Significado de 1 Coríntios 4
1 Coríntios 4
1 Coríntios 4 continua o discurso de Paulo à Igreja de Corinto, mas com uma mudança de foco. Neste capítulo, Paulo explica o que significa ser um mordomo fiel da mensagem do Evangelho. Ele usa a si mesmo e aos outros apóstolos como exemplos, destacando sua humildade e disposição de sofrer por causa do Evangelho. Paulo lembra aos coríntios que sua lealdade final deve ser a Cristo, não a qualquer líder ou professor em particular.
Paulo também repreende os coríntios por sua arrogância e tendência de julgar os outros com base nas aparências externas. Ele os lembra que o verdadeiro julgamento vem somente de Deus e que eles não devem fazer julgamentos precipitados sobre os outros. Ele também aponta que os coríntios não estão em posição de julgar os apóstolos, pois não conhecem toda a extensão de seus trabalhos e sofrimentos pelo Evangelho.
Finalmente, Paulo ressalta a importância da disciplina dentro da Igreja. Ele adverte os coríntios de que pode precisar ir até eles com uma vara de disciplina, não para puni-los, mas para corrigi-los e trazê-los de volta ao alinhamento com os ensinamentos de Cristo. Ele enfatiza que a disciplina é necessária para a saúde da Igreja e que deve ser realizada com amor e desejo de restauração.
No geral, 1 Coríntios 4 é um chamado à humildade e fidelidade diante da oposição e da divisão. Paulo encoraja os coríntios a se concentrarem em Cristo e a serem fiéis mordomos da mensagem do Evangelho, mesmo diante do sofrimento e da perseguição. Ele os lembra que o verdadeiro julgamento vem somente de Deus e que eles devem abordar a disciplina com um espírito de amor e restauração.
I. Intertextualidade com Antigo e Novo Testamento
A auto-descrição dos apóstolos como “servos de Cristo e administradores (oikonomoi) dos mistérios de Deus” (4:1–2) dialoga com o mordomo do “casarão” no AT (Gênesis 43:19; Isaías 22:15) e com o sôd do Senhor — o “conselho/segredo” revelado aos seus (Salmo 25:14; Amós 3:7). No NT, isso se expande em “mordomos da multiforme graça” (1 Pedro 4:10) e “dispensação” confiada do evangelho (Efésios 3:2; Colossenses 1:25–27): fidelidade, não brilho, é o critério.
O bloco sobre juízo (4:3–5) verte para grego a teologia veterotestamentária do Deus que sonda coração e rins: “não julgueis antes do tempo… o Senhor trará à luz o oculto das trevas e manifestará os desígnios dos corações”. É Jeremias 17:10; Salmo 139; Daniel 2:22; Eclesiastes 12:14 em chave cristológica, e encontra eco direto em Mateus 10:26; Romanos 2:16; 2 Coríntios 5:10. O fecho — “então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” — dobra Romanos 2:29 e antecipa o “bem está” das parábolas (Mateus 25:21, 23).
As três perguntas de 4:7 — “quem te distingue? que tens que não recebeste? e, se recebeste, por que te glorias?” — rebatem a memória do deserto: “não digas: minha força me granjeou; lembra-te do Senhor, que te dá poder” (Deuteronômio 8:17–18; cf. 1 Crônicas 29:14). No NT, João Batista põe o mesmo freio: “o homem nada pode receber se do céu não lhe for dado” (João 3:27); Tiago sela: “toda boa dádiva vem do alto” (Tiago 1:17).
A ironia profética de 4:8 (“já estais fartos, já vos enriquecestes, sem nós já reinais”) remete tanto às “ais” contra falsa segurança (Amós 6:1, 4–7) quanto às bem-aventuranças em sua forma lucana (“ai de vós, ricos… saciados”, Lucas 6:24–25). O desejo de Paulo — “oxalá reinásseis, para também reinarmos” — aponta ao futuro real prometido (Daniel 7:22, 27; 2 Timóteo 2:12; Apocalipse 5:10): o problema não é reinar, é antecipar o reinado sem a cruz.
Quando se diz “Deus nos pôs, a nós apóstolos, por últimos… como condenados à morte… espetáculo ao mundo, a anjos e a homens” (4:9), a imagem mistura o cortejo triunfal romano com o destino dos justos perseguidos (Salmo 44:22; cf. Romanos 8:36). O vocabulário de “espetáculo” (theatron) prepara a metáfora do triunfo em 2 Coríntios 2:14. O paródico “nós, loucos por causa de Cristo; vós, sábios… nós, fracos; vós, fortes” (4:10) retoma Jeremias 9:23–24 e a tese de 1:18–25: a “loucura” da cruz desmascara a sabedoria de fachada.
A ética cruciforme das reações — “injuriados, abençoamos; perseguidos, suportamos; difamados, concitamos” (4:12–13) — é exatamente o caminho do Servo e o ensino do Mestre: Isaías 50:6; 53:7; Mateus 5:39–44; Romanos 12:14–21; 1 Pedro 2:23. A autodescrição como “lixo do mundo, escória de todos” ecoa Lamentações 3:45 (LXX: peripsēma) e indica que o apostolado carrega o pária inocente em benefício de muitos — sinal invertido de liderança.
O tom muda para paternidade: “não para vos envergonhar… mas para vos admoestar como filhos amados… em Cristo Jesus eu vos gerei pelo evangelho; sede meus imitadores” (4:14–16). Isso aciona a catequese de Provérbios (1:8; 4:1–4) e o padrão apostólico de paternidade e imitação (1 Tessalonicenses 1:6; 2:11–12; Filipenses 3:17; 1 Coríntios 11:1). O envio de Timóteo (4:17) replica o modelo Moisés–Josué numa chave cristã (Deuteronômio 31:7–8) e se alinha a Filipenses 2:19–22: o “filho” que lembra “os caminhos” do pai “em Cristo”.
“Porque o reino de Deus não consiste em palavra, mas em poder” (4:20) reencontra a própria experiência coríntia (1 Tessalonicenses 1:5) e a definição paulina: “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). A alternativa final — “com vara, ou com amor e espírito de mansidão?” (4:21) — junta a disciplina paternal do AT (Provérbios 3:11–12) com a mansidão messiânica que Paulo invocará de novo (2 Coríntios 10:1; Gálatas 6:1).
Assim, 1 Coríntios 4 lê a crise de glória e status de Corinto dentro do enredo bíblico: Escritura como limite (“o que está escrito”), mordomia como vocação, juízo reservado ao Senhor que revela segredos, “reinado” guardado para o tempo de Deus, apostolado como espetáculo de fraqueza que abençoa sob injúria, paternidade que chama à imitação e reino que se prova em poder do Espírito. O resultado é um mapa canônico para a liderança cristã: nada de vanglória pregressa; nada de reinar sem cruz; tudo recebido, tudo prestado, tudo à vista de Deus.
II. Comentário de 1 Coríntios 4
1 Coríntios 4.1-21 Estes versículos ampliam a discussão sobre os obreiros como ministros de Cristo. A primeira epístola aos Coríntios 4.1-5 afirma que os chamados ministros de Cristo também são considerados despenseiros ou administradores a quem foi confiada uma responsabilidade. Portanto, não nos devemos comparar com outros ministros. Nossa responsabilidade é com Cristo.1 Coríntios 4.1 Os ministros não tinham uma posição especial, ao contrário dos despenseiros. O despenseiro era um escravo que administrava todas as questões relacionadas à família de seu senhor, embora ele mesmo não tivesse nada (compare o testemunho da igreja do primeiro século em At 4.32). José ocupava essa posição na casa de Potifar (Gn 39.2-19). Como despenseiros, os cristãos administram a mensagem e o ministério que Deus lhes confiou.
1 Coríntios 4.2-5 Cada um receberá de Deus o louvor. O despenseiro não deveria preocupar-se com a avaliação daqueles à sua volta nem mesmo em avaliar a si mesmo; ele precisava somente agradar ao seu senhor. De igual modo, embora os cristãos possam beneficiar-se de avaliações construtivas de seus irmãos cristãos, seu supremo Juiz é o próprio Senhor. Uma vez que Deus é o Juiz, devemos ter cuidado para não fazermos uma avaliação dos outros antes do tempo.
1 Coríntios 4.6-13 Paulo repreendeu os coríntios por causa do orgulho deles (v. 6). Ele fez com que se lembrassem de que eles se gloriavam dos dons que Deus, generosamente, havia-lhes distribuído (v. 7, 8). Então, quase de um modo sarcástico, o apóstolo comparou a “grandeza” deles com a atitude servil de Apoio e dele mesmo (v. 9-13). Os homens que eles exaltavam a ponto de causar divisões na igreja (1 Co 1.11-17) viam-se como servos necessitados de Deus (v. 10-13).
1 Coríntios 4.6, 7 O termo grego manthano traduzido por aprendais está relacionado à palavra matheteuo traduzida por discípulos em Mateus 28.19. Implica o uso de uma habilidade e não apenas de conhecimento. Os coríntios sabiam o que era humildade, por isso, Paulo pediu que eles fossem humildes. Para os gregos, a humildade era um defeito, uma característica de escravos. Para os cristãos, no entanto, ela exemplifica a atitude de Cristo (Fp 2.5-8). Em nós. Paulo apresentou a si mesmo e Apoio como exemplos a serem seguidos (1 Co 4.16;11. 1). Do que está escrito. Essa expressão, muitas vezes, é usada para introduzir uma citação do Antigo Testamento (Rm 14-11). Paulo estava exortando os coríntios a não irem além dos ensinamentos das Escrituras. Então, eles evitariam o orgulho e as dissensões que estavam dividindo a igreja. O verdadeiro ministro da Palavra de Deus usará as Escrituras para unir e fortalecer a igreja. Somente aqueles que desejam exaltar a si mesmos usarão indevidamente a Bíblia e, consequentemente, enfraquecerão e dividirão a igreja.
1 Coríntios 4.8 Os coríntios acreditavam que os cristãos tinham de estar fartos, ser ricos e reinar no presente. No entanto, Paulo sabia que devemos passar por provações agora, se quisermos reinar quando Cristo voltar. Prouvera Deus que vocês estivessem, de fato, envolvidos no Reino de Cristo e pudéssemos estar unidos no verdadeiro Reino de Cristo.
1 Coríntios 4.9, 10 Espetáculo se refere às execuções públicas realizadas pelos romanos. Nessas execuções, homens condenados eram levados ao Coliseu, onde eram atormentados e mortos por animais selvagens enquanto a multidão eufórica assistia a tudo. Paulo mostrou que todo o mundo e os anjos eram testemunhas da humilhação dos servos de Deus. Com um sarcasmo mordaz, o apóstolo comparou a avaliação superior que os coríntios faziam de si mesmos com a que o mundo fazia dele. Paulo sabia que o cristão encontra a verdadeira força quando entende as próprias fraquezas e a suficiência de Cristo (2 Co 12.7-10;Fp 4.11-13).
1 Coríntios 4.11-13 Paulo lista as dificuldades que ele sofrera no ministério de Cristo, tanto problemas físicos como insultos verbais (2 Co 11.22-30).
1 Coríntios 4.14 Embora os coríntios, provavelmente, tivessem vergonha de sua conduta, o objetivo de Paulo quando escreveu era advertir-lhes sobre as sérias consequências de seus atos. A expressão Como meus filhos amados enfatiza a responsabilidade que os pais têm de aplicar a disciplina correta com amor.
1 Coríntios 4.15 Aos... pais. Paulo usou esses dois termos para fazer a distinção entre seu papel e o dos mestres coríntios, escravos que cuidavam dos filhos de seus senhores. O apóstolo era o líder espiritual dos coríntios. Era dele a responsabilidade final por eles e o direito de ordenar que seguissem seu exemplo.
1 Coríntios 4.16 Paulo incentiva seus leitores a serem seus imitadores enquanto ele seguia Cristo (1 Co 11.1). A palavra se refere ao modo como um aluno imitaria um professor ou ao modo como um ator desempenharia um papel (1 Co 11.1).
1 Coríntios 4.17 Por alguma razão, Paulo não pôde ir de imediato a Corinto, mas confiava em Timóteo para ensinar devidamente aos coríntios. Timóteo já estava fazendo o que apóstolo esperava que seus leitores começassem a pôr em prática: seguir o bom exemplo de Paulo.
1 Coríntios 4.18-20 Alguns em Corinto, provavelmente, os preceptores que causaram dissensões (v. 15), agiam como se Paulo nunca mais fosse voltar para exigir explicações para as ações deles. Inchados. Tais pessoas eram convencidas e propensas à jactância. Neste contexto, o Reino de Deus não se refere ao reino futuro de Cristo, mas ao domínio presente de Cristo no coração de Seu povo. Essa realidade era a garantia de que Paulo teria poder para expor e disciplinar aqueles que atribulavam a igreja de Corinto.
1 Coríntios 4.21 Paulo usa, neste versículo, a mesma palavra grega rhabdos para vara, usada por Lucas para descrever o instrumento utilizado para espancar Paulo e Silas (At 16.22-24). O termo também é usado de forma figurada para referir-se à autoridade de Cristo para julgar (Ap 19.15). Deus deu a Paulo autoridade para punir os agitadores em Corinto, ainda que o apóstolo preferisse não fazer valer tal poder.
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