfano, Fortunato e Acaico, que ele elogia por seu serviço à igreja.
O capítulo termina com as saudações finais de Paulo e seus companheiros, incluindo Timóteo e Apolo. Paulo encoraja os coríntios a mostrar hospitalidade uns aos outros e a todos os que vêm a eles em nome do Senhor. Ele termina com uma saudação final de próprio punho, enfatizando a natureza pessoal de sua carta e seu amor pela igreja de Corinto.
No geral, 1 Coríntios 16 fornece um vislumbre dos aspectos práticos da vida na igreja cristã primitiva. Paulo fornece instruções para a arrecadação de fundos para os crentes necessitados, bem como seus próprios planos de viagem. Ele também encoraja os coríntios a estarem vigilantes e a permanecerem firmes na fé, lembrando-os de agir com amor. As saudações finais de Paulo e seus companheiros enfatizam a importância da hospitalidade e a natureza pessoal dos relacionamentos dentro da igreja.
I. Hebraísmos e o Texto Grego
Em 1 Coríntios 16, cada escolha grega de Paulo deixa entrever uma matriz semita que se comprova quando confrontada com textos específicos do Antigo Testamento. A abertura sobre a “coleta para os santos” traz a palavra rara logeía e, com ela, uma prática que Paulo molda pela gramática de ofertas pactuais: separar algo “para os santos” (eis tous hagious) verte o campo de qĕdōšîm aplicado ao povo do Senhor (Salmo 16:3; Daniel 7:18). O gesto de reservar semanalmente “no primeiro dia da semana” (kata mian sabbatou, 16:2) repousa sobre o calendário santo cuja cadência é dada pelo sábado e pelas reuniões convocadas (Êxodo 20:8–11; Levítico 23:3). “Pôr de parte, entesourando” (tithétō par’ heautō thēsaurizōn) dialoga com o “tesouro” da casa do Senhor aonde se trazem dízimos e ofertas (Malaquias 3:10) e com a separação de dízimos/primícias (Deuteronômio 14:22–29; Deuteronômio 26:1–11; Levítico 23:10–14). O critério “conforme tenha prosperado” (hō ean euodatōtai) ecoa o verbo hebraico hiṣlīaḥ (“fazer prosperar”) na providência de Deus (Gênesis 39:3; Salmos 1:3). O envio com “cartas” e representantes (di’ epistolōn... apostellō) em direção a Jerusalém retoma a prática antiga de cartas de autorização e mensageiros para uma obra santa (Neemias 2:7–9; Esdras 7:11–26; 2 Crônicas 30:1), enquanto o alvo caritativo cumpre a legislação da aliança sobre o cuidado dos pobres “do teu povo” (Êxodo 23:11; Deuteronômio 15:7–11; Isaías 58:7).
O plano de viagens está explicitamente amarrado ao calendário de festas: “ficarei em Éfeso até Pentecostes” (Pentēkostē, 16:8) convoca a Festa das Semanas (Shavuot), quando se traziam as primícias da colheita (Levítico 23:15–21; Deuteronômio 16:9–12). Ao dizer que “se abriu para mim uma grande e eficaz porta” (16:9), Paulo usa a metáfora que ressoa nas “portas” que o próprio Deus abre para realizar seus desígnios (Salmos 118:19–20; Isaías 45:1–2) e no “abrir caminho” para seu povo (Isaías 43:16–19). Os “muitos adversários” (antikeimenoi) que se erguem contra a missão fazem coro com a terminologia dos ṣarîm (“adversários/inimigos”) dos Salmos (Salmos 27:2; Salmos 3:1; Salmos 18:17). E a cautela “se o Senhor permitir” (16:7) está em linha com a sabedoria que submete planos humanos à direção de Deus (Provérbios 16:9; Provérbios 19:21; Jeremias 10:23).
Os imperativos de 16:13–14 comprimem, em grego, fórmulas exortativas da Escritura hebraica. “Vigiai” (grēgoreite) assume o papel dos vigias de Sião, que “estão sobre os muros” clamando diante de Deus (Isaías 62:6–7), a figura do atalaia que discerne e avisa (Ezequiel 33:7), e a postura do profeta na torre de vigia (Habacuque 2:1). “Permanecei firmes na fé” (stēkete) desloca para a vida cristã o permanecer de pé diante do Senhor, marca de confiança e prontidão (Êxodo 14:13; 2 Crônicas 20:17). “Portai-vos varonilmente” (andrizesthe) e “fortalecei-vos” (krataiousthe) traduzem diretamente a parelha ḥazaq we’emāṣ — “sê forte e corajoso” — que acompanha Josué e todo líder do povo (Deuteronômio 31:6–7; Josué 1:6–9; 1 Crônicas 28:20). E o fecho “tudo se faça em amor” (en agapē) recolhe o coração ético da Torá: amar a misericórdia/benignidade (ḥesed) e praticar o bem (Miqueias 6:8; Oséias 6:6).
Quando Paulo chama a “casa de Estéfanas” de “as primícias da Acaia” (hē aparchē tēs Achaias, 16:15), ele veste pessoas com o léxico cultual das primícias (Levítico 23:10–11; Deuteronômio 18:4) e com a aplicação profética de “primícias” a um povo consagrado (Jeremias 2:3). O propósito dessa casa — “servir aos santos” — lança mão do campo da ʿăbōdāh (“serviço” diante de Deus; Números 8:11–15), agora convertido em diaconia concreta ao povo santo. A observação de que Estéfanas, Fortunato e Acaico “refrigeraram o meu espírito e o vosso” (16:18) emprega anapauō com a promessa do nûaḥ (“descanso”) como dom de Deus à sua assembleia (Êxodo 33:14; Isaías 28:12).
As instruções sobre mensageiros preservam hebraísmos éticos. “Ninguém o despreze” a respeito de Timóteo (16:11) traduz o verbo bāzāh (“desprezar”) que os profetas condenam, inclusive no apelo “não desprezeis o dia das pequenas coisas” (Zacarias 4:10). “Enviai-o em paz” (apopempsate en eirēnē) continua a fórmula de despedida israelita que sela missões e reconciliações: “vai em paz” (1 Samuel 1:17; 1 Samuel 20:42). O respeito à decisão de Apolo mantém o traço bíblico de agentes livres diante de Deus, mesmo quando cooperam com um chamado maior (Provérbios 16:1–3).
O bloco de saudações também fala grego com alma hebraica. A “igreja que está na casa” (kat’ oikon) de Áquila e Prisca (16:19) reencontra o padrão da casa como espaço de culto e ensino da aliança: a Páscoa celebrada por casas (Êxodo 12:3–7) e a catequese diária “assentado em tua casa” (Deuteronômio 6:6–9). O “ósculo santo” (phílēma hagion, 16:20) sacraliza o beijo (nāšaq) comum de saudação e reconciliação em Israel (Gênesis 33:4; Gênesis 45:15) com a categoria qādôš (“santo”), marcando-o como gesto litúrgico. A saudação “com a minha própria mão” (16:21) funciona como autenticação-selo, com ecos do anel de selar (ḥōtām) como sinal de autoridade e garantia (Cântico dos Cânticos 8:6; Jeremias 22:24).
A fulguração semita de 16:22 junta maldição pactual e clamor escatológico. “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema” usa o termo da Septuaginta para ḥērem — aquilo “consagrado à destruição” nas guerras santas e nos interditos (Deuteronômio 7:26; Josué 6:17–19; Josué 7:1). Em seguida, Maranatha preserva o aramaico da súplica/confissão: “Nosso Senhor vem” ou “Vem, nosso Senhor!”, em consonância com o clamor dos profetas por uma teofania que rasgue os céus (Isaías 64:1) e com a oração de urgência dos salmos (“Apressa-te, ó Deus, em me socorrer”, Salmos 70:1). O fecho “A graça do Senhor Jesus esteja convosco... o meu amor seja com todos vós em Cristo Jesus” (16:23–24) destila o par de aliança ḥesed we’emet — graça e verdade — revelado no Nome (Êxodo 34:6; Salmos 85:10; Provérbios 3:3) e rejunta bênção e afeto à maneira da bênção sacerdotal que dá paz ao povo (Números 6:24–26).
Assim, 1 Coríntios 16 fala koiné com sintaxe e léxico pautados pela Escritura: coleta semanal como desdobramento de dízimos e primícias; cartas e mensageiros sob a lógica do envio santo; itinerário marcado por Pentecostes; “porta” que Deus abre diante de adversários; vigias, firmeza e coragem nos termos de Isaías, Êxodo e Josué; primícias aplicadas a pessoas como em Jeremias; casa como lugar de culto desde Êxodo e Deuteronômio; beijo elevado à santidade; herem e Maranatha no mesmo sopro; e, por fim, graça e amor selando a assembleia com a bênção do Deus da aliança.
II. Comentário 1 Coríntios 16
1 Coríntios 16.1-4 Ora, quanto. Mais uma vez, Paulo tratou de uma pergunta feita pelos coríntios (1 Co 7.1,25; 8.1; 12.1) com relação à oferta (At 11.29,30; 24.17; Rm 15.25-28; 2 Co 8.9). No primeiro dia da semana era o dia da reunião semanal da Igreja primitiva.
Ponha de parte expressa o conceito da oferta cristã no Novo Testamento. O dízimo no Antigo Testamento (de um modo geral, chegando a quase 23%) não era adotado pela Igreja do Novo Testamento, embora, obviamente, Cristo o tenha dado. Os cristãos do Novo Testamento eram incentivados a dar com liberalidade, mas nunca uma quantia ou porcentagem especificadas (Rm 12.8). Paulo queria ter certeza de que a oferta dos coríntios fosse dada antes de sua chegada, para que ele não precisasse pressionar as pessoas quando as visse (2 Co 9.5). Os que [...] aprovardes se refere às pessoas que acompanhariam Paulo (v. 4) a Jerusalém para entregar a dádiva em nome da igreja de Corinto.
1 Coríntios 16.5-7 Irei, porém, ter convosco. Paulo esperou sair logo de Éfeso para visitar Corinto, talvez até passando o inverno com os coríntios. Viajar por mar durante o inverno era perigoso (At 27.9-44). Paulo, por fim, conseguiu chegar a Corinto, mas não conforme o cronograma que traçou aqui. O fato de não conseguir chegar no tempo planejado causou-lhe problemas mais tarde com os coríntios (2 Co 1.15—2.1).
1 Coríntios 16.8, 9 As oportunidades para Paulo ministrar em Éfeso, uma cidade importante da Ásia Menor, eram grandes, assim como o era a perseguição que ele sofreu ali.
1 Coríntios 16.10-12 Embora não pudesse partir de imediato para Corinto, Paulo queria ser representado entre os coríntios por seus cooperadores. Ele planejou enviar Timóteo, um jovem nesta época. Paulo incentivou os coríntios a não o desprezarem, pois, mesmo sendo digno de confiança, ele era mais tímido do que Paulo.
1 Coríntios 16.13,14 O termo vigiai, muitas vezes, é usado no Novo Testamento para indicar o prenúncio de algum evento futuro (Mc 13.37; Ap 3.3). A exortação de Paulo para que eles estivessem firmes na fé é especialmente importante diante da suscetibilidade dos coríntios a falsos ensinos (2 Co 11.3).
Portai-vos varonilmente também pode ser traduzido por portai-vos como homens, enfatizando não somente a coragem, mas também a maturidade. A ordem de Paulo para que fizessem tudo com caridade serve como um equilíbrio para essas fortes exortações.
1 Coríntios 16.15-18 A família de Estéfanas estava entre os primeiros cristãos na Acaia a responder à pregação de Paulo. Estéfanas, Fortunato e Acaico, provavelmente, foram os que confirmaram a má notícia trazida pela família de Cloe, em 1 Coríntios 1.1. Eles provavelmente também foram os portadores da carta que os coríntios enviaram a Paulo (1 Co 7.1).
1 Coríntios 16.19, 20 As igrejas da Ásia podem ser aquelas mencionadas em Apocalipse 2 e 3. Àquila e Prisca eram fabricantes de tendas que conheceram Paulo em Corinto. Eles o seguiram até Éfeso e colocaram sua casa à disposição para as reuniões da igreja (Rm 16.3-5). Eram conhecidos de muitos na igreja de Corinto. Osculo santo. Esse costume, adotado pelos primeiros cristãos, simbolizava amor, perdão e unidade.
1 Coríntios 16.21-24 Minha própria mão. Deste momento em diante, Paulo deixou de ditar (Rm 16.22; Gl 6.11) e concluiu a carta de próprio punho. Seja anátema. Talvez pareça cruel o fato de Paulo ter desejado a condenação de Deus para aqueles que não amam Jesus. Mas a aceitação ou rejeição de Cristo é algo sério. Aqueles que rejeitam o Senhor Jesus são inimigos de Deus (Gl 1.8,9).
No momento seguinte, Paulo deseja a vinda de nosso Senhor com uma expressão em aramaico: Maranata, que significa Senhor, venha!
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